quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Pixote, a lei do mais fraco




A ação começa com alguns menores sendo recolhidos a um reformatório de São Paulo. Entre eles, os principais personagens do filme: Dito, Lilica, Chico, Fumaça e Pixote, este, um menino de apenas dez anos. Numa das primeiras noites, Pixote é acordado pelos gritos de um garoto que dorme vizinho à sua cama e que está sendo violentado. Na manhã seguinte, ao ser inquirido pelo inspetor, Pixote nega que tenha visto qualquer coisa. Noutra noite, ele e Fumaça andam pelas dependências do reformatório e descobrem num porão um policial interrogando alguns garotos a respeito da morte de um desembargador, que teria ocorrido dias antes. Contra as normas da instituição, na calada da noite, Pixote, Fumaça e outros menores são entregues pelo inspetor à polícia e metidos num camburão. Nessa caminhada, dois deles são assassinados e Fumaça desaparece. Os demais voltam e são colocados na solitária. Saindo dali, Pixote é escalado para a faxina. Adoentado, ele está só na enfermaria quando os policiais trazem o corpo morimbundo de Fumaça. Fingindo dormir, Pixote acompanha toda a cena, até a morte do companheiro e o diálogo áspero do diretor com o médico e o inspetor do reformatório, indagando porque entregaram o menor à polícia, que o devolveu naquele estado. Durante um noticiário de televisão, os garotos assistem à versão oficial da morte de Fumaça: teria sido assassinado por um dos colegas, amante do homossexual Lilica. O acusado é separado do grupo. Trazido de volta, no meio da noite, morre logo em seguida. Lilica, revoltada, incita os companheiros à rebelião, culminando com um incêndio no dormitório. A partir desse momento, a fuga se torna uma obsessão. Durante a visita do Juiz de Menores para observar os efeitos do incêndio, Pixote e um grupo de garotos aproveitam e fogem por uma janela. Nas ruas, na luta pela sobrevivência, Pixote, Dito, Lilica e Chico formam uma espécie de família, mantendo-se de pequenos assaltos. São quase irmãos, sob a liderança de Dito e Lilica, os mais velhos. Numa de suas incursões pelo crime, vão ao Rio de Janeiro levar uma partida de cocaína. No Rio, encontram Débora, uma compradora que os engana. Com a droga que lhes resta, procuram o disc-jóquei de uma boate, quando vêem de novo Débora. Na tentativa de cobrar-lhe a dívida, Chico morre e Pixote comete seu primeiro assassinato. Sem a droga e sem dinheiro, eles voltam para São Paulo, onde negociam um acordo com Sueli. Ela se incumbe de atrair homens para o quarto, onde os garotos, ocultos e armados, esperam o momento de entrar na ação. De assalto em assalto, eles vivem dias alegres. Dito e Sueli iniciam um pequeno caso. Lilica, enciumada, vai embora. Mas a aventura continua. Até que um acidente provocado por Pixote tira a vida de Dito e de um "cliente". A sós com Sueli, Pixote encontra nela um tipo de amor que nunca conhecera antes. Mas isto também não dura. Rejeitado, ele sai armado pela cidade.NOTAS DE PRODUÇÃO

