quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

CONCURSO HISTORIADOR

CONCURSO HISTORIADOR UFRJ
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
21 - “Assim, a partir da segunda metade do século XVI, um problema que não podia ser resolvido pelos meios da ordem tradicional tornava-se cada vez mais virulento: a época impunha a necessidade de encontrar uma solução em meio a igrejas intolerantes, que travavam duros combates e se perseguiam cruelmente, e em meio a frações estamentais ligadas pela religião. Uma solução que contornasse, apaziguasse ou abafasse a luta. Como era possível restabelecer a paz?”
(Reinhart Koselleck. Crítica e Crise. Rio de Janeiro: Eduerj, 1999. p. 21)
Assinale a alternativa que corresponde a uma correta interpretação do trecho acima:
(A) a passagem refere-se aos problemas decorrentes das Guerras Religiosas travadas contra o infiel muçulmano que ocupara territórios ao sul do continente europeu;
(B) as guerras religiosas em que se viram envolvidas as sociedades européias decorreram dos problemas suscitados pelas determinações do Concílio de Trento, que estabelecia um rigoroso retorno à ortodoxia sob a autoridade papal;
(C) a solução encontrada para o enfrentamento dos problemas decorrentes das guerras religiosas deu-se no âmbito da política com a formulação de um Estado de tipo absolutista;
(D) as guerras religiosas só puderam encontrar um desfecho após a afirmação de um Estado laico concebido como acima dos interesses particulares, cuja existência deveu-se à Revolução Francesa;
(E) as guerras religiosas tiveram pouca repercussão para as formulações políticas, uma vez que circunscreveram-se ao âmbito privado da fé religiosa.


22 - “Em Itália, é simultaneamente o mundo culto e o povo que prestam homenagem à Antiguidade e querem fazê-la reviver porque recorda a todos a grandeza passada do seu país. A facilidade que têm os Italianos de compreender a língua latina, a massa de recordações e monumentos, que ainda subsistem, contribuem poderosamente para este desenvolvimento intelectual.... Mas o Renascimento não é uma imitação parcial e uma compilação, é uma regeneração.”
(Jacob Burckhardt. A civilização do Renascimento italiano. Lisboa: Editorial Presença, 1983. p.139-40)

Assinale a alternativa que corresponda a uma correta avaliação do Renascimento pelo autor:
(A) o Renascimento, como se desenvolveu nas cidades da Itália, empreendeu uma resignificação dos valores culturais da Antiguidade, lidos sob as novas exigências e demandas das experiências do século XIV e XV;
(B) a cultura do Renascimento significou uma imitação dos valores considerados superiores na Antiguidade, o que estimulou o estudo das línguas clássicas e a tradução dos autores canônicos;
(C) o Renascimento como expressão da cultura moderna significou uma ruptura radical com os valores da Antiguidade, considerados superados em nome de um progresso percebido como a marca dessas sociedades;
(D) o ideal de imitação que presidiu o interesse da cultura do Renascimento pela Antiguidade foi responsável por um interesse particular com relação à preservação de traços ainda visíveis dessa Antiguidade;
(E) a Antiguidade clássica forneceu os elementos indispensáveis ao homem do Renascimento para organizar sua ação em sociedade, especialmente através dos modelos políticos a serem copiados a partir do modelo das cidades-Estado antigas.


23 - Com relação ao movimento da Contra-Reforma ocorrido na Europa no século XVI, é INCORRETO afirmar que:
(A) tratava-se de um reação da Igreja católica ao movimento da Reforma protestante e caracterizou-se por um reforço dos princípios hierárquicos da Igreja como instituição temporal;
(B) significou uma reação ao poder temporal da Igreja e ao papel de instituição mediadora entre os homens e o Criador, desempenhado pela hierarquia religiosa;
(C) a cultura do Barroco, como expressão peculiar do homem moderno, está articulada ao movimento da Contra-Reforma em seus aspectos culturais;
(D) o Concílio de Trento definiu os princípios de uma política contra-reformista baseada em uma revalorização dos dogmas da Igreja Católica;
(E) o Barroco como expressão de uma cultura contra-reformada caracteriza-se por uma tensão permanente entre fé e razão, própria do homem da modernidade.

24 - NÃO corresponde aos projetos políticos dos revolucionários de 1930 no Brasil:
(A) “A Revolução veio para depor essa anarquia legalizada no poder, permitindo o surto da verdadeira República. A Revolução mais do que a República de que fala Montesquieu, é a forma de governo da virtude.”
(Discurso proferido por Oswaldo Aranha ao transmitir o cargo de Ministro da Justiça a Maurício Cardoso em 21/12/1931.)
(B) “I- Fortalecer por todos os meios a unidade da Pátria e em tudo superpor os interesses nacionais aos regionais. II- Rever a divisão territorial do país, de modo a tornar indiscutíveis os limites interestaduais e atender, a um tempo, às exigências do desenvolvimento econômico dos Estados e ao equilíbrio político da federação. III- Manter a República Presidencial, o regime federativo e o sistema representativo com a divisão dos poderes em executivo, legislativo e judiciário, independentes e harmônicos.” (Teses debatidas no Congresso Revolucionário realizado em novembro de 1932. Arquivo Oswaldo Aranha. CPDOC/FGV)
(C) “A Ação Social Brasileira, para a unidade do Brasil, quer: A substituição do regime federativo, cuja força dissociadora dividiu o Brasil em 21 pátrias diferentes, por um todo homogêneo que, tendo por base o município, não entrave, com ora acontece, mas, ao contrário, restabeleça e garanta a unidade nacional, dentro do sistema cooperativo.” (Folheto com Programa da Ação Social Brasileira. In: CARONE, Edgard. A Segunda República. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1973. p. 295)
(D) “O tenentismo armava contra o faccionismo das oligarquias regionais as mais formidáveis forças de que poderia dispor. O presidente de Estado se tornaria figura quase sem relevo político, reduzido a uma função puramente administrativa. E os juízes federais, livres da pressão dos governos locais, estremes da influência perniciosa do caudilhismo, passariam a ser considerados como fatores de equilíbrio e moderação na vida rural.” (O Clube 3 de Outubro contra posse de Maurício Cardoso no Ministério da Justiça. In: CARONE, Edgard. O Tenentismo. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1975.)
(E) “Reconhecemos que o governo ditatorial, apesar dos seus esforços e sincero desejo de acertar, não logrou ainda resolver satisfatoriamente nenhum desses problemas. Pudemos mesmo dizer que só agora, após o transcurso de um ano de ditadura, começam a delinear-se, com alguma firmeza, as soluções adequadas às nossas precaríssimas realidades. Aos que acham fraca a obra da ditadura cumpre que a inspirem e incitem com as suas sugestões e esforços para que mais rapidamente realize a sua tarefa, ao invés de perturbá-la com o estribilho estéril do consitucionalismo.” (Documento de autoria provável de Juarez Távora. Arquivo Augusto do Amaral Peixoto. CPDOC/FGV)
25 -

