domingo, 17 de abril de 2011

Saiba mais sobre a imigração para o Brasil no século XIX


CNDL – Colégio Notre Dame de Lourdes

Segundo Ano – Primeiro Bimestre

Coleção Pitágoras Capítulo 3

A introdução do trabalho livre no Brasil


Imigração

A partir de década de 1870 a estrutura econômica brasileira passou por grandes mudanças, que refletiram nas relações sociais e políticas existentes. Progressivamente a mão-de-obra escrava negra foi perdendo espaço para o trabalho assalariado imigrante nas lavouras agrícolas brasileiras. O café foi se consolidando como principal produto brasileiro para a exportação, provocando uma onda de crescimento econômico como nunca havia aparecido no Brasil independente. A imigração européia colaborou com a urbanização da sociedade brasileira, e junto com o assalariamento da mão de obra, levou ao aparecimento de um incipiente mercado interno para bens de consumo popular no país, o que acabou por levar ao aparecimento das primeiras unidades industriais no Brasil. Em suma, o capitalismo se implantava nas estruturas sócio-econômicas brasileiras, superando o antigo sistema mercantil-escravista. As transformações na estrutura produtiva brasileira iniciaram com o acúmulo de capitais proporcionados pelo comércio internacional do café, possibilitando reinvestimentos dos lucros obtidos com a comercialização no próprio setor produtivo, assim como pela substituição da mão de obra escrava pela mão-de-obra assalariada nas atividades produtivas, motivada, entre outros fatores, pelo fim do tráfico de escravos no oceano Atlântico e pela pressão internacional contrária à exploração escravista no Brasil. O assalariamento se deu a partir da introdução da mão-de-obra emigrante européia nas atividades produtivas do país, criando assim um mercado nacional para bens de consumo popular. Por outro lado, como nem todos os imigrantes europeus no Brasil se ocuparam com as lavouras de café, dedicando-se às atividades comerciais, aos serviços e ao artesanato, houve espaço para o processo de urbanização da sociedade brasileira, sobretudo na região Sudeste, assim como a criação de bancos comerciais no país. Todos esses fatores, assim como os investimentos públicos imperiais em infra-estrutura principalmente em ferrovias e estradas na região central do país (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), foram determinantes para o surgimento das primeiras indústrias no país.

ALBUQUERQUE, Georgina de. No cafezal, 1930. Óleo sobre tela.

O sistema de parceria

A imigração iniciou-se no nosso país baseada em um sistema chamado “parceria”, idealizado por um grande fazendeiro, o Senador Vergueiro, na década de 1840. Por esse sistema, o fazendeiro pagava as despesas da viagem do imigrante, fornecia a alimentação a crédito, as ferramentas, alguns pés de café e um lote de terra para que plantasse gêneros de subsistência. Quando os pés de café começavam a produzir o imigrante deveria ressarcir o fazendeiro, pagando-lhe o capital investido com jurus, além de entregar metade de sua produção de café. O imigrante dificilmente conseguia pagar o fazendeiro e ficava preso à fazenda, o que causava tensões e conflitos entre trabalhadores e patrões. O sistema de “parceria” não deu certo, muito embora tenha sobrevivido por um longo tempo no campo brasileiro. Os imigrantes exerciam diversas funções em seus países de origem, eram artesãos, trabalhadores da indústria doméstica e, mesmo sendo camponeses, não sabiam cuidar dos pés de café. Além disso, recebiam dos fazendeiro as piores terras, pouco produtivas, e viviam endividados. Entretanto, o problema mais grave da imigração residia no tratamento dispensado aos imigrantes pelos fazendeiros que, acostumados com a escravidão, tratavam os trabalhadores como se fossem escravos. Por isso tudo, várias revoltas eclodiram, o que aconteceu inclusive na fazenda Ibicaba, de propriedade do idealizador do sistema de parceria.
Apesar de o sistema não funcionar como fora idealizado, o projeto de Vergueiro, um homem muito além de seu tempo, era muito interessante. Em primeiro lugar, o senador acreditava que os imigrantes, livres dos débitos, poderiam se estabelecer por conta própria. Também preocupava-se com a educação primária e secundária dos trabalhadores do campo, além de criar um fazenda modelo para ensinar práticas agrícolas aos imigrantes.
Como se pode perceber pelo projeto de Vergueiro, uma vez que o imigrante pagasse as dívidas contraídas, poderia se estabelecer por conta própria. Isto quer dizer que era possível que o imigrante abandonasse seu empregador e se estabelecesse em um pequeno lote de terra. E esse era um grande problema que tinha de ser resolvido. Se o trabalhador não era mais cativo, a terra não podia continuar a ser livre como fora desde os tempos coloniais. O governo brasileiro não queria que a agricultura brasileira se desenvolvesse por meio de pequenas unidades de produção. Defendia a continuidade da agricultura de exportação baseada na grande propriedade de terra.
Nessa medida, o governo imperial precisava encontrar uma forma de impedir que os imigrantes se aproximassem da terra livre que existia, em abundância no Brasil.

