Concurso Historiador UFSCAR
(2012)
Conhecimentos Específicos
11. O Brasil é um povo que se
constituiu numa nação, que por sua vez se organizou como Estado. Em 1500 não
havia nenhuma dessas três coisas. Logo, não houve Descobrimento do Brasil,
porque o Brasil não existia nem estava encoberto. O que naquele momento
surgiram foram as bases da colonização portuguesa, a qual, por sua vez, é a
base da nossa formação.
A história do Brasil é
essencialmente a de uma colônia que se transformou numa nação.
(Trecho de entrevista com o
historiador Fernando Novais. In: www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500,
24.04.2000)
No fragmento, o historiador
discute aspecto importante que fundamenta a análise do fato destacado, que é o
(A) arcadismo.
(B) patriarcalismo.
(C) estruturalismo.
(D) anacronismo.
(E) dialogismo.
resposta: [D]
De acordo com Fernando Novais, em
1500 não havia o povo brasileiro, nem a nação brasileira e muito menos o Estado
brasileiro e, além disso, Brasil estava não encoberto, portanto é errôneo o
termo descobrimento. Esse tipo de erro é conhecido como anacronismo, que consiste
em utilizar os conceitos e ideias de uma época para analisar os fatos de outro
tempo. Em outras palavras, o anacronismo é uma forma equivocada onde tentamos
avaliar um determinado tempo histórico à luz de valores que não pertencem a
esse mesmo tempo histórico. Por mais que isso pareça um erro banal ou
facilmente perceptível, devemos estar atentos sobre como o anacronismo
interfere no nosso estudo da História.
12. Observe a imagem.
Primeira missa no Brasil – óleo
sobre tela de Victor Meirelles, 1860
(www.dezenovevinte.net/obras/vm_missa.htm)
Tendo como referencial as
concepções de História que consideram as imagens como documentos históricos,
está correto afirmar que a pintura de Victor Meirelles
I. apresenta elementos que
comprovam a realidade do acontecimento, do modo mais fidedigno possível;
II. traz informações sobre o
contexto da época em que a pintura foi produzida;
III. revela uma interpretação
acerca do fato retratado;
IV. torna desnecessária a
utilização de fontes documentais escritas.
Está correto o que se afirma em
(A) III, apenas.
(B) I e IV, apenas.
(C) II e III, apenas.
(D) I, II e IV, apenas.
(E) I, II, III e IV.
As imagens constituem documentos
históricos, são as chamadas fontes iconográficas. No caso da pintura de Victor
Meirelles, “A primeira missa no Brasil”, apesar de ser uma representação
idealizada do que foi o encontro entre os tripulantes da Nau Capitânia que
trouxe os portugueses ao Brasil e os povos indígenas do litoral baiano, baseada
nas características do Romantismo, ela serve como importante documento histórico
e pode ser utilizada, desde que comparada com outras fontes documentais, como
por exemplo, a carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da esquadra de Pedro Álvares
Cabral.
13. Um capuchinho italiano, o padre
José Bolonha, no Tribunal da Reconciliação recusava-se a absolver penitentes
sem que eles lhe prometessem averiguar se seus escravos haviam sido tomados em
guerra justa ou não. Estava persuadido, para espanto de uns e desagrado de
todos, de que a escravidão era ilegítima e contrária à religião.
(Emilia Viotti da Costa. Da
Monarquia à República)
Considerando o texto, a
absolvição para o clérigo citado, dentre outras possibilidades, estava
condicionada ao fato de os escravos serem
(A) indígenas que já haviam sido
catequizados pelos jesuítas.
(B) indígenas que se recusaram à
conversão pacífica ao cristianismo.
(C) africanos de origem, cujo
traficante já havia pagado o dízimo.
(D) nascidos e batizados na
colônia e que não fossem adeptos às religiões africanas.
(E) negros fugitivos ou que
rejeitaram declaradamente o batismo na Igreja católica.
14. Por sua vez, Caio Prado Jr.,
em sua obra clássica, Formação do Brasil Contemporâneo, via o recurso ao
trabalho africano como uma “exigência” da colonização europeia nos trópicos ao
lado da grande propriedade monocultural; o trabalho forçado e, por conseguinte,
o tráfico enquadravam-se ao sentido da colonização. Aprofundando a análise de
Caio Prado Jr., Fernando Novais relacionou a escravidão e o tráfico de escravos
ao processo de acumulação primitiva de capitais na Europa. O tráfico de
africanos controlado pelo capital mercantil metropolitano era, ao lado do
exclusivo, um dos elementos fundamentais da acumulação exógena, já que garantia
a transferência para a Metrópole do excedente econômico produzido pelo braço
cativo na América.
(Gustavo Acioli e Maximiliano M. Menz. Hierarquias continentais e
economia mundo. In: www.gpepsm.ufsc.br)
O fragmento discute as razões
para
(A) a substituição do escravo
indígena pelo africano.
(B) o fracasso da política
mercantilista no Brasil colonial.
(C) a proibição do tráfico
negreiro pela Inglaterra.
(D) o avanço da liberalização
econômica na colônia.
(E) a antecipação dos movimentos
abolicionistas no Brasil.
resposta:[A]
Temos no enunciado da questão alguns fatores que explicam a substituição da mão de obra escrava indígena pela importação de mão de obra escrava proveniente do continente africano, em virtude de o tráfico negreiro ser uma atividade altamente lucrativa que proporcionou a acumulação primitiva de capitais por parte de algumas nações europeias.
Temos no enunciado da questão alguns fatores que explicam a substituição da mão de obra escrava indígena pela importação de mão de obra escrava proveniente do continente africano, em virtude de o tráfico negreiro ser uma atividade altamente lucrativa que proporcionou a acumulação primitiva de capitais por parte de algumas nações europeias.
15. Desde 1650, o Estado do Maranhão
enfrentava grave crise econômica, pois a empresa açucareira da região não tinha
condições de pagar os altos preços do escravo africano. Para resolver o
problema da falta de mão de obra, os senhores de engenho do Maranhão
organizaram tropas para invadir os aldeamentos jesuítas e capturar índios para
o trabalho escravo.
Essa atitude provocou protesto
dos padres jesuítas junto ao governo português, que interveio e acabou
proibindo a escravidão do índio.
(www.cienciashumanas.com.br)
O texto descreve os antecedentes
da
(A) Guerra dos Mascates.
(B) Guerra dos Emboabas.
(C) Revolta de Felipe dos Santos.
(D) Revolta do Vintém.
