paixão, aventura, sexo e violência
Sinopse
Na era medieval, em meio às pragas que assolam a terra, Martin (Rutger Hauer) é o líder de um bando de brutais mercenários que após ser traído por seu rei, contra ataca e rapta a jovem Agnes (Jennifer Jason Leigh), que estava prometida em casamento ao príncipe Steven (Tom Burlinson). Em meio a combates sanguinários e estupros covardes, os selvagens comandados por Martin invadem o castelo e expulsam seus ocupantes. Agora, em sua nova casa, eles são atacados pelos homens do príncipe Steven que a qualquer custo quer salvar sua amada Agnes. Porém, uma chama se acende entre Martin e Agnes despertando a fúria de Celine (Susan Tyrrell) uma antiga paixão. Enquanto a destruição se aproxima, em meio a violentas, terríveis e sangrentas batalhas, o grupo de Martin luta contra a rivalidade interna e contra os soldados do príncipe, uma guerra de onde somente o mais forte sobreviverá.
Na era medieval, em meio às pragas que assolam a terra, Martin (Rutger Hauer) é o líder de um bando de brutais mercenários que após ser traído por seu rei, contra ataca e rapta a jovem Agnes (Jennifer Jason Leigh), que estava prometida em casamento ao príncipe Steven (Tom Burlinson). Em meio a combates sanguinários e estupros covardes, os selvagens comandados por Martin invadem o castelo e expulsam seus ocupantes. Agora, em sua nova casa, eles são atacados pelos homens do príncipe Steven que a qualquer custo quer salvar sua amada Agnes. Porém, uma chama se acende entre Martin e Agnes despertando a fúria de Celine (Susan Tyrrell) uma antiga paixão. Enquanto a destruição se aproxima, em meio a violentas, terríveis e sangrentas batalhas, o grupo de Martin luta contra a rivalidade interna e contra os soldados do príncipe, uma guerra de onde somente o mais forte sobreviverá.
CONQUISTA SANGRENTA
Paul Verhoeven, Flesh + Blood, EUA/Esp/Hol, 1985
O que para os desavisados pode parecer apenas um detalhe, o ano – 1501 – no qual se passa a ação de Conquista Sangrenta é essencial para uma leitura acurada do filme. Os que não atentam para este fato podem erroneamente classificá-lo como uma aventura medieval, e coisas sobre o filme já foram escritas analisando-o como tal. Mas essa data nos situa no início do que se convencionou chamar de "Era Moderna", e justamente é uma reflexão sobre essa transição para a modernidade, o que salta aos olhos numa visão mais cuidadosa.O conhecimento acadêmico nos diz que a "Era Moderna" marca a cristalização do domínio do capitalismo, onde o acúmulo do lucro passa a ser objetivo principal. Pois bem, é um ato ligado ao capital que detona o início da trama de Conquista Sangrenta, quando o nobre Arnolfini resolve trair a horda de combatentes que havia colaborado para a retomada de seus domínios sob a promessa de posse do saque. Ao desejar manter para si todo o botim, Arnolfini rompe os laços medievais de "honra" e "vassalagem" para priorizar o ganho escuso e a exploração. Desse modo, encurrala e expulsa os mercenários liderados por Martin (Rutger Hauer), um grupo formado por diversas espécies de párias sociais, como homens brutos e violentos, prostitutas, um padre nada ortodoxo e até mesmo dois mercenários homossexuais. Ao se unir contra toda a opressão, o bando de Martin se vê tomado por misticismo quando da descoberta de uma estátua de São Martin, que guiaria e protegeria o grupo, fazendo com que o homônimo líder fosse visto como sua reencarnação terrena. Vemos aí um outro fenômeno da modernidade, uma descentralização do poder da Igreja Católica e a proliferação de novas crenças e cultos cristãos, se bem que a manifestação mística do bando também pode ser vista como bastante próxima das heresias que abundaram durante o período medieval. Principalmente durante o primeiro terço de Conquista Sangrenta, Martin e seu grupo podem ser encarados como uma visão mais crua do mito de Robin Hood, e a seqüência do ataque à caravana de Arnolfini que culmina com o seqüestro não-intencional de Agnes (Jennifer Jason Leigh), a prometida de seu filho, não estaria muito deslocada em qualquer das muitas versões cinematográficas da história do arqueiro de Sherwood.A entrada em cena de Agnes faz com que o filme cresça em ambigüidade. Num