segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

CNDL - SEGUNDO ANO
HISTÓRIA DO BRASIL
COLEÇÃO PITÁGORAS




Capítulo 1
Os caminhos da política imperial brasileira: da Regência à proclamação da República



DEBRET, Jean Baptiste. Pano de boca executado para a representação extraordinária dada no teatro da corte por ocasião da coroação de D. Pedro I. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. Paris. 1834/35.
Problematização do tema

Este capítulo trata de dois contextos históricos distintos. O primeiro, o período regencial, inaugurado após a abdicção de D. Pedro I, em 1831, embora tenha sido considerado por muitos um “ensaio republicano”, revelou-se a bem da verdade, um contexto turbulento, em que as medidas descentralizadoras permitiram desmandos locais e revoltas violentas em muitas províncias.
Essas medidas descentralizadoras, principalmente a Reformulação do código do Processo civil de 1832 e o Ato Adicional de 1834, levaram ao fortalecimento do poder local, até então fortemente controlado pelo autoritarismo de D. Pedro I, e geraram arbitrariedades, em especial dos juizes de paz.
Uma sensação de anarquia perturbava os políticos que temiam o descontrole das províncias, a fragmentação da unidade territorial, a tomada do poder pelo povo e escravos. A única forma de resolver essa questão era restaurar a ordem anterior, colocar um ponto final nas medidas descentralizadoras. A essa “restauração” da ordem foi dado o nome de Regresso.
A solução que os regressistas encontraram para restaurar a ordem foi o Golpe da Maioridade, que levou o jovem D. Pedro II ao poder, dando início ao Segundo Reinado, o outro contexto que abordaremos sucintamente.
O Segundo Reinado (1840-1889) foi um longo período de paz, quebrada apenas pelas revoltas liberais de Minas e São Paulo (1842); pela Revolução Praieira (1848) e pela Guerra do Paraguai (década de 1860).
Já na década de 1870, iniciava-se o movimento republicano, mesclado com o movimento abolicionista e um reconhecimento, por parte do Exército, pós-Guerra do Paraguai, da sua importância nos negócios do Estado. Esses movimentos, que se tornaram mais agudos nas décadas subsequentes, foram minando o poder do imperador, ao que se somou a indisposição de D. Pedro II com os bispos da Igreja Católica. Por isso, é comum afirmar que as questãos militar, religiosa e escravocrata foram os responsáveis pela queda da monarquia e pela proclamação da República, em 1889.

Pense sobre o que acabou de ler e discuta:

1. Por que será que as regências revelaram-se um período turbulento e anárquico:

2. O que você entende pela afirmação de ter sido a Regência um "ensaio republicano"?

3. Qual foi a solução utilizada pelos regressistas para colocar um ponto final no período regencial?

4. Por que somente após a Guerra do Paraguai o Exército teve a sua importância reconhecida?

5. Quais seriam as razões da queda da Monarquia e da proclamação da República?



Saiba mais sobre os caminhos da política imperial brasileira entre 1831 e 1889




Resumo de algumas das principais características do período Regencial (1831-1840) e do Segundo Reinado (1840-1889).

CNDL - PRIMEIRO ANO
HISTÓRIA DO BRASIL
COLEÇÃO PITÁGORAS








HUNT, G. Sick slaves. 1822. Biblioteca Nacional (Brasil)



"Eu o Rei faço saber a vós Tome de Souza fidalgo de minha casa que Vendo Eu quanto serviço de Deus e meu é conservar e enobrecer as capitanias e povoações das terras do Brasil e dar ordem e maneira com que melhor e mais seguramente se possam ir povoando para exalçamento da nossa Santa Fé e proveito de meus reinos e senhorios e dos naturais deles ordenei ora de mandar nas ditas terras fazer uma fortaleza e povoação grande e forte em um lugar conveniente para daí se dar favor e ajuda às outras povoações e se ministrar Justiça e prover nas coisas que cumprirem a meu serviço e aos negócios de minha fazenda e a bem das partes e por ser informado que a Bahia de Todos os Santos é o lugar mais conveniente da costa do Brasil para se poder fazer a dita povoação e assento assim pela disposição do porto e rios que nela entram como pela bondade abastança e saúde da terra e por outros respeitos hei por meu serviço que na dita Bahia se faça a dita povoação e assento e para isso vá uma armada com gente artilharia armas e munições e todo o mais que for necessário. E pela muita confiança que tenho em vós que em caso de tal qualidade e de tanta importância me sabereis servir com aquela fieidade e diligência que se para isso requer hei por bem de vós enviar por governador às ditas terras do Brasil no qual cargo e assim no fazer da dita fortaleza tereis a maneira seguinte da qual fortaleza e terra da Bahia vós haveis de ser capitão."



1548 - REGIMENTO TOMÉ DE SOUZA




Capítulo 1


A Política colonizadora

Problematização do tema

Confira algumas posições da historiografia brasileira acerca da colonização portuguesa







Sobre o texto das páginas 84 e 85 discuta e responda:

* Qual a posição defendida pelo texto sobre o processo de colonização portuguesa?

* Em que momento do texto ele deixa claro seu posicionamento:

* Qual é o sentido comum que prevalece na cultura histórica e nos materiais escolares sobre a colonização portuguesa?

