CONCURSO HISTORIADOR (UFPR)
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
21 - Considere o fragmento de
texto abaixo:
(...) Estou procurando resgatar o
pobre descalço, o agricultor ultrapassado, o tecelão do tear manual ‘obsoleto’,
o artesão ‘utopista’ e até os seguidores enganados de Joanna Southcott, da
enorme condescendência da posteridade. Suas habilidades e tradições podem
ter-se tornado moribundas. Sua hostilidade ao novo industrialismo pode ter-se
tornado retrógrada. Seus ideais podem ter-se tornado fantasias. Suas
conspirações insurrecionais podem ter-se tornado imprudentes. Mas eles viveram
nesses períodos de extrema perturbação social, e nós, não.
(THOMPSON, E. P. A formação da
classe operária inglesa. RJ: Paz e Terra, p. 12.)
A partir do excerto de Thompson e
dos conhecimentos sobre as relações entre a “história vista de baixo” e a
história social, considere as seguintes afirmativas:
1. Thompson defendeu a “história
vista de baixo”, que considerava as experiências passadas de agentes históricos
até então negligenciados pelos historiadores, como a diversidade social e
cultural que compôs a classe operária inglesa na virada do século XVIII para o
século XIX.
2. Um dos problemas enfrentados
por quem pesquisa a “história vista de baixo” são a disponibilidade de acesso a
vestígios deixados por pessoas comuns, especialmente conforme o recuo no tempo.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente a afirmativa 1 é
verdadeira.
b) Somente a afirmativa 3 é
verdadeira.
c) Somente as afirmativas 1, 2 e
4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 2, 3 e
4 são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas 1 e 2
são verdadeiras.
resposta:[C]
22 - (...) O principal valor de
Marx para os historiadores, atualmente, está nas suas afirmações sobre
história, distintas das suas afirmações sobre a sociedade em
geral (...). A força imensa de Marx sempre esteve na sua insistência sobre a
existência da estrutura social e sua
historicidade; ou, em outras palavras, sua dinâmica interna de mudança.
(HOBSBAWM, Eric J. “A
contribuição de Karl Marx para a historiografia”. In: BLACKBURN, Robin (org.).
Ideologia na ciência social: ensaios críticos sobre a teoria social.
Trad. Anlyde Rodrigues. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. 251-252).
Considerando a influência de Marx
nas produções historiográficas, considere as seguintes afirmativas:
1. O chamado “marxismo vulgar”,
denunciado por Hobsbawm como uma simplificação dos estudos de Marx e Engels
aplicados aos estudos históricos, tem como uma das características centrais a
ênfase na interpretação econômica da História e no modelo de base e
superestrutura.
2. Ao distinguir as afirmações de
Marx sobre a história e a análise de Marx sobre a sociedade em geral, Hobsbawm
defende que as mudanças socioeconômicas devem ser vistas em seus diferentes
contextos sociais, fugindo à inevitabilidade histórica.
4. Ao afirmar que a força dos
estudos de Marx estava na ênfase na dinâmica interna de mudança, Hobsbawm
ignorou as contribuições desse autor para o estudo das filosofias iluministas e
da escolástica medieval.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente a afirmativa 1 é
verdadeira.
b) Somente as afirmativas 1 e 2
são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 3 e 4
são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 2, 3 e
4 são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas 1, 2 e
3 são verdadeiras.
23 - Em seu artigo “História e
Ciências Sociais: a longa duração” (1958), o historiador Fernand Braudel
refletiu sobre as temporalidades da história, que ele concentrou em:
a) dois tempos: o presente, em
que o historiador se insere e que interfere em suas escolhas metodológicas, e o
passado, objeto de estudo exclusivo do historiador.
b) quatro tempos: História
Antiga, História Medieval, História Moderna e História Contemporânea, tendo
como denominador comum o continente europeu.
c) três tempos: o tempo
subjetivo, no qual o historiador está inserido, o tempo das conjunturas
socioeconômicas e o tempo dos acontecimentos políticos mais relevantes para o
registro histórico.
d) dois tempos: o tempo breve,
dedicado à história política e aos acontecimentos, e o tempo longo, como um
denominador comum para o estudo interdisciplinar.
e) três tempos: o tempo curto ou
breve, dos acontecimentos, próprio da história tradicional, o tempo das
conjunturas, mais usado pela história econômica e o tempo longo ou longa
duração, das estruturas sociais e culturais.