Contextualizando o tema

A Lei de Terras de 1850

A solução encontrada pelo governo para a questão territorial foi a promulgação da Lei de Terras, em 1850, que atribuía valor imobiliário às terras, que não seriam mais doados como haviam sido as sesmarias. Essa lei foi um dos estatutos responsáveis pela consolidação dos latifúndios no Brasil com o fechamento da fronteira agrícola e exclusão do acesso à terra dos brancos e mulatos pobres, dos negros e da maioria dos imigrantes europeus.

Além do fechamento da fronteira agrícola, os pequenos proprietários passaram a ter, gradativamente suas terras espoliadas pelos latifundiários por meio do processo de grilagem. As terras devolutas foram apropriadas pelos grandes donas de terra, por meio de falsificação de documentos, suborno dos responsáveis pela regularização fundiária e assassinato de posseiros.



Assim, a concentração de terras nas mãos de poucos, que se iniciara no período colonial, consolidou-se.



Contextualizando o tema











A imigração subvencionada







ROCCO, Antonio. Os imigrantes, 1910. Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo.



Além de dificultar o acesso à terra no Brasil, o governo passou a subvencionar a imigração, garantindo mão de obra para as grandes propriedades. Pela imigração subvencionada, o Estado pagava as despesas da viagem do imigrante para o Brasil, garantia-lhe um salário fixo e participação na colheita.



Como do sistema de parceira resultaram maus-tratos e exploração dos imigrantes, a imagem do Brasil ficou comprometida no exterior. Para melhorar a imagem do país e despertar o interesse dos europeus em imigrar para cá, o governo brasileiro passou a fazer uma intensa propaganda das vantagens que o país e a imigração subvencionada ofereciam aos imigrantes.



Cabe lembrar que, a partir de 1870, a conjuntura internacional era bastante favorável ao Brasil, em razão das crises enfrentadas por Itália e Alemanha – que elevaram o desemprego e o custo de vida nesses países – além da política de restrição à imigração adotada pelos Estados Unidos.Com as novas vantagens oferecidas aos imigrantes, gradativamente, os cafeicultores substituíram a mão de obra escrava pela livre.




SAGALL, Lasar. Navio de Imigrantes. 1939-41.



Os imigrantes viajavam como passageiros de terceira classe, em vapores, que levavam semanas para chegar ao seu destino. Após a chegada ao Brasil e depois de passar pela inspetoria de imigração, os recém-chegados iam para as hospedarias de imigrantes, existentes no Rio de Janeiro, Juiz de Fora e São Paulo, de onde partiam para as fazendas de café ou para as áreas de colonização no Sul do país.





Análises e interpretações: versões, opiniões e fontes diversas





Leia os documentos a seguir.





O Imigrante Italiano no Brasil



(Carta publicada no La Battaglia (A Batalha), no jornal paulistano de tendência anarquista que denunciava abusos dos cafeicultores para com os imigrantes italianos)





A sua Excelência



Cônsul da Itália em São Paulo



Há três anos trabalhado na fazenda na qual o administrador tem o vicio infame de maltratar os pobres filhos do trabalhador, em especial o italiano.



Ora, é preciso que sua Excia.saiba que o abaixo assinado é um pobre pai de família com quatro filhos menores e mulher, o que quer dizer, unicamente dois braços à disposição do serviço da fazenda. Caí doente há 3 meses e não pude trabalhar por 30 dias, sendo, desde então, objeto de escárnio e maus tratos por parte dos empregados da fazenda. Resisti pacientemente, até que, não podendo mais suportar as humilhações, resolvi abandonar a fazenda há 15 dias e não receber o que tinha direito. Parti deixando meus familiares, com a esperança de que o fazendeiro em pouco tempo os deixasse livres para partir,mas, até hoje não os vi, o que me fez acreditar que estão proibidos de sair da fazenda.