* Por que as interpretações mais recentes, citadas no texto, não circulam da mesma forma em livros, revistas e jornais?



Pré-1530: o sistema asiático de exploração

Imediatamente após a chegada dos portugueses na nova terra, eles ainda estavam muito envolvidos como o comércio das especiarias com o Oriente. Além disso, havia o fato de na nova terra não haver mercadorias produzidas pelos nativos que pudessem ser comercializadas. Por isso, não iniciaram sua colonização de imediato.

O único produto disponível era o paú-brasl, uma madeira que despertava interesse comercial na Europa como corante e como material para a construção de navios.

Os portugueses decidiram, então, adotar, na terra recém-descoberta, o sistema asiático de exploração, isto é, a construção de feitorias ao longo da costa para comercializar o pau-brasil. A mão de obra utilizada foi a indígena por meio do sistema de escambo, ou seja, a troca do trabalho por objetos de pouco valor como quinquilharias que encantavam os indígenas.





O pau-brasil, monopólio arrendado da Coroa portuguesa, foi sistematicamente contrabandeado durante todo o período de sua extração.



Confira as principais características do período pré-colonial (1500-1530)



Professor explica o período pré-colonial brasileiro. Confira a aula em video.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011


Diferença de valores e culturas entre as gerações pode virar problema no trabalho

A convivência das gerações X e Y, entre profissionais de diferentes idades e valores, provoca problemas no mercado de trabalho e influencia a forma de relacionamento nas empresas.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Conheça a fascinante história da cidade de São Paulo


A maravilhosa história de São Paulo, sua fundação, evolução e o momento atual. Mostrado através de obras de arte, unindo a arte e a história numa apresentação cativante.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Passeio pelo mundo antigo revela a magia do Fórum Romano


Agora vamos relaxar. Prepare-se para conhecer o mundo antigo. Os correspondentes Maurizio Della Constanza e Ilze Scamparini vão nos levar para passear pelo Forum Romano.
O Fórum Romano era o centro comercial, político e religioso da antiga Roma. Nele, foram erguidos vários templos dedicados aos deuses pagãos, como o templo de Saturno.

Fonte: Globo videos

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

CNDL PRIMEIRO ANO
HISTÓRIA DO BRASIL
CAPÍTULO 1
A POLÍTICA COLONIZADORA
COLONIZAÇÃO DO BRASIL




Além da defesa do território, a colonização do Brasil teve outra finalidade: transformar a colônia num empreendimento lucrativo para Portugal.


Durante o reinado de Dom João III (1521-1557), o comércio português na Índia entrou em crise, em virtude da concorrência de outras nações européias, principalmente da Holanda e da Inglaterra. Ao mesmo tempo, as enormes despesas com a montagem e a manutenção do império português na África e na Ásia - construção de navios, pagamento de tripulações, edificação de fortalezas etc. - arruinaram as finanças do país. Nessa situação, tornava-se urgente o aproveitamento do Brasil, até então pouco lucrativo. Por outro lado, os portugueses esperavam encontrar metais preciosos, incentivados pelas notícias da descoberta de grandes jazidas de ouro e prata na América espanhola.

A expedição de Martim Afonso de Souza
Em 1530, Dom João III enviou ao Brasil a expedição de Martim Afonso de Sousa, cujos principais objetivos eram verificar a existência de metais preciosos, explorar e patrulhar o litoral e estabelecer os fundamentos da colonização do Brasil. Martim Afonso tinha poderes para nomear autoridades e distribuir terras às pessoas que quisessem permanecer aqui para desempenhar essa missão.


Martim Afonso percorreu quase todo o litoral brasileiro. De Pernambuco, enviou dois barcos para explorar o litoral norte; organizou expedições rumo ao sertão, partindo de Cabo Frio e de Cananéia; chegou até a foz do rio da Prata e depois retornou ao litoral paulista, onde fundou a vila de São Vicente (1532). Ali se organizaram alguns povoados, iniciou-se o plantio da cana e foram construídos os primeiros engenhos da colônia. Começava assim a colonização efetiva do Brasil, apoiada na produção de açúcar para o mercado externo.

Descobrimento do Brasil
Pouco depois do retorno de Vasco da Gama a Portugal, o Rei Dom Manuel, o Venturoso, mandou organizar uma esquadra com o objetivo de garantir a supremacia portuguesa na Índia. Outra finalidade da expedição era difundir a religião cristã entre os pagãos.


A esquadra, a maior até então organizada em Portugal, era composta de treze navios e tinha uma tripulação de aproximadamente 1200 homens. Para comandá-la, o rei escolheu Pedro Álvares Cabral, fidalgo de uma das mais tradicionais famílias portuguesas.

Fonte: www.brasilescola.com




Conheça as características da expedição de Martim Afonso de Souza



Martim Afonso de Souza deu início à colonização efetiva do Brasil em 1530 e fundou a vila de São Vicente, em 1532.

O coronel e o lobisomem

O coronel e o lobisomem – trecho para análise:

José Atanásio

“Num repente, relembrei estar em noite de lobisomem – era sexta-feira. (...)

Já um estirão era andado quando, numa roça de mandioca, adveio aquele figurão de cachorro, uma peça de vinte palmos de pêlo e raiva. (...)

