Terceiro Ano - CNDL
Colégio Notre Dame de Lourdes
Terceiro Bimestre
Coleção Pitágoras
As civilizações clássicas - A civilização grega
Grécia Antiga é o termo geralmente usado para descrever, em seu período clássico antigo, o mundo grego e áreas próximas (como Chipre, Anatólia, sul da Itália, da França e costa do mar Egeu, além de assentamentos gregos no litoral de outras regiões, como no Egito). A História da Grécia tradicionalmente compreende o estudo não apenas da Grécia em si, mas também das áreas por eles governadas. O âmbito da habitação e governo do povo grego sofreu várias mudanças através dos anos e, como consequência, a história da Grécia reflete essa elasticidade. Cada era, cada período de sua História antiga, tem suas próprias características. Os primeiros gregos chegaram na Europa pouco antes de 1,5 mil a.C. A civilização grega estabeleceu tradições de justiça e liberdade individual, que viriam a se estabelecer como as bases da democracia contemporânea. A sua arte, seu pensamento filosófico e sua Ciência tornaram-se fundamentos do pensamento e da cultura ocidentais. Os gregos da antiguidade chamavam a si próprios de helenos (todos que falavam grego, mesmo que não vivessem na Grécia), e davam o nome de “Hélade” à sua terra, sendo considerado bárbaro todo povo que não fosse considerado grego e não falasse a língua grega. Ainda assim, os gregos nunca chegaram a formar um governo nacional, ainda que estivessem unidos pela mesma cultura, religião e língua; exatamente por isso o que temos é um conjunto de cidades-Estado que possuem entre si traços culturais em comum que as reúnem sob uma mesma designação: Grécia. Em outras palavras, não existiu um Estado politicamente unificado entre os gregos antigos. Situada na porção sul da Península Balcânica, o território da Grécia continental caracteriza-se pelo seu relevo montanhoso. Mas também faz parte do território grego uma região insular. Os gregos originaram-se de povos que migraram para a península balcânica em diversas ondas migratórias, com início no terceiro milênio a.C.; entre os invasores, merecem destaque os pioneiros: os aqueus, os jônicos, os dóricos e os eólios (todos indo-arianos provenientes da Europa Oriental). A História da Grécia antiga, para efeito didático, divide-se em cinco períodos, a saber:
- Pré-Homérico (1900–1100 a.C.): período anterior à formação do homem grego; nessa época, estavam se desenvolvendo as civilizações cretense ou minoica (na ilha de Creta) e a micênica (na parte continental).
- Homérico (1100–700 a.C.): período em que ocorre a chegada de Homero, que foi considerado marco na história por suas epopeias, a Ilíada e a Odisseia; há, também, o início da ruralização e da formação da comunidade gentílica (comunidade na qual um ajuda o outro na produção e colheita); plantavam apenas o que iriam consumir. - Arcaico (800–500 a.C.): formação da polis; colonização grega; aparecimento do alfabeto fonético, da Arte e da Literatura, além de progresso econômico com a expansão da divisão do trabalho, do comércio e processo de urbanização; é neste período em que os vários modelos das polis vão se constituindo, definindo assim a estrutura interna de cada cidade-Estado.
- Clássico (500–338 a.C.): período de esplendor da civilização grega, ainda que discutível; as duas cidades consideradas mais importantes desse período foram Esparta e Atenas; além delas, outras cidades muito importantes foram Tebas, Corinto e Siracusa; nesse momento a História da Grécia é marcada por uma série de conflitos externos (Guerras Médicas) e internos (Guerra do Peloponeso).