Luiz XIV, tomado como o modelo por excelência do monarca de Antigo Regime, serviu como referência para inúmeras representações imagéticas, que, segundo o historiador inglês Peter Burke, foram de fundamental importância para a “fabricação do rei” e de seu poder político.
A respeito de uma dessas inúmeras representações, é correto afirmar que:
(A) a referência ao Deus Apolo inscreve-se na concepção política da origem divina do poder real, justificativa central para o exercício do poder por parte dos monarcos absolutos como Luiz XIV;
(B) a representação imagética de Luiz XIV recupera a centralidade da Antiguidade como referência central para a justificativa do poder régio, associando-o a uma linhagem que remontaria aos reis da Antiguidade;
(C) a referência à mitologia clássica era um dos temas centrais da pintura histórica romântica voltada para uma valorização dos temas históricos como afirmação do poder nacional;
(D) a representação proposta de Luiz XIV em associação a um deus da mitologia, expressa o interesse por construir uma imagem do poder real assentada em bases realistas de um poder absoluto associado à figura do monarca de Antigo regime;
(E) a representação em questão deve ser compreendida como uma alegoria, cuja prática estava submetida a convenções e preceitos, conhecidos por aqueles (autores e receptores) que partilhavam seus códigos interpretativos.

26 - “No momento em que o conjunto de interesses que se haviam constituído como decorrência da fusão dos antigos monopolizadores começava a colocar ao lado da questão do Estado a da Nação, também como resultado da brusca aceleração de um movimento, anuncia-se uma mudança de perspectiva e a constituição de um campo diverso: deixavam de olhar apenas para a Corte, espaço de seus interesses imediatos, e, por fazê-lo ampliavam o espectro das forças contra as quais combatiam. (...) A classe senhorial se distinguiria nesta trajetória por apresentar o processo no qual se forjava por meio do processo de construção do Estado imperial.”

(MATTOS, Ilmar Rohloff de. O tempo saquarema. Rio de Janeiro: São Paulo, 1987. p. 56-7)
Sobre o tema, é correto afirmar que:
(A) a constituição da classe senhorial no processo de definição do Estado Imperial no Brasil estava marcada pelos interesses da agricultura escravista do sudeste, que vêm no projeto de um estado monárquico condições para assegurar seu domínio enquanto classe social;
(B) os interesses escravistas da cafeicultura fluminense articulamse aos demais interesses de grupos escravistas no Nordeste no sentido de assegurar um projeto de dominação saquarema, cujo centro de irradiação do poder estaria na Corte no Rio de Janeiro;
(C) a classe senhorial constituiu-se a partir do enraizamento dos interesses metropolitanos na região sudeste, favorecendo a cafeicultura de base escravista e assegurando a autonomia das demais regiões da antiga colonia portuguesa;
(D) não sendo constituída apenas de plantadores escravistas, a classe senhorial buscava construir sua identidade a partir de sua localização na América com olhos, contudo, voltados para a Europa; (E) sendo constituída pelo conjunto de interesses escravistas na América portuguesa, a classe senhorial via no Estado Monárquico Imperial as condições necessárias para a continuidade de sua dominação, prolongando-a da período colonial para o período da independência.

27 - “ Formação [Educação], Cultura e Ilustração são modificações da vida espiritual; resultantes da dedicação e dos esforços dos Homens no sentido de melhorarem suas condições para a vida.”
(Moses Mendelssohn. 1784)
“Esclarecimento é a saída do homem de seu estado de menoridade. Menoridade é a incapacidade de servir-se de sua própria razão sem depender de outrem.” (Immanuel Kant. 1784)
A respeito dessas citações, é correto afirmar que:
(A) são posições filosóficas típicas do Iluminismo, em sua versão alemã, cujos fundamentos serão a base para a formulação das identidades nacionais;
(B) expressam o ponto de vista de uma cultura protestante e reformada cujos princípios forneceram as bases para uma política nacionalista dos príncipes alemães;
(C) indicam a concepção racionalista herdeira do movimento contra-reformista na Europa;
(D) apresentam o projeto iluminista como um projeto de esclarecimento, cujos fundamentos racionais deveriam proporcionar uma autonomia de pensamento para os homens;
(E) formulam as teses clássicas iluministas que irão sedimentar os projetos políticos de unificação dos territórios alemães.

28 - “Portugal permaneceu, longamente, nostálgico e fixado em si mesmo, preso ao seu sonho de império. Desde há alguns anos, porém, Portugal conhece uma mutação – da sua cultura emerge, em muitas áreas, uma nova irradiação – e uma força expressiva. Só o futuro dirá se esta nova presença entre os “outros”, em particular europeus, mudou o imaginário dos portugueses.”
(Eduardo Lourenço. Catálogo da Exposição. Novos mundos. Portugal na Era dos Descobrimentos. P. 51.)
A respeito da frase do pensador português Eduardo Lourenço, é correta a seguinte afirmação:
(A) o imaginário dos portugueses foi fortemente constituído a partir da expansão martítima e do papel que Portugal representou neste processo, construindo a imagem pioneira de Portugal alargando as fronteiras da Europa e permitindo o conhecimento do mundo;
(B) Portugal assiste a um ressurgir de seu sonho nostálgico de cabeça de um grande império, agora nos quadros de uma Europa unificada;
(C) o sentimento de nostalgia de um grande império que dera a Portugal a primazia entre as nações do mundo está sendo substituído por um esquecimento do passado em prol de uma inserção na modernidade representada pelo projeto de uma comunidade européia;
(D) o papel pioneiro desempenhado por Portugal na conquista do mundo permitiu-lhe uma abertura para os outros, traço característico de um imaginário imperial;
(E) o imaginário dos portugueses fortemente talhado pela lembrança da expansão marítima e pelo sonho de um império explica em parte o “atraso” português em relação aos países europeus.