Dei um pulo de cabrito e preparado estava para a guerra do lobisomem. Por descargo de consciência, do que nem carecia, chamei os santos de que sou devocioneiro:

- São Jorge, Santo Onofre, São José!

Em presença de tal apelação, mais brabento apareceu a peste. Ciscava o chão de soltar terra e macega no longe de dez braças ou mais. Era trabalho de gelar qualquer cristão que não levasse o nome de Ponciano de Azevedo Furtado. Dos olhos do lobisomem pingava labareda, em risco de contaminar de fogo o verdal adjacente. Tanta chispa largava o penitente, que um caçador de paca, estando em distância de bom respeito, cuidou que o mato estivesse ardendo. Já nessa altura eu tinha pegado a segurança de uma figueira, no galho mais firme, aguardava a deliberação do lobisomem. Garrucha engatilhada, só pedia que o assombrado desse franquia de tiro. Sabidão, cheio de voltas e negaças, deu ele de fazer macaquices que nunca cuidei que um lobisomem pudesse fazer. Aquele par de brasas espiava aqui e lá na esperança de que eu pensasse ser uma súcia deles e não uma pessoa sozinha. O que o galhofista queria é que eu, coronel de ânimo desenfreado, fosse para o barro denegrir a farda e deslustrar a patente. Sujeito especial em lobisomem como eu não ia cair em armadilha de pouco pau. No alto da figueira estava, no alto da figueira fiquei.”

(CARVALHO, José Cândido de. O coronel e o lobisomem; deixados do Ofício Superior da Guerra Nacional, Ponciano de Azevedo Furtado, natural da praça de Campos dos Goitacazes, 20, ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976, p.178-9.)

Memória da Narrativa

Dizem que lobisomem seria uma criatura lendária, um homem que, de quando em quando, transforma-se em lobo, ficando maior e mais forte que o canino e ávido por carne humana. A hipertricose (aumento da espessura do pêlo do corpo), uma doença rara, poderia ocasionar boa parte das visões de lobisomens (uma mistura de lobo e de homem) na idade média.

Há várias histórias em todo o mundo sobre essa fera da criptozoologia. Uma delas é a do Lobisomem em Campos dos Goitacazes, narrada por João Oliveira: “... na localidade de Baixa Grande, zona rural de Campos dos Goitacazes, RJ, um vigia da Usina Baixa Grande matou com um tiro certeiro um enorme animal que rondava a Usina. Com medo de que o animal ainda estivesse vivo, não se aproximou. Chamou um policial de plantão num posto policial próximo. Qual a sua surpresa, ao descobrir que o enorme animal nada mais era que um morador local, de 68 anos, um cidadão que há anos residia sozinho, um sujeito esquisito e de pouco conversa. Esse fato, além de verdadeiro, tem algo assustador: o policial afirma que, ao chegar no local, ainda viu as mãos do lobisomem voltar à forma natural humana. E mais, com vários depoimentos tomados no local, de pessoas que juravam haver visto por anos a presença de tal entidade, as autoridades arquivaram o caso, pois ficou comprovado que o vigia havia realmente matado um lobisomem."

José Cândido de Carvalho (1914-1989) – natural de Campos dos Goitacazes, no norte do Rio de Janeiro – é dono de um estilo absolutamente inconfundível ao retratar personagens e situações burlescas que nos levam ao riso solto, seguido de um certo impacto que nos faz refletir sobre nossa sociedade, nosso país. O coronel e o lobisomem, publicado em 1964, é tido pela crítica como uma das obras-primas do moderno romance brasileiro, a qual foi levada para as telas de cinema nos tempos recentes. Descontraído, José Cândido procura se expressar de forma clara e objetiva, sem perder o tom hilariante de uma boa prosa. Para que sua narrativa se fixe na idéia inconfundível de uma boa e interessante história, ele usa recursos expressivos, exigidos pela razão lógica (sintática), representados pela expressão gráfica da respiração na frase, das suspensões, dos movimentos da voz. Sua linguagem é simples, criativa (inventiva) e coloquial.

Possuidor de um forte poder de reavivar palavras e ressuscitar verbetes de expressão popular, a plástica de sua narrativa se torna agradável e dá novo sentido a palavras que parecem ser bizarras na oralidade cotidiana. Em O coronel e o lobisomem, Cândido narra um confronto de um militar com um exótico animal, que por crendice popular teria fincado pés nas paragens de sua terra natal. Ao descrever as peripécias do coronel Ponciano, como se quisesse fazer parte da história dele, José Cândido enaltece as bravatas do militar e o coloca na condição de destemido, porém, com desfecho hilariante. Isso porque o coronel nem sempre age de acordo com a preparação militar que diz haver recebido, mas foge de qualquer enfrentamento, com a impressão de ser estrategista e mais audacioso que a lendária besta.