- Helenístico (338–146 a.C.): crise da civilização grega, invasão macedônica, expansão militar e cultural helenística, a civilização grega se espalha pelo Mediterrâneo e se funde a outras culturas. Trataremos desses períodos, com mais atenção, em outro momento. Por ora, vejamos algumas importantes características da civilização grega, a começar por sua organização social e política. Em primeiro lugar, é importante evitar a confusão de se comparar a Grécia antiga com a Grécia moderna (isto é, atual): o mundo grego da antiguidade se estendia por uma área muito maior do que o território atual; além disso, se atualmente a Grécia constitui um país, a Grécia Antiga nunca foi um Estado unificado com governo único: era, na realidade, um conjunto de cidades-Estado independentes entre si, mantendo apenas algumas semelhanças como a língua.Desde o século VIII a.C., formaram-se pela Grécia antiga diversas cidades independentes. Em razão dessa independência, cada uma delas desenvolveu seu próprio sistema de governo, suas próprias leis, seu próprio calendário, sua própria moeda etc. Tais cidades eram denominadas de “polis” (que, em grego, nada mais significa que “cidade” — em seu âmbito político —), palavra costumeiramente traduzida por “cidade-Estado”. De modo geral, a polis reunia um agrupamento humano a habitar um território de extensão variável; compreendia uma área urbana e uma área rural: a área urbana concentrava o centro comercial e os polos manufatureiros onde artesãos e operários produziam armas, artigos de cerâmica, ferramentas variadas, tecidos, roupas, sandálias etc.; na área rural a população dedicava-se às atividades agropastoris como o cultivo do trigo, de oliveiras, da cevada, de videiras, bem como havia a criação de rebanhos de cavalos, cabras, ovelhas, porcos etc. Esse agrupamento, a cidade-Estado, visava atingir e manter uma completa autonomia sociopolítica para com as outras cidades-Estado gregas, embora houvesse comércio entre as cidades. Ainda que estivessem inseridos dentro de uma mesma civilização e possuíssem muitos elementos culturais em comum (falavam a mesma língua, tinham religião comum), os gregos passavam por conflitos e mantinham diferenças entre si. Em função disso, reconheciam-se como “helenos” (gregos) e chamavam de “bárbaros” todos os estrangeiros que não falassem sua língua e não tivessem seus costumes — ou seja, bárbaros eram, para os gregos, todos aqueles que não pertenciam ao mundo cultural grego.
Diante da iminente invasão, os gregos decidem esquecer as diferenças entre si e estabelecem uma aliança composta por 31 cidades (a Liga de Delos, acordo em que várias cidades gregas cediam armamentos e recursos financeiros para conter outras possíveis ações militares dos exércitos persas), entre as quais Atenas e Esparta, tendo sido atribuída a esta última o comando das operações militares por terra, enquanto Atenas comandava as organizações militares marítimas. As forças espartanas lideradas pelo rei Leônidas I conseguem temporariamente bloquear os persas na Batalha das Termópilas, mas tal não impede a invasão da Ática. O general Temístocles tinha optado por evacuar a população da Ática para Salamina e sob a direção desta figura Atenas consegue uma vitória sobre os Persas; em 479 a.e.c. os gregos confirmam a sua vitória desta feita na Batalha de Plateia.
O desgaste causado pelos conflitos entre cidades-Estado gregas fez com que a Grécia se colocasse como um alvo frágil, fácil para a invasão de qualquer civilização militarmente bem preparada. A partir do século IV a.e.c., foram os macedônios, vindos do norte, que empreenderam investidas militares que determinaram o fim da autonomia política dos gregos. Tais eventos marcam o último período da civilização grega, o Helenístico — que termina no século II a.e.c., data em que os romanos conquistam o território grego. Vejamos um pouco mais a fundo como isso se deu. O reino da Macedônia, situado a norte da Grécia, emergiu como potência em meados do século IV a.e.c. Os macedônios, que não falavam grego e não seguiam o modelo político dos gregos, eram vistos por estes como bárbaros. Apesar disso, muitos nobres macedônios aderiram à cultura grega, tendo sido a Macedônia, por esse motivo, responsável pela conservação e difusão da cultura grega. Durante o reinado de Filipe II, o exército macedônio adota técnicas militares superiores que, aliadas à diplomacia, permitirão a possibilidade de dominar as cidades da Grécia então fragilizadas por conflitos internos. Nas cidades-Estado dominadas, começam a se formar partidos de oposição a Filipe e partidos a ele favoráveis. Em 338 a.e.c., Filipe e seu filho (Alexandre, o Grande) derrotam uma coligação grega em Queroneia, colocando a Grécia continental sob domínio macedônio. Filipe, então, organiza a Grécia em uma confederação, procurando com isso unir os gregos com o objetivo de conquistar o império persa. Contudo, Filipe viria a ser assassinado por um nobre macedônio, tendo sido sucedido pelo seu filho Alexandre. Este concretizou o objetivo do pai, conquistando a Pérsia e marchando até a Índia. Depois disso, Alexandre, o Grande tornou-se senhor de um vasto império que abrangia o espaço da Ásia Menor ao Afeganistão, incluindo-se o Egito. Após a morte de Alexandre, seus generais lutaram entre si pela posse do império, que acabou por se fragmentar em territórios menores.