filme marcado pela ausência de heróis, com personagens quase sempre dúbios, Agnes é a mais pura encarnação da ambigüidade, a princípio por uma questão de mera sobrevivência, mas pouco a pouco tornando-se ciente de seu próprio poder, seduzindo e dominando Martin gradativamente, tornando-o cada vez mais distante dos objetivos comuns de seu grupo. É justamente na seqüência que marca a ascendência de Agnes sobre Martin que aparece mais uma curiosa manifestação da modernidade, o chamado "processo civilizatório", quando a moça mostra ao grupo, habituado a comer com as mãos, como usar talheres.Outra transição bastante caracterizada no filme é a ascensão do racionalismo e da ciência, personalizados em Steven (Tom Burlinson), o filho de Arnolfini que, após ter o pai ferido, assume o comando de suas tropas na perseguição a Martin e no resgate da noiva. Com a ascensão de novas armas e máquinas de guerra, os combates tornam-se ainda mais brutais e quem domina a tecnologia ascendente tenderá a um melhor resultado. Steven é um cientista fascinado pelos modelos de Da Vinci, e se, no cerco ao castelo, sua engenhosa (e inverossímil) máquina de guerra é vista sendo destruída por Martin, é por uma técnica que esse havia aprendido com o próprio Steven, demonstrando que, por mais avançada a tecnologia, ainda é necessária a sabedoria humana em poder aplicá-la. Mesmo as transformações na medicina são abordadas em Conquista Sangrenta quando, já numa das últimas seqüências, o médico do grupo de Steven decide abandonar as infrutíferas técnicas de sangria que remontam aos romanos em favor da lancetagem das lesões – rejeitada por ser difundida pelos "infiéis" muçulmanos, mas muito mais eficaz.Tratando mais especificamente dos aspectos puramente narrativos, Conquista Sangrenta, apesar de flagrantes defeitos, como uma certa redundância no terço final e algumas incoerências no roteiro, é um filme que por suas particularidades marca uma identidade única entre obras a princípio similares. Já foi dito que se houvesse uma máquina do tempo e o homem contemporâneo regressasse 500 anos no passado, este simplesmente não agüentaria os cheiros exalados. Verhoeven transmite muito bem essa sensação de putrefação em um clima seco e bastante brutal, o que se exalta em diversas seqüências, como as de combate, a da defloração de Agnes e principalmente quando uma mãe se atira com a filha infante da torre de seu castelo, após este ter sido invadido pelo bando.Está certo que seus detratores poderiam classificar sua abordagem histórico-social de pouco sutil, mas sabemos que Paul Verhoeven nunca foi homem dado a sutilezas. Não falta sequer uma excitante cena de sexo com a marca inconfundível de Verhoeven – Martin e Agnes na banheira.
O que para os desavisados pode parecer apenas um detalhe, o ano – 1501 – no qual se passa a ação de Conquista Sangrenta é essencial para uma leitura acurada do filme. Os que não atentam para este fato podem erroneamente classificá-lo como uma aventura medieval, e coisas sobre o filme já foram escritas analisando-o como tal. Mas essa data nos situa no início do que se convencionou chamar de "Era Moderna", e justamente é uma reflexão sobre essa transição para a modernidade, o que salta aos olhos numa visão mais cuidadosa.O conhecimento acadêmico nos diz que a "Era Moderna" marca a cristalização do domínio do capitalismo, onde o acúmulo do lucro passa a ser objetivo principal. Pois bem, é um ato ligado ao capital que detona o início da trama de Conquista Sangrenta, quando o nobre Arnolfini resolve trair a horda de combatentes que havia colaborado para a retomada de seus domínios sob a promessa de posse do saque. Ao desejar manter para si todo o botim, Arnolfini rompe os laços medievais de "honra" e "vassalagem" para priorizar o ganho escuso e a exploração. Desse modo, encurrala e expulsa os mercenários liderados por Martin (Rutger Hauer), um grupo formado por diversas espécies de párias sociais, como homens brutos e violentos, prostitutas, um padre nada ortodoxo e até mesmo dois mercenários homossexuais. Ao se unir contra toda a opressão, o bando de Martin se vê tomado por misticismo quando da descoberta de uma estátua de São Martin, que guiaria e protegeria o