(E) Revolta de Beckman.
resposta:[E]
O enunciado diz respeito à Revolta de Beckman, movimento liderado pelos proprietários de terras da Capitania do Maranhão, em oposição à Companhia de Comércio do Maranhão e à Companhia de Jesus. O referido movimento teve a liderança dos irmão Manuel e Thomas Beckman, e apresentava entre suas principais reivindicações a extinção da Cia, do Maranhão, a expulsão dos jesuítas e a permissão para a escravização dos índios na citada capitania.
O enunciado diz respeito à Revolta de Beckman, movimento liderado pelos proprietários de terras da Capitania do Maranhão, em oposição à Companhia de Comércio do Maranhão e à Companhia de Jesus. O referido movimento teve a liderança dos irmão Manuel e Thomas Beckman, e apresentava entre suas principais reivindicações a extinção da Cia, do Maranhão, a expulsão dos jesuítas e a permissão para a escravização dos índios na citada capitania.
16. Observadores jesuítas
estimaram em 300 mil o número de índios capturados apenas nas missões do
Paraguai. (...) muitos foram vendidos como escravos em São Vicente e principalmente
no Rio de Janeiro, onde a produção de açúcar desenvolveu-se ao longo do século
XVII. (...) Devemos também levar em conta a conjuntura de escassez de
suprimento de escravos africanos, entre 1625 e 1650 (...). Não é uma simples
coincidência que naqueles anos tenha ocorrido uma ativação das bandeiras.
(Boris Fausto. História do
Brasil)
A conjuntura de escassez de
escravos africanos, a que se refere o texto, ocorreu por ocasião do episódio
(A) da Guerra da Cisplatina.
(B) da Revolução Liberal do
Porto.
(C) da invasão napoleônica à
metrópole portuguesa.
(D) dos movimentos nativistas no
Brasil Colonial.
(E) das invasões holandesas no
Nordeste do Brasil.
resposta:[E]
Durante o domínio holandês, o fornecimento de escravos africanos para a América Portuguesa ficou seriamente comprometida em razão do controle dos mercados fornecedores de escravos no litoral africano, exercido pelos Países Baixos, Uma alternativa para a carência de mão de obra escrava africana foi a substituição pelos índios "ladinos", ou seja, aqueles já acostumados ao trabalho sistemático, principalmente nas lavouras, como era o caso dos indígenas dos aldeamentos jesuíticos.
Durante o domínio holandês, o fornecimento de escravos africanos para a América Portuguesa ficou seriamente comprometida em razão do controle dos mercados fornecedores de escravos no litoral africano, exercido pelos Países Baixos, Uma alternativa para a carência de mão de obra escrava africana foi a substituição pelos índios "ladinos", ou seja, aqueles já acostumados ao trabalho sistemático, principalmente nas lavouras, como era o caso dos indígenas dos aldeamentos jesuíticos.
(Suely R. R. de Queiróz.
Escravidão negra em debate. In: Marcos C. de Freitas (org.). Historiografia
brasileira em perspectiva)
O autor comentado pelo fragmento
é
(A) Sérgio Buarque de Hollanda.
(B) Caio Prado Júnior.
(C) Gilberto Freyre.
(D) Nelson Werneck Sodré.
(E) Celso Furtado.
O mito da democracia racial é um dos temas clássicos trabalhados na obra de Gilberto Freyre, "Casa Grande & Senzala".
18. Como a lei consagrava a
exploração de um grupo pelo outro, “as duas camadas raciais permaneciam, a
despeito de toda sorte de contatos, intercomunicações e intimidades, dois mundos
cultural e socialmente separados, antagônicos e irredutíveis um ao outro”.
Esses pontos de vista são reforçados por Jacob Gorender em O escravismo
colonial, obra de elaborada pesquisa e reflexão, na qual o autor afasta-se das interpretações
que têm como categoria central explicativa a atividade exportadora e propõe o
“historicamente novo” modo de produção escravista colonial, para explicar o
início da formação social brasileira.
(Suely R. R. de Queiróz.
Escravidão negra em debate. In: Marcos C. de Freitas (org.). Historiografia
brasileira em perspectiva)
Considerando o fragmento, o
historiador Jacob Gorender analisa o contexto brasileiro da escravidão por meio
do referencial teórico
(A) do Marxismo.
(B) da Nova História.
(C) da História das Mentalidades.
(D) da História Social das
Ideias.
(E) do Neopositivismo.
resposta:[A]
O referencial teórico utilizado na obra de Jacob Gorender é o marxismo.
O referencial teórico utilizado na obra de Jacob Gorender é o marxismo.
19. Referindo-se à Conjuração
Baiana (1798), Boris Fausto assinala que “a severidade das penas foi
desproporcional à ação e às possibilidades de êxito dos conjurados. Nelas transparece
a intenção de exemplo, um exemplo mais duro do que o proporcionado pelas
condenações aos inconfidentes mineiros.”
(Boris Fausto. História do
Brasil)
Dentre as possíveis explicações
para a maior severidade mencionada, é correto indicar
(A) o maior número de
assassinatos e outras ações violentas contra proprietários brancos cometidas
pelos integrantes do movimento.
(B) a presença de membros ligados
ao alto clero da Igreja católica, motivo pelo qual não foi concedida clemência aos
líderes.
(C) a origem social dos
integrantes e a presença de escravos, relacionando o movimento ao temor do que
havia ocorrido no Haiti.
(D) o apoio material – financeiro
e bélico – que vinha sendo recebido de grupos ingleses interessados na
independência da colônia.
(E) a participação somente de
negros escravizados, tanto africanos quanto nascidos no Brasil, deixando claro
o caráter racial do movimento.
resposta:[C]
A Conjuração Baiana foi um movimento que contou com a participação de diversas camadas sociais, ou seja, se constituiu num movimento popular, contando com muitos artesãos (alfaiates, sapateiros, carpinteiros, entre outros), escravos, ex-escravos, mulatos e demais elementos provenientes dos estratos mais inferiores da sociedade baiana. Sofreu influência do Haitianismo.
A Conjuração Baiana foi um movimento que contou com a participação de diversas camadas sociais, ou seja, se constituiu num movimento popular, contando com muitos artesãos (alfaiates, sapateiros, carpinteiros, entre outros), escravos, ex-escravos, mulatos e demais elementos provenientes dos estratos mais inferiores da sociedade baiana. Sofreu influência do Haitianismo.
20. Observe a imagem.
Jean Baptiste Debret - Negros ao
tronco
(www.brasiliana.usp.br)
Grande parte do imaginário sobre
o cotidiano dos escravos no Brasil tem sido formado graças às obras de artistas
como Debret. Esses trabalhos foram resultado da Missão Artística Francesa, cujos
integrantes vieram ao Brasil
(A) na época das invasões
francesas no Rio de Janeiro e no Maranhão.