29 - A imagem reproduzida abaixo é uma das usadas mais frequentemente para evocar a libertação da cidade de Berlim, no dia 30 de abril de 1945, pondo fim à segunda guerra mundial. A respeito do evento e de seus desdobramentos históricos, é INCORRETO afirmar que:


(A) a libertação de Berlim pelo exército soviético assegurava o direito das forças de ocupação sobre a conjunto da cidade, antiga capital do III Reich;
(B) a capitulação do dia 7 de maio de 1945 foi condição para que as forças aliadas vitoriosas assumissem no dia 5 de junho de 1945 o controle do governo da Alemanha;
(C) no mesmo ano de 1945, começaram os processos de expropriação de empresas e de reforma agrária na área de ocupação soviética;
(D) imediatamente após a capitulação, tem início o processo político de constituição da República Democrática Alemã nos territórios ocupados pelo exército soviético;
(E) a conferência de Potsdam, realizada entre os meses de julho e outubro de 1945, deixou claras as diferenças que separavam a Aliança ocidental e a União Soviética no tocante às reparações alemães, num quadro de evidentes disputas de espaços de poder sobre os territórios ocupados da Alemanha.

30 - 1968, “o ano que não terminou” nas palavras do jornalista Zuenir Ventura, representou importante divisor de águas, cujos desdobramentos ainda se fariam presentes em nossas sociedades contemporâneas. A respeito do seu significado, assinale a alternativa INCORRETA :
(A) os desdobramentos políticos da guerra do Vietnã, naquele ano, significaram uma mudança da opinião pública norteamericana que dividiu-se quanto ao apoio à solução militar preconizada pelo governo dos Estados Unidos;
(B) os eventos históricos que marcaram o panorama da história mundial naquele ano de 1968, do Ocidente ao Oriente, pouco deveram às ações militares na guerra do Vietnã, a não ser evidentemente no caso dos Estados Unidos, país mais diretamente envolvido no conflito;
(C) a guerra do Vietnã representou uma importante referência para os projetos políticos na América Latina através do modelo “de novos Vietnãs” contra o imperialismo norteamericano;
(D) o movimento feminista norte-americano desempenhou importante papel denunciando a guerra do Vietnã como um projeto de uma sociedade “fálica e imperialista”;
(E) a guerra do Vietnã representou importante papel de articulação da contracultura, movimento que convocava os jovens a “fazer o amor e não a guerra”.

31 - “No seu Dictionnaire des idées reçues, Flaubert não esqueceu de incluir o verbete ‘exposição’, para o qual dá uma definição lacônica, quase amável: ‘motivo de delírio do século XIX’. O autor de Bouvard et Pécuchet faz-nos assim imaginar o entusiasmo das massas pelo fenômeno das exibições públicas de arte, do saber técnico e científico, das criações industriais que este século burguês deu à luz com uma fé quase ilimitada no progresso e na criatividade humana”.
(GUERREIRO, António. Exposições Universais. Paris 1900. Lisboa: Edições Expo’98, 1995. p. 7)
As Exposições Universais são consideradas os primeiros grandes eventos de massa da sociedade moderna ocidental. Assim como Gustave Flaubert, muitos escritores e artistas da época buscaram explicações para os fenômenos da modernidade pensando e qualificando aqueles eventos. Sobre a modernidade oitocentista, é correto afirmar que:
(A) a modernidade, ao longo do século XIX, assumiu um caráter progressista e pacificador, eliminando as desigualdades e as disputas entre as nações por meio do avanço industrial e da massificação cultural;
(B) a modernidade do século XIX pode ser caracterizada, apesar de sua multiplicidade de questões, como um momento de ascensão da nobreza na cena política, a qual chegou, inclusive, a fundar um estilo arquitetônico específico – o neogótico – para representar sua cultura, herdeira da nobiliarquia medieval;
(C) diante das incertezas provocadas pelo advento e consolidação da sociedade de massa industrial, o principal recurso intelectual de pensadores europeus para avaliar o presente foi o estabelecimento de uma base teórica fundamentada na História enquanto disciplina científica;
(D) no campo das artes, a modernidade oitocentista estabeleceu novos padrões estéticos, fundados a partir da crise do cânone clássico, que representaram um acentuado rompimento, já na primeira metade do século XIX, da arte ocidental com os valores da Antigüidade Greco-Romana;
(E) como contraponto às cidades industriais, que cresciam vertiginosamente de forma ordenada, e alçadas à condição de símbolos da modernidade por intelectuais como o crítico de arte inglês John Ruskin (1819-1900), o campo foi considerado o lugar do atraso e da estagnação, e por isso entrave ao progresso almejado.

32 - “Quando alguém mencionava, no Brasil dos séculos XVIII e XIX, um africano, o mais provável é que estivesse a falar de um escravo, pois nessa condição amargava a maioria dos homens e mulheres que, vindos da África, aqui viviam. Mas podia também referir-se a um liberto, ou seja, a um ex-escravo. Ou a um emancipado, isto é, um negro retirado de um navio surpreendido no tráfico clandestino. Ou, o que era mais raro, a um homem livre que jamais sofrera o cativeiro. Escravos, libertos, emancipados ou livres, poucos estranhariam as paisagens brasileiras, porque muitas vezes semelhantes às que tinham deixado na África e que se haviam tornado ainda mais parecidas, graças à circulação entre o Índico e o Atlântico de numerosas espécies vegetais, como a mandioca, o milho, o inhame, o quiabo, o coco, a manga, o ananás, o tamarindo, o tabaco, a maconha, o caju e a jaca. Por isso, vir da África para o Brasil era como atravessar um largo rio.”
(SILVA, Alberto da Costa e. Um Rio chamado Atlântico. A África no Brasil e o Brasil na África. Rio de Janeiro: UFRJ Editora / Nova Fronteira, 2003. P. 157)
O autor do texto acima, o embaixador e historiador Alberto da Costa e Silva, é um dos principais estudiosos, em nosso país, da história e das culturas do continente africano. Assinale a alternativa que apresenta uma interpretação correta sobre o trecho acima destacado:
(A) o autor apresenta as possibilidades de “ser africano” na América Portuguesa. Entre elas, a condição de liberto era a mais comum, tendo em vista que a riqueza gerada pela mineração, ao longo do século XVIII, proporcionou aos africanos escravizados maiores chances de adquirirem a alforria;
(B) os emancipados eram os africanos que, escravizados na África, eram libertados durante a travessia do oceano Atlântico por militares ingleses da Royal Navy – a Marinha Real Inglesa – que, respaldados pelo Slave Trade Suppression ou Aberdeen Act, apreendiam os negreiros, navios que transportavam cativos do continente africano para o Brasil;
(C) a afirmação de Alberto da Costa e Silva, “vir da África para o Brasil era como atravessar um largo rio”, pode ser compreendida como uma metáfora sobre as intensas relações culturais entre o Brasil e a costa atlântica africana, vínculos estes que se dissiparam com o fim do tráfico negreiro intercontinental, determinado pela Lei Eusébio de Queirós, aprovada pelo Parlamento brasileiro em 1850;
(D) de acordo com o autor, era possível um africano livre em terras brasileiras, sem jamais ter sofrido o cativeiro. Contudo, esta era uma condição rara, que ocorria somente em áreas coloniais portuguesas onde existiam plantations, extensas áreas de monocultura cuja finalidade era a produção de gêneros tropicais para a exportação;
(E) segundo Costa e Silva, as intensas trocas culturais entre Brasil e África, forjadas no bojo do tráfico negreiro e do comércio colonial português, alteraram as respectivas paisagens daquelas duas regiões: hábitos, tradições, alimentos e vegetais influenciaram um e outro lugar, tornandoos semelhantes. No caso específico dos alimentos e vegetais, essa troca possibilitou a criação de um tipo de agricultura familiar, em pequenas propriedades, que produziam víveres para o mercado interno da América Portuguesa.