Criação literária

Sua narrativa incomum chamou a atenção de grandes escritores. Veja, por exemplo, o comentário de Raquel de Queiroz sobre a obra de José Cândido de Carvalho:

“E tem mais: se a criação literária de JCC é importante, importantíssimo igualmente é o homem na sua linguagem. De tal jeito importante que não sei de ninguém, no momento, que renove o idioma como o renova ele. Vira e revira a língua, arrevesa as palavras, bota-lhes rabo e chifre de sufixos e prefixos, todos funcionando para uma complementação especial de sentidos, sendo, porém, que nenhuma provém de fonte erudita, ou não falada: nenhum é pedante ou difícil, tudo correntio, tudo gostoso, nascido de parto natural, diferente só para maior boniteza ou acuidade específica. No léxico de Zé Cândido não aparece uma palavra que não seja possível; se ela não havia até aqui, estava fazendo falta. No mais, o que ele faz principalmente é usar a palavra no sentido novo, ou imprevisto, ou desacostumado. Mas no cabo fica tudo tão bem encartadinho e num dizer tão fiel da idéia que se destina a exprimir, que a gente fica pensando por que é que já não se dizia aquilo assim, antes.”

É importante notar a relação apontada por Raquel entre rabo e chifre e prefixos e sufixos. Nesse simpático e descontraído texto de uma das mais brilhantes romancistas da engajada literatura brasileira dos anos 30, Raquel usa dos mesmos recursos estilísticos de JCC para mencionar os afixos gramaticais. Rabos e chifres são respectivas metáforas de sufixos e prefixos. O sufixo é comparado a um rabo por se agregar ao final de uma palavra; o prefixo, a um chifre, por anteceder ao radical de uma palavra.

Mas Raquel não pára por aí. Outra observação importante é que na visão dela as palavras de Zé Cândido não provêm de “fonte erudita ou não falada”. Diante de tal afirmação, sugere que tais verbetes provêm de fonte popular ou da tradição oral. Com isso, ela apresenta duas possibilidades de criação da palavra: uma ligada à forma, outra ligada ao contexto. Ao criar sentido novo para palavras antigas, JCC explora o uso incomum de certos verbetes. É nesse sentido que se pode afirmar que Cândido é um grande explorador de neologismos em sua obra. O texto é rico em neologismo porque explora a criação de uma palavra pelo acréscimo de rabo e chifre (sufixo e prefixo), pela junção de radicais ou de elemento de composição ou por seu uso com um sentido novo, ou imprevisto ou desacostumado, como enfatiza a romancista. É importante salientar que o acréscimo de afixos ou a junção de radicais trabalha com as formas das palavras; já o sentido novo depende do contexto em que a palavra é empregada.

Segundo Raquel de Queiroz, o resultado desse trabalho com a linguagem é muito bom, a tal ponto que ficamos pensando “por que é que já não se dizia aquilo assim, antes”. Essa sensação que o novo provoca nos leitores mais atentos é o que determina o verdadeiro valor do neologismo lingüístico. Para que isso faça sentido, a principal qualidade que um neologismo deve apresentar para atingir esse objetivo é a existência de um perfeito casamento entre a palavra e o que ela exprime. Ou seja, provocar a sensação da plena compreensão do assunto, ao fazer uso de palavras com um dizer tão fiel da idéia que se destina a exprimir. Diante do valor desses neologismos ficamos tão tentados a exercer o direito de empregá-los, que a própria Raquel de Queiroz, talvez envolvida pela linguagem de José Cândido, em duas palavras, faz uso de sufixos para potencializar a expressividade de suas observações sobre o recurso do autor: boniteza e encartadinho. É brilhante a forma como ela se expressa ao dizer encartadinho, ao invés de dizer “muito bem encartado”, do mesmo modo que pertinho significa “muito perto”.

Expressividade do texto

A oralidade possui diferentes recursos para expressar uma idéia que vai além das formas gramaticais. Quando o enunciatário transmite sua mensagem de forma oral, utiliza palavras escolhidas na memória presente e as organiza para dar maior expressividade ao tema enunciado. Flexível, a função oral permite inserir no discurso alguns artifícios que propiciam a boa comunicação, ou seja, recursos como o olhar, o tom de voz, os gestos, as pausas, a entonação.

Já a comunicação escrita é mais limitada, sem poder recorrer a esses recursos expressivos corporais. Para que a narrativa seja mais apropriada ao sentido do enredo e mais bem comunicada, a escrita se vale de outros recursos mais adequados aos símbolos lingüísticos, já que não pode amparar-se nos recursos da fala. Como contribuição para a boa organização das frases, dos períodos, das idéias enfim, entram em cena componentes muito especiais: os sinais de pontuação, que determinam a expressividade do texto.

Celso Pedro Luft, em A vírgula – considerações sobre o seu ensino e o seu emprego –, assim fala sobre a pontuação da língua portuguesa: “A nossa língua portuguesa – a pontuação em língua portuguesa – obedece a critérios sintáticos e não prosódicos. Sempre é importante lembrar isso a todos aqueles que escrevem para que se previnam de bisonhas vírgulas de ouvidos. Essa ligação entre pausa e vírgula deve ser a responsável pela maioria dos erros de pontuação. E penso que está na hora de desligar as duas coisas. No entanto, mesmo em gramáticas recentes, e de autores bem conceituados, persiste a ilusão. Quantas vezes fazemos pausa entre sujeito e verbo, entre verbo e complemento. E no entanto é elementar que nessas estruturas não cabe vírgula. Por quê? Porque a nossa virgulação é de base sintática, e não separa o que é sintaticamente ligado.”