24 - Considere os dois trechos abaixo:
A própria leitura dos documentos
de nada serviria se fosse feita com ideias preconcebidas; nisto consiste o erro
mais comum de nossa época. (...) O melhor dos historiadores é aquele que se
mantém o mais próximo possível dos textos, interpretandoos com justeza, não
escrevendo e não pensando senão segundo eles.
(COULANGES, Fustel de. “Historie des institutions politiques de l’ancienne
France” – seleção. In EHRARD, J. e PALMADE, G. P. L’histoire. 2. ed.
Paris: A. Colin, 1965, p. 322-324.)
Toda imagem histórica contém,
portanto, uma forte dose de fantasia. O historiador não pode eliminá-la, mas
pode calcular os elementos reais que entram nas imagens e, sobre estes, erigir
sua obra; estes elementos são os que ele conseguiu nos documentos.
(LANGLOIS, C. V.; SEIGNOBOS, C.
Introdução aos estudos históricos. Trad. Laerte de Almeida Morais. São Paulo:
Editora Renascença, 1946, p. 155-156).
Em relação aos trechos acima, é
correto afirmar:
a) Mostram a fragilidade do
trabalho histórico na visão dos historiadores culturais, que desenvolveram
complexas técnicas paleográficas para a leitura de documentos históricos.
b) Revelam a importância do
documento histórico como uma evidência irrefutável para a construção do
trabalho histórico, e demonstram a posição dos historiadores marxistas quanto à
necessidade de manter a objetividade histórica.
c) Traduzem a inquietação de
historiadores franceses do final do século XIX quanto ao caráter subjetivo da
investigação histórica que, por isso, defendiam a objetividade do método
histórico a partir da avaliação estrita dos documentos.
d) Defendem que há uma realidade
concreta por trás dos documentos históricos, que devem ser escrutinados por
meio de hipóteses a serem elaboradas por historiadores profissionais.
e) Demonstram a certeza dos
historiadores positivistas de que é impossível chegar a uma verdade histórica a
partir do exame dos documentos, pois há uma grande distância entre os
historiadores e seu passado.
25 - Considere o excerto de uma
palestra proferida pelo historiador Lucien Febvre:
(...) Para fazer história, virai
decididamente as costas ao passado e vivei primeiro. Misturai-vos à vida. À
vida intelectual, sem dúvida, em toda a sua variedade. Historiadores, sede
geógrafos. Sede juristas também, e sociólogos e psicólogos; não fecheis os
olhos ao grande movimento que, perante vós, transforma num ritmo vertiginoso as
ciências do universo físico.
(FEBVRE, Lucien apud MOTA, C. G. (org.). Lucien Febvre: História.
SP: Ática, 1978, p. 7).
Com relação à primeira geração da
denominada Escola dos Annales, identifique as afirmativas a seguir como verdadeiras
(V) ou falsas (F):
( ) Considerava a
interdisciplinaridade como uma postura científica fundamental para responder
aos problemas investigados pelos historiadores.
( ) Advogou pela prática da
interdisciplinaridade nos estudos históricos, mas na prática essa geração não
logrou realizá-la. Somente as gerações seguintes conseguiram aplicar esses
ensinamentos, e, ainda assim, com muitas dificuldades.
( ) Aplicou a
interdisciplinaridade em estudos como “A sociedade feudal”, de Marc Bloch, e “O
problema da incredulidade no século XVI: a religião de Rabelais”, de Lucien
Febvre, dentre outras obras.
( ) Aprofundou o diálogo com
outras disciplinas das Ciências Humanas na primeira década do século XX com a revista
“Anais de História Econômica e Social”, em oposição à história política
factual.
