História
PUCRJ
Prova discursiva 2000/2
Enunciado das questões e gabarito.
  
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"A Revolução Industrial assinala a mais radical transformação da vida humana já registrada em documentos. Durante um breve período ela coincidiu com a História de um único país, a Grã-Bretanha. Assim, toda uma economia mundial foi edificada com base na Grã-Bretanha, ou antes, em torno desse país. [...] Houve um momento na história do mundo em que a Grã-Bretanha podia ser descrita como sua única oficina mecânica, seu único importador e exportador em grande escala, seu único transportador, seu único país imperialista e quase que seu único investidor estrangeiro; e, por esse motivo, sua única potência naval e o único país que possuía uma verdadeira política mundial. Grande parte desse monopólio devia-se simplesmente à solidão do pioneiro, soberano de tudo quanto se ocupa por causa da ausência de outros ocupantes."
Prova discursiva 2000/2
Enunciado das questões e gabarito.
  4 "A Revolução Industrial assinala a mais radical transformação da vida humana já registrada em documentos. Durante um breve período ela coincidiu com a História de um único país, a Grã-Bretanha. Assim, toda uma economia mundial foi edificada com base na Grã-Bretanha, ou antes, em torno desse país. [...] Houve um momento na história do mundo em que a Grã-Bretanha podia ser descrita como sua única oficina mecânica, seu único importador e exportador em grande escala, seu único transportador, seu único país imperialista e quase que seu único investidor estrangeiro; e, por esse motivo, sua única potência naval e o único país que possuía uma verdadeira política mundial. Grande parte desse monopólio devia-se simplesmente à solidão do pioneiro, soberano de tudo quanto se ocupa por causa da ausência de outros ocupantes."
 E. J. Hobsbawm. Da revolução 
  industrial inglesa ao imperialismo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 
  1983, p.9. 
Ao falar da "solidão do pioneiro", o autor refere-se ao pioneirismo 
  da Grã-Bretanha na Revolução Industrial.
a) Apresente DUAS razões que contribuíram para que a Grã-Bretanha 
  tenha experimentado a "solidão do pioneiro" naquele processo.
Resposta
  O candidato deverá apresentar duas dentre as razões 
  a seguir: a acumulação de capital, entre os séculos XVI 
  e XVIII, por parte da burguesia e da gentry, nas atividades agrícolas, 
  comerciais e manufatureiras; a existência de uma massa de mão-de-obra 
  disponível, barata e farta, advinda do cercamento dos campos, para ser 
  utilizada nas primeiras fábricas; a existência de mercados produtores 
  de matérias-primas e de mercados consumidores para os produtos industrializados 
  ingleses, decorrência de seu grande poderio naval e comercial que permitiu 
  à Inglaterra formar um dos maiores impérios coloniais da época 
  moderna; a abundância, em seu território, de jazidas de ferro e 
  carvão, matérias-primas fundamentais para a construção 
  das máquinas e para a produção de energia; a adoção, 
  desde a Revolução Gloriosa, pelo Estado inglês, de uma política 
  econômica que representava os interesses da burguesia.
 b) Identifique DUAS mudanças ocorridas na sociedade inglesa no decorrer 
  do século XIX que permitam exemplificar a afirmativa do autor de que 
  "a Revolução Industrial assinala a mais radical transformação 
  da vida humana já registrada em documentos".
 Resposta
  O candidato poderá identificar duas dentre as seguintes 
  mudanças: a crescente urbanização, visto que a concentração 
  das indústrias, a aglomeração de um grande número 
  de trabalhadores em um mesmo lugar e o aumento de atividades no setor terciário 
  provocaram o surgimento e o extraordinário crescimento de cidades como 
  Manchester, Liverpool, Bristol e principalmente Londres; o aumento demográfico, 
  devido em parte às modificações nas técnicas agrícolas 
  que possibilitaram o aumento da oferta de alimentos; o desenvolvimento da produção 
  em massa, decorrência da introdução da máquina no 
  processo produtivo, do rápido aprimoramento tecnológico e da maior 
  divisão do trabalho; a adoção de políticas econômicas 
  liberais e industriais que, fundamentadas nas concepções teóricas 
  do "laissez-faire", subordinavam a economia a leis naturais, condenando 
  as práticas mercantilistas e as sobrevivências feudais, defendendo 
  a propriedade privada dos meios de produção pela burguesia, a 
  livre-concorrência, a liberdade econômica para produzir, vender, 
  investir, fazer circular as riquezas produzidas, comprar e fixar salário, 
  a não-intervenção do Estado nas atividades econômicas 
  e a afirmação de sua função apenas como mantenedor 
  da ordem necessária ao funcionamento das leis do mercado; a configuração 
  de dois grupos sociais básicos na sociedade: a burguesia - proprietária 
  dos meios de produção - e o operariado - que vende sua força 
  de trabalho em troca de um salário; as péssimas condições 
  de trabalho e de vida existentes naquela época: a miséria dos 
  bairros operários, a sujeira, a poluição, a falta de saneamento 
  e de espaço, a exploração do trabalho de mulheres e crianças, 
  as longas jornadas de trabalho, os baixos salários, o desemprego e a 
  falta de uma legislação trabalhista; o início de movimentos 
  de reação dos trabalhadores, como o Ludismo (destruição 
  de máquinas, identificadas como as responsáveis pela sua situação 
  de miséria) e o Cartismo (o envio ao Parlamento inglês da "Carta 
  do Povo", onde se exigia o sufrágio universal masculino, o voto 
  secreto, a remuneração dos parlamentares, uma representação 
  mais igualitária nas eleições, entre outros itens); o início 
  da organização do movimento operário com o surgimento das 
  trade-unions (associações de trabalhadores, com objetivos inicialmente 
  assistenciais, das quais se originariam os sindicatos); o surgimento de novas 
  teorias sociais, como o Socialismo e o Anarquismo.