(B) a convite da Família Real
portuguesa, que se encontrava no Brasil.
(C) com a comitiva de Maurício de
Nassau, no episódio das invasões holandesas.
(D) por encomenda de Dom Pedro I,
preocupado com a formação da identidade brasileira.
(E) clandestinamente, a serviço
do governo de Napoleão Bonaparte.
21. Analise a charge ambientada
no Brasil, após o regresso de Dom João VI a Portugal (1821).
(Miguel Paiva e Lilia M.
Schwarcz. Da colônia ao império, um Brasil para inglês ver...)
A charge refere-se ao fato de que
(A) o liberalismo brasileiro
seguia fielmente o modelo econômico apregoado na Europa.
(B) a aristocracia brasileira
procurou aperfeiçoar os mecanismos de liberalização econômica.
(C) as medidas joaninas
contribuíram para fortalecer o movimento abolicionista.
(D) a sociedade colonial
brasileira estava conseguindo libertar-se de interferências estrangeiras.
(E) a escravidão representava uma
contradição do liberalismo aplicado à realidade brasileira.
resposta:[E]
22. Mais do que libertar o
Brasil, escravos (...) entraram na guerra para conquistar sua alforria. (...)
Os escravos foram recrutados para lutar a favor da Independência. Mas esses
soldados buscavam mais do que livrar o Brasil do domínio de Portugal. Empunharam
armas na esperança de usar seus serviços de guerra como moeda de troca para
obterem a alforria. (...) Os senhores temiam que seus escravos aproveitassem a
ocasião para lutar por liberdade ou por novos direitos. Em novembro, depois da
batalha de Pirajá, Labatut mandou recrutar “pardos e pretos forros” para criar
um batalhão de libertos.
(Hendrik Kraay. Independência é
liberdade. In: www.brasil.gov.br/sobre/
historia/independencia/independencia-e-liberdade)
O fragmento relata acerca das
batalhas ocorridas
(A) em São Paulo.
(B) na Bahia.
(C) em Alagoas.
(D) no Rio Grande do Sul.
(E) no Ceará.
23. Antônio Vieira, em 1633,
(...) então um jovem de 26 anos, desenvolveu a ideia de serem os africanos e
negros, por ele chamados de “etíopes”, os eleitos de Deus e feitos à semelhança
de Cristo para salvar a humanidade através do sacrifício.
No engenho, pregava Vieira aos
escravos, “sois imitadores de Cristo crucificado [...], porque padecíeis de um
modo muito semelhante o que o mesmo senhor padeceu na sua cruz, e em toda a sua
paixão.” (...)
Recomendação de paciência com a
promessa da salvação gloriosa devida por Deus aos mártires, eis o que pregava Vieira
aos negros.
(Ronaldo Vainfas, Deus contra
Palmares – Representações senhoriais e ideias jesuíticas. In: João José Reis e
Flávio dos Santos Gomes, Liberdade por um fio: história dos quilombos no
Brasil)
O fragmento permite que se
conclua que
(A) o projeto da Igreja Católica
apoiava que o africano negro permanecesse em cativeiro apenas durante o
processo de catequese.
(B) a Igreja Católica concordava
com a escravização dos negros africanos e justificava-a com a utilização de
seus preceitos doutrinários.
(C) ao associar o sofrimento dos
escravos africanos com o de Cristo, os padres jesuítas se opunham ao cativeiro
dos africanos e dos índios.
(D) a defesa que os jesuítas
faziam da escravização tanto de africanos quanto de indígenas nativos do Brasil
era fundamentada no Concílio de Trento.
(E) os sacerdotes da Igreja
Católica defendiam que os africanos negros só deveriam ser escravizados caso
recusassem a conversão ao catolicismo.
24. (...) para a maioria dos
quilombos nas Américas, e no Brasil em particular, dependemos exclusivamente de
relatos escritos por pessoas de fora, amiúde pela pena de membros das forças repressoras.
(...) é aconselhável não se render aos documentos da repressão, mas usá-los
como armas que podem abrir o caminho dos escravos em fuga.
(João José Reis e Flávio dos
Santos Gomes, Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil)
A partir do texto, é correto
afirmar que
(A) os relatos oficiais sobre os
mocambos no Brasil apresentam sociedades organizadas apenas por africanos e baseadas
no igualitarismo econômico.
(B) os mais importantes
documentos produzidos sobre os quilombos são parciais e não podem ser
utilizados, pois são de autoria dos próprios quilombolas.
(C) cabe ao historiador ler
criticamente os documentos sobre os quilombos, com o intuito de ampliar os
conhecimentos sobre essa forma de resistência dos escravos.
(D) a ocorrência de quilombos no
Brasil esteve restrita a poucas regiões e a documentação consolidada sobre o tema
comprova isso.
(E) a ausência de documentos
escritos produzidos pelos próprios quilombolas impossibilita o trabalho do
historiador de expansão da história do escravismo.
(A) o comércio de africanos para
o Brasil teve uma importância menor do que a historiografia tradicional
atribui, pois a exploração da mão de obra compulsória apenas se apresentou
fundamental na produção açucareira, nos séculos XVI e XVII, e perdeu o valor no
século XVIII.
(B) o tráfico de escravos da
África para a América envolvia reduzidos setores na sociedade brasileira e o
fim dessa atividade não gerou maiores decorrências para a economia do país, que
já se organizava, essencialmente, a partir do trabalho livre.
(C) a principal mercadoria
voltada para a exportação, o café, desde o início do seu plantio em larga
escala, dependia pouco do uso da mão de obra escrava, diante da maior produtividade
da mão de obra livre e da mecanização da colheita e do beneficiamento do café.
(D) em presença da extrema
dependência da exploração da mão de obra cativa nas atividades relacionadas à agroexportação,
o fim da entrada de escravos no Brasil gerou, nas décadas de 1850 e 1860, uma
forte queda nas exportações brasileiras de café e de açúcar.
(E) com o impedimento da entrada
de escravos no Brasil, associado à expansão da produção cafeeira e ao baixo crescimento
vegetativo dos escravos, a tendência de aumento do custo dessa mão de obra
tornaria, progressivamente, a escravidão antieconômica.