33 - “A produção artística desse período [fundação do Império do Brasil] é caracterizada, sobretudo, pela absorção do romantismo e apresenta alguns traços distintivos. Em primeiro lugar, o interesse e a proteção pessoais do imperador D. Pedro II – monarca que construiu a imagem pública de político liberal e intelectual amante das ciências e das artes. Em segundo lugar, as artes em geral (...) vão fazer parte nesse momento de esforço político de construção do imaginário da nova nação, buscando os temas nacionais dentro de um modelo de uma história celebrativa dos fatos e dos homens relevantes à sua soberania – como a Guerra do Paraguai, por exemplo – e dos elementos constitutivos de sua formação étnica peculiar - em especial o indianismo.”
(PEREIRA, Sonia Gomes. A arte brasileira no século XIX. BH, C/ Arte, 2008. p. 34)
Assinale a imagem que NÃO corresponde à citação apresentada acima:
(A)


Vitor Meireles. A Primeira Missa no Brasil. Óleo s/ tela, 1860, 268 x 356 cm (MNBA – RJ)

(B)


Francisco Chaves Pinheiro. Alegoria ao Império Brasileiro. 1872, 192 X 75 X 31 cm. (MNBA – RJ)

(C)


Ex-voto, Batalhados Guararapes. Óleo s/ tela, 1758, 122 X 217 cm (Museu Histórico Nacional – RJ)

(D)
Pedro Américo.D. Pedro II na Abertura da Assembléia Geral. 1872, óleo s/ tela, 288 X 205 cm. (Museu Imperial – Petrópolis RJ)

(E)
Vitor Meireles. Moema. Óleo s/ tela, 1866, 129 X 190 cm (Masp – SP)

34 - A respeito da Revolução Industrial Inglesa e de seus desdobramentos para a constituição das sociedades modernas, é correto afirmar que:
(A) o forte desenvolvimento industrial, através do emprego da tecnologia nos setores manufatureiros tradicionais alargou a capacidade produtiva transformando a Inglaterra no principal exportador de produtos industrializados;
(B) o modelo de desenvolvimento industrial inglês tornou-se o padrão para o processo de industrialização das sociedades européias no século XIX, que buscaram aprender com o exemplo da Inglaterra;
(C) as novas formas de desenvolvimento propiciadas pela automação do trabalho eliminaram por completo os interesses agrários desse processo, gerando uma tensão permanente entre campo e cidade;
(D) desde o início do processo de automação da produção de bens, assistiram-se a motins e rebeliões urbanas fortemente orientadas por uma ideologia unificadora desses movimentos a partir de pensadores do socialismo utópico;
(E) o desenvolvimento das ferrovias na Inglaterra sintetizaria, de forma emblemática, o conjunto de transformações por que
passava a sociedade inglesa, uma vez que representava a incorporação do aperfeiçoamento técnico combinada à integração dos diferentes processos produtivos.

35 - “Nem o imperialismo, nem o colonialismo são puros atos de acumulação e aquisição.” (Edwar W. Said. Culture and Imperialism)
A correta exposição da tese do autor a respeito do colonialismo do século XIX é indicada na seguinte alternativa:
(A) as práticas políticas derivadas da política imperial dos
estados europeus oitocentistas não consideravam os
aspectos econômicos dessa dominação, mas simplesmente
sua dimensão simbólica para as potências da Europa
ocidental;
(B) o imperialismo constituiu-se numa exploração das matérias
primas para o processo de industrialização europeu e em
reserva de mercado consumidor para essa produção;
(C) o interesse europeu pelos continentes africano e asiático no
século XIX inscrevia-se num conjunto amplo de articulações
em que aspectos econômicos, culturais e políticos definiam
a política imperialista;
(D) a cultura européia manteve-se, não obstante a forte presença dos europeus em territórios da África e da Ásia, intocada do ponto de vista cultural, uma vez que os valores da civilização eram considerados superiores àqueles das culturas extraeuropéias;
(E) a política de exploração econômica dos territórios africano e asiático, visando a acumulação de capital em sua fase monopolista, só foi viabilizada em função de um poder político extremamente violento que significava a supressão de autonomia desses territórios.

36 - “O império português constitui o exemplo mais característico de um império marcado, ao mesmo tempo, pela descontinuidade espacial, pela economia de meios e por coexistências de modelos institucionais. (...) Um império, sem dúvida, que não tinha muito a ver, na sua forma de se estruturar politicamente, com os impérios da tradição clássica européia, nem com aquele desenvolvido pelos Espanhóis, bastante mais próximo das formas tradicionais de dominar e de organizar politicamente o espaço, já que estava vocacionado para o controle directo de grandes extensões continentais. O império português, em contrapartida, estendese por um vasto mundo, que não podia dominar nem controlar se empregasse os expedientes tradicionais da administração.”
(HESPANHA, Antonio Manuel & SANTOS, Maria Catarina. Os poderes num império oceânico. In: HESPANHA, Antonio Manuel. Coordenador. História de Portugal. O Antigo Regime. Lisboa: Editorial Estampa, 1993.)