(Fonte: La Battaglia, São Paulo, 23/07/1911)





Fonte: DEL PRIORE, NEVES e ALAMBERT, Mary, Maria de Fátima das e Francisco. Documentos de História do Brasil – de Cabral aos anos 90. editora Scipione, São Paulo





Sobre a moradia dos imigrantes:





[...] Eram casebres baixos, cheios de frestas, caindo aos pedaços, que deixavam transparecer, pelos buracos usados como janelas e pelas fissuras dos muros, cenas tristes; no interior, poucos cômodos imundos, onde se chegava por escadas precárias. As paredes, revestidas de pó secular, enegrecidas e úmidas pelas chuvas que desciam livremente do teto, infiltrando-se entre as pedras; o chão do térreo era de terra ou pedras mal ajustadas, aqui e ali arrebentadas ou incompletas; o plano superior dos sobrados era formado por tabuleiros bamboleantes, nas janelas não haviam batentes, eram tapadas por vidros ou folhas de papel. Os únicos móveis eram ,um ou dois leitos sobre cavaletes, cobertos de palha ou papel, um baú para os pertences e os utensílios para cozinha e agricultura. Alguns santos vermelhos ou azuis, algumas vezes um calendário; o número de cômodos era variável, mas sempre inferior às necessidades da família: cada quarto serve a três ou quatro pessoas. Uma coabitação forçada. O chamado banheiro não existe, o hábito é fazer as necessidades corporais no modo que Mantegazza chama “poético”, mas que, por mais que contenha a luz do sul – ou o astro de prata – e as carícis da livre aragem, não deixa de ser, por isso mesmo, anti-higiênico para a medicina, indecente para a limpeza e ainda lúbrico para a moral.



Atti della giunta inchiesta agrara e sulle condizione della classe agricola









6. Tendo como parâmetro as informações dos documentos, argumente contra, ou a favor, da afirmativa de que os fazendeiros tratavam os imigrantes como tratavam os seus escravos.



resposta: Atividade opinativa. Professor, avalie a coerência da argumentação do aluno.



O tema em foco



Leia o trecho do verbete.



Lei de Terras: A Lei nº 601 do Império do Brasil, conhecida como Lei de Terras, foi sancionada em 18 de setembro de 1850, 14 dias após a aprovação da lei da abolição do tráfico atlântico de escravos. Determinou que as terras devolutas do país não poderiam ser ocupadas por qualquer outro título que não o de compra ao Estado em hasta pública, garantindo, porém, os direitos dos ocupantes de terra por posse mansa e pacífica e dos possuidores de sesmarias com empreendimentos agrícolas instalados até aquela data. Previa ainda a criação de uma Repartição Geral de Terras Públicas.





A definição de um nova política de terras esteve na agenda de consolidação da Monarquia desde a independência política. Ainda em 1822 foi revogado o instituto de doação das sesmarias, ao mesmo tempo que os reiterados compromissos com a extinção do tráfico africano colocavam no centro dos debates a aprovação de uma nova polítca de terras [...]



O primeiro projeto de lei agrário apresentado pelo Conselho de Estado, em 1842, buscava resolver suas ordens de problemas associados. Por um lado, a substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre, baseada no estímulo à imigração e à colonização estrangeira, sobretudo a europeia [...] Por outro lado, tratava-se de demarcar com clareza os limites entre terras públicas e privadas, até então fuídos, buscando retirar do controle privado as terras improdutivas [...]



Em 1850, a iminência da extinção do tráfico africano faria com que o gabinete conservador finalmente lograsse a aprovação de uma lei de terras, regulamentada pelo Decreto nº 1, 318, de 30 de janeiro de 1854. O novo projeto, porém, ampliava consideravelmente, em relação à propostas de 1842, o tamanho das posses que podiam ser legitimadas e suprimia a proposta de instituir um imposto territorial. Para separa as terras públicas das particulares, era necessário legitimar posses e revalidar sesmarias, que deveriam ser declaradas e depois demarcadas. Para tanto, era necessário formar um cadastro de terras ocupadas, para o que foi instituída a obrigatoriedade de declaração nos Registros Paroquiais de Terras, então instituídos, realizando-se os registros em todo o império entre 1855 e 1860. A Repartição Geral de Terras Públicas, entretanto, jamais teve condições de implementar os trabalhos de medição e revalidação dos registros.