26. [Em 1849], a introdução de
africanos no Brasil fora de 54 000 indivíduos; já [em 1850] desce para menos de
metade: 23 000, caindo em seguida (1851) para pouco mais de 3 000. Em 1852
ainda entram no país 700 e poucos escravos (...). Dois pequenos desembarques
clandestinos efetuados em 1855 e 1856, respectivamente em Serinhaém
(Pernambuco) e São Mateus (Espírito Santo), foram logo surpreendidos, a carga confiscada
e os infratores punidos.
(Caio Prado Júnior, História
econômica do Brasil)
A partir do fragmento, é correto
considerar que
(A) desde o início do século XIX,
a entrada de escravos no Brasil vinha decaindo como consequência da crise nas exportações
de açúcar e de café e do aumento substancial do preço do escravo no mercado
africano.
(B) após um longo processo de
acordos com a Grã-Bretanha, assim como de muita pressão diplomática dessa
nação, a Lei Eusébio de Queirós, de 1850, efetivou a supressão do tráfico de
escravos para o Brasil.
(C) a supressão legal do tráfico
de escravos a partir de 1850 não surtiu o efeito intencionado pelos governos
britânico e brasileiro, pois nas décadas de 1850 e 1860, ocorreu o ápice da
entrada de escravos no Brasil.
(D) a repressão do governo
brasileiro ao tráfico de escravos, após 1850, foi discriminatória, pois houve
severidade com a elite nordestina e omissão em relação aos proprietários do
centro-sul ligados à produção cafeeira.
(E) a elite escravocrata
brasileira, com fortes vínculos com a exportação de gêneros tropicais, jamais
respeitou as determinações legais para conter o tráfico de escravos e só deixou
essa atividade quando a escravidão tornou-se menos rendosa que o trabalho livre
dos imigrantes.
27. O país conhecerá, pela
primeira vez, um destes períodos financeiros áureos de grande movimento de
negócios. Novas iniciativas em empresas comerciais, financeiras e industriais
se sucedem ininterruptamente; todos os índices de atividade sobem de um salto.
A circulação monetária é fantasticamente alargada pela faculdade emissora
concedida ao Banco do Brasil e pelo abuso de emissão de vales e outros títulos
pelos demais estabelecimentos de crédito, firmas particulares e até simples
particulares. Tudo isto terminará num desastre tremendo – a crise de 1857,
seguida logo por outra mais grave em 1864. O Brasil estreava nos altos e baixos
violentos da vida financeira contemporânea. Mas ficarão algumas iniciativas que
marcam época no país: a primeira estrada de ferro inaugurada em 1852, as
primeiras linhas telegráficas construídas em 1852, bem como outras.
(Caio Prado Júnior, História
econômica do Brasil)
As condições
econômico-financeiras apresentadas no fragmento relacionam-se com
(A) as imediatas e diretas
decorrências da disponibilidade de capitais gerada pela extinção do tráfico
negreiro para o Brasil na metade do século XIX.
(B) a política econômica
conhecida como Encilhamento, que gerou uma forte onda de créditos públicos,
objetivando a rápida industrialização do país.
(C) a notável importância
adquirida pelo tabaco produzido no norte do Brasil, que passou a ser a
principal mercadoria brasileira de exportação na década de 1860.
(D) a inédita legislação na
América do Sul, nascida no Brasil em 1851, de controlar a entrada e saída de
capitais estrangeiros especulativos.
(E) aos tratados comerciais
acordados com os Estados Unidos e a França, que conquistaram a isenção de
tarifas alfandegárias para os seus produtos industrializados.
28. Os efeitos da suspensão do
tráfico começaram logo a se fazer sentir. Cessara bruscamente, e ainda no
momento sem nenhum substituto equivalente, a mais forte corrente de povoamento
do país representada anualmente por algumas dezenas de milhares de indivíduos.
A lavoura ressentirá da falta de braços, e o problema se agrava de ano para
ano. Estava-se com a progressão da cultura do café num período de franca
expansão das forças produtivas, e o simples crescimento vegetativo da população
trabalhadora não podia atender às necessidades crescentes.
(Caio Prado Júnior, História
econômica do Brasil)
As novas condições geradas pelo
fim do tráfico negreiro fizeram com que, de forma geral,
(A) houvesse a atenção dos
proprietários escravocratas no sentido de cuidar mais da saúde e das condições
gerais dos seus escravos.
(B) as regiões mais dependentes
da escravidão se voltassem para o imediato desenvolvimento de uma indústria de equipamentos
agrícolas.
(C) o Estado brasileiro passasse
a dirigir o processo de transição a mão de obra livre, como se verifica na
radical legislação imigrantista da década de 1860.
(D) o Partido Liberal se tornasse
o grande defensor escravista e se opusesse a reformas que abrandassem o uso do
trabalho compulsório.
(E) as lideranças dos
cafeicultores do Vale do Paraíba motivassem, desde a década de 1860, os
fazendeiros da região para alforriarem imediatamente seus escravos.
29. Após 1850, uma saída para os
setores brasileiros que buscavam mão de obra, foi o tráfico interprovincial de
escravos.
Sobre esse processo, é correto
afirmar que
(A) sempre foi ilegal e esteve
sobre o controle direto de algumas tradicionais famílias oligárquicas de Minas
Gerais.
(B) ocorreu uma transferência de
escravos para as regiões mais prósperas – como o centro-sul, por causa da produção
cafeeira.
(C) permitiu a transferência de
escravos da região produtora de borracha no norte para espaços mais dinâmicos,
como a Bahia.
(D) gerou a supremacia do capital
agrícola sobre o financeiro, em razão da liderança dos cafeicultores do Vale do
Paraíba nessa atividade.
(E) teve pouco valor econômico,
mas permitiu o desenvolvimento do radicalismo abolicionista entre os
fazendeiros do Vale do Paraíba.
30. Na sua luta contra a
escravidão e seus males, o abolicionismo procura empenhadamente fazer valer
seus ideais. Mas a prudência obriga os partidários da abolição a
movimentarem-se inicialmente no estreito espaço legal que lhe é reservado. Tudo
deve ser feito sempre dentro da lei – é a palavra de ordem –, mas todos os
espaços legais devem ser ocupados! (...)
A recalcitrância dos
escravocratas, no entanto, exaspera os lutadores. Aproveitando o aguçamento das
contradições internas que apressam a desagregação do sistema servil, buscam o espaço
oculto, a luta subterrânea, que os leva a ultrapassarem os limites legais.
(Suely R. Reis Queiroz, A
abolição da escravidão)
No contexto apresentado, é
correto considerar como exemplo
da “luta subterrânea” a
(A) publicação da obra O
abolicionismo, de Joaquim Nabuco, que incitava os escravos à desobediência
civil, com a recusa geral ao trabalho em todo país.