Grécia Antiga é o termo geralmente usado para descrever, em seu período clássico antigo, o mundo grego e áreas próximas (como Chipre, Anatólia, sul da Itália, da França e costa do mar Egeu, além de assentamentos gregos no litoral de outras regiões, como no Egito). A História da Grécia tradicionalmente compreende o estudo não apenas da Grécia em si, mas também das áreas por eles governadas. O âmbito da habitação e governo do povo grego sofreu várias mudanças através dos anos e, como consequência, a história da Grécia reflete essa elasticidade. Cada era, cada período de sua História antiga, tem suas próprias características. Os primeiros gregos chegaram na Europa pouco antes de 1,5 mil a.C. A civilização grega estabeleceu tradições de justiça e liberdade individual, que viriam a se estabelecer como as bases da democracia contemporânea. A sua arte, seu pensamento filosófico e sua Ciência tornaram-se fundamentos do pensamento e da cultura ocidentais. Os gregos da antiguidade chamavam a si próprios de helenos (todos que falavam grego, mesmo que não vivessem na Grécia), e davam o nome de “Hélade” à sua terra, sendo considerado bárbaro todo povo que não fosse considerado grego e não falasse a língua grega. Ainda assim, os gregos nunca chegaram a formar um governo nacional, ainda que estivessem unidos pela mesma cultura, religião e língua; exatamente por isso o que temos é um conjunto de cidades-Estado que possuem entre si traços culturais em comum que as reúnem sob uma mesma designação: Grécia. Em outras palavras, não existiu um Estado politicamente unificado entre os gregos antigos. Situada na porção sul da Península Balcânica, o território da Grécia continental caracteriza-se pelo seu relevo montanhoso. Mas também faz parte do território grego uma região insular. Os gregos originaram-se de povos que migraram para a península balcânica em diversas ondas migratórias, com início no terceiro milênio a.C.; entre os invasores, merecem destaque os pioneiros: os aqueus, os jônicos, os dóricos e os eólios (todos indo-arianos provenientes da Europa Oriental). A História da Grécia antiga, para efeito didático, divide-se em cinco períodos, a saber:
- Pré-Homérico (1900–1100 a.C.): período anterior à formação do homem grego; nessa época, estavam se desenvolvendo as civilizações cretense ou minoica (na ilha de Creta) e a micênica (na parte continental).
- Homérico (1100–700 a.C.): período em que ocorre a chegada de Homero, que foi considerado marco na história por suas epopeias, a Ilíada e a Odisseia; há, também, o início da ruralização e da formação da comunidade gentílica (comunidade na qual um ajuda o outro na produção e colheita); plantavam apenas o que iriam consumir. - Arcaico (800–500 a.C.): formação da polis; colonização grega; aparecimento do alfabeto fonético, da Arte e da Literatura, além de progresso econômico com a expansão da divisão do trabalho, do comércio e processo de urbanização; é neste período em que os vários modelos das polis vão se constituindo, definindo assim a estrutura interna de cada cidade-Estado.
- Clássico (500–338 a.C.): período de esplendor da civilização grega, ainda que discutível; as duas cidades consideradas mais importantes desse período foram Esparta e Atenas; além delas, outras cidades muito importantes foram Tebas, Corinto e Siracusa; nesse momento a História da Grécia é marcada por uma série de conflitos externos (Guerras Médicas) e internos (Guerra do Peloponeso).
- Helenístico (338–146 a.C.): crise da civilização grega, invasão macedônica, expansão militar e cultural helenística, a civilização grega se espalha pelo Mediterrâneo e se funde a outras culturas. Trataremos desses períodos, com mais atenção, em outro momento. Por ora, vejamos algumas importantes características da civilização grega, a começar por sua organização social e política. Em primeiro lugar, é importante evitar a confusão de se comparar a Grécia antiga com a Grécia moderna (isto é, atual): o mundo grego da antiguidade se estendia por uma área muito maior do que o território atual; além disso, se atualmente a Grécia constitui um país, a Grécia Antiga nunca foi um Estado unificado com governo único: era, na realidade, um conjunto de cidades-Estado independentes entre si, mantendo apenas algumas semelhanças como a língua.Desde o século VIII a.C., formaram-se pela Grécia antiga diversas cidades independentes. Em razão dessa independência, cada uma delas desenvolveu seu próprio sistema de governo, suas próprias leis, seu próprio calendário, sua própria moeda etc. Tais cidades eram denominadas de “polis” (que, em grego, nada mais significa que “cidade” — em seu âmbito político —), palavra costumeiramente traduzida por “cidade-Estado”. De modo geral, a polis reunia um agrupamento humano a habitar um território de extensão variável; compreendia uma área urbana e uma área rural: a área urbana concentrava o centro comercial e os polos manufatureiros onde artesãos e operários produziam armas, artigos de cerâmica, ferramentas variadas, tecidos, roupas, sandálias etc.; na área rural a população dedicava-se às atividades agropastoris como o cultivo do trigo, de oliveiras, da cevada, de videiras, bem como havia a criação de rebanhos de cavalos, cabras, ovelhas, porcos etc. Esse agrupamento, a cidade-Estado, visava atingir e manter uma completa autonomia sociopolítica para com as outras cidades-Estado gregas, embora houvesse comércio entre as cidades. Ainda que estivessem inseridos dentro de uma mesma civilização e possuíssem muitos elementos culturais em comum (falavam a mesma língua, tinham religião comum), os gregos passavam por conflitos e mantinham diferenças entre si. Em função disso, reconheciam-se como “helenos” (gregos) e chamavam de “bárbaros” todos os estrangeiros que não falassem sua língua e não tivessem seus costumes — ou seja, bárbaros eram, para os gregos, todos aqueles que não pertenciam ao mundo cultural grego.