Os analistas são unânimes em considerar as limitações da aplicação da lei de 1850, embora a considerem um marco na história da propriedade privada da terra no Brasil e na sua transformação em mercadoria [...]



Se a separação entre as terras públicas e privadas permaneceu tênue, os limites entre os terrenos privados tornaram-se mais nítidos, ao mesmo tempo em que reduzia a incidência de direitos superpostos no interior das propriedades, eliminando, a médio prazo, muitos direitos costumeiros de arrendatários, posseiros e agregados [...]





MATTO, Hebe. Lei de Terras In: VAIFAS, Ronaldo, org. Dicionário do Brasil Imperial. (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 467-8.






7. Defina "Lei de Terras".



resposta: A Lei de Terras de 1850 determinava que as terras devolutas do país não poderiam ser ocupadas por qualquer outro título que não o de compra ao Estado em hasta pública, garantindo, porém, os direitos dos ocupantes de ter por posse mansa e pacífica e dos possuidores de sesmarias com empreendimentos agrícolas instalados até aquela data. Previa ainda a criação de uma Repartição Geral de Terras Públicas.



8. Explique o que foram os Registros Paroquiais de Terras.





resposta: Para separar as terras públicas das particulares, era necessário legitimar posses e revalidar sesmarias, que deveriam ser declaradas e depois demarcadas. Para tanto, era necessário formar um cadastro de terras ocupadas, para o que foi instituída a obrigatoriedade de declaração no Registros Paroquiais de Terras, então instituídos, realizando-se os registros em todo o império entre 1855 e 1860.


9. Apresente o maior impacto da Lei de Terras na estrutura agrária do país.





resposta: O maior impacto foi a transformação da terra em mercadoria.

Leia o texto a seguir.


A imigração assalariada


O fracasso das tentativas de trazer europeus para trabalharem na agricultura, desde as colônias de povoamento de D. João até as de parceria do senador Vergueiro, deveu-se a que esses sistemas na satisfaziam a prioridade dos latifundiários, que era a substituição da mão de obra escrava por outra que não comprometesse o sistema produtivo assentado na grande propriedade agroexportadora.



O fim do trafico tornou o problema urgente, e a Lei de Terras, assegurando o impedimento ao imigrante de acesso à terra, possibilitou o incremento do programa de captação de europeus para trabalharem nas fazendas brasileiras como assalariados. Embora iniciada após a corrente espanhola (1856) e austríaca (1872), a corrente imigratória italiana ganhou força a partir de 1875, dirigindo-se sobretudo para a província de São Paulo.



O grande contingente de italianos que veio para o Brasil explica-se devido à situação política explosiva e prolongada gerada pela unificação italiana e pela propriedade fundiárias nesse país, restrita a poucos. Um enorme proletariado rural que ali existia, pressionado ainda mais por uma seqüência de secas e seduzido pelas condições maravilhosas de trabalho oferecidas pela propaganda enganosa das agências de imigração brasileiras, trouxeram milhares de trabalhadores italianos para o Brasil.



O primeiro grupo que chegou a São Paulo em 1877 era de duas mil pessoas, mas apenas a partir da década seguinte a imigração ganha impulso, atingindo 80 749 em 1888. O incremento da imigração deveu-se à ação de negociantes ligados direta ou indiretamente aos governos provinciais e imperial e à lavoura cafeeira. Conforme avançava a campanha abolicionista e crescia a procura internacional do café, mais se empenhavam os governos em medidas que suprissem o déficit de mão de obra. Várias leis foram decretadas nesse sentido.



Os imigrantes que se dirigiam majoritariamente para São Paulo aportavam em Santos e subiam a serra até a capital da província. Lá ficavam em hospedarias especializadas em recebê-los, como a Hospedaria do Brás, com acomodações para quatro mil pessoas. De lá, eram os imigrantes encaminhados para as fazendas pelas agências. Formaram-se diversas sociedades destinadas a cuidar da boa recepção dos adventícios, como a Sociedade Promotora de Imigração, fundada em 1886 em São Paulo pelo Conde de Parnaíba. Principalmente antes dessa, e a despeito do interesse que se tinha pelo imigrante, as fraudes foram a regra na trazida dos trabalhadores que deveriam substituir os escravos.