O filme não ia se chamar Pixote e nem é um filme sobre Pixote. A intenção foi mostrar as condições de sobrevivência de um grupo de meninos e demonstrar que é possível resgatar um mínimo de inocência que eles têm, apesar de rotulados de trombadinhas, pivetes ou, conforme as pessoas ditas inteligentes e as ligadas em sociologia, menores carentes. Teríamos que trazer à superfície a verdadeira razão de existir que há por trás de cada criança daquelas, o seu grau de inocência, mesmo que tenham como perfil biográfico uma dúzia de atos de delinquência. Aliás, não me interessa saber o que ele fez, porque fez e, até mesmo, quem ele é. É óbvio que ele fez pelo fato de ser, inegavelmente, um componente social posta à margem pela sua formação familiar e pela sua personalidade. Contudo, sempre achei muito fácil fazer um filme que mostrasse as causas porque o menor delinque, seria como fazer um trabalho sobre o "Lúcio Flávio" de calça curta, por exemplo.É necessário ficar bem claro que quando falo em resgatar a inocência dessas crianças é por considerar a inocência um estado de espírito, nada relacionado à faixa etária mas à capacidade de algumas pessoas em agir instintivamente, achando que a sociedade há de lhe reservar um lugar digno, decente. Então, dentro dessa visão, eu credito a essas crianças uma emoção, um poder de luta constante pelo direito de encontrar uma janela para se expressarem, conquistarem, dizer o que querem e o que gostariam de ser. Afinal, quem se importa em vê-las como um ser humano que vive, tem desejos próprios e, além disso, que no momento em que está delinquindo está, na verdade, procurando um lugar para ser reconhecido, para existir, enfim? Se me perguntarem se o filme é violento, direi que sim, na medida em que entendamos a tentativa desses meninos em se manifestar, opinar, se expressar. E se expressar, para eles, é relacionar-se com os adultos. Mas como são os adultos os que detêm o poder, a única decorrência desta aproximação é a violência. Fica claro, portanto, que crianças e adultos são pontos extremamente próximos mas opostos. E nesta nível, eles, os meninos, vêem dificultadas ou quase nulas as chances de entrar no mercado da competição, de poder estudar, de trabalhar, de receber uma assistência social, de construir um grupo familiar, de ter, sobretudo, um relacionamento sadio com as outras pessoas. O filme revela, também, não ter um centro somente: há um movimento constante onde são focalizadas, a princípio, 500 crianças, todas anônimas, sem personagens. A narrativa inicial não oferece nem indica quem vai ser o protagonista, quem terá o papel principal. Porém, aos poucos, vão emergindo alguns personagens - aparece o Fumaça, aparece o Garotão, um outro tenta imitar o Roberto Carlos, mais outro passa a ser chamado Pixote. Há, também, a identificação de outros mais como o Dito, a Lilica, o Chico. Mesmo assim, a história vai desenrolando, sendo contada sem oficializar o protagonista. Depois dos primeiros 40 minutos, alguns destes personagens vão ganhando corpo, adquirindo personalides e, por conquista real, transformando-se nas figuras principais do filme. Aí então chegamos onde queríamos, isto é, fazer emergir do anonimato, daquela mesa de internos, o personagem, porque há que se considerar que um não é igual ao outro. Creio que o filme abre, realmente, uma cortina do cotidiano da sobrevivência e encontra um personagem por trás de cada garoto. Outra coisa importante a destacar é que a ação serve, na realidade, como um pretexto capaz de fazer as pessoas pensar, porque o filme é pensado no plural. A gente não pode extrapolar os dados argumentais da história, inspirada no livro de José Louzeiro pois até então eu só tinha os elementos visuais de uma pessoa que anda pelas ruas da cidade, que observa as pessoas e tudo o que acontece ao seu redor. O livro, portanto, deu-me pela primeira vez uma estrutura de história logo depois abolida em favor de falarmos sobre as pessoas, o convívio desses meninos. Mas, estou certo, foi mantido o filme como um produto cultural com finalidade real de atingir, melhor dizendo, chegar até o público.Mais ainda: o filme não é documento social, não traz em sí essa pretensão e apesar disso não trai em nenhum momento a explicação de origem social dos meninos nem deixa jamais de demonstrar em que nível social se desenvolve o problema e quais as suas causas. E todos sabemos serem uma divisão de rendas totalmente injusta, uma carência estatal para suprir, amparar o cidadão e sua família, pelo menos nos setores da educação, da assistência médica, quer dizer, os males de base que sofrem os países do Terceiro Mundo e que, de tão graves, às vezes esquecemos que eles existem.Outra intenção do filme foi o de mostrar o envelhecimento rápido, precoce, das crianças. O Pixote, por exemplo, quando acaba o filme, tem mais vivência do que uma pessoa de 50 anos. A gente não deve confundir a história do filme com a dos personagens. Sem jogo de palavras, esclareça-se que a historinha é necessária para que as pessoas sigam uma história, vejam os acontecimentos. Há um outro filme, é importante frisar, que está sendo contado - o do relacionamento das crianças. Era fundamental para mim, uma vez cosolidado o casal Dito-Lilica, que esse casal se diluísse pelo fato de Dito querer uma relação com mulher, manifestando claramente a situação que a gente tentou seguir desde o início, qual seja o esvaziamento do grupo. Cada um, pouco a pouco, vai se afastando ou sendo afastado do grupo por diversos acontecimentos.Pixote é, em essência e forma, e sem a menor dependência entre esses aspectos, o que eu objetivei, um momento de realidade do cotidiano. Não há nenhuma intenção definitiva, nenhuma submensagem porque acho que toda obra de arte se consome a sí própria, passa a estabelecer um novo padrão de linguagem a partir da pessoa com a qual ele está se comunicando. O filme não foi feito para atender nem ao psicólogo, nem ao sociólogo e nem ao político. O filme é só poesia porque em todo momento demonstra que o amor entre as pessoas é muito mais importante. A poesia é a sua própria razão de existir e falar sobre a capacidade de se relacionar. E faço questão que assim seja porque estou há nove anos no Brasil e ainda não sarei, ainda estou estúpida de ver o que acontece sem que alguém fale alguma coisa. De todo modo, posso amanhã vir a fazer outro tipo de filme e isto não significará perda de sensibilidade. Estou evoluindo dentro de minha própria construção como pessoa e um novo trabalho terá, sem dúvida, a mesma carga de emoção e de impacto sem que, necessariamente, sejam filmes tão fortes, tão cruéis.