Diante da iminente invasão, os gregos decidem esquecer as diferenças entre si e estabelecem uma aliança composta por 31 cidades (a Liga de Delos, acordo em que várias cidades gregas cediam armamentos e recursos financeiros para conter outras possíveis ações militares dos exércitos persas), entre as quais Atenas e Esparta, tendo sido atribuída a esta última o comando das operações militares por terra, enquanto Atenas comandava as organizações militares marítimas. As forças espartanas lideradas pelo rei Leônidas I conseguem temporariamente bloquear os persas na Batalha das Termópilas, mas tal não impede a invasão da Ática. O general Temístocles tinha optado por evacuar a população da Ática para Salamina e sob a direção desta figura Atenas consegue uma vitória sobre os Persas; em 479 a.e.c. os gregos confirmam a sua vitória desta feita na Batalha de Plateia.
Como dito acima, apesar da autonomia política das cidades-Estado, os gregos estavam unificados em termos religiosos. Praticavam uma religião de cunho politeísta antropomórfico: os deuses poderiam se envolver em aventuras fantásticas (que conhecemos como “mitos”). Entre as divindades cultuadas estavam: Zeus (senhor dos deuses), Poseidon (deus do mar), Afrodite (deusa do amor), Apolo (deus da luz e das artes), Dionísio (deus do vinho), Atena (deusa da sabedoria), Hera (protetora das mulheres) etc., deuses que mantinham estreita relação com os seres humanos na medida em que tinham características semelhantes aos cidadãos gregos, ainda que tivessem uma diferença essencial: eram, os deuses, imortais. Os deuses, por essa aproximação com os humanos, possuíam tanto virtudes quanto defeitos. A religião grega teve importância fundamental para tal civilização, como se pode notar no fato de as cerimônias públicas (mesmo as de cunho político) eram antecedidas por práticas religiosas, o que reflete a importância da religião entre os gregos antigos. Mas esse sistema religioso e, principalmente, o conhecimento que ele trazia ao homem a respeito do mundo foi superado pelo pensamento filosófico — como teremos a oportunidade de acompanhar nas aulas de Filosofia. Ainda a respeito da cultura grega antiga, não podemos nos esquecer da Arte: essa manifestação cultural teve importante no que concerne à arquitetura, à escultura, às artes plásticas, à decoração etc. A arte grega, por sua importância não apenas para os gregos, mas sobretudo para o mundo ocidental, constituiu posteriormente a base da Arte na Europa. Sua influência duradoura se deve à racionalidade e ao cuidado formal em que o equilíbrio e a simetria tinham a tendência de privilegiar a estética do ser humano e garantir a beleza das representações artísticas .
No Período Clássico teremos a consolidação das cidades-Estado, sendo que duas das mais importantes foram Esparta e Atenas. São, pois, dois exemplos claros da autonomia que tinham as polis gregas: tanto Atenas quanto Esparta apresentavam configurações sociopolíticas distintas, ainda que fizessem parte de uma mesma civilização. Vejamos as características fundamentais de cada uma, para depois compreender o início dos conflitos entre essas (e outras) cidades-Estado, o que levou ao enfraquecimento do poder político grego e o declínio dessa civilização. Comecemos por Esparta, que formava, com as cidades-Estado vizinhas, a Liga do Peloponeso (importante na guerra do Peloponeso que veremos mais à frente). Esparta encontrava-se numa região de terras apropriadas para o cultivo da vinha e da oliveira. Era uma cidade de caráter militarista e oligárquico. O governo de Esparta tinha como um de seus principais objetivos fazer de seus cidadãos modelos de soldados, fisicamente bem treinados, corajosos e obedientes às leis e às autoridades. Em Esparta os homens eram na sua maioria soldados e foram responsáveis pelo avanço das técnicas militares, melhorando e desenvolvendo um treino, organização e disciplina intensivos e nunca vistos até então. A sociedade espartana era fortemente estratificada, sem qualquer possibilidade de mobilidade entre os três grupos existentes: os esparciatas (aqueles que eram filhos de pai e mãe espartanos, sendo os únicos que possuíam direitos políticos, constituindo o corpo dos cidadãos e permanecendo à disposição do exército ou dos negócios públicos), os periecos (descendiam dos povos conquistados pelos esparciatas, mas ainda assim integrados ao Estado espartano e ao qual pagavam impostos; apesar de serem livres, não tinham direitos políticos; ao contrário dos esparciatas, os periecos podiam dedicar-se ao comércio e à indústria artesanal) e os hilotas (isto é, os servos, que pertenciam ao Estado espartano e trabalhavam com a agricultura, não podendo ser expulsos das terras onde trabalhavam). Analisando a situação dos