sábado, 6 de abril de 2013

Depósito de questões de vestibular

História
PUC-RJ
Prova discursiva 2000
Enunciado das questões e gabarito
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1
No decorrer de trezentos anos, a colonização portuguesa na América deu origem a diferentes regiões coloniais, como a região da lavoura açucareira, no litoral oriental, no século XVI; a região pastoril, no "Sertão" do Nordeste, no século XVII; a região de coleta das "drogas do sertão", no Vale amazônico, na segunda metade do século XVII; e a região de mineração, no centro do território, no século XVIII, entre outras.

ESCOLHA duas regiões coloniais e RESPONDA o que se pede a seguir:
I) Formas de organização da principal atividade econômica.
II) Padrões de relacionamento entre os colonizadores e colonos de origem européia e a população indígena. 



Resposta
Região da lavoura açucareira no litoral oriental no século XVI

  1. Predominância das grandes propriedades voltadas primordialmente para o cultivo da cana-de-açúcar que após o beneficiamento no engenho propriamente dito era exportada para a Europa pelos comerciantes reinóis. A conjugação da produção e do beneficiamento não se verificou em todas as propriedades. Ao lado dos canaviais observavam-se roças onde se plantavam gêneros para a subsistência. A quase totalidade do trabalho braçal era executada por escravos negros de origem africana.

  2. Relacionamento caracterizado pela posse da terra que implicou a dizimação de parte da população indígena e a interiorização de diversas tribos. Nessa região, verificou-se a escravização mais sistemática dos indígenas em duas circunstâncias: no início da colonização e nos momentos em que ocorreram problemas quanto ao fluxo de escravos africanos.
Região pastoril no "Sertão" do Nordeste no século XVII

  1. As fazendas de gado, via de regra latifúndios, expandiram-se pelos sertões de dentro e de fora geralmente seguindo o curso dos rios perenes. Empregavam-se relativamente poucos trabalhadores, em sua maioria mestiços, indígenas, brancos, sendo raro, mas não inexistente o uso de escravos negros em determinadas atividades. A produção era voltada para a subsistência e o mercado interno, ocorrendo a comercialização, nas grandes feiras, da carne verde ou salgada, do couro, do sebo e de outros derivados.

  2. Principalmente no início da ocupação da região, verificaram-se constantes choques entre colonos e tribos indígenas, decorrentes da necessidade de terras e de mão-de-obra.
Região de coleta das "drogas do sertão" no vale amazônico na segunda metade do século XVII

  1. A coleta das "drogas do sertão" se fazia nas missões religiosas estabelecidas no vale amazônico. Sob a direção de missionários brancos, principalmente jesuítas, o indígenas se internavam na floresta por cerca de 6 meses. Dedicavam-se à coleta de produtos, para serem exportados, em sua maior parte, através do porto de Belém. Nos demais meses a população do aldeamento dedicava-se à produção de gêneros para subsistência e ao artesanato. Paralelamente a população era catequizada.

  2. Nas missões, as relações entre missionários e indígenas eram mediadas pelo caráter persuasivo que embasava o esforço catequético. O interesse de colonos de outras regiões pela escravização de indígenas, principalmente daqueles que se encontravam já catequizados, levou à organização das "tropas de resgate" objetivando-se o apresamento. Contra isso diversas vezes se insurgiram os missionários, em favor dos quais se pronunciou a Coroa em meados do século XVII, ao proibir a entrada de colonos na floresta sem a companhia de missionários.
Região de mineração no centro do território no século XVIII

  1. A extração de ouro e diamantes se inseriu na lógica mercantil que deu sentido à colonização, a medida que esses produtos eram altamente valorizados no mercado europeu. Nesta região assistiu-se a uma significativa especialização do trabalho e ao crescimento do comércio. A unidade da extração era a data aurífera, cuja concessão era realizada por representantes da Coroa, obrigando todo o metal precioso e diamantes a serem quintados. Paralelamente à utilização da mão-de-obra escrava de origem africana observava-se a existência de trabalhadores livres de diferentes regiões e extrações sociais.

  2. Nesta região verificaram-se atritos em torno da terra, opondo colonizadores e colonos a tribos indígenas aí estabelecidas. Os indígenas desempenharam papel importante na busca de veios auríferos, acompanhando as bandeiras vicentinas de prospecção, em função dos seus conhecimentos da região.



2

"Invocando o direito natural, tal qual os americanos, a Revolução Francesa conferiu à sua obra um caráter universal que a liberdade britânica não possuía, e afirmou esse caráter com muito mais força. Ela não proclamou apenas a república: instituiu o sufrágio universal. Ela não liberou apenas os brancos: aboliu a escravidão. Ela não se contentou com a tolerância: mas reconheceu a liberdade de consciência, admitiu os protestantes e os judeus na cidade e, criando um estado civil, reconheceu a cada um o direito de não aderir a nenhuma religião."
Georges Lefebvre, "La Place de la Révolution Française dans l'Histoire du Monde," Annales. Économies, Sociétés, Civilisations. 3ème année, 3 (Juillet - Septembre 1948), p 264.



Considerando a afirmação acima:
a)  DESENVOLVA duas razões que justifiquem a importância do direito natural para se conferir um caráter universal à Revolução Francesa.
b)  CITE um exemplo de restrição à liberdade entre os britânicos e entre os norte-americanos, que suas respectivas Revoluções não eliminaram.