Assinale a alternativa que
apresenta a sequência correta, de cima para baixo.
a) V – F – V – V.
b) F – F – V – V.
c) F – V – F – V.
d) V – V – F – F.
e) F – V – F – F.
26 - Considere o excerto abaixo,
do historiador Marc Bloch:
Ora, esse tempo verdadeiro é, por
natureza, um continuum. É também perpétua mudança. Da antítese desses dois
atributos provêm os grandes problemas da pesquisa histórica.
(BLOCH, Marc. Apologia da
história ou O ofício do historiador. RJ: Jorge Zahar, 2001, p. 55.)
O trecho acima se refere ao
seguinte problema da pesquisa histórica:
a) A tensão entre continuidade e
mudança dentro de uma dada duração ou período histórico, o que impede uma
divisão precisa entre passado e presente na investigação de um determinado
problema histórico.
b) A tensão entre continuidade e
mudança na história, o que promove uma separação definida entre passado e
presente na investigação de um tema histórico.
c) A mistura entre continuidades
e transformações dos dados históricos, o que permite uma diferenciação entre
causas e consequências dos fatos históricos.
d) A predominância das continuidades
sobre as transformações históricas, o que justifica o estudo da história como
ciência do passado.
e) A predominância das mudanças
sobre as continuidades históricas em um dado período histórico, o que leva à
adoção da história-problema.
27 - Sobre a abordagem
pós-moderna da história, considere as seguintes afirmativas:
1. Desconstrói os pressupostos e
os elementos do trabalho histórico profissional, desvelando e historicizando mecanismos
de poder que naturalizam os discursos históricos em diferentes momentos.
2. Adota as grandes narrativas
históricas, que partem de um eixo eurocêntrico anglo-saxão e masculino.
3. Renega a metodologia
reflexiva, que reconhece a fragilidade epistemológica da história.
4. Pretende abarcar a multiplicidade
de relatos históricos, reconhecendo que a disciplina histórica produz um entre tantos
relatos possíveis.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente a afirmativa 1 é
verdadeira.
b) Somente as afirmativas 1 e 4
são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 2 e 3
são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 2 e 4
são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas 1, 2 e
3 são verdadeiras.
28 - Sobre a História Nova,
assinale a alternativa correta.
a) Foi um movimento coeso de
historiadores que adotaram a história quantitativa para escrever uma história
política rankeana.
b) Já podia ser vislumbrada nas
reflexões de Voltaire sobre a importância do relato histórico. Tal continuidade
com o pensamento iluminista foi acrescentada à prática da nova história
política e do novo empiricismo.
c) Endossou a visão tradicional
de história acontecimental, por privilegiar o relato do cotidiano e da vida
privada a partir de documentos oficiais escritos.
►d) Opõe-se a uma visão de
história tradicional positivista, privilegiando o estudo de vários tipos de
atores sociais, utilizando uma gama infinita de documentação e de vestígios
históricos e reconhecendo o relativismo cultural na escrita da história.
e) Apresenta predominância de
intelectuais franceses, que se opuseram à abordagem inglesa da História, o que
explica sua preferência pela história serial de inspiração marxista.
29 - Considere o seguinte
excerto:
O documento histórico é um texto
no meio do caminho entre o arbítrio de um historiador (e de uma sociedade) e
seu próprio conteúdo.
(KARNAL, Leandro; GALLI, Flávia T. “A memória evanescente” In PINSKY, C.
B.; LUCA. T. R. (orgs.). O Historiador e suas fontes. SP: Contexto,
2011, p. 23.)
Acerca da relação entre o
historiador e seu objeto de pesquisa, acessado através de documentos,
referenciado no excerto acima, identifique as afirmativas a seguir como
verdadeiras (V) ou falsas (F):
( ) O documento não é nem uma
entidade autônoma, que define completamente os rumos da pesquisa, nem é totalmente
sujeito à interpretação do historiador – há um constante diálogo entre o sujeito
pesquisador e o objeto pesquisado.
( ) Somente o historiador é quem
confere importância ao documento histórico, não importando o seu conteúdo específico.