esparciatas, periecos e hilotas, alguns historiadores afirmam que os periecos, por dominar o comércio e o artesanato, podiam enriquecer, desfrutando de certo conforto material e liberdade. Os esparciatas, por sua vez, cumpriam obrigações tão pesadas em relação ao Estado que se tornaram vítimas de suas próprias instituições. Quanto aos hilotas, sua vida era marcada pela opressão e miséria. Por outro lado, Atenas, a principal cidade-Estado da Grécia Antiga durante o Período Clássico, transformou-se no principal centro cultural e intelectual do Ocidente — e certamente é nas ideias e práticas da antiga Atenas que o que nós chamamos de “civilização ocidental” tem sua origem. A esse respeito, vale dizer que, no estudo das sociedades clássicas costumamos destacar especialmente o incisivo papel a partir do qual as práticas e instituições nascidas no mundo grego influenciaram a formação do mundo contemporâneo. Entre as várias instituições consolidadas, a noção de democracia é uma das que mais despertam nosso interesse na busca por paralelos que aproximem o mundo antigo do contemporâneo. Nesse sentido, a história da democracia ateniense pode ser compreendida à luz de uma série de transformações sofridas pela sociedade e pela economia ateniense. Assim sendo, até os séculos VII e VI a.e.c., o poder político ateniense era controlado por uma elite aristocrática detentora das terras férteis de Atenas: os eupátridas. Nesse meio tempo, uma nascente e poderosa classe de comerciantes, os demiurgos, exigia participação nos processos decisórios da vida política ateniense. Além disso, pequenos comerciantes e proprietários acometidos pela escravidão por dívidas, exigiam a revisão do poder político ateniense. Com isso, os eupátridas viram-se obrigados a reformular as instituições políticas da cidade-Estado. Um grupo de legisladores foi responsável por um gradual processo de transformação política: Drácon resolveu estabelecer um conjunto de leis escritas que dariam lugar às leis orais anteriormente conhecidas pelos eupátridas, medida que possibilitou uma nova tradição jurídica que retirava o total controle das leis invocadas pelos eupátridas; Sólon, outro importante legislador, ampliou o leque de reformas políticas em Atenas, eliminando a escravidão por dívidas e resolveu dividir a população ateniense por meio do poderio econômico de cada indivíduo. Em resposta a tais mudanças, as elites agrárias atenienses rivalizaram com esse primeiro conjunto de mudanças. A agitação política do período deu margem para que ações golpistas abrissem espaço para a ascensão dos governos tirânicos. Os principais tiranos foram Psístrato, Hiparco e Hípias. No fim do século VI a.e.c., a retração dos direitos políticos mais amplos incentivou uma mobilização popular que levou à ascensão política de Clístenes, em 510 a.e.c. Em seu governo, os atenienses passavam a ser divididos em dez tribos que escolhiam seus principais representantes políticos. Todo ateniense tinha por direito filiar-se a uma determinada tribo na qual ele participaria na escolha de seus representantes políticos no governo central — eis a criação da democracia. Dessa maneira, o grau de participação entre os menos e mais abastados sofreu um perceptível processo de equalização. Podemos dizer que Clístenes foi um reformador capaz de estabilizar o regime democrático ateniense; no entanto, não se pode esquecer que o conceito de cidadania dos atenienses não englobava, de fato, a maioria da população: somente os homens livres, de pai e mãe ateniense, maiores de 18 anos e nascidos na cidade eram considerados cidadãos; as mulheres, escravos e estrangeiros não desfrutavam de nenhum tipo de participação política. Dessa forma, a democracia ateniense era excludente na medida em que somente um décimo da população participava do mundo político ateniense. Havendo a hegemonia de Esparta e de Atenas, é no Período Clássico que cada um destas cidades-Estado desenvolverá seu modelo político (a oligarquia militarista em Esparta e a democracia aristocrata em Atenas). Isso é importante para que compreendamos os conflitos que surgiram no período. Ao nível externo, verifica-se a ascensão do Império Persa quando Ciro II conquista o reino dos medos. Esta sequência de conquistas militares atingiu o litoral da Ásia Menor, lugar onde existiam algumas colônias de origem grega. Inicialmente, a dominação dos persas sobre os povos daquela localidade aconteceu sem maiores rumores. Contudo, essa coexistência harmoniosa logo ruiu. Atenas apoia a revolta das cidades gregas contra a tentativa de domínio persa, mas tal apoio revela-se insuficiente já que algumas polis são derrotadas. O comportamento de Atenas iria, por conseguinte, gerar uma reação persa que desencadeou as Guerras Médicas.