  
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[...]"Nela, até agora, não podemos saber que haja ouro, 
  nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem ferro lho vimos. Mas a terra em si 
  é de muitos bons ares, frios e temperados como os de Entre-Douro e Minho.[...] 
  E em tal maneira é graciosa que, querendo a aproveitar, dar-se-á 
  nela tudo, por bem das águas que tem. 
Mas o fruto que nela se pode fazer, me parece, que será salvar esta gente, e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.
E que aí não houvesse mais do que ter aqui pousada para esta navegação de Calecute, bastaria quanto mais disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa santa fé."
Mas o fruto que nela se pode fazer, me parece, que será salvar esta gente, e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.
E que aí não houvesse mais do que ter aqui pousada para esta navegação de Calecute, bastaria quanto mais disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa santa fé."
 Pero Vaz de Caminha. Carta a El-Rei Dom Manuel 
  I (1500) 
No trecho final da Carta ao Rei de Portugal, comunicando o achamento da Ilha 
  de Vera Cruz, o escrivão Pero Vaz de Caminha reafirmava os objetivos 
  mercantil e religioso que norteavam a expansão marítima portuguesa 
  nos séculos XV e XVI. 
A partir do trecho acima, faça o que se pede.
A partir do trecho acima, faça o que se pede.
a) Caracterize o objetivo mercantil da expansão marítima portuguesa, 
  considerando a noção de monopólio ou exclusivo comercial.
Resposta
  O candidato deve ter como referência inicial o fato 
  de a expansão marítima portuguesa se apresentar como o primeiro 
  momento da expansão marítima européia, que em sua dimensão 
  mercantil tinha como objetivo principal superar os limites e dificuldades enfrentados 
  pela economia portuguesa em particular, e pela européia em geral, nos 
  anos finais das Idade Média: os preços elevados dos produtos orientais; 
  a escassez de metais preciosos, em particular a prata - base de troca no comércio 
  oriental; a escassez de alimentos; a busca de produtos tintoriais, como o pau-brasil; 
  o interesse em expandir os "negócios açucareiros"; a 
  conquista de pontos fornecedores de escravos; entre outros. Uma expansão 
  que revelava também as disputas de interesses entre os grupos de comerciantes 
  e os soberanos europeus (reinos e/ou cidades-estados). 
O avanço pelo Mar Tenebroso (oceano Atlântico), contornando o continente africano e, logo em seguida, em direção ao Oriente (as "Índias"), tinha como objetivo a conquista de pontos fornecedores desses produtos, garantindo a exclusividade ou o monopólio do seu fornecimento no mercado europeu, modo de garantir elevados lucros. O controle monopolista ou exclusivo desses produtos implicava o controle exclusivo dos roteiros marítimos que a eles conduziam.
Esta é a lógica que preside a assinatura do Tratado de Tordesilhas entres os soberanos português e espanhóis (1494) e o posterior "achamento" da Ilha de Vera Cruz (1500) - "pousada para esta navegação de Calecute"- modos de garantir o controle exclusivo ou monopolista da Rota do Cabo, isto é, a rota que conduzia ao Oriente ("o caminho marítimo até as Índias") por meio da posse exclusiva dos litorais africano e americano no Atlântico Sul.
O avanço pelo Mar Tenebroso (oceano Atlântico), contornando o continente africano e, logo em seguida, em direção ao Oriente (as "Índias"), tinha como objetivo a conquista de pontos fornecedores desses produtos, garantindo a exclusividade ou o monopólio do seu fornecimento no mercado europeu, modo de garantir elevados lucros. O controle monopolista ou exclusivo desses produtos implicava o controle exclusivo dos roteiros marítimos que a eles conduziam.
Esta é a lógica que preside a assinatura do Tratado de Tordesilhas entres os soberanos português e espanhóis (1494) e o posterior "achamento" da Ilha de Vera Cruz (1500) - "pousada para esta navegação de Calecute"- modos de garantir o controle exclusivo ou monopolista da Rota do Cabo, isto é, a rota que conduzia ao Oriente ("o caminho marítimo até as Índias") por meio da posse exclusiva dos litorais africano e americano no Atlântico Sul.
b) Caracterize o objetivo religioso daquela expansão, tendo como referência 
  a diferença feita pelos europeus entre infiel e pagão.
Resposta
O candidato deve pôr em destaque que a aventura das navegações portuguesas apresentava-se também para a grande maioria dos seus participantes como condição de expansão da fé cristã, superando o "cerco" imposto pelos infiéis muçulmanos à Cristandade européia, que parecia assumir um ponto crítico com a queda de Constantinopla - a "segunda Roma", em 1453.
A expansão marítima portuguesa revestia-se, assim, do caráter de cruzada ao ir de encontro ao infiel muçulmano. Assumia, por outro lado, um caráter missionário ao ir ao encontro daqueles que eram vistos como pagãos, como os indígenas da Ilha de Vera Cruz - "cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa santa fé".
O candidato deve pôr em destaque que a aventura das navegações portuguesas apresentava-se também para a grande maioria dos seus participantes como condição de expansão da fé cristã, superando o "cerco" imposto pelos infiéis muçulmanos à Cristandade européia, que parecia assumir um ponto crítico com a queda de Constantinopla - a "segunda Roma", em 1453.
A expansão marítima portuguesa revestia-se, assim, do caráter de cruzada ao ir de encontro ao infiel muçulmano. Assumia, por outro lado, um caráter missionário ao ir ao encontro daqueles que eram vistos como pagãos, como os indígenas da Ilha de Vera Cruz - "cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa santa fé".
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