(B) ação de um grupo de
abolicionistas que estimulavam e organizavam fugas de escravos, com o intuito
de desarticular o trabalho compulsório.
(C) publicação, a partir de 1887,
no Rio de Janeiro, do jornal abolicionista Gazeta da Tarde, financiado e
dirigido por José do Patrocínio.
(D) fundação, em 1880, da
Sociedade Emancipadora do Elemento Servil, apesar da expressa proibição legal
desse tipo de organização política.
(E) atuação extraparlamentar de
lideranças abolicionistas, que conseguiram a aprovação da Lei dos Sexagenários,
contrariando os interesses escravocratas.
31. (...) o fantasma de uma
insurreição ampla estava sempre presente nos pesadelos dos senhores e das
autoridades. Levar isso em consideração é importante, tanto para destinar ao negro
o verdadeiro papel que ocupou, como para se pensar o próprio processo do fim do
escravismo no Brasil.
Se não se pode falar de uma
sedição negra que tenha provocado o fim do escravismo, o inconformismo dos
oprimidos materializado em gestos como fugas, suicídios, assassinatos, rebeliões
demonstra o peso que os escravos teriam em sua própria libertação.
(Jaime Pinsky. A escravidão no
Brasil)
Para o autor, é correto afirmar
que
(A) a abolição da escravidão não
pode ser entendida apenas como um ato dos brancos.
(B) apenas os movimentos
organizados é que podem ser considerados como resistência.
(C) a historiografia atual não
valoriza as diferentes formas de resistência à escravidão.
(D) não há análises
historiográficas acerca dos movimentos de resistência dos escravos negros.
(E) a historiografia brasileira
está atrasada em relação às pesquisas de outros países.
(José Roberto do Amaral Lapa, A
economia cafeeira)
Sobre o transporte da produção
cafeeira, no contexto do Brasil do século XIX, é correto apontar que
(A) anteriormente ao advento das
ferrovias, o café não era uma mercadoria exportável, condição que apenas se tornou
possível com as primeiras linhas férreas.
(B) os interesses britânicos dos
negócios ferroviários em São Paulo impediram a expansão das lavouras em várias
direções, que ficaram concentradas na região de Campinas.
(C) o surgimento das ferrovias
não trouxe benefícios para os produtores e comerciantes de café, pois o custo
do transporte inviabilizou a expansão das atividades cafeeiras.
(D) o alto custo relativo do
transporte fluvial para os portos de Ubatuba e São Sebastião viabilizou a
construção da linha ferroviária ligando Santos ao Vale do Paraíba.
(E) antes do aparecimento das
ferrovias, o transporte era feito pelas tropas de muares, que levavam o café
até os armazéns e retornavam com mercadorias essenciais às fazendas.
Leia o texto para responder às
questões de números 33 e 34.
Os últimos cinquenta anos
[1880-1930] do processo [de imigração para o Brasil] (...) são definidos por
uma política de imigratória clara, pautada pelo anseio dos cafeicultores
paulistas por mão de obra farta e barata para as suas plantações, sobretudo a partir
de 1884. Desejosos de substituir os escravos em suas fazendas, eles não mediram
esforços. Assim, com o intuito de facilitar a realização de tais objetivos, uma
infraestrutura sem precedentes foi montada, envolvendo passagens gratuitas,
arregimentadores em toda a Europa, colocação de colonos nas fazendas (...).
Todas essas transações, que exprimiam as relações entre colonos e fazendeiros, eram
firmadas numa caderneta de trabalho, cuja capa trazia impresso um contrato.
(...) No artigo 13.° podia-se ler
que ao colono era permitido retirar-se das fazendas por justa causa quando
houvesse:
1 – falta de pagamentos já
vencidos;
2 – doenças que o impeçam de
trabalhar na fazenda;
3 – proibição por parte do
proprietário de comprar ou vender a terceiros gêneros dos quais tenha
necessidade, bem como o excedente de sua colheita de cereais e animais de sua
criação;
4 – maus-tratos físicos recebidos
do proprietário, pessoas da família deste ou do administrador, bem como
atentados à honra da mulher ou filhas do colono.
[Zuleika Alvim, Imigrantes: a
vida privada dos pobres no campo In: Fernando Novaes (coordenador-geral da
coleção) e Nicolau Sevcenko (organizador), História da vida privada no Brasil –
volume 3]
33. No contexto apresentado, a
maior parcela dos imigrantes que chega a São Paulo origina-se da Europa. Isso
se deve, entre outros fatores,
(A) à exigência dos credores
brasileiros, que condicionaram a compra de matéria-prima do país ao recebimento
de imigrantes em massa.
(B) às notáveis condições de
trabalho reservadas aos camponeses, que, ao final de três anos de contrato de
colonato, conseguiam adquirir uma propriedade rural média.
(C) às condições de algumas
regiões europeias, marcadas pela forte concentração de terras entre poucos
proprietários, além de um grande crescimento demográfico.
(D) ao fato de o Brasil ser, ao
menos até os anos 1920, o único país da América a aceitar a entrada, sem
maiores restrições, de imigrantes em massa.
(E) à preferência dos imigrantes
europeus, diante da farta oferta de terras para todos que solicitassem, em
especial nas regiões produtoras de café.
(A) os imigrantes vinham de
regiões desprovidas de direitos sociais e foram surpreendidos pela avançada
legislação de proteção ao trabalho do Brasil.
(B) as boas condições de trabalho
oferecidas aos escravos na década de 1880 foram transferidas aos imigrantes recém-chegados
ao interior paulista.
(C) algumas condições contratuais
adversas para os colonos eram compensadas com a garantia da posse de um lote de
terras ao final de cinco anos de contrato.
(D) a longa história de
exploração do trabalho escravo no Brasil gerou muita divergência sobre o que
caracterizava um trabalhador livre.
(E) os imigrantes que vieram
atuar na cafeicultura paulista tiveram a experiência de trabalho servil,
portanto, não se surpreenderam com os maus-tratos dos fazendeiros de São Paulo.
35. (...) grande parte dos mais
importantes representantes da burguesia industrial nascente, em particular da
burguesia industrial paulista, a principal fração da burguesia industrial brasileira,
chega ao Brasil como imigrante no final do século XIX ou início do século XX e
trabalha como importador. (...)
