sábado, 6 de abril de 2013

Questões de vestibulares (PUC-RJ)

História
PUCRJ
Prova discursiva 2000/2
Enunciado das questões e gabarito
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4
"A Revolução Industrial assinala a mais radical transformação da vida humana já registrada em documentos. Durante um breve período ela coincidiu com a História de um único país, a Grã-Bretanha. Assim, toda uma economia mundial foi edificada com base na Grã-Bretanha, ou antes, em torno desse país. [...] Houve um momento na história do mundo em que a Grã-Bretanha podia ser descrita como sua única oficina mecânica, seu único importador e exportador em grande escala, seu único transportador, seu único país imperialista e quase que seu único investidor estrangeiro; e, por esse motivo, sua única potência naval e o único país que possuía uma verdadeira política mundial. Grande parte desse monopólio devia-se simplesmente à solidão do pioneiro, soberano de tudo quanto se ocupa por causa da ausência de outros ocupantes."
E. J. Hobsbawm. Da revolução industrial inglesa ao imperialismo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1983, p.9.

Ao falar da "solidão do pioneiro", o autor refere-se ao pioneirismo da Grã-Bretanha na Revolução Industrial.
a) Apresente DUAS razões que contribuíram para que a Grã-Bretanha tenha experimentado a "solidão do pioneiro" naquele processo.



Resposta O candidato deverá apresentar duas dentre as razões a seguir: a acumulação de capital, entre os séculos XVI e XVIII, por parte da burguesia e da gentry, nas atividades agrícolas, comerciais e manufatureiras; a existência de uma massa de mão-de-obra disponível, barata e farta, advinda do cercamento dos campos, para ser utilizada nas primeiras fábricas; a existência de mercados produtores de matérias-primas e de mercados consumidores para os produtos industrializados ingleses, decorrência de seu grande poderio naval e comercial que permitiu à Inglaterra formar um dos maiores impérios coloniais da época moderna; a abundância, em seu território, de jazidas de ferro e carvão, matérias-primas fundamentais para a construção das máquinas e para a produção de energia; a adoção, desde a Revolução Gloriosa, pelo Estado inglês, de uma política econômica que representava os interesses da burguesia.



b) Identifique DUAS mudanças ocorridas na sociedade inglesa no decorrer do século XIX que permitam exemplificar a afirmativa do autor de que "a Revolução Industrial assinala a mais radical transformação da vida humana já registrada em documentos".





Resposta O candidato poderá identificar duas dentre as seguintes mudanças: a crescente urbanização, visto que a concentração das indústrias, a aglomeração de um grande número de trabalhadores em um mesmo lugar e o aumento de atividades no setor terciário provocaram o surgimento e o extraordinário crescimento de cidades como Manchester, Liverpool, Bristol e principalmente Londres; o aumento demográfico, devido em parte às modificações nas técnicas agrícolas que possibilitaram o aumento da oferta de alimentos; o desenvolvimento da produção em massa, decorrência da introdução da máquina no processo produtivo, do rápido aprimoramento tecnológico e da maior divisão do trabalho; a adoção de políticas econômicas liberais e industriais que, fundamentadas nas concepções teóricas do "laissez-faire", subordinavam a economia a leis naturais, condenando as práticas mercantilistas e as sobrevivências feudais, defendendo a propriedade privada dos meios de produção pela burguesia, a livre-concorrência, a liberdade econômica para produzir, vender, investir, fazer circular as riquezas produzidas, comprar e fixar salário, a não-intervenção do Estado nas atividades econômicas e a afirmação de sua função apenas como mantenedor da ordem necessária ao funcionamento das leis do mercado; a configuração de dois grupos sociais básicos na sociedade: a burguesia - proprietária dos meios de produção - e o operariado - que vende sua força de trabalho em troca de um salário; as péssimas condições de trabalho e de vida existentes naquela época: a miséria dos bairros operários, a sujeira, a poluição, a falta de saneamento e de espaço, a exploração do trabalho de mulheres e crianças, as longas jornadas de trabalho, os baixos salários, o desemprego e a falta de uma legislação trabalhista; o início de movimentos de reação dos trabalhadores, como o Ludismo (destruição de máquinas, identificadas como as responsáveis pela sua situação de miséria) e o Cartismo (o envio ao Parlamento inglês da "Carta do Povo", onde se exigia o sufrágio universal masculino, o voto secreto, a remuneração dos parlamentares, uma representação mais igualitária nas eleições, entre outros itens); o início da organização do movimento operário com o surgimento das trade-unions (associações de trabalhadores, com objetivos inicialmente assistenciais, das quais se originariam os sindicatos); o surgimento de novas teorias sociais, como o Socialismo e o Anarquismo.