( ) A leitura do documento traz
informações invariáveis à pesquisa histórica, independentemente do olhar
lançado pelo historiador.
( ) Os autores do excerto
defendem que, isoladamente, nem a visão positivista nem a abordagem
pós-estruturalista da história contemplam a complexidade do documento histórico
para o trabalho do historiador.
Assinale a alternativa que
apresenta a sequência correta, de cima para baixo.
a) V – V – F – F.
b) F – F – V – V.
c) V – F – V – F.
d) V – F – F – V.
e) F – V – F – V.
30 - Assinale a alternativa que
exprime a mudança do conceito de patrimônio cultural no Brasil entre o
Decreto-Lei 25, de 1937, e o artigo 216 da Constituição de 1988.
a) O conceito de 1988 representou
um estreitamento do conceito de patrimônio cultural contido no Decreto-Lei de 1937, a fim de melhor
regulamentar os bens culturais e artísticos produzidos no Brasil após os anos
1960.
b) O conceito mais recente
ignorou determinações do antigo Decreto-Lei, por este ter sido concebido
durante o Estado Novo, trazendo uma concepção estreita de patrimônio cultural,
ligada somente à preservação dos documentos e das produções artísticas
relativas ao período getulista.
c) O conceito mais recente
ampliou a noção mais antiga de patrimônio artístico e cultural, que previa o
conjunto de bens relativos a “fatos memoriais da história do Brasil” e ao seu
“excepcional valor arqueológico ou etnográfico”. A nova noção abarca bens
imateriais e materiais que expressam a multiplicidade identitária brasileira.
d) O conceito mais antigo de
patrimônio contemplou somente as obras artísticas brasileiras produzidas no
âmbito acadêmico, de reconhecido valor estético, enquanto que o conceito mais
recente deu prioridade às obras artísticas de caráter popular, a fim de
reconhecer as minorias negligenciadas pelo poder público.
e) Tanto o conceito mais recente
quanto o conceito mais antigo reconheceram a diversidade cultural brasileira,
que deveria ser preservada pelo poder público. A diferença é que o conceito de
1988 regulamentava o papel dos historiadores especializados nas tradições
populares e folclóricas.
31 - A partir dos anos 1990, o
interesse de historiadores, antropólogos e sociólogos pela fotografia
alargou-se. Confluíram os usos sociais e científicos que a fotografia vinha
recebendo com os novos paradigmas das ciências humanas.
(LIMA, S. F.; CARVALHO, V. C.
“Fotografias - Usos sociais e historiográficos”. In PINSKY, C. B.; LUCA. T. R.
(orgs.). O Historiador e suas fontes. SP: Contexto, 2011, p. 41.)
A respeito da análise
historiográfica das fontes fotográficas, é correto afirmar:
a) Embora muitos estudos sobre os
diversos tipos de fotografia fossem realizados na academia, mediante os novos
paradigmas das ciências humanas, constatou-se que pouco se avançou no estudo
das fotografias, frustrando as expectativas levantadas com os estudos iniciados
nos anos 1990.
b) As fontes fotográficas
passaram a ser analisadas dentro das práticas de cultura visual e material da
sociedade ocidental, como o fotojornalismo (dentre outras), almejando
compreender o papel social e os contextos de produção, de circulação e de consumo
da fotografia.
c) As fontes fotográficas
obedeceram à tendência geral de ampliação da variedade de fontes
historiográficas iniciada com a História Nova, sendo aplicadas ao estudo das
sociedades ocidentais fundamentalmente enquanto ilustrações de eventos históricos
da era contemporânea.
d) A análise das fontes
fotográficas ampliou-se com os paradigmas das ciências humanas, que visaram
incluir as fotografias como elementos de exposição em museus e galerias de
arte.
e) As fontes fotográficas
ampliaram-se conforme o desenvolvimento da cultura visual a partir da
globalização, porém, após um grande interesse dos intelectuais das Ciências
Humanas por essas fontes, o seu estudo não logrou acompanhar a evolução
tecnológica das fotografias.