Essa particularidade apontada pelo autor teve repercussões para a administração das áreas coloniais como os territórios portugueses na América. A respeito desse tema, é correto afirmar que:
(A) essa descontinuidade espacial indicada pelo autor obrigava os administradores do império a pôr em prática modelos variados de instituições de acordo com os territórios a serem ocupados e suas particularidades;
(B) a dinâmica do Antigo Sistema Colonial impunha um modelo único de administração dos territórios de ultramar, o que gerava certa uniformidade das práticas administrativas;
(C) os princípios da administração colonial portuguesa caracterizaram-se por uma relativa capacidade de adaptação de modelos já experimentados, mas jamais a improvisação que não assegurava a certeza dos resultados a serem obtidos;
(D) as capitanias-donatárias foram a forma encontrada pela Coroa para a colonização de territórios sob sua direta jurisdição e controle com dispêndio de meios para aquelas regiões consideradas estratégicas;
(E) a par o sistema das capitanias, o sistema de feitorias foi estabelecido pela administração portuguesa naquelas áreas onde era preciso implantar novas e lucrativas rotas comerciais.
37 - “Brasileiros! Daqui, do centro da pátria, levo o meu
pensamento a vossos lares e vos dirijo a minha saudação. Explicai
a vossos filhos o que está sendo feito agora. É sobretudo para
eles que se ergue esta cidade síntese, prenúncio de uma revolução
fecunda em prosperidade. Eles é que nos hão de julgar amanhã.”
(Discurso do presidente Juscelino Kubitschek pronunciado na sessão solene de instalação do poder Executivo, no Palácio do Planalto, 21 de abril de 1960)
A propósito do texto acima, é INCORRETO afirmar que:
(A) o discurso apresenta Brasília como a meta-síntese do projeto apresentado no Plano de Metas, cujo objetivo principal seria a transformação radical do país em cinco anos de governo;
(B) o discurso presidencial formula uma promessa de desenvolvimento econômico para as gerações futuras, sendo a inauguração da nova capital federal o começo desse esforço desenvolvimentista;
(C) a inauguração da capital federal, no planalto central, realizava um projeto antigo de transferência da sede do poder político republicano e constituía-se em síntese do Brasil moderno;
(D) Brasília representava a interiorização dos valores da civilização moderna, capazes de assegurar a superação do subdesenolvimento secular do país;
(E) a inauguração de Brasília representava os valores que moldaram a política desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek, apoiada na idéia de que o novo seria a condição para a superação de um passado atrasado.

38 -
I – “Havia um setor da população urbana, formado por pequenos proprietários, profissionais liberais, jornalistas, professores e estudantes, para quem o regime imperial aparecia como limitador das oportunidades de trabalho. (...) Eram mais atraídas pelos apelos abstratos em favor da liberdade, da igualdade, da participação, embora nem sempre fosse claro de que maneira tais apelos poderiam ser operacionalizados.”
II – “Para esses homens a república ideal era sem dúvida a do modelo americano. Convinha-lhes a definição individualista do pacto social. Ela evitava o apelo à ampla participação popular, tanto na implantação, como no governo da república. Mas ainda assim, ao definir o público como a soma dos interesses individuais, ela lhes fornecia a justificativa para a defesa de seus interesses particulares.”
III – “Um grupo social que se sentiu particularmente atraído por essa visão de sociedade e de república foi o dos militares. (...) Por outro lado, por serem parte do próprio Estado, não podiam dele prescindir como instrumento de ação política.”

Os fragmentos de texto acima, extraídos da obra “A Formação das Almas”, do historiador José Murilo de Carvalho, tratam dos debates acerca dos projetos de república em discussão a partir de 1889, no momento de implantação do novo regime. De acordo com o autor, foram propostas três vertentes possíveis como modelos para a nascente república brasileira: o modelo jacobino, o modelo positivista e o modelo liberal. Assinale a alternativa correta: (A) as citações I e III correspondem ao modelo liberal e a citação II corresponde ao modelo positivista;
(B) as citações II e III correspondem ao modelo positivista, e a citação I corresponde ao modelo liberal;
(C) a citação I corresponde ao modelo liberal, a citação II corresponde ao modelo jacobino e a citação III corresponde ao modelo positivista;
(D) a citação I corresponde ao modelo positivista, a citação II corresponde ao modelo liberal e a citação III corresponde ao modelo jacobino;
(E) a citação I corresponde ao modelo jacobino, a citação II ao modelo liberal e a citação III corresponde ao modelo positivista;

39 - O Entre-Guerras na Europa foi marcado por uma grande efervesência cultural. A partir dos principais centros urbanos do continente, entre eles a capital da Alemanha, Berlim, vários movimentos artísticos de vanguarda foram disseminados pelo mundo. Assinale a alternativa que NÃO corresponde a esse período:
(A) a experiência política de Weimar foi fundamental para a cena cultural alemã no período do Entre-Guerras, alçando Berlim à condição de metrópole cosmopolita e centro irradiador das vanguardas artísticas;
(B) a Bauhaus foi uma escola de arte e design localizada na Alemanha que alcançou destaque por seu corpo docente, composto por artistas que se projetaram no meio artístico mundial, mas, principalmente, por sua produção de vanguarda, que envolvia desde objetos do cotidiano, como móveis e eletrodomésticos, até expressões tradicionais do campo artístico, como pinturas e esculturas;
(C) entre as inúmeras manifestações artísticas do Entre-Guerras, o Expressionismo ganhou força com sua referência crítica à herança do passado e um compromisso de enfrentar os desafios da modernidade;
(D) o movimento Arte Nova, também conhecido por Art Nouveau ou Jungendstil, foi a principal vertente teórica de vanguarda da arquitetura do Entre-Guerras, e se manifestou, principalmente, em Espanha, tendo como expoente o arquiteto catalão Antoni Gaudí, autor das célebres obras Casa Milà e Igreja da Sagrada Família;
(E) o ano de 1933 marca o fim da República de Weimar e a ascensão do Nacional-Socialismo, que representou um revés para diferentes grupos da política alemã, como os democratas e os comunistas. Significou também um rechaço, no campo das artes, aos movimentos de vanguarda, considerados uma “degeneração”. O fechamento da Bauhaus, ocorrido naquele ano, expressou essa ruptura.