A questão essencial para o
entendimento da indústria nascente reside na posição dominante do comércio na
economia brasileira da época; em particular, ela reside nas formas específicas da
dominação do comércio, que resultam da hegemonia do capital cafeeiro e da
subordinação da economia brasileira à economia mundial. Os burgueses imigrantes
enriquecidos no comércio constituem então o núcleo da burguesia industrial
nascente. Elementos de outras origens também ajudam a constituir a burguesia
industrial nascente no Brasil. Alguns membros da grande burguesia cafeeira
interessam-se desde essa época pela indústria. (...)
(Sérgio Silva, Expansão cafeeira
e origens da indústria no Brasil)
A partir do texto, é correto
relacionar as origens da indústria no Brasil com
(A) as recorrentes crises do
café, que obrigavam a burguesia cafeeira paulista e fluminense a salvar parte
dos seus capitais
investindo na indústria de base e
na de bens de consumo semiduráveis, em associação com industriais ingleses.
(B) o arrojo de uma parcela de
imigrantes industriais italianos e portugueses, que transferiram para o Brasil
– especialmente
para São Paulo e Salvador –
instalações industriais completas, em geral direcionadas para a produção de
bens de capital.
(C) as produções agrícolas e
exportáveis desvinculadas da influência do café, pois as taxas de acumulação de
capitais eram mais rápidas e podiam ser reinvestidas nos equipamentos
industriais acessórios, como nos relacionados aos transportes.
(D) os enormes capitais
estrangeiros britânicos investidos diretamente nas grandes indústrias
brasileiras, em regra associados ao grande capital nacional e com o intuito de criar
alternativas de desenvolvimento à hegemonia cafeeira.
(E) o desenvolvimento do capitalismo
do Brasil a partir da sua decisiva inserção na economia mundial, o que
permitiu, na economia cafeeira, a acumulação de capitais baseada no trabalho
livre e, a seguir, investimentos na indústria.
36. As revoluções de 1924, que
representavam a continuidade e o amadurecimento do levante de 1922, formaram um
complexo de movimentos armados, insurreições e tentativas de golpe, frouxamente
articulados em termos organizacionais, mas unificados ideologicamente e
liderados pelos tenentes.
A revolução líder deste complexo
iniciou-se em São Paulo, em 5 de julho de 1924, e funcionou como foco
inspirador dos outros movimentos: levante de Mato Grosso (12.07.1924), levante
de Sergipe (13.07.1924), levante do Amazonas (23.07.1924), levante do Pará
(26.07.1924) e revolução do Rio Grande do Sul (29.10.1924).
(www.fgv.br/CPDOC)
Em geral, as revoluções citadas
objetivavam
(A) a convocação imediata de uma
assembleia nacional constituinte.
(B) a revogação das políticas que
beneficiavam os grandes cafeicultores.
(C) a reação contra a ascendência
do radicalizado movimento operário.
(D) o cancelamento das eleições
estaduais de 1924, em função das fraudes ocorridas.
(E) a derrubada do presidente
Artur Bernardes, eleito em 1922.
37. Dentro do tradicional esquema
de revezamento entre São Paulo e Minas no governo federal, chegara a vez de
Minas, na pessoa de seu presidente Antônio Carlos de Andrada. Mas Washington
Luís tinha um candidato paulista, Júlio Prestes, que daria continuidade à sua
reforma financeira e à sua administração. Frente a essa tentativa de
marginalização da política mineira, a oligarquia desse estado aliou-se aos gaúchos,
formando a Aliança Liberal, que apresentou as candidaturas de Getúlio Vargas e
João Pessoa para disputar o pleito presidencial de 1930.
(www.fgv.br/CPDOC)
Fazia parte do programa eleitoral
da Aliança Liberal
(A) a formação de sindicatos
patronais e de trabalhadores tutelados pelo Estado, o voto feminino e o
estabelecimento de um banco nacional emissor.
(B) a efetivação de uma ampla
reforma agrária, a extensão dos direitos trabalhistas aos camponeses e uma
política industrial voltada aos bens de capitais.
(C) a defesa do voto secreto, a
designação de juízes para presidirem às mesas eleitorais e medidas econômicas protecionistas
para outros produtos de exportação além do café.
(D) o reforço e a reorganização
da Comissão de Verificação, a ampliação da autonomia federalista e a
estatização da exploração mineral.
(E) a nacionalização do sistema
bancário, a reintrodução do voto censitário para os cargos executivos e a
criação do Instituto do Café e do Açúcar.
38. Logo após o triunfo da
revolução da Aliança Liberal [1930] e a deposição de Washington Luís pela junta
pacificadora no Rio de Janeiro, assumiu o governo do estado de São Paulo o
general Hastínfilo de Moura, comandante da 2.ª Região Militar (2.ª RM). O
Partido Democrático de São Paulo (PD), que participara da Aliança Liberal, mas
sem envolvimento efetivo nos eventos revolucionários, conseguiu obter maioria no
novo secretariado civil que então foi organizado.
(www.fgv.br/CPDOC)
Sobre o Partido Democrático,
fundado em 1926, é correto afirmar que
(A) defendia a ampliação da
intervenção econômica do Estado e a limitação da participação das classes
populares nos processos eleitorais mais importantes.
(B) representava no plano
político as classes médias paulistas em aliança com uma fração dissidente da
oligarquia cafeeira.
(C) originou-se de uma ruptura no
Partido Comunista, ao acusar os comunistas de abandonarem a opção
revolucionária pela luta parlamentar.
(D) surgiu como uma força de
apoio ao Partido Republicano Paulista e defendia a introdução do federalismo e
das eleições diretas para a presidência da República.
(E) era formado, quase
exclusivamente, pela burguesia industrial, voltada para a exportação de bens de
consumo duráveis.
39. Na chamada Revolução
Constitucionalista de 1932,
a derrota das forças paulistas, entre outros motivos,
pode ser atribuída
(A) à oposição dos estudantes e
das classes médias ao enfrentamento
militar e à traição do governador
Pedro de Toledo, que sempre se manteve fiel ao governo central.
(B) à decisiva opção das forças
conservadoras de São Paulo pela legalidade representada no Governo Provisório e
ao sentimento derrotista alimentado pela imprensa escrita.
(C) às rivalidades políticas
entre a Frente Única Paulista e o Partido Republicano Paulista e ao estratégico
apoio da Liga de Defesa Paulista ao Governo Provisório.
(D) ao isolamento político dos
paulistas frente à maioria dos estados brasileiros, além da clara superioridade
das condições bélicas do governo central.
(E) à frágil mobilização da
população de São Paulo e à confiança das forças liberais nas promessas do
presidente Vargas na imediata reconstitucionalização do país.
