Por Roberto Guerra
Depois de festejado pela crítica e pelo público nos festivais por onde passou, chega às telas brasileiras O Homem do Ano , drama policial dirigido por José Henrique Fonseca inspirado no livro O Matador , de Patrícia Melo. O filme narra a trajetória de Máiquel (Murilo Benício), um típico jovem da periferia que se transforma em matador profissional levado por uma série de contingências. Depois de perder uma aposta e ter de pintar o cabelo de loiro, o personagem se desentende com Suel (Wagner Moura) - um marginal conhecido do bairro - depois que este zomba de seu novo visual. A discussão banal acaba virando um acerto de contas com dia e hora marcados. Por sorte, Máiquel acaba levando a melhor e vê sua vida virar do avesso quando é enaltecido pelos moradores por ter dado cabo do bandido. A força dos acontecimentos que conduzem Máiquel ao mundo do crime foi o que chamou a atenção de José Henrique Fonseca para o livro de Patrícia Melo. “O que me fascinou foi a idéia de fazer um filme que mostrasse um homem comum fadado pelo destino. Em sua ingenuidade, ele não consegue ver que é influenciado pelo ambiente que o cerca”, diz Fonseca. Decidido a levar a história para as telas, o diretor convidou seu pai, o escritor Rubens Fonseca, para fazer a adaptação do livro. No processo, a história, que originalmente se passava em São Paulo, foi transferida para a periferia do Rio de Janeiro. Outra mudança em relação a obra original foi a diminuição da violência. “O filme tenta compreender o porquê desse cara ter virado um matador. Por isso, deixei a violência um pouco de lado”, explica Fonseca. Murilo Benício considerou esse um dos trabalhos mais difíceis de sua carreira. Para se ter uma idéia, quatro dias de filmagens foram refeitos depois que o ator propôs ao diretor uma mudança no jeito de ser e no aspecto físico do personagem. “Foi uma composição difícil pra caramba, porque já tinha começado as filmagens e eu não sabia o que ia fazer”, diz Benício. Daí, propus ao Fonseca a idéia do queixo. O lance do queixo dava um aspecto tacanho, meio ingênuo ao Máiquel”, completa. O ator se refere ao queixo protuberante do personagem que, aliado aos seus traços de personalidade – algo entre a ingenuidade e impotência diante dos acontecimentos -, ajudou a dar vida a Máiquel. Aos ouvir os conselhos de Benício, Fonseca topou a idéia de primeira, mesmo sabendo que teria de refilmar várias cenas. A decisão se mostrou acertada, visto que Murilo Benício consegue dar o tom exato ao personagem, no que pode se considerar um de seus melhores trabalhos nas telas. Mas o ator não merece os méritos sozinho. Todo o resto do elenco está extremamente afiado. Cláudia Abreu está ótima como a cabeleireira suburbana Cledir. Natália Lage não poderia ter feito uma estréia melhor nas telas. Ela interpreta com competência e sem descompasso a adolescente problemática Érica, papel importante na trama. O filme conta ainda, em papéis de menor destaque, com outros nomes de peso como Jorge Dória, José Wilker, Agildo Ribeiro, Paulo César Pereio, Marilu Bueno, André Gonçalves, Lázaro Ramos e Mariana Ximenes. O Homem do Ano é mais uma prova de que os realizadores brasileiros estão trilhando o caminho certo, caminho que vai ao encontro do público. Retrata o drama brasileiro das periferias, dos jovens sem perspectivas que se enveredam no caminho do crime. Mas o tom panfletário de cinema-denúncia e a visão paternalista dos problemas da sociedade ficam de fora. É, antes de tudo, um bom filme policial, com história bem contada e atraente, um roteiro bem-amarrado e que certamente vai agradar ao espectador.
acesso em 08/12/2009
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