40 - A cidade do Rio de Janeiro serviu, desde a instalação da corte portuguesa, em 1808, de palco para experiênciais políticas e culturais, que foram apresentadas como modelares para o estabelecimento de um “projeto civilizatório” nacional. Duas dessas experiências mais significativas, materializadas por meio de grandes intervenções urbanísticas, foram a reforma urbana do início da República, entre 1903 e 1906, empreendida pelo governo do Presidente Rodrigues Alves, e o desmonte do Morro do Castelo, núcleo urbano original da cidade, que deu lugar, no início da década de 1920, à esplanada que sediou a Exposição Universal, comemorativa do centenário da independência. Sobre estas duas intervenções urbanas, assinale a alternativa INCORRETA:
(A) tanto uma intervenção como a outra tiveram como um dos objetivos principais o reordenamento do espaço urbano, visando requalificá-lo e adequá-lo ao modelo de cidade moderna, de caráter burguês-industrial;
(B) a reforma urbana empreendida dos anos de 1903-1906 teve como principais agentes os engenheiros. Dois dos mais importantes personagens envolvidos nas obras, Paulo de Frontin e Francisco Pereira Passos – o primeiro, chefe dos trabalhos de abertura da Avenida Central e o segundo prefeito da cidade por indicação federal – eram engenheiros formados pela Escola Politécnica;
(C) o arrasamento do Morro do Castelo serviu de ensejo para um intenso debate nos meios político e intelectual, a respeito da questão nacional brasileira, tendo em vista os aspectos simbólicos e históricos da obra, pois tratava-se da adequação do centro da cidade para as comemorações do centenário da independência do Brasil;
(D) mesmo que tenham ocorrido em momentos diferentes, as duas intervenções urbanas assemelham-se no que diz respeito ao planejamento urbano de longo prazo, pois nos dois projetos foi pensada a expansão da rede pública de transporte, priorizando a ligação da área central à região mais populosa da cidade, a zona Sul;
(E) a reforma urbana de 1903-1906 teve como principal meta reorganizar, sanear e embelezar o espaço urbano, seguindo o modelo da Paris do Segundo Império, focando especialmente as áreas mais antigas da cidade, que ainda possuíam características do urbanismo colonial português.

41 - “A República liberal brasileira, institucionalizada pela Carta Constitucional de 1891, conheceria a sua consolidação apenas durante o governo Campos Sales. Deslocados os militares e as suas concepções centralizadoras de governo, (...) restava às elites políticas ascendentes, notadamente a de São Paulo, conceber os instrumentos que garantissem estabilidade ao novo regime. “
(CARVALHO, Maria Alice Rezende de. A crise e refundação republicana em 1930. In __________. Org. República no Catete. Rio de Janeiro: Museu da República, 2001. p. 89-109)
Assinale a alternativa que define o projeto político em implantação naquele momento:
(A) as elites políticas paulistas valeram-se dos princípios liberais presentes na Constituição de 1891 para implementação da política oligárquica, que visava fortalecer os laços federativos, tornando os entes da federação igualmente importantes para o processo político eleitoral;
(B) a elite cafeeira paulista, cuja tradição republicana remontava à década de 70 do século XIX, quando da fundação do Partido Republicano, objetivava a refundação da república após o interregno de governos militares, valendo-se dos princípios liberais da república norteamericana, e dessa forma trazer para o debate político o conjunto das camadas sociais, de todos os estados da federação, até então alijadas da participação política;
(C) a “política dos governadores” apoiou-se no campo econômico em uma política emisssionista, também conhecida como funding loan, cujo objetivo era promover o desenvolvimento industrial de acordo com as premissas ditadas pelo ministro da Fazenda Joaquim Murtinho;
(D) após as turbulências dos primeiros anos republicanos, a elite paulista idealizou a “política dos estados”, cujo princípio hierárquico preservava o poder nacional para si e seus aliados mineiros, mantendo as elites regionais no comando dos estados periféricos da federação;
(E) a “política dos estados” representava um tênue equilíbrio político nacional ao assegurar às elites de Minas Gerais e São Paulo, detentoras do poder na cena nacional, um forte poder intervencionista no jogo político oligárquico regional.

42 - A experiência histórica dos regimes fascistas conheceu a partir da década de 80 do século XX novas abordagens historiográficas, que significaram uma reavaliação do tema na forma como vinha até então sendo tratado. A respeito desses regimes, que marcaram profundamente a cena política do mundo no entre-guerras e das formas de sua abordagem pela produção historiográfica, assinale a alternativa INCORRETA:
(A) o ressurgimento de movimentos de extrema direita, sobretudo no continente europeu, trouxe novamente à tona a discussão do fascismo/fascismos como regimes que acusavam as formas liberais de responsabilidade pela crise das sociedades contemporâneas;
(B) o cenário político de uma Europa em busca de uma reunificação, acelerado após a queda do muro de Berlim em 1989, reforçou as clássicas análises historiográficas acerca do fascismo como movimentos historicamente circunscritos ao período do entre-guerras;
(C) as novas abordagens acerca das experiências fascistas procuram percebê-las de forma integrada e não fragmentada, como se estivessem restritas aos casos históricos emblemáticos da Alemanha e da Itália;
(D) a importância contemporânea conferida pela historiografia às experiências dos regimes fascistas é parte de uma intensa reflexão da nova história política e seus estudos acerca da memória;
(E) as abordagens historiográficas que procuram tratar os regimes fascistas como regimes totalitários é parte de um esforço no sentido de entendê-los em suas articulações e recorrências e com o fim da Guerra Fria o tema ressurge com força num quadro das sociedades de massa européias acossadas por problemas como imigração, desemprego.

43 -


A charge do cartunista Henfil satiriza o período da história brasileira recente conhecido como “O Milagre Brasileiro”, momento associado à prosperidade econômica, quando o país cresceu a taxas entre 10% e 14%. Sobre este período, é correto afirmar que:
(A) o desenvolvimento industrial, cerne da política do “Milagre Brasileiro”, decorreu das medidas tomadas pelo governo do Marechal Castelo Branco, em grande parte facilitadas pelo fim imediato da vigência da Carta Constitucional de 1946, o que possibilitou uma desregulamentação do setor produtivo;
(B) o “Milagre Brasileiro” é identificado ao momento de menor repressão política, uma vez que tendo seduzido os setores médios urbanos da população com o acesso a bens de consumo e um crescente mercado de trabalho, afastou-os da participação política;
(C) o “Milagre Brasileiro” apoiou-se em um modelo econômico de desenvolvimento, que privilegiava fortemente a industrialização em grandes projetos nacionais com financiamento público, tendo ocasionado uma disparada do processo inflacionário;
(D) ainda que apoiado em fortes taxas de crescimento econômico, a política do “Milagre” não significou alterações de fundo quanto ao mercado consumidor, mantendo o acesso limitado a bens de consumo durável;
(E) o “Milagre Brasileiro” é identificado ao momento de maior repressão política, após a decretação do AI-5, quando o país cresceu a taxas de dois dígitos, expandiu fortemente o setor industrial, estimulou grandes empreendimentos de infra-estrutura, manteve taxas reduzidas de desemprego e controlou a inflação.