40. Na perspectiva
historiográfica, as interpretações sobre a Revolução Constitucionalista de 1932
orientaram-se fundamentalmente por duas versões dos acontecimentos: a versão getulista
e aquela elaborada pela oligarquia paulista.
(www.fgv.br/CPDOC)
Na versão getulista, a Revolução
de 1932 foi
(A) um levante elitista, dirigido
por clubes tenentistas que almejavam ampliar a influência sobre o Governo
Provisório e as interventorias estaduais.
(B) um movimento ilegítimo que,
sob a liderança de políticos derrotados pela Revolução de 1930, pretendia recuperar
o poder perdido.
(C) uma insurreição popular,
organizada pelo Bloco Operário Camponês, visando o alargamento da legislação
trabalhista.
(D) uma rebelião legítima na
defesa das liberdades democráticas, mas ilegal ao não respeitar o calendário
eleitoral publicado desde o início de 1932.
(E) uma revolta dirigida por
partidos políticos radicais, interessados na ampliação dos direitos políticos e
sociais das classes populares.
41. (...) um dos nossos grandes
historiadores é Francisco de Varnhagen, de formação da (...) “escola científica
alemã” (caracterizada pela grande preocupação com a pesquisa e o levantamento
de fontes). A ele devemos um enorme impulso na produção da história brasileira.
Ele escreveu no Segundo Império (...), em uma época em que aproximadamente 60% da
nossa população é escrava. Analistas da sua obra mostram como ela se baseia em
dois elementos interpretativos: a superioridade da forma monárquica (por ser
responsável pela unidade do país após a Independência) e a superioridade da raça
branca. Isso mostra como seu trabalho está impregnado de valores e preconceitos
da sociedade da sua época. Entretanto, o levantamento de fontes feito por ele,
juntamente com o feito por Capistrano de Abreu, são fundamentais para os trabalhos
posteriores de história do Brasil.
(Vavy Pacheco Borges, O que é
História)
A partir das considerações sobre
a obra e o legado de Varnhagem, é correto afirmar que uma obra historiográfica
(A) perde a sua validade
científica quando tem a marca dos valores de um tempo.
(B) não pode passar por críticas,
dado seu caráter subjetivo e provisório.
(C) deve ser avaliada dentro do
contexto histórico de sua produção.
(D) apenas tem importância na
época da sua produção.
(E) perde o seu valor se baseada
em documentos oficiais.
42. Leopold von Ranke (1795-1886)
foi o grande historiador acadêmico positivista que daria sequência e
aprofundaria a nova teoria positivista da História proposta por Georg Niebuhr. Von
Ranke pode ser considerado o fundador da moderna disciplina histórica, universitária,
tanto do ponto de vista epistemológico como administrativo.
(Pedro Paulo A. Funari e Glaydson
José da Silva, Teoria da História)
A História positivista, entre
outros elementos, caracteriza-se pela
(A) relativização do papel do
documento na criação do fato histórico e pelo questionamento do conceito de
determinismo geográfico.
(B) busca das causalidades
imediatas dos grandes eventos humanos e pela desconfiança no conhecimento
originário da ciência.
(C) concepção dialética e pelo
uso preferencial de imagens para a construção da vida cotidiana das sociedades
do passado.
(D) crítica das fontes históricas
no sentido de buscar a verdade e pela descrição do que efetivamente aconteceu.
(E) busca de valores intemporais
e pela concepção de que os eventos históricos independem da ação humana.
43. Analise as imagens e os
textos.
I.
Pintura rupestre – Serra da
Capivara – Piauí
(www.ab-arterupestre.org.br/arterupestre.asp)
II. Cerâmica Marajoara
(histoblogsu.blogspot.com/2010/04/sitios-arqueologicos-do-brasil)
III. As embarcações brasileiras
encontradas em qualquer parte, e as estrangeiras encontradas nos portos,
enseadas, ancoradouros ou mares territoriais do Brasil, tendo a seu bordo
escravos, cuja importação é proibida pela lei de 7 de novembro de 1831, ou
havendo-os desembarcado, serão apreendidas pelas autoridades, ou pelos navios
de guerra brasileiros, e consideradas importadoras de escravos.
(Artigo 1.º. Da Lei Eusébio de
Queiroz, 1850. Apud: Ricardo Tadeu Caires Silva. O fim do tráfico atlântico de escravos
e a política de alforrias no Brasil. In: www.estudosdotrabalho.org)
IV. Art. 1.º Proceder-se-á em
todo o Império a nova matrícula dos escravos, com declaração do nome,
nacionalidade, sexo, filiação, se for conhecida, ocupação ou serviço em que for
empregado, idade e valor, calculado conforme a tabella do § 3.º.
(...)
§ 3.º O valor a que se refere o
art. 1.º será declarado pelo senhor do escravo, não excedendo o máximo regulado
pela idade do matriculando (...).
(Fragmentos da Lei do
Sexagenário, de 28 de setembro de 1885. In: lhists.blogspot.com/2007)
Utilizando como referencial
teórico a concepção Positivista de História, está correto considerar como
documento histórico o contido em
(A) III, apenas.
(B) I e II, apenas.
(C) III e IV, apenas.
(D) I, II e IV, apenas.
(E) I, II, III e IV.
44. Leia o texto e observe as
figuras de números I a III.
No caso da disciplina histórica,
vale a pena refletir um pouco sobre a fértil distinção entre documento,
produzido voluntária ou involuntariamente pela sociedade segundo determinadas
relações de força, e o monumento, voluntariamente produzido pelo poder, ou
seja, por quem detém o poder de sua perpetuação. O que transforma o documento
em monumento é, no fim das contas, a sua utilização pelo poder. Entenda-se: o
poder da produção, difusão, edição, manipulação, conservação, reciclagem ou
descarte (...).
(Elias T. Saliba, Apud. Circe M.
F Bittencourt. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez,
2008 – pp. 332-333)
I.
Tiradentes esquartejado, de Pedro
Américo, 1893.
(leituradeimagensufrn.blogspot.com)
II.
Grito do Ipiranga, de Pedro Américo,
1888.
(www.band.com.br)
III.
Domingos Jorge Velho, de Benedito
Calixto, 1903.
(www.passeiweb.com/saiba_mais/arte_cultura/galeria)
Considerando o texto, pode-se
apontar como monumento o contido em
(A) I, apenas.
(B) II, apenas.
(C) III, apenas.
(D) II e III, apenas.
(E) I, II e III.
45. Em um plano global, o grupo
se distinguia dos historiadores anteriores por algumas características
centrais: percepção do social em detrimento do individual; inserção em novos e diferentes
campos – além do político, o econômico, o social e o cultural; pressuposto de
uma história problema, em substituição à tradicional história narrativa dos
acontecimentos.