32 - Os testamentos e inventários
elaborados no período colonial brasileiro são documentos históricos que
oferecem uma rica variedade de informações para o trabalho historiográfico.
Considere as seguintes aplicações do estudo dessas fontes:
1. Uso no estudo de temáticas
religiosas, como santos de devoção, atitudes e sentimentos coletivos em relação
à morte e participação de indivíduos em irmandades, entre outras.
2. Uso no estudo sobre a classe
operária e sobre o complexo arquitetônico urbano industrial, como as condições
de moradia nas vilas operárias, as condições de trabalho nas indústrias e a
evolução da vida urbana.
3. Uso no estudo sobre a
escravidão, como um plantel escravista que, analisado em conjunto com outros
inventários em uma dada duração, revela a dinâmica da sociedade escravista de
uma região.
4. Uso no estudo da cultura
material, como vestimentas, alimentação, meios de transporte, atividades
comerciais, livros e práticas de leitura.
Estão corretos os itens:
a) 1 e 4 apenas.
b) 2 e 4 apenas.
c) 2 e 3 apenas.
d) 1, 3 e 4 apenas.
e) 1, 2 e 3 apenas.
resposta:[D]
33 - Algumas especificidades do
documento fílmico de recriação histórica do passado necessitam ser observadas
pelo historiador em suas análises. Considerando esse tema, assinale a
alternativa correta.
a) O filme histórico é um
documento do presente que visa recriar o passado com fins mercadológicos, o que
pressupõe sempre uma distorção das histórias originais. Por isso, essa
categoria de fonte não é muito usada na análise histórica.
b) O filme histórico é um produto
do presente que torna o passado acessível ao público da era contemporânea.
Muitas vezes, é o único meio pelo qual história e personagens de um passado
distante podem se tornar conhecidos a um grande público, o que faz dos filmes
históricos uma importante fonte para a divulgação do conhecimento histórico.
c) Os únicos filmes históricos
apropriados para a análise historiográfica são aqueles feitos por diretores e
roteiristas preocupados em buscar uma recriação histórica fiel aos
acontecimentos narrados, o que torna a análise fílmica bastante restrita para o
campo historiográfico.
d) Os melhores exemplares de
filmes a serem trabalhados pelo historiador são os filmes comerciais, pois
neles podem ser exploradas várias camadas de interpretação histórica, ao
contrário dos filmes que se anunciam como fiéis aos fatos históricos, que pouco
se utilizam da complexidade da linguagem cinematográfica.
e) Qualquer filme histórico é um
documento que demonstra um olhar do presente sobre o passado, o que por si só
também deve ser levado em conta na análise. Assim, o filme deve ser
problematizado a partir do seu contexto de produção (intenções e estilo do diretor,
roteiro) e de circulação (público-alvo, audiência etc.), além da própria
história contada.
34 - Uma das consequências da
“virada cultural” que influenciou os estudos históricos no mundo ocidental a
partir dos anos 1970 foi o avanço da chamada Nova História Cultural. São
características dessa corrente historiográfica:
a) A aproximação com a ciência
política, produzindo a Nova História Política, que incorpora elementos
simbólicos na análise dos grandes personagens políticos e da história das
ideias.
b) A aproximação com a sociologia
funcionalista, com a consequente incorporação dos estudos de Pierre Bourdieu e
Norbert Elias ao campo histórico, remodelando a concepção de alta cultura
enquanto modo de vida de um povo.
c) O afastamento da história das
demais ciências sociais, marcando a emancipação do campo historiográfico rumo a
uma síntese das demais abordagens históricas, como a história social da cultura
e o materialismo cultural.
d) A aproximação com a
antropologia e a incorporação de uma abordagem mais ampliada de cultura,
rejeitando a separação entre cultura erudita e cultura popular para privilegiar
a produção e circulação de diversos tipos de práticas e materiais culturais (literatura,
meios de comunicação, religião etc.).
e) A aproximação com a
linguística, resultando em um retorno da narrativa sob outros aspectos,
enfatizando as práticas culturais de agentes anônimos estudados sob o paradigma
indiciário.