44 - “Suponha-se que um dia, após uma guerra nuclear, um historiador intergaláctico pouse em um planeta então morto para inquirir sobre as causas da pequena e remota catástrofe registrada pelos sensores de sua galáxia. (...) Após alguns estudos, nosso observador conclui que os últimos dois séculos da história humana do planeta Terra são incompreensíveis sem o entendimento do termo ‘nação’ e do vocabulário que dele deriva.”
(Hobsbawm, Eric. Nações e Nacionalismos desde 1780. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. p. 11)

A respeito da questão nacional como um problema histórico, assinale a alternativa correta:
(A) apresenta-se como um fenômeno de longa duração, cujas origens remontam ao processo de constituição das monarquias medievais européias, época na qual houve um esforço desses estados em consolidar a identidade nacional por meio de uma língua comum;
(B) apresenta-se como um fenômeno relativamente recente, fruto das experiências históricas da modernidade e buscou ancorarse em um passado distante, sobretudo medieval. No caso de algumas sociedades européias do ocidente, a requalificação da herança medieval fomentou várias expressões artísticas, quer no campo das artes plásticas, da literatura e da música;
(C) apresentava-se, desde o fim da Revolução Francesa, como um projeto político que concebia a nação como um conceito restritivo, segundo o qual os direitos de uma comunidade a constituir-se como nação independente implicava na negação deste mesmo direito a outra comunidade;
(D) desde seus primórdios, os debates sobre o tema estavam focados em um ponto principal: atender aos anseios das camadas populares, tanto urbanas quanto rurais, de uma maior participação nas decisões políticas do Estado;
(E) como problema político e filosófico, esteve presente nos debates das Luzes setecentistas, que propunham a valorização das fronteiras como meio de defesa das identidades nacionais e dos particularismos.

45 - A ditadura varguista do Estado Novo (1937-1945) caracterizou-se por uma agenda de reformas que visavam a modernização do país por meio da criação de instituições políticas e culturais. Assinale a alternativa que apresenta uma seqüência INCORRETA dessas criações:
(A) Ministério da Educação e Saúde (MES), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Programa Radiofônico Hora do Brasil;
(B) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e Museu Imperial de Petrópolis;
(C) Instituto de Previdência e Assistência aos Servidores do Estado (IPASE), Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) e Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP);
(D) Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Museu Imperial de Petrópolis, Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP);
(E) Justiça do Trabalho, Conselho Nacional do Petróleo e Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN).

46 - “Cidadãos, por que fatalidade a questão que deveria facilmente reunir todos os sufrágios e todos os interesses dos representantes do povo parece ser somente o sinal de discórdias e de tempestades? Por que os fundadores da República estão divididos sobre a punição do tirano? Não estou menos convencido de que estamos todos tomados de um igual horror pelo despotismo, inflamados do mesmo zelo pela causa da santa igualdade, e concluo que devemos nos reunir comodamente nos princípios do interesse público e da eterna justiça. (...) Cidadãos, é do interesse supremo do bem-estar público que os lembro disso. Que motivo os força a se ocuparem de Luis? Não é do desejo de uma vingança indigna da nação; é a necessidade de cimentar a liberdade e a tranquilidade pública na punição do tirano.”
(GUMBRECHT, Hans Ulrich. As funções da retórica parlamentar na Revolução Francesa. Estudos preliminares para uma pragmática histórica do texto. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. p. 153/4.)

A passagem acima está relacionada a um momento específico da Revolução Francesa, qual seja:
(A) o discurso de Mirabeau em defesa das medidas tomadas pela Assembléia Nacional no sentido de impor uma constituição ao rei Luis XVI;
(B) a radicalização do movimento revolucionário, com a instauração do processo do rei, após a proclamação da república em seguida à tentativa de fuga de Luis XVI;
(C) o momento de consolidação da revolução com o projeto napoleônico de pôr fim às últimas marcas do Antigo Regime com o julgamento do último monarca;
(D) a visão dos constitucionalistas franceses temerosos da restauração de uma monarquia absoluta e por isso empenhados na votação de uma nova constituição capaz de restringir os poderes monárquicos;
(E) a indefinição dos revolucionários quanto ao destino político do último monarca, Luis XVI, logo a seguir aos eventos do 14 de julho de 1789 em Paris.

47 - Assinale a alternativa que NÃO apresenta extrato de uma fonte referente à Inconfidência Mineira de 1789:
(A) “ Eu nasci no Brasil. Vós não ignorais a terrível escravidão que faz gemer nossa pátria. Cada dia se torna mais insuportável nosso estado, depois da vossa gloriosa independência, porque os bárbaros portugueses, receosos de que o exemplo seja abraçado, nada omitem que possa fazer-nos mais infelizes. A convicção de que estes usurpadores só meditam novas opressões contra as leis da natureza e contra a humanidade tem-nos resolvido seguir o farol que nos mostrais, a quebrar os grilhões, a renunciar à nossa moribunda liberdade, quase de todo acabrunhada pela força, único esteio da autoridade dos europeus nas regiões da América. (...) Neste estado de coisas, Senhor, olhamos, e com razão, somente para os Estados Unidos, porque seguiríamos o seu exemplo e porque a natureza, fazendo-nos habitantes do mesmo continente, como que nos ligou pelas relações de uma pátria comum.”
(B) “Estando, senhora, o país na decadência ponderada, nos pareceu alheio das piedosas intenções deV. Maj. o fazermos lançar sobre o povo uma derrama com que não pode; e muito mais depois de ter subido a tão excessiva quantia. Esta exação, não só redundava em total destruição dos vassalos de V. Maj. – cuja felicidade faz o único objetivo de seu felicíssimo reinado - , mas também causava grande dano aos demais tributos com que devem contribuir os mesmos povos para Sua Real Fazenda, por diferentes repartições.... Estas seriam sem dúvida as razões por que os Exmos. Generais desta capitania, trazendo nas suas instruções ordens para o lançamento da derrama, as não puseram em execução.”
(C) “E querendo eu favorecer o comércio, em comum benefício dos meus vassalos especialmente as manufaturas e fábricas de que resultam aumentos à navegação e se multiplicam as exportações de gênero, sou servido ordenar que, da publicação desta em diante, se não cortem as árvores de mangues que não estiverem já descaídas, debaixo da pena de cinquenta mil réis que será paga na cadeia, onde estarão os culpados por tempo de três meses, dobrando-se as condenações e o termo de prisão pelas reincidências; e, para que mais facilmente se hajam de conhecer e castigar as contravenções, se aceitarão denúncias em segredo e farão a favor dos denunciantes das referidas condenações, que no caso de não haver, se aplicarão para as despesas da Câmara.”
(D) “O referido governador me pediu duas companhias de infantaria, que fiz destacar de oficiais, e gente escolhida, e também me pareceu mandar mais uma das companhias do esquadrão da minha Guarda com a mesma escolha, porque havendo justo receio de estar algum tanto contaminada das mesmas idéias a tropa regular (...), lhe pode ser muito útil esta para qualquer diligência mais pronta. Tenho por certo com estas providências, e com a grande vigilância, com que o Visconde de Barbacena emprega os seus conhecidos talentos em acautelar tudo, não há que recear quanto ao presente; mas sim que prevenir para o futuro, porque o modo de pensar na Capitania é quase todo o mesmo em todos os que de algum modo nela figuram, e de tudo o que houver a respeito deste importantíssimo objeto darei conta a Vossa Excelência, para o por na real presença de Sua Majestade.”
(E) “Por ser digno de maior e mais particular averiguação o fato em que tocou o coronel Francisco Antonio de Oliveira Lopes nas suas últimas respostas, referindo-se ao Dr. Domingos Vidal Barbosa, acerca de uma carta escrita ao ministro dos Estados Unidos da América setentrional por um estudante do Brasil, que se achava em Montpellier: Ordeno a Vm.cê que se informe sumariamente em auto separado de todas as circunstâncias dele, inquirindo novamente o coronel, e tirando também por testemunhas os outros réus, o dito Domingos Vidal e as mais pessoas que se referirem nos seus depoimentos, com o mesmo escrivão que tenho nomeado para as mais diligências desta natureza; e deste sumário me entregará Vm.cê uma cópia autêntica logo que estiver concluído.”