Para enriquecer as qualidades do lobisomem, por exemplo, o narrador usa muito o recurso das vírgulas, para separa os apostos. Três trechos demonstram isso com clareza: “Adveio aquele figurão de cachorro, uma peça de vinte palmos de pêlo e raiva.”, “... quando, numa roça de mandioca, adveio aquele figurão de cachorro...”, e “O que o galhofista queria é que eu, coronel de ânimo desenfreado, fosse para o barro...”. Também, a função da vírgula no último período do texto “No alto da figueira estava, no alto da figueira fiquei.” serve para separar duas orações de estruturas semelhantes. Aliás, essa construção enfatiza a intenção de o coronel permanecer onde bem estava.

Outro exemplo do uso de pontuação expressiva no texto, demarcado pelo ponto de exclamação, está no trecho em que ele invoca os santos dos quais é devoto: “- São Jorge, Santo Onofre, São José!”.

Marcadores da narrativa e da oralidade

Há muito, muito mesmo de oralidade no texto. A bem da verdade ele é rico em recursos prosódicos, pois são bravatas, episódios bizarros, nos quais o coronel esteve envolvido, em franco desafio ao seu preparo militar. As referências que ele faz ao lobisomem, como “peste, penitente, sabidão, assombrado” são marcações claras da oralidade, no caso de quem conta uma história. Como se contasse uma anedota, ele não se preocupa em manter o paralelo dos codinomes; em um dado momento, ele trata a besta de pessoa, ao dizer “... uma súcia deles e não uma pessoa sozinha”.

As comparações também são características da oralidade e foram empregadas pelo autor para enriquecer as ilustrações das imagens que ele procura formar na cabeça do interlocutor. “Dei um pulo de cabrito”, uma forma descontraída de dizer que se desviou ou se distancio; “Era trabalho de gelar qualquer cristão”, como algo assustador; “Cheio de voltas e negaças”, no sentido de esquivar-se. “Deu ele de executar macaquices”, como mudança de hábito, em movimentos bruscos. E daí por diante.

O tempo é bem apropriado ao texto, com o objetivo de criar o clima de suspense. Diz a lenda que o lobisomem se transforma numa noite de lua cheia, na terça-feira ou na sexta-feira. Na instância da narrativa observamos uma clara indicação de tempo no início do trecho “Num repente, relembrei estar em noite de lobisomem – era sexta-feira”. Quanto ao espaço, a ambientação em cenário rural se revela adequada ao fato narrado: “Já um estirão era andado quando, numa roça de mandioca,...”. O que se percebe é que o coronel perseguiu o lobisomem por um bom tempo (“Já um estirão era andado...”), até encontrá-lo num ambiente campestre, longe da cidade. Em Goitacazes as narrativas da aparição do lobisomem sempre fizeram referências a uma região rural, afastada da cidade.

O narrador é o próprio personagem, que se defronta com o lobisomem e se apresenta no trecho “Era trabalho de gelar qualquer cristão que não levasse o nome de Ponciano de Azevedo Furtado”. A apresentação é feita na terceira pessoa, porque há um claro interesse de autovaorização; o personagem apresenta-se dando o nome completo, o que demonstra ser pessoa de família importante (não se trata de qualquer cristão, é Ponciano de Azevedo Furtado). No início do livro, Ponciano deixa claro ter origem de família rica e importante: “Herdei do meu avô Simeão terras de muitas medidas, gado do mais gordo, pasto do mais fino.”.

Da instância lexical

Além do neologismo e da transformação de palavras, podemos destacar pelo menos quatro palavras no texto em que os sufixos funcionam para “uma complementação especial de sentido”: devocioneiro, brabento, galhofista e verdal, ambas com sufixos distintos entre si. Devocioneiro = devoto (o sufixo –eiro indica profissão, ofício, ocupação, como em barbeiro, carteiro, porteiro). Brabento = brabo (o sufixo –ento significa “provido ou cheio de”, como em ciumento, avarento, barulhento. Galhofista = galhofeiro, gozador, brincalhão (o sufixo –ista indica ocupação, ofício, prática, como em motorista, tenista, violonista). Verdal, cujo sinônimo mais próximo seria matagal (o sufixo –al indica quantidade, cultura de vegetais, como em areal, em bananal, em arrozal).

Do ponto de vista da transformação destacamos uma sutil e rica substituição do verbo cuidar, empregada na frase “... cuidou que o mato estivesse ardendo”. O sentido aqui empregado é o mesmo que empregou Camões no quarto verso da segunda estrofe do seu mais expressivo soneto sobre o Amor “É cuidar que se ganha em se perder”. Distante da compreensão denotativa para “atentar, preocupar-se, prestar atenção, tomar cuidado, vigiar”, cuidar foi empregado como verbo transitivo direto, no sentido de supor, julgar. É possível dizer que a escolha vocabular é um elemento de composição do personagem, pois mostra a formação e a origem dele (região do país, poder, autovalorização, humor, tendência ao exagero etc.).