 

Resposta
a) A invocação do direito natural, pelas três Revoluções, traduziu-se em práticas bastante diferenciadas:
Na Revolução Inglesa (1688), ele foi fundamental para o estabelecimento de uma divisão de poderes (Rei, Câmara dos Lordes e Câmara dos Comuns) respaldada numa Constituição escrita – a Declaração dos Direitos (Bill of Rights). Com ela passou-se a assegurar limites efetivos ao absolutismo monárquico: o poder do rei via-se agora permanentemente controlado por um Parlamento bicameral, que passava a decidir sobre aquelas questões consideradas fundamentais para o governo – por exemplo, a cobrança de impostos, o comércio e a guerra. De um modo geral, a Revolução Inglesa possibilitou a entrada para a política daqueles súditos britânicos não nobres que representavam um conjunto de interesses econômicos nada desprezíveis, associado à ascendente burguesia do Sul e do Leste da ilha. E, ainda que tal fundação da liberdade viesse restringida aos britânicos, ela significava um considerável avanço nos quadros do Antigo Regime.
Na Revolução Americana (1776), o direito natural serviu para ampliar ainda mais a participação política, ao fundar uma nova liberdade com a República. Nesta nova ordem, abolia-se definitivamente as divisões hierárquicas associadas à idéia de diferentes "condições de gente" (nobres e plebeus) e mantinha-se a já conhecida divisão de poderes, atualizando-a (executivo, legislativo e judiciário). Tanto a Declaração de Independência quanto, mais tarde, a Constituição (1787), consolidaram uma república representativa e consideraram como sendo direitos inalienáveis de todos os homens a vida, a liberdade e a busca da felicidade.
Na Revolução Francesa (1789), muitos desses pontos viram-se radicalizados. A nova ordem republicana adotou o sufrágio universal (masculino) e estendeu a igualdade não apenas aos brancos, decretando o fim da ordem aristocrática, mas também aos negros abolindo a escravidão em suas colônias. Finalmente, reconheceu a liberdade de consciência, aceitando a pluralidade de credos religiosos ou a ausência deles, e inaugurou um estado civil, em que o poder secular e o espiritual foram definitivamente separados.
O desenvolvimento pelo(a) aluno(a) de quaisquer 2 questões, dentre as citadas acima, demonstrando o caráter universal assumido pelo direito natural quando aplicado à Revolução Francesa, estará correto.
b) Como exemplos da restrição de liberdade entre os britânicos, a leitura do texto permite-nos identificar a permanência da ordem aristocrática naquela sociedade, bem como a continuidade do regime monárquico, ainda que controlado pelo Parlamento.
Como exemplos da restrição da liberdade entre os norte-americanos, temos a exclusão da população escrava e dos índios da nova cidadania inaugurada pela República.



3
"O Rádio é o maior fator de expansão cultural e educação cívica dos nossos tempos, pois com a facilidade de penetração e a rapidez de divulgação das idéias, vencendo o espaço e o tempo, para atingir os mais longínquos rincões da terra brasileira, leva em suas ondas misteriosas e encantadoras a palpitação e a certeza do progresso, divulgando os acontecimentos marcantes da civilização que se verificam nos centros mais adiantados do mundo, mantendo unidos, pelo contato direto e permanente de seus elementos vitais, os pontos mais afastados do território pátrio."
(Décio Pacheco Silveira, Revista Cultura Política, 1941)

O surgimento de novos meios de comunicação social no decorrer do século XX possibilitou, em escala crescente, a circulação mais acelerada de informações, valores e idéias. No caso brasileiro, foram, de forma recorrente, instrumentos utilizados pelo Estado na concretização de seus projetos políticos.
RELACIONE duas idéias contidas no texto acima ao projeto político do Estado Novo (1937-1945).

Resposta
O aluno deve identificar no texto duas das seguintes idéias: 
a) o rádio como instrumento de integração do território nacional; 
b) o rádio como "fator de expansão cultural e educação cívica"; 
c) o rádio como propiciador de progresso; 
d) o rádio como meio de construção da nacionalidade brasileira.

Relacionando-as ao projeto político do Estado Novo (1937-45), pode-se dizer que o rádio foi um importante instrumento na constituição do que se pretendia: um novo Brasil educado, integrado, uma população organizada e com espírito patriótico. Por meios autoritários, o Estado, através dos Ministérios e do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), promoveu diversas medidas naquela direção. Dentre as medidas de nacionalização/integração podemos considerar: 
a) a normalização do ensino secundário e universitário, enfatizando tanto a principalidade da língua portuguesa, como a exaltação da memória nacional, a partir de seus heróis e grandes acontecimentos; 
b) a "Marcha para o Oeste" (estímulos para colonização do centro-oeste brasileiro); 
c) a Consolidação das Leis do Trabalho; 
d) a promoção da cultura brasileira, especialmente, através das ondas da rádio, da música brasileira, particularmente do samba.
Nesse contexto, o rádio assume relevância como veículo possibilitador de comunicação com a população iletrada. A "Hora do Brasil", criada em 1939 pelo DIP, programa obrigatório em todas as rádios, divulgava os projetos e ações do Estado Novo. A Rádio Nacional é estatizada em 1940, tornando-se uma referência tanto em relação ao seu padrão tecnológico quanto à programação veiculada.

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