48 - O século XVII assistiu a intensas disputas políticas entre as monarquias européias, que se materializavam por disputas pelo controle de áreas coloniais. O Reino de Espanha e os Países Baixos ocupavam, nesse cenário, um papel protagônico e ecos destas tensões chegaram à América portuguesa. Sobre esse período, é correto afirmar que:
(A) a “Guerra” dos Mascates, envolvendo senhores de engenho pernambucanos empobrecidos em decorrência de dívidas com os comerciantes holandeses, foi um dos conflitos que marcaram o chamado “Período Nassoviano” no Brasil;
(B) as questões religiosas, decorrentes da Reforma Protestante do século XVI, são decisivas para a compreensão das disputas políticas entre a Espanha, bastião católico, e os Países Baixos, adeptos da religião reformada. As repercussões da disputa hispano-holandesa alcançaram o nordeste do Brasil, que se tornou alvo de um projeto, por parte dos holandes, de conversão protestante;
(C) o “Período Nassoviano” no Brasil, registrado iconograficamente por Frans Post e Eckhout, é a expressão das disputas entre Espanha e Holanda na América e correspondeu ao período de auge político-econômico das Províncias Unidas dos Países Baixos, conhecido como “Século de Ouro”;
(D) acompanharam o conde de Nassau em seu governo vários homens de letras e líderes religiosos, que fizeram do Recife uma cidade singular em toda a América Portuguesa, por ter sediado o primeiro seminário de teologia das Américas, tendo em vista que a base do empreendimento colonial holandês foi a divulgação do calvinismo, confissão oficial dos Países Baixos;
(E) O fim da União Ibérica, do ponto de vista político, não alterou as bases do domínio holandês no Nordeste do Brasil, tendo em vista as estreitas relações entre portugueses e flamengos na empresa açucareira desde o início da colonização.

49 - No seu clássico “O Abolicionismo”, Joaquim Nabuco, ao citar Eusébio de Queirós, autor da lei que pôs fim ao tráfico negreiro intercontinental, afirma que “as nações como os homens devem prezar a sua reputação” e acrescenta: “... mas, a respeito do Tráfico, a verdade é que não salvamos um fio sequer da nossa. O crime nacional não podia ter sido mais escandaloso, e a reparação não começou ainda. No processo do Brasil um milhão de testemunhas hão de levantar-se contra nós, dos sertões da África, do fundo do oceano, dos barracões da praia, dos cemitérios das fazendas, e esse depoimento mudo há de ser mil vezes mais valioso para a história do que todos os protestos de generosidade e nobreza d’alma da Nação inteira.”
(NABUCO, Joaquim. O Abolicionismo. Petrópolis: Vozes, 1977. p. 120.)

A respeito desse movimento, assinale a alternativa INCORRETA:
(A) o movimento abolicionista teve início imediatamente após a promulgação da lei Eusébio de Queirós e ganha força durante a Guerra do Paraguai, conquistando adeptos entre a elite política do Partido Liberal e líderes há muito identificados com a causa como Luís Gama;
(B) segundo Joaquim Nabuco, um dos líderes do movimento, este em sua primeira fase não contou com o apoio político dos dois tradicionais partidos, o Liberal e o Conservador;
(C) um dos marcos importantes desse movimento foi a fundação, por Joaquim Nabuco e André Rebouças, da Sociedade Brasileira contra a Escravidão, que lançou um jornal de divulgação intitulado “O Abolicionista”;
(D) os abolicionistas brasileiros conquistaram importantes apoios internacionais para a causa, facilitados pelas ligações de Joaquim Nabuco, que desde 1882 havia se tornado membro efetivo da British and Foreign Anti-Slavery Society;
(E) na concepção de Joaquim Nabuco, um dos líderes do movimento, este restringiu-se a abolir o cativeiro, sem pensar medidas efetivas e complementares para a população a ser libertada.

50 - Assinale a alternativa que contém a seqüência correta acerca do período que compreende a chamada “redemocratização brasileira”, após o fim da ditadura militar:
(A) Emenda Dante de Oliveira, Passeata dos Cem Mil, Movimento das Diretas Já;
(B) Movimento das Diretas Já, Lei da Anistia, Milagre Brasileiro;
(C) Emenda Dante de Oliveira, Lei da Anistia, Plano Cruzado;
(D) Lei da Anistia, Movimento das Diretas Já, Emenda Dante de Oliveira;
(E) Milagre Brasileiro, Marcha da Família com Deus pela Liberdade, Emenda Dante de Oliveira.

Gabarito

21 - C 22- A 23 - B 24 - C 25 -E 26 - D 27 - D 28 - A 27 - D 28- B 29 - C 30 -B 31 - C 32 -B 33 - C 34 -E 35 -C 36- A 37 - B 38 - E 39- D 40 - D 41 - D 42 - B 43 - C 44 - B 45 - A 46 - B 47 - C 48 - C 49 -A 50 - D

FONTE: www.pciconcursos.com.br

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