Com o fim das Guerras Médicas, e em resultado da sua participação decisiva no conflito, Atenas tornou-se uma cidade poderosa e passou a intervir nos assuntos do mundo grego. Esparta e Atenas distanciam-se e entram em rivalidade, encabeçando cada um delas uma aliança política e militar: no caso de Esparta era a Liga do Peloponeso e no caso de Atenas a já formada Liga de Delos na época das guerras médicas. Com o tempo Atenas afirma-se como o estado mais forte da liga — fato que não foi bem recebido por Esparta. Nesse ínterim, as relações entre as duas polis atingem o grau de saturação em 431 a.e.c., ano em que se inicia a guerra do Peloponeso, tendo como causas as sanções econômicas impostas por Atenas a algumas cidades-Estado e o bloqueio naval ateniense à cidade de Potideia. Na tentativa de evitar o conflito iminente, Esparta ainda tentou a diplomacia, mas com a negação de Atenas a guerra foi travada, com resultado negativo para esta última. No entanto, ainda que Esparta tenha ganho a guerra do Peloponeso, todas as cidades-Estado que entraram no conflito acabaram por sofrer perdas significativas, tanto econômicas quanto humanas, de modo que a guerra acabou por fragilizar o mundo grego e abrir as portas para a invasão de povos bárbaros. Esse período foi, como se viu, um tempo em que o mundo grego prosperou, com o fortalecimento das cidades-Estado, mas foi também o período em que a Grécia se envolveu em longas e prolongadas guerras que lhe resultaram no colapso da civilização grega antiga. Agora, vejamos mais detalhadamente os períodos da História grega.
Para se entender esse primeiro período da História grega, é preciso ter em mente duas civilizações importantes a partir das quais o mundo grego surgiu: a civilização minoica e a civilização micênica. A civilização minoica foi uma civilização existente nas ilhas do mar Egeu entre 2,2 mil e 1,4 mil a.C. Teria surgido a partir de uma fusão dos habitantes da ilha de Creta com populações que aí se fixaram vindas da Ásia Menor. Os minoicos tiveram como principal atividade econômica o comércio. Já conheciam a escrita (o linear A e o linear B) e destacaram-se pelo trabalho do ouro e da cerâmica. Suas terras mais férteis estavam na parte esquerda da ilha, onde se encontravam as principais cidades como Cnossos (capital). Prosperando até 1,4 mil a.C., a decadência dessa civilização parece ter sido o resultado de ataques de inimigos, entre os quais se encontrariam os micênicos. Vale a pena destacar o papel da mulher na sociedade minoica: ao contrário das futuras cidades, como Atenas e Esparta, onde a mulher não tinha direitos políticos e era vista apenas como uma reprodutora, a mulher minoica era livre, podia adquirir propriedades e ser independente. Por sua vez, a civilização micênica posteriormente adotou aspectos da cultura minoica, de modo que ambas as civilizações influenciaram a História da Grécia. A civilização dos micênicos floresceu entre 1,6 mil e 1,2 mil a.C. Já falavam grego e não apresentavam uma unidade política. Além de praticarem o comércio, os micênicos eram amantes da guerra e da caça. Seu declínio deu-se por volta de 1,25 mil a.C., envolvendo problemas comerciais e guerras internas. Finda a civilização micênica, denomina-se o período que se seguiu de “Idade das trevas”, quando se perdeu o conhecimento da escrita (readquirido apenas no século VIII a.e.c. Tal designação do período encontra-se relacionada não apenas com a decadência civilizacional, mas também com as escassas fontes para o conhecimento da época. O que se viu, também, foi um movimento das populações que, abandonando antigos povoados, fixaram-se em locais que ofereciam melhores condições de vida; com essa migração, temos o processo de ocupação do território no qual se constituirá a Grécia e a formação dos primeiros grandes centros urbanos da região. Ao fim desse período, as invasões dos povos dóricos foram responsáveis pelo esfacelamento dessa civilização e o retorno às pequenas comunidades agrícolas subsistentes — denominadas de “comunidades gentílicas”.