Ainda sobre o artifício dos sentidos contrários, vemos no trecho “Sujeito especial em lobisomem como eu não ia cair em armadilha de pouco pau” o uso adequado de palavras com mudança de significados, porém, próximas da idéia que se transmite. Especial, por exemplo, significa “característico, exclusivo, peculiar, particular, privado etc”. Nesse caso foi empregado como especialista, conhecedor, uma atribuição particular do estado de conhecimento do indivíduo. Como o radical é o mesmo, a idéia é transmitida e bem compreendida, embora a palavra empregada seja outra. Armadilha de pouco pau nos remete à idéia de dificuldade de baixa complexidade, ou seja, dificuldade fácil de contornar, de escapar. Por isso, por ser ele um especialista em assuntos de defesa (militar) não cairia na estratégia do lobisomem de o fazer pensar que a besta estava em bando, para intimidar o “valente” coronel.

Os recursos expressivos do texto

O autor usa de alguns recursos estilísticos expressivos para enriquecer a história de heroísmo do coronel. Ele faz uma apresentação hiperbólica do lobisomem, como se quisesse enaltecer as qualidades do adversário, para elevar a condição de superioridade de Ponciano diante dos campeiros. Ao introduzir o adversário, ele se refere a “... figurão de cachorro, uma peça de vinte palmos de pelo e raiva...”, “Ciscava o chão de soltar terra e macega no longo de dez braças ou mais.”, “Dos olhos do lobisomem pingava labareda...”, “Tanta chispa largava o penitente...”, “... queria que eu pensasse ser uma súcia deles...”. A intenção de Ponciano era fazer crer que estava diante de um animal contra o qual nenhum mortal teria coragem de levantar-se, do qual ele não temia. Mas seu medo fica evidente no seguinte trecho: “Já nessa altura eu tinha pegado a segurança de uma figueira”. Ele leva um susto de medo, mas diz “dei um pulo de cabrito”, para atenuar seu temor. E para dizer que isso não significava tanto, ressalva que “preparado estava para a guerra do lobisomem”. Todavia, “no alto da figueira estava, no alto da figueira fiquei.”.

Como recurso para não revelar esse sentimento inferior, apesar de apresentar o lobisomem como um ser aterrorizador, uma figura assustadora, ele se valoriza, diminui os atributos do animal, para engrandecer-se, e até cria uma intenção para o lobisomem em querer enredá-lo em uma armadilha: “O que o galhofista queria é que eu, coronel de ânimo desenfreado, fosse para o barro denegrir a farda e deslustrar a patente. Sujeito especial em lobisomem como eu não ia cair em armadilha de pouco pau”. Essa seria uma justificativa para ele não descer do galho e enfrentar o animal.

Enfim, ao usar de variedades para chamar o lobisomem de “Figurão de cachorro” (da família de caninos), “a peste” (como aquilo que age para contaminar os outros), “o penitente” (que carrega maldição consigo, ou que penitencia), “o assombrado” (decorrente de uma maldição), “o galhofista” (que é dado a brincadeiras e zombetearias), o narrador procura produzir no texto o efeito de mostrar ao interlocutor as muitas facetas do animal, detalhes assustadores e surpreendentes, além de emprestar ao caso um sabor especial.

Conclusão do ponto de vista estilístico.

O texto fala do encontro do coronel com um lobisomem. O narrador é o próprio coronel, que ao falar de si mesmo, introduz seu nome completo. Ao usar a terceira pessoa em lugar da primeira ressalta não sua pessoa, mas a personagem que encarna o coronel valente, que enfrentaria uma fera, cuja guerra não seria para qualquer cristão, mas, sim, para Ponciano de Azevedo Furtado.

O léxico é bem planejado e se posiciona em dois eixos: o da Hipérbole (com relação ao animal) e o do eufemismo (com relação ao coronel). O narrador exagera os atributos do animal que enfrentaria. Expressões como “... figurão de cachorro, uma peça de vinte palmos de pelo e raiva...”, “Ciscava o chão de soltar terra e macega no longo de dez braças ou mais.”, “Dos olhos do lobisomem pingava labareda...”, “Tanta chispa largava o penitente...”, “... queria que eu pensasse ser uma súcia deles...” enfatizavam a dimensão de perigo que oferecia seu oponente, de quem ele dizia não ter medo, porém, sua fuga era uma estratégia de preparo militar.

Sua condição, porém, é tratada de forma diferente. Usa um conjunto de eufemismo ao falar de sua atitude diante do animal, para emprestar ao caso um sabor especial de coragem e valentia. Ele se assusta, mas diz que foi um reflexo de “um pulo de cabrito”. Procura não demonstrar medo, mas “Por descargo de consciência, do que nem carecia, chamei os santos de que sou devocioneiro”. Ao ver os artifícios do lobisomem, ele sobe em uma figueira e lá no alto fica, com a intenção de não sair.

Outro recurso sintático empregado para dar expressividade ao texto é a vírgula. Bem colocada, a vírgula tem o papel de enriquecer as qualidades do lobisomem, principalmente por meio da separação do aposto. Sem falar no exemplo do uso de pontuação expressiva no texto (demarcado pelo ponto de exclamação), contido no trecho em que ele invoca os santos dos quais é devoto: “- São Jorge, Santo Onofre, São José!”.