ELENCO
MARÍLIA PERA - Sueli
JARDEL FILHO - Sapatos Brancos
RUBENS DE FALCO - Juiz
ELKE MARAVILHA - Débora
TONY TORNADO - Cristal
BEATRIZ SEGALL - Viúva
JOÃO JOSÉ POMPEU - Almir
RUBEN ROLLO - Diretor
EMÍLIO FONTANA - Dr. Delegado
LUIZ SERRA - Jornalista
ARICLÊ PEREZ - ProfessoraJ
OE KANTOR - Gringo
ISADORA DE FARIAS - Psicóloga
BEATRIZ BERG - Mãe de Fumaça
WALTER BREDA - Raulzinho
RAYMUNDO MATOS - Médico
BENEDITO CORSI - Avô de Pixote
DAMASCENO FILHO - Jornalista
CLEIDE EUNICE - Mãe de Dito
ISRAEL PINHEIRO - Inspetor I
CARLOS COSTA - Inspetor II
FÁBIO TOMAZINI - Filho da Viúva
LINEU DIAS - 1º Assalto
CEZAR PEZZUOLI - Homem Jovem
KOCOTH - Amigo de Sueloi
FERNANDO RAMOS DA SILVA - Pixote
JORGE JULIÃO - Lilica
GILBERTO MOURA - Dito
EDILSON LINO - Chico
ZENILDO OLIVEIRA SANTOS - Fumaça
CLÁUDIO BERNARDO - Garotão
JOSÉ NILSON DOS SANTOS - Diego



FICHA TÉCNICA
Direção - HECTOR BABENCO
Música - JOHN NESCHLING
Distribuição - EMBRAFILME

3 comentários:

  1. Bom dia.

    Quero saber o nome da musica quando dito dança com a sueli , procuro essa musica a muito tempo mas não acho, quem souber favor passar pra mim , meu email alex_carvalho2005@ig.com.br.
    Agradeço desde já

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    1. A MUSICA É HONEY , DE BOBBY GOLDSBORO, TAMBEM FOI USADA NO FILME CAFÉ DA MANHÃ EM PLUTÃO, NUMA CENA DE DANÇA QUASE IDENTICA.

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