Nesse segundo período tem-se o fortalecimento das comunidades gentílicas, que apareceram no fim do período precedente, transformando-se nos mais importantes núcleos sociais e econômicos de toda a Grécia. Em cada genos, uma família desenvolvia atividades agrícolas de maneira coletiva e as riquezas oriundas de sua força de trabalho eram divididas igualmente. Mas, com o passar do tempo, as limitações das técnicas agrícolas e o incremento populacional ocasionaram a dissolução dos genos (propriedades em que uma grande família se matinha unida em torno da exploração econômica de uma mesma parcela de terras), isto é, as técnicas agrícolas pouco desenvolvidas não conseguiam acompanhar a velocidade com que as comunidades gregas se ampliavam. Como se nota, com a desestruturação da civilização creto-micênica, estabeleceu-se uma série de transformações que fundaram um novo cenário social, político e econômico. A economia dos genos era essencialmente agropastoril: uma família próspera dependia necessariamente da qualidade das terras que estavam sob o seu domínio; quando um genos produzia excedente, essa riqueza era empregada na aquisição de escravos e na contratação de artesãos. No campo político, os genos eram comandados por um líder comunitário denominado pater, que exercia funções de caráter judicial, administrativo e religioso. Mesmo com a divisão igualitária dos bens, o grau de parentesco com o chefe do genos era capaz de definir algumas distinções sociais. Isso é importante de salientar porque, como veremos, com a vindoura desestruturação da comunidade gentílica, a proximidade com o pater será um elemento determinante para um novo rearranjo social das populações gregas. Contudo, além dos problemas de produtividade já comentados, os genos se transformaram em palco de novas tensões sociais. Os parentes mais distantes do pater reivindicaram melhores condições de vida ao estarem insatisfeitos com a diminuição da renda familiar. Progressivamente, os bens que eram utilizados de maneira coletiva foram divididos entre os membros do genos, e aqueles que eram mais próximos do pater acabaram sendo privilegiados com as melhores terras. Com a paulatina desintegração do sistema sociopolítico das comunidades gentílicas, por um lado uma parcela de privilegiados manteve o controle das melhores propriedades e armas; por outro lado, pequenos proprietários, artesãos e trabalhadores livres se subordinavam ao poder dos grupos sociais mais abastados. As sociedades gentílicas passaram a ser controladas por aqueles que controlavam os instrumentos de poder. Com o passar do tempo, as elites dos genos com afinidades culturais mais visíveis se uniram em grupos maiores que poderiam assegurar o controle de suas propriedades. Surgiam, com isso, as chamadas “fratrias”. A reunião destas fratrias eram, por sua vez, responsáveis pelo desenvolvimento das tribos que, quando se reuniam, davam origem ao demos. Por meio da ampliação dessas organizações, teremos o fim das comunidades gentílicas e a formação das primeiras cidades-Estado da Grécia antiga.
Período Arcaico
O que temos de significativo neste terceiro período é o declínio dos genos, que perderam espaço para uma pequena elite de proprietários de terra. Com o poder sobre os terrenos mais férteis, as elites de cada região se organizaram em conglomerados demográficos e políticos cada vez maiores e ais organizados. Nesse momento, temos o nascimento das primeiras cidades-Estado da Grécia antiga. É no período arcaico que teremos, também, um maior domínio linguístico e cultural, por parte dos gregos, de uma área maior do que o limite geográfico da Grécia. Predominava entre os gregos sempre a organização de comunidades independentes, e a cidade (cada uma desenvolveu seu próprio sistema de governo, leis, calendário e moeda) tornou-se a unidade básica do governo grego. A origem das cidades gregas remonta à própria organização dos invasores, especialmente dos aqueus. Com a recuperação econômica após invasões do povo dórico, a população grega cresceu além da capacidade de produção das terras cultiváveis e, por causa desse desequilíbrio, e procurando garantir melhores condições de vida, alguns grupos teriam se destacado, passando a manejar armas e a ter domínio sobre as melhores terras e rebanhos. Assim, foram diferenciando-se da maioria da população e dissolvendo a vida comunitária do genos. Essas transformações sociais estavam na origem da formação da polis, a cidade grega. Paralelamente, não podemos nos esquecer, os gregos excluídos nesse processo de apropriação das terras passaram a ocupar outras regiões do Mediterrâneo, havendo, pois, um processo migratório: para fugir da miséria, muitos gregos migravam em busca de terras para plantar e de melhores condições de vida, fundando novas cidades. A sociedade dessa época se dividia entre eupátridas (os “bem nascidos”), que dominavam as melhores terras; georgoi (camponeses), que cultivavam solos pobres cuja produção de alimentos era insuficiente para atender às necessidades de uma população em crescimento; e uma terceira classe, os thetas (marginais), que não possuía terras e que, mais tarde, dedicar-se-ia ao comécio. Assim, no primeiro momento, a principal atividade econômica das colônias gregas foi a agricultura. Posteriormente, muitas colônias transformaram-se em centros comerciais, dispondo de portos estratégicos para as rotas de navegação. A colonização do mar Mediterrâneo pelos gregos resultou no desenvolvimento de uma classe rica formada por mercadores (o comércio internacional desenvolvera-se a partir de então) e de uma grande classe média de trabalhadores assalariados e artesãos. Culturalmente, os gregos realizaram intercâmbios com outros povos.