5
[...]"Nela, até agora, não podemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem ferro lho vimos. Mas a terra em si é de muitos bons ares, frios e temperados como os de Entre-Douro e Minho.[...] E em tal maneira é graciosa que, querendo a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.
Mas o fruto que nela se pode fazer, me parece, que será salvar esta gente, e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.
E que aí não houvesse mais do que ter aqui pousada para esta navegação de Calecute, bastaria quanto mais disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa santa fé."
Pero Vaz de Caminha. Carta a El-Rei Dom Manuel I (1500)

No trecho final da Carta ao Rei de Portugal, comunicando o achamento da Ilha de Vera Cruz, o escrivão Pero Vaz de Caminha reafirmava os objetivos mercantil e religioso que norteavam a expansão marítima portuguesa nos séculos XV e XVI.
A partir do trecho acima, faça o que se pede.
a) Caracterize o objetivo mercantil da expansão marítima portuguesa, considerando a noção de monopólio ou exclusivo comercial.
 



Resposta O candidato deve ter como referência inicial o fato de a expansão marítima portuguesa se apresentar como o primeiro momento da expansão marítima européia, que em sua dimensão mercantil tinha como objetivo principal superar os limites e dificuldades enfrentados pela economia portuguesa em particular, e pela européia em geral, nos anos finais das Idade Média: os preços elevados dos produtos orientais; a escassez de metais preciosos, em particular a prata - base de troca no comércio oriental; a escassez de alimentos; a busca de produtos tintoriais, como o pau-brasil; o interesse em expandir os "negócios açucareiros"; a conquista de pontos fornecedores de escravos; entre outros. Uma expansão que revelava também as disputas de interesses entre os grupos de comerciantes e os soberanos europeus (reinos e/ou cidades-estados).
O avanço pelo Mar Tenebroso (oceano Atlântico), contornando o continente africano e, logo em seguida, em direção ao Oriente (as "Índias"), tinha como objetivo a conquista de pontos fornecedores desses produtos, garantindo a exclusividade ou o monopólio do seu fornecimento no mercado europeu, modo de garantir elevados lucros. O controle monopolista ou exclusivo desses produtos implicava o controle exclusivo dos roteiros marítimos que a eles conduziam.
Esta é a lógica que preside a assinatura do Tratado de Tordesilhas entres os soberanos português e espanhóis (1494) e o posterior "achamento" da Ilha de Vera Cruz (1500) - "pousada para esta navegação de Calecute"- modos de garantir o controle exclusivo ou monopolista da Rota do Cabo, isto é, a rota que conduzia ao Oriente ("o caminho marítimo até as Índias") por meio da posse exclusiva dos litorais africano e americano no Atlântico Sul.


b) Caracterize o objetivo religioso daquela expansão, tendo como referência a diferença feita pelos europeus entre infiel e pagão.




Resposta
O candidato deve pôr em destaque que a aventura das navegações portuguesas apresentava-se também para a grande maioria dos seus participantes como condição de expansão da fé cristã, superando o "cerco" imposto pelos infiéis muçulmanos à Cristandade européia, que parecia assumir um ponto crítico com a queda de Constantinopla - a "segunda Roma", em 1453.
A expansão marítima portuguesa revestia-se, assim, do caráter de cruzada ao ir de encontro ao infiel muçulmano. Assumia, por outro lado, um caráter missionário ao ir ao encontro daqueles que eram vistos como pagãos, como os indígenas da Ilha de Vera Cruz - "cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa santa fé".

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