José Candido de Carvalho usa uma linguagem corrente, agradável e de fácil assimilação. Os verbetes empregados são de origembastante popular, com algumas alterações na forma natural, provocadas pelo emprego de sufixos e prefixos, que funcionam como “uma complementação especial de sentido”. Isso reforça a condição do emprego de neologismo ao longo de todo o texto. Segundo Raquel de Queiroz, o resultado desse trabalho com a linguagem é muito bom, a tal ponto que ficamos pensando “por que é que já não se dizia aquilo assim, antes”.

fonte: http://www.mundocultural.com.br/

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Conheça a história do cacique Tibiriça

Tibiriçá foi o primeiro índio a ser catequizado pelo padre José de Anchieta. Foi convertido e batizado pelos jesuítas José de Anchieta e Leonardo Nunes. Seu nome de batismo cristão foi Martim Afonso, em homenagem ao fundador de São Vicente. Sua data de nascimento é calculada em 1440. Seus restos mortais encontram-se na cripta da Catedral da Sé, na cidade de São Paulo.

"Maioral" ou "Vigilância da Terra", na língua Tupi, Cacique guaianás ou tupi, sendo divergentes nesse ponto as opiniões dos historiadores. Chefe de uma parte da nação indígena estabelecida nos campos de Piratininga, com sede na aldeia de Inhampuambuçu. Irmão de Piquerobi e de Caiubi, índios que salientaram durante a colonização do Brasil, o primeiro como inimigo e o segundo como grande colaborador dos jesuítas.

Teve muitos filhos. Com a índia Potira , teve Ítalo, Ará, Pirijá, Aratá, Toruí e Bartira. A índia Bartira, viria a ser mulher de João Ramalho, de quem era grande amigo e a pedido do qual defendeu os portugueses quando chegaram a São Vicente.

Em 1554, acompanhou Manuel da Nóbrega e Anchieta na obra da fundação de São Paulo, e estabeleceu-se no local onde hoje se encontra o mosteiro de São Bento, espalhando seus índios pelas imediações. A atual rua de São Bento era por esse motivo chamada primitivamente Martim Afonso (nome que fora batizado o cacique). Graças à sua influência, os jesuítas puderam agrupar as primeiras cabanas de neófitos nas proximidades do colégio. Tibiriça deu aos jesuítas a maior prova de fidelidade, a 9 de Julho de 1562 ( e não 10 como habitualmente se escreve), quando, levantando a bandeira e uma espada de pau pintada e enfeitada de diversas cores, repeliu com bravura o ataque à vila de São Paulo, efetuado pelos índios tupi, guaianás e carijós, chefiados por seu sobrinho (filho de Piquerobi) Jagoanharo.


Em 1580, Susana Dias, sua neta, fundou uma fazenda à beira do Rio Tietê, a oeste da cidade de São Paulo, próximo à cachoeira denominada pelos indígenas de "Parnaíba": hoje, é a cidade de Santana do Parnaíba.

Referências
DE LUCA, Roberto Ribeiro, Ascendentes e Descendentes do Alferes Joaquim Franco de Camargo e Maria Lourença de Moraes Edicon, s/d. pp. 117-118;
RODRIGUES, Edith Porchat. Informações Históricas sobre São Paulo no Século de sua Fundação, Martins Editora, 1954, pp. 142-143.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Saiba mais sobre o Realismo e sobre o Naturalismo

O professor Zé Carlos Bastos, do EducaBahia, faz uma abordagem a respeito das característas principais destas duas escolas literárias.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

domingo, 9 de janeiro de 2011


Relembre frases que marcaram a história do Brasil



Muitas das frases mais notáveis da história do país foram criadas ou citadas por escritores e políticos. Jornalistas e historiadores comentam algumas das mais conhecidas.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011




Sem Lula
Por Bernardo Ricupero
cientista político e professor do Departamento de Ciência Política da USP





As últimas semanas do governo Lula corresponderam à consagração definitiva do ex-líder sindical. Foi-se num crescendo, onde vale destacar o discurso de final de ano do ainda presidente: o batismo pela Petrobrás de um campo de petróleo de Lula. O clímax desse processo foi a posse de Dilma Rousseff. Não por acaso, o governo Lula atingiu 87% de aprovação, índice inédito desde que esse tipo de pesquisa começou a ser realizado.

Como é natural, os diferentes discursos proferidos por Lula e Dilma realizaram uma espécie de balanço dos últimos oito anos, além da nova presidenta indicar diretrizes para o futuro. É interessante que, ao avaliarem a “era Lula”, não destacaram apenas as realizações econômicas – como o crescimento de quase 8% esse ano – e os feitos sociais – principalmente a redução da pobreza – mas a recuperação da confiança do brasileiro.

Ou seja, um dos principais méritos do último governo não teria propriamente cor política, não sendo o resultado de uma orientação de esquerda ou de direita, mas seria, em boa medida, o resultado da capacidade de Lula liderar e inspirar seus concidadãos. Significativamente, um governo que não tinha nada de esquerdista, o de Ronald Reagan, gostava de se apresentar como aquele que tinha recuperado a autoestima dos EUA depois do fiasco da Guerra do Vietnã, também, em grande parte, devido às qualidades do ex-presidente.