Os imigrantes, depois de uma semana ou pouco mais nas hospedarias, se dirigiam para as fazendas de café. As leis brasileiras que regulavam a imigração favoreciam sobretudo o fazendeiro, obrigando o imigrante a trabalhar para ele no mínimo por cinco ano, período excessivamente longo. O colono não podia ser contratado um segunda vez se não tivesse um certificado de quitação com o primeiro empregador. Em caso de dívida, era obrigado a trabalhar gratuitamente por até dois anos.



No final do Império essas leis praticamente não eram respeitadas em São Paulo devido à grande demanda de trabalhadores livres, que estabeleciam contratos verbais com os fazendeiros, facilmente rescindíveis por ambas as partes a qualquer momento [...]

MALERBA, Jurandir. O Brasil Imperial. Maringá: Eduem, 1999. p. 103-5



Contextualizando o tema







10. Explique as razões para a vinda de grandes continentes de italianos para o Brasil.

resposta: As razões para a vinda de grandes contingentes de italianos, foram a instável situação política gerada pela unificação italiana, a restrição da propriedade de terras, as condições climáticas e a propaganda das agências de imigração brasileiras.

11. Como se dava a trajetória do imigrante entre sua chegada no porto de Santos e o início de seu trabalho na fazenda de café?

resposta: Após chegarem a Santos, os imigrantes subiam até a capital da província onde ficavam acomodados em hospedarias especializadas para recebê-los. De lá, os imigrantes eram encaminhados para as fazendas pelas agências.

12. Apresente a forma como as leis imperiais regulavam a relação de trabalho entre o fazendeiro e o imigrante.



resposta: As leis brasileiras favoreciam, sobretudo, o fazendeiro, obrigando o imigrante a trabalhar para ele pelo período de, no mínimo, cinco anos. O colono não podia ser contratado uma segunda vez se não tivesse um certificado de quitação com o primeiro empregador. Em caso de dívida, era obrigado a trabalhar gratuitamente por até dois anos.


Construindo habilidades e competências

Leia o manifesto.



Manifesto das Mulheres da Via Campesina

09/03/2009

Nós mulheres, camponesas, ribeirinhas, extrativistas, indígenas, quilombolas e sem terra, queremos denunciar com nossas ações políticas a extrema gravidade da situação dos trabalhadores rurais no Brasil.. Não nos subordinaremos a este modelo capitalista e patriarcal de sociedade, concentrador de poder e de riquezas. Não queremos o projeto de agricultura do agronegócio, hidronegócio e das empresas transnacionais no Brasil.

Nos mobilizamos para denunciar a crise política, econômica, social e ambiental criada pelas elites que controlam o Estado: capital financeiro internacional e transnacionais. Não aceitamos pagar a conta da crise, com a super-exploracão de nosso trabalho, baixos salários, aumento da jornada de trabalho e com o avanço da exploração sobre os recursos naturais. Por isso, DENUNCIAMOS:

O AGRO E O HIDRO NEGÓCIO SÃO INSUSTENTÁVEIS: os monocultivos, com destaque para a cana, soja e eucalipto, causam um forte desequilíbrio ambiental, sérios problemas sociais, gerando graves conseqüências para a humanidade, através do uso intensivo de venenos. É um modelo que se apropria e domina a água, a terra, as fontes de energia, os minérios, as sementes e toda biodiversidade. Exerce controle das sementes, através dos transgênicos, que provoca o aumento de doenças, especialmente em mulheres e crianças. Avança sobre os recursos naturais, com a ganância de aumentar seus lucros sobre as florestas, na Amazônia e no que resta do Cerrado, da Mata Atlântica, do bioma Pampa e do Semi-Árido nordestino.

SUPER-EXPLORAÇÃO DO TRABALHO: os grandes lucros deste modelo são obtidos através de baixos salários, precarização, ameaça constante de desemprego e condições semelhantes de trabalho escravo. É esta super-exploração do trabalho que permite que a mercadoria fruto deste modelo, seja uma das mais baratas e competitivas do mundo.

FINANCIAMENTO DO ESTADO: este modelo é beneficiado através de investimento público que tira dos pobres em forma de impostos e passa os recursos para os bancos e empresas. O governo brasileiro recolhe da sociedade, todos os anos, cerca de 150 bilhões de reais para transferir aos bancos na forma de pagamento de uma dívida, que o povo não fez e nunca foi consultado. Os donos desses títulos não são mais que 20 mil ricos, entre donos de bancos, especuladores nacionais e internacionais. Sem esses recursos, o governo não consegue investir em educação, emprego, saúde, direitos previdenciários, habitação e reforma agrária. Este repasse se dá principalmente através do FAT e do BNDES – órgãos governamentais. É o modelo mais rentável para os capitalistas, e o mais dependente dos investimentos públicos. Por gerar divisas em dólar, o governo e o Estado lhes dão total amparo. Em especial, em linhas de crédito: o agronegócio recebe mais de 65 bilhões de reais por ano dos bancos públicos, e com isenção dos impostos de exportação. Exportar apenas matéria prima não desenvolve o país, nem distribui renda a todos e todas.

ALIANÇA QUE AFETA A SOBERANIA ALIMENTAR E O CONTROLE DA AGRICULTURA BRASILEIRA: há uma aliança entre os grandes proprietários de terra com as empresas transnacionais que controlam o fornecimento dos insumos industriais -adubos, fertilizantes, venenos e máquinas- , o preço e o mercado de cada produto. O Brasil continua priorizando a exportação de matérias primas, sem valor agregado, vendendo a preços baixos, e transferindo parte de nossas riquezas naturais, inclusas no produto.

A CRIMINALIZAÇÃO DA LUTA: nos últimos tempos, o Estado tem utilizado todo aparato policial, o poder judiciário e a mídia para defender as empresas, o agronegócio e a propriedade privada e criminalizar as lutas sociais.

Reafirmamos a luta como única saída para as transformações sociais! E temos o direito de lutar!

Nos mobilizamos para defender a agroecologia, a biodiversidade, a agricultura camponesa cooperada, a produção de alimentos saudáveis, a reforma agrária, os direitos previdenciários, a saúde e educação gratuita e de qualidade para todos. Para defender a terra, a água, as sementes, a energia e o petróleo como bens da natureza a serviço dos seres humanos.

Rompemos o silêncio para resgatar a cultura e o conhecimento camponês, resgatar o nosso Brasil. E para isso, convocamos todo o povo brasileiro a ir à luta, para se unir para construir um novo projeto de desenvolvimento - que beneficie o povo brasileiro e não as empresas e os bancos.

Seguiremos lutando e organizando as mulheres, os homens, a juventude trabalhadora e as crianças para defender os nossos direitos de viver no Brasil justo, igualitário e soberano.

VIVA 08 DE MARÇO: DIA INTERNACIONAL DE LUTA DAS MULHERES TRABALHADORAS!

VIA CAMPESINA BRASIL e FETRAF - MARÇO 2009


Disponível em: www, mst.org.br - acesso em 21 abr. 2011.

No dia 9 de março de 2009, as mulheres da Via Campesina invadiram o Ministério da Agricultura, destruíram carregamentos de celulose para exportação da Aracruz, entre outras ações coletivas. No manifesto, há a explicação para o seu comportamento pouco ortodoxo.

Argumente contra ou favor dos pontos levantados pelas mulheres da Via Campesina no seu Manifesto. Debata suas ideias com os seus colegas na sala de aula.



De olho no vestibular


1. (PUC) No Brasil do século XIX, destaca-se uma política imigrantista, que visava atrair estrangeiros para povoar e colonizar os vazios demográficos permitindo a posse do território e a produção de riquezas. Sobre a política de imigração, assinale a afirmativa CORRETA.

a) O perfil do imigrante desejável era o que se enquadrasse na categoria de agricultor, colono e artesão que estivesse disposto a se estabelecer no campo.

b) O estrangeiro vinha para a substituição da mão-de-obra escrava. Era, portanto, trabalhador com acesso à propriedade de terras vinculadas à Coroa portuguesa.

c) O aumento da entrada de imigrantes no país coincide com o desenvolvimento econômico advindo dos engenhos de cana-de-açúcar no Nordeste.

d) O processo de adaptação do imigrante ao país sempre coube ao Estado que, com a imigração subvencionada, catequizava e inseria o estrangeiro no Brasil.


resposta: [A]

2. (Fatec) :Em 4 de setembro de 1850, foi sancionada no Brasil a Lei Eusébio de Queirós (ministro da Justiça), que abolia o tráfico negreiro em nosso país. Em decorrência dessa lei, o governo imperial brasileiro aprovou outra, "a Lei de Terras". Dentre as alternativas a seguir, assinale a correta.

a) A Lei de Terras facilitava a ocupação de propriedades pelos imigrantes que passaram a chegar ao Brasil.

b) A Lei de Terras dificultou a posse das terras pelos imigrantes, mas facilitou aos negros libertos o acesso a elas.

c) O governo imperial, temendo o controle das terras pelo coronéis, inspirou-se no "Act Homesteade" americano, para realizar uma distribuição de terras aos camponeses mais pobres.

d) A Lei de Terras visava a aumentar o valor das terras e obrigar os imigrantes a vender sua força de trabalho para os cafeicultores.

e) O objetivo do governo imperial, com esta lei, era proteger e regularizar a situação das dezenas de quilombos que existiam no Brasil.

resposta:[D]

3. (PUCPR) Entre a extinção do tráfico de escravos em 1850 e o impulso da imigração estrangeira, na sociedade brasileira ainda baseada na exploração servil, a agricultura cafeeira serviu-se:

a) de trabalhadores livres atraídos das regiões pastoris do centro-oeste.

b) de escravos vindos do norte, principalmente da região amazônica da borracha.

c) da mão-de-obra indígena, principalmente fornecida pelos aldeamentos do norte do Paraná e sul de Mato Grosso.

d) de trabalhadores livres sulistas, que deixavam as suas regiões agrícolas em busca de razoáveis salários pagos na lavoura cafeeira.

e) de escravos vindos do nordeste, principalmente das áreas açucareiras.



resposta:[E]


4. (UFRN) Durante o século XIX, no Brasil, desenvolveu-se uma campanha em favor da abolição da escravidão negra. A culminância dessa campanha deu-se com a Lei Áurea, em 1888. Ao ser extinta a escravidão, os libertos

a) permaneceram nas mesmas condições de vida, dada a inexistência de uma política governamental que os integrasse à sociedade.

b) iniciaram negócios próprios, inserindo-se no mercado capitalista, graças a subsídios do governo.

c) ocuparam postos no mercado de trabalho capitalista, em razão da política governamental de educação formal.

d) foram alvo de atitudes segregacionistas da sociedade branca, dificultando-lhes a ascensão social em razão das disposições previstas nas leis abolicionistas.


resposta:[A]


5. (UFRN) No século XIX, atendendo-se a necessidades de mão-de-obra na agricultura, adotou-se uma política de imigração de trabalhadores livres para o Brasil. Naquele período,

a) os cafeicultores paulistas opunham-se à vinda de imigrantes italianos, que, influenciados pelas idéias socialistas-anarquistas, lideravam movimentos reivindicatórios.

b) a aprovação da Lei de Terras facilitou a fixação dos colonos em pequenas propriedades, exploradas por mão-de-obra familiar e voltadas para o mercado interno.

c) os senhores de engenho pressionaram para que o governo brasileiro patrocinasse a vinda de imigrantes, de modo a reerguer a produção açucareira.

d) o ajustamento social dos colonos imigrantes foi dificultado pelo padrão escravista de administração e pela influência da mentalidade senhorial nas relações de trabalho.









resposta:[D]











Para saber mais





FARIA, Augusto C,; BARROS, Edgar Luiz de. Os abolicionista. São Paulo: Ática (Coleção O Cotidiano da História).



LIBBY, Douglas; PAIVA, Eduardo França. A escravidão no Brasil. São Paulo: Moderna.



MONTENEGRO, Antônio Torres. Reinventando a liberdade. A abolição da escravatura no Brasil. São Paulo: Atual (Coleção História em Documentos).







6 comentários:

  1. Muito boas as questões. Aprendi bastante.

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  2. Por que o negro recém-liberto não foi utilizado como mão-de-obra nas lavouras do café?

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    1. Olá, meu caro Pery Gabriel, a resposta para essa pergunta pode ser dada baseando-se no grande preconceito racial que vigorava entre as elites brasileiras. Os negros recém-libertos foram abandonados à própria sorte após a promulgação da Lei Áurea, além disso havia a proposta de branqueamento da sociedade brasileira com o incentivo à imigração, principalmente europeia.
      Abraço

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