(Pedro Paulo A. Funari e Glaydson
José da Silva, Teoria da História)
O fragmento apresenta
(A) a História Pós-modernista.
(B) a Escola dos Annales.
(C) o Neopositvismo Inglês.
(D) a Escola Metódica.
(E) a História Marxista.
46. Hoje vivemos uma verdadeira
revolução digital. Os computadores se tornaram ferramentas importantíssimas
para todos os ramos da ciência através do desenvolvimento de softwares específicos
cada vez mais detalhistas. Encontramos hoje uma infinidade de periféricos e
equipamentos que podem ser conectados uns aos outros facilitando a troca de
informações.
(M. G. Pena e A. C. Silva, A
digitalização de documentos históricos e a gestão eletrônica de documentos para
a disponibilização on line. In: Saber Digital: Revista Eletrônica do CESVA,
Valença, v. 1, n.º 1)
Para a pesquisa em História, a
“revolução digital” tem representado
(A) um privilégio para alguns
historiadores e instituições de pesquisa, que conseguem custear os caríssimos
equipamentos leitores de microfilmes e congêneres.
(B) uma gama de facilitadores,
pois muitos arquivos, bibliotecas e museus escolheram digitalizar os
documentos, o que garante a preservação e possibilita e transmissão de informações.
(C) certo atraso nos recentes
projetos de pesquisa, pois o avanço dos recursos tecnológicos não teve o mesmo acompanhamento
na preparação técnica dos pesquisadores em geral.
(D) muito pouco, pois uma grande
parcela dos documentos mais utilizados pelos historiadores não pode passar pelo
processo de digitalização em função do estado deteriorado no qual se encontram.
(E) uma conquista relativa, pois,
ao mesmo tempo em que barateou a digitalização e a reprodução de documentos, encareceu
o acesso à pesquisa por causa do custo dos softwares.
47. Leia o excerto.
O Arquivo da Cúria Diocesana de
Nova Iguaçu dispõe de livros de assentos de batismos, matrimônios e óbitos relativos
às freguesias de N. S. da Piedade de Iguaçu, N. S. da Conceição de Marapicú,
Santo Antônio de Jacutinga, S. Pedro e S. Paulo de Paracambi, Santana das
Palmeiras, entre as datas de 1686 e 1947, todas de inestimável valor histórico para
o Estado do Rio de Janeiro.
(...) No contato com a
documentação, percebemos inúmeras possibilidades passíveis de se tornarem
interessantes pesquisas acadêmicas que, talvez em outros momentos, passariam despercebidas.
O leque de possibilidades vai desde a curiosa ortografia do período até as
relações sociais estabelecidas no mundo escravocrata que, muitas vezes,
contestam visões tradicionais da historiografia, como, por exemplo, a
possibilidade de o escravo construir família dentro do controle do sistema escravista
desde o século XVII (haja vista que alguns autores datam a sua existência
somente a partir do século XIX) ou, ainda, a viabilidade de senhores batizarem
escravos, fixando laços de compadrio.
(Denise Vieira Demétrio e Gisele
Martins Ribeiro, Uma experiência em pesquisa histórica no Arquivo da Cúria
Diocesana de Nova Iguaçu. In www.historia.uff.br)
A partir da discussão apresentada
no trecho, sobre o trabalho de pesquisa histórica em arquivos, é correto
afirmar que ele
(A) necessita ser realizado
apenas por profissionais mais experientes, pois os documentos encontrados podem
ser contraditórios com a historiografia oficial, condição que pode gerar
dificuldades para a elaboração de uma dissertação ou tese.
(B) deve garantir resultados mais
eficientes se os documentos não forem objetos de qualquer interferência por
parte do historiador, que não pode se preocupar com interpretar esses
documentos, mas retirar informações que não contradigam a história acadêmica.
(C) precisa ser precedido pela
construção de um projeto de pesquisa com a delimitação temática, espacial,
temporal para permitir visitas mais proveitosas aos arquivos e, ao mesmo tempo,
não se deve ignorar que a documentação encontrada pode embasar revisões
historiográficas.
(D) pode carecer de fundamentação
científica se não for precedido por uma análise racional e metódica de cada documento
consultado, para que se verifique a sua pertinência histórica e o seu grau de
reforço para a demarcação das leis gerais da História.
(E) deve ser pautado pela
referência básica do trabalho historiográfico, que é a busca exclusiva por
textos escritos, preferencialmente com caráter oficial, pois garantem ao pesquisador
a autenticidade das informações procuradas para a confirmação de uma tese
prévia.
48. Um projeto compreende a
utilização coordenada de recursos humanos, financeiros e materiais dentro de um
período de tempo para alcançar objetivos definidos.
(Orientações
para Elaboração de Projetos. In: aeri.uefs.br/wpcontent/uploads/Orientacoes-para-Elaboracao-de-Projetos.pdf)
Um projeto para captação de
recursos deve, necessariamente, conter:
I. cronograma de execução;
II. finalidade e diferenciais das
ações propostas;
III. previsão orçamentária;
IV. recursos humanos necessários;
V. formas para apresentação dos
resultados a serem obtidos.
Está correto o conteúdo indicado
em
(A) I e V, apenas.
(B) I e III, apenas.
(C) II e IV, apenas.
(D) II, III, IV e V, apenas.
(E) I, II, III, IV e V.
resposta:[E]
A avaliação (...) pode ser
voltada para a formação de uma equipe, para o cumprimento de acordos, para o
alcance dos resultados esperados ao longo do tempo, para o desempenho de
profissionais ou para o progresso de estudantes em um curso.
(www.petrobras.com.br/minisite/desenvolvimentoecidadania/roteiro/comoavaliar-o-projeto.asp)
A modalidade citada no fragmento
refere-se à avaliação
(A) de impacto.
(B) motivacional.
(C) diagnóstica.
(D) processual.
(E) paritária.
50. Acerca da profissão de
historiador, no Brasil, é correto afirmar que
(A) foi regulamentada desde o
início da década de 2000, mas ainda aguarda sanção presidencial.
(B) o projeto de regulamentação,
em 2011, encontrava-se tramitando no Congresso Nacional.
(C) o processo de reconhecimento
foi finalizado com a sanção presidencial, no final de 2011.
(D) o projeto de lei para o
reconhecimento foi rejeitado pelo Congresso Nacional, em 2011.
(E) não é reconhecida pela
legislação atual e não há projeto de lei com essa finalidade em curso.
resposta:[B]
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