35 - No que se refere à análise
historiográfica de pinturas, assinale a alternativa que demonstra aspectos que
devem ser considerados pelo historiador.
a) As intenções do pintor
(quando identificadas, assim como as intenções dos seus possíveis patronos e
clientes), a existência de convenções de representação pictórica no tempo
estudado e a presença de mentalidades, ideologias e identidades expressas nas fontes.
b) Independentemente das
intenções do pintor, é importante indagar sobre as condições de produção dessa
pintura e sua recepção em uma determinada época.
c) As intenções do pintor e de
seus patronos e a sua correspondência com os objetos, pessoas e eventos
retratados, que permitem investigar o grau de distorção que as pinturas
realizaram em relação à realidade retratada.
d) A organização interna dos
elementos presentes nas pinturas são o enfoque central do trabalho
historiográfico sobre pinturas, sob influência da iconologia.
e) A iconografia oferece a base
dos estudos de pinturas desde o período renascentista, orientando o olhar do
historiador para a análise de pinturas históricas e dos retratos em detrimento
das pinturas artísticas.
36 - Levando em conta as
utilidades das fontes arqueológicas no estudo historiográfico, considere as
seguintes afirmativas:
1. As fontes arqueológicas
restringem-se ao estudo de determinadas sociedades sem cultura escrita, como as
comunidades indígenas no Brasil, e ao período antigo, em complementação aos
vestígios escritos.
2. As fontes arqueológicas
oferecem uma grande variedade de informações para historiadores de todos os
períodos da História, permitindo analisar um passado mais complexo,
contraditório e múltiplo, em uma análise articulada a fontes escritas, em
sociedades em que tais fontes são encontradas.
3. As fontes arqueológicas têm
trazido à luz situações de resistência e de confronto de certos grupos sociais,
tais como práticas religiosas não cristãs de escravos que não foram registradas
pela cultura escrita produzida pelos senhores de escravos, em países como os
Estados Unidos.
4. As fontes arqueológicas
permitem compreender determinadas situações de mescla cultural que não foram
relatadas em documentos escritos, tais como no caso do Quilombo dos Palmares,
cuja história passou a ser problematizada após escavações arqueológicas terem
encontrado uma grande presença indígena, ignorada pelos documentos escritos do
século XVII.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas 1 e 2
são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas 3 e 4
são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 2, 3 e
4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 1, 2 e
3 são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas 1, 2 e
4 são verdadeiras.
37 - São temas e procedimentos da
História Demográfica:
a) A análise qualitativa de
registros paroquiais, que oferecem informações sobre batismos, casamentos e
óbitos de uma dada comunidade, visando a análise de relações de gênero e
matrimônio.
►b) A análise quantitativa de
registros de eventos vitais (nascimento, batismo, casamento e óbito) de uma
determinada sociedade, a fim de analisar processos como natalidade,
nupcialidade, mortalidade, escolhas matrimoniais, domicílio, família e
migrações.
c) A análise qualitativa de uma
grande variedade de documentos produzidos no período imperial, com destaque
para os registros paroquiais, devido à relação de padroado que o Estado
brasileiro mantinha com a Igreja Católica, o que permite estudar as relações
religiosas no Brasil.
d) A análise quantitativa de
censos populacionais, que permite traçar comparações entre dados demográficos
de natalidade e mortalidade entre sociedades diferentes que viveram em um mesmo
período.
e) A análise qualitativa
transversal de censos demográficos, aplicados principalmente ao estudo do
período colonial no Brasil, no que tange à questão das relações entre senhores
e escravos e à questão das condições de vida das populações escravas.
38 - Considere o seguinte excerto
de texto:
De fato, é possível incorporar
uma preocupação social a cada uma das demais dimensões antes citadas como
subespecialidades da História e também às várias ‘abordagens’ e ‘domínios’ que
veremos a seguir. Mas é também verdade que nem toda História é necessariamente
social.
(BARROS, J. D. O campo histórico
– considerações sobre as especialidades na historiografia contemporânea.
História Unisinos. 9(3):230-242, setembro/dezembro 2005, p. 235).