Os discursos, como é comum nessas ocasiões, fornecem diversos outros exemplos de apelos não políticos. Entre eles, vale ressaltar as seguidas referências à família, bastante estranhas à tradição de esquerda. A imagem sugerida a respeito do presidente é de uma espécie de chefe de família, cioso pelo destino de seus filhos e filhas.

Mais importante, a auto-avaliação daqueles que estiveram à frente do governo nos últimos anos destacou a importância de Lula. Tal representação não deixa de contrastar com a primeira eleição do metalúrgico, em 2002, quando o triunfo foi encarado como igualmente, se não, como principalmente do PT.

Nessa referência, talvez se pudesse tomar os últimos dias do governo Lula como a culminação do que foi chamado de lulismo, fenômeno que é identificado principalmente com a progressiva desvinculação de Lula do PT. Nessa mudança, a crise do “mensalão” e a desilusão por ela provocada teriam sido decisivas.

O lulismo não se reduz, entretanto, à autonomização de Lula do PT. Há outras implicações relevantes, uma delas, como indicou quem melhor o estudou, o cientista político André Singer, o apoio ao ex-presidente e a seu partido já não vem tanto dos setores organizados, mas de um subproletaridado. A partir daí, abre-se caminho para a aproximação do lulismo com o getulismo, já que a liderança dos dois presidentes apoiou-se, em grande parte, na relação direta com as massas.

É sintomático no discurso de despedida de Lula a referência implícita à carta testamento de Getúlio. No entanto, sugere-se uma quase inversão, o governante não mais saindo “da vida para entrar na História”, mas saindo do “governo para viver a vida das ruas”. No mesmo sentido, a resolução indicada no discurso do ex-presidente, de continuar a viver “no coração do povo”, foi literalmente realizada na posse da sua sucessora, quando, numa imagem forte, o já cidadão comum desceu a rampa do Palácio do Planalto e se confundiu com a multidão.

A relação do lulismo com o getulismo é, porém, mais complexa do que se pode imaginar. Se, por um lado, há continuidade no estilo das duas lideranças, por outro lado, não menos significativas são as mudanças sociais e políticas ocorridas entre seus governos.

Na verdade, há, como tem indicado Luiz Werneck Vianna, uma certa ironia em que Lula e o PT no governo se assemelhem a Getúlio e ao PTB. Até porque o partido, que surgiu das greves do ABC do final dos anos 1970, teve como base programática inicial a crítica ao populismo, que impediria as classes de representarem diretamente seus interesses. Em compensação, a eleição de Lula, já em 2002, é indicativa de transformações profundas no Brasil, que tornaram possível a vitória de um partido com forte apoio nos movimentos sociais surgidos desde o fim da ditadura.


Mesmo durante os anos Lula, além do crescente apoio do subproletariado, o governo não deixou de contar com a sustentação, por vezes resignada, dos movimentos sociais. Não por acaso, o desfecho da “crise do mensalão” foi diferente do “Collorgate”, em que o então presidente só podia apelar aos “descamisados” .

Isto é, o governo Lula se sustentou em duas pernas: os movimentos sociais, tradicionalmente identificados com o PT, e um subproletarido, do qual o presidente se tornou interlocutor direto. É provável, portanto, que um dos aspectos mais diferentes do novo governo seja de estilo: Dilma não podendo se identificar com a maioria da população brasileira como faz Lula.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Conheça a história da canção "Tu vuò fà l'americano"


"Tu vuò fa l'americano" (Você finge ser americano) é uma canção em língua napolitana do cantor italiano Renato Carosone.

Carosone compôs a canção em 1956, juntamente com Nicola "Nisa" Salerno. Combinando swing e jazz, tornou-se uma de suas canções mais conhecidas. Encomendada por Rapetti, diretor da Casa Ricordi, para um concurso de rádio, a música foi composta por Carosone em um espaço de tempo muito curto após a leitura das letras de Nisa. Ele imediatamente percebeu que a canção se tornaria um grande sucesso. A canção foi apresentada no filme de 1960 do diretor Melville Shavelson It Started In Naples , em que foi cantada por Sofia Loren e Clark Gable. Também foi cantada por Rosario Fiorello no filme de 1999 O Talentoso Ripley e ganhou uma cover da banda The Puppini Sisters.


Um dos maiores símbolos do processo de americanização


A letra é sobre um italiano que imita o estilo de vida contemporâneo norte-americano e age como um Yankee: bebendo uísque e refrigerante, dançando ao som do rock 'n roll, jogando baseball e fumando cigarros Camel, mas que ainda depende dos pais. A canção é geralmente considerada uma sátira sobre o processo da americanização que ocorreu nos primeiros anos do pós-guerra, quando o sul da Itália ainda era uma sociedade rural tradicional.

O próprio Carosone escreveu que suas canções "foram profundamente baseadas no sonho americano, interpretando jazz e seus derivados como um símbolo de uma "América", a terra do progresso e do bem-estar, mas sempre ao estilo napolitano, fazendo desse símbolo uma paródia dissimulada de seus costumes". Segundo o jornal italiano La Repubblica "Tu vuò fa l'americano" é o símbolo da parábola artística de Carosone, já que se aposentou da música em 1960, apenas quatro anos após lançar a canção.