grupo, fazendo com que o homônimo líder fosse visto como sua reencarnação terrena. Vemos aí um outro fenômeno da modernidade, uma descentralização do poder da Igreja Católica e a proliferação de novas crenças e cultos cristãos, se bem que a manifestação mística do bando também pode ser vista como bastante próxima das heresias que abundaram durante o período medieval. Principalmente durante o primeiro terço de Conquista Sangrenta, Martin e seu grupo podem ser encarados como uma visão mais crua do mito de Robin Hood, e a seqüência do ataque à caravana de Arnolfini que culmina com o seqüestro não-intencional de Agnes (Jennifer Jason Leigh), a prometida de seu filho, não estaria muito deslocada em qualquer das muitas versões cinematográficas da história do arqueiro de Sherwood.A entrada em cena de Agnes faz com que o filme cresça em ambigüidade. Num filme marcado pela ausência de heróis, com personagens quase sempre dúbios, Agnes é a mais pura encarnação da ambigüidade, a princípio por uma questão de mera sobrevivência, mas pouco a pouco tornando-se ciente de seu próprio poder, seduzindo e dominando Martin gradativamente, tornando-o cada vez mais distante dos objetivos comuns de seu grupo. É justamente na seqüência que marca a ascendência de Agnes sobre Martin que aparece mais uma curiosa manifestação da modernidade, o chamado "processo civilizatório", quando a moça mostra ao grupo, habituado a comer com as mãos, como usar talheres.Outra transição bastante caracterizada no filme é a ascensão do racionalismo e da ciência, personalizados em Steven (Tom Burlinson), o filho de Arnolfini que, após ter o pai ferido, assume o comando de suas tropas na perseguição a Martin e no resgate da noiva. Com a ascensão de novas armas e máquinas de guerra, os combates tornam-se ainda mais brutais e quem domina a tecnologia ascendente tenderá a um melhor resultado. Steven é um cientista fascinado pelos modelos de Da Vinci, e se, no cerco ao castelo, sua engenhosa (e inverossímil) máquina de guerra é vista sendo destruída por Martin, é por uma técnica que esse havia aprendido com o próprio Steven, demonstrando que, por mais avançada a tecnologia, ainda é necessária a sabedoria humana em poder aplicá-la. Mesmo as transformações na medicina são abordadas em Conquista Sangrenta quando, já numa das últimas seqüências, o médico do grupo de Steven decide abandonar as infrutíferas técnicas de sangria que remontam aos romanos em favor da lancetagem das lesões – rejeitada por ser difundida pelos "infiéis" muçulmanos, mas muito mais eficaz.Tratando mais especificamente dos aspectos puramente narrativos, Conquista Sangrenta, apesar de flagrantes defeitos, como uma certa redundância no terço final e algumas incoerências no roteiro, é um filme que por suas particularidades marca uma identidade única entre obras a princípio similares. Já foi dito que se houvesse uma máquina do tempo e o homem contemporâneo regressasse 500 anos no passado, este simplesmente não agüentaria os cheiros exalados. Verhoeven transmite muito bem essa sensação de putrefação em um clima seco e bastante brutal, o que se exalta em diversas seqüências, como as de combate, a da defloração de Agnes e principalmente quando uma mãe se atira com a filha infante da torre de seu castelo, após este ter sido invadido pelo bando.Está certo que seus detratores poderiam classificar sua abordagem histórico-social de pouco sutil, mas sabemos que Paul Verhoeven nunca foi homem dado a sutilezas. Não falta sequer uma excitante cena de sexo com a marca inconfundível de Verhoeven – Martin e Agnes na banheira.
Mas, se Conquista Sangrenta é acima de tudo um filme que retrata transições, é também um filme que caracteriza um flagrante momento de transição na carreira de seu diretor. Foi o último trabalho rodado na Europa, ainda que já com participação americana na produção (de orçamento bastante modesto, por sinal), mas também o primeiro falado em língua inglesa, além de marcar o final de uma longa parceria com o ator Rutger Hauer. Uma espécie de preparação para a estréia, por assim dizer, oficial em Hollywood, que viria dois anos depois com Robocop.
Por: Gilberto Silva Jr.
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