Assinale a alternativa que
demonstra adequadamente a especificidade da História Social quando articulada a
um determinado objeto de análise historiográfica.
►a) Uma História Social das
Ideias focaliza uma determinada produção intelectual, relacionando-a a um
contexto social mais amplo de relações sociais, classes e/ou estamentos,
ideologias e formas de sociabilidade.
b) Uma História Social do
Conhecimento enfatiza as relações de classe que constituem os meios de produção
da informação, opondo-se a uma abordagem cultural da comunicação.
c) Uma História Social da Arte
contempla as relações políticas e sociais de grupos artísticos oprimidos,
enfocando suas estratégias de resistência no período industrial.
d) Uma História Social das Ideias
vislumbra a atuação de intelectuais em seus círculos específicos, almejando
aprofundar os sentidos que determinadas obras e ideias obtinham em uma dada
época.
e) Uma História Social do
Conhecimento analisa as formas de produção e de difusão da ciência e do
conhecimento erudito, a fim de mostrar o alijamento das elites em relação ao
conhecimento popular.
39 - Segundo o historiador
Antonio Celso Ferreira, “afirmar que a literatura integra o repertório das
fontes históricas não provoca hoje qualquer polêmica, mas nem sempre foi assim.
Mais do que isso, nas últimas décadas, os textos literários passaram a ser vistos
pelos historiadores como materiais propícios a múltiplas leituras”
(FERREIRA, A. C.“Literatura: A
Fonte Fecunda” In PINSKY, C. B.; LUCA. T. R. (orgs.). O Historiador e suas
fontes. SP: Contexto, 2011, p. 61).
Acerca dos temas e de problemas desenvolvidos
para analisar a literatura em um trabalho historiográfico, identifique as
afirmativas a seguir como verdadeiras (V) ou falsas (F):
( ) A fonte literária deve ser
articulada aos contextos sociais e históricos de sua época de produção,
demandando a consulta a outros tipos de fontes contemporâneos a ela.
( ) A recepção crítica da fonte
analisada, a relação entre o texto estudado e as dimensões culturais de uma
dada sociedade, a criação de representações sociais presentes no texto, dentre
outros fatores, são elementos
explorados em uma análise
historiográfica.
( ) Os diferentes papéis
assumidos pela literatura em um dado tempo e em uma dada sociedade na formação
de instituições literárias e nas diversas práticas e de difusão da leitura,
além das relações entre a literatura e outras manifestações artísticas ou de
cultura de massa, também são temas e problemas da alçada dos historiadores.
( ) O trabalho historiográfico
deve partir do instrumental oferecido pela semiótica, enfatizando a análise
interna dos textos.
Assinale a alternativa que
apresenta a sequência correta, de cima para baixo.
a) V – V – F – F.
b) V – V – V – F.
c) F – F – F – V.
d) F – F – V – V.
e) V – F – V – F.
40 - (...) a História Comparada
pergunta simultaneamente: ‘o que observar?’ e ‘como observar?’. E dá respostas
efetivamente originais a essas duas indagações.
(BARROS, J. D. História
comparada: da contribuição de Marc Bloch à constituição de um moderno campo
historiográfico. Revista História Social. Campinas-SP: Unicamp, n. 13, p.
07-21, 2007, p. 10.)
É correto afirmar que a História
Comparada:
a) relaciona ao menos duas
diferentes sociedades em períodos distintos a partir do estudo de um aspecto
comum a elas, partindo do princípio de que todas as sociedades são comparáveis.
b) consiste na comparação de
sociedades a partir do eixo temático de civilizações em diferentes épocas e
lugares, oferecendo um panorama amplo dos diversos tipos de sociedade.
c) utiliza o comparativismo
histórico para produzir relações e sínteses sobre a História Social e Econômica
do mundo.
d) centra-se na análise das
relações internacionais e diplomáticas sincrônicas de países em um dado período
de tempo.
e) realiza a comparação de
sociedades com certa contiguidade espacial e temporal, analisando influências
mútuas que, juntas, oferecem uma visão clara de um problema comum que as
atravessa.
resposta:[E]
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