Período Pré-Homérico
Para se entender esse primeiro período da História grega, é preciso ter em mente duas civilizações importantes a partir das quais o mundo grego surgiu: a civilização minoica e a civilização micênica. A civilização minoica foi uma civilização existente nas ilhas do mar Egeu entre 2,2 mil e 1,4 mil a.C. Teria surgido a partir de uma fusão dos habitantes da ilha de Creta com populações que aí se fixaram vindas da Ásia Menor. Os minoicos tiveram como principal atividade econômica o comércio. Já conheciam a escrita (o linear A e o linear B) e destacaram-se pelo trabalho do ouro e da cerâmica. Suas terras mais férteis estavam na parte esquerda da ilha, onde se encontravam as principais cidades como Cnossos (capital). Prosperando até 1,4 mil a.C., a decadência dessa civilização parece ter sido o resultado de ataques de inimigos, entre os quais se encontrariam os micênicos. Vale a pena destacar o papel da mulher na sociedade minoica: ao contrário das futuras cidades, como Atenas e Esparta, onde a mulher não tinha direitos políticos e era vista apenas como uma reprodutora, a mulher minoica era livre, podia adquirir propriedades e ser independente. Por sua vez, a civilização micênica posteriormente adotou aspectos da cultura minoica, de modo que ambas as civilizações influenciaram a História da Grécia. A civilização dos micênicos floresceu entre 1,6 mil e 1,2 mil a.C. Já falavam grego e não apresentavam uma unidade política. Além de praticarem o comércio, os micênicos eram amantes da guerra e da caça. Seu declínio deu-se por volta de 1,25 mil a.C., envolvendo problemas comerciais e guerras internas. Finda a civilização micênica, denomina-se o período que se seguiu de “Idade das trevas”, quando se perdeu o conhecimento da escrita (readquirido apenas no século VIII a.e.c. Tal designação do período encontra-se relacionada não apenas com a decadência civilizacional, mas também com as escassas fontes para o conhecimento da época. O que se viu, também, foi um movimento das populações que, abandonando antigos povoados, fixaram-se em locais que ofereciam melhores condições de vida; com essa migração, temos o processo de ocupação do território no qual se constituirá a Grécia e a formação dos primeiros grandes centros urbanos da região. Ao fim desse período, as invasões dos povos dóricos foram responsáveis pelo esfacelamento dessa civilização e o retorno às pequenas comunidades agrícolas subsistentes — denominadas de “comunidades gentílicas”.
Período Homérico
Nesse segundo período tem-se o fortalecimento das comunidades gentílicas, que apareceram no fim do período precedente, transformando-se nos mais importantes núcleos sociais e econômicos de toda a Grécia. Em cada genos, uma família desenvolvia atividades agrícolas de maneira coletiva e as riquezas oriundas de sua força de trabalho eram divididas igualmente. Mas, com o passar do tempo, as limitações das técnicas agrícolas e o incremento populacional ocasionaram a dissolução dos genos (propriedades em que uma grande família se matinha unida em torno da exploração econômica de uma mesma parcela de terras), isto é, as técnicas agrícolas pouco desenvolvidas não conseguiam acompanhar a velocidade com que as comunidades gregas se ampliavam. Como se nota, com a desestruturação da civilização creto-micênica, estabeleceu-se uma série de transformações que fundaram um novo cenário social, político e econômico. A economia dos genos era essencialmente agropastoril: uma família próspera dependia necessariamente da qualidade das terras que estavam sob o seu domínio; quando um genos produzia excedente, essa riqueza era empregada na aquisição de escravos e na contratação de artesãos. No campo político, os genos eram comandados por um líder comunitário denominado pater, que exercia funções de caráter judicial, administrativo e religioso. Mesmo com a divisão igualitária dos bens, o grau de parentesco com o chefe do genos era capaz de definir algumas distinções sociais. Isso é importante de salientar porque, como veremos, com a vindoura desestruturação da comunidade gentílica, a proximidade com o pater será um elemento determinante para um novo rearranjo social das populações gregas. Contudo, além dos problemas de produtividade já comentados, os genos se transformaram em palco de novas tensões sociais. Os parentes mais distantes do pater reivindicaram melhores condições de vida ao estarem insatisfeitos com a diminuição da renda familiar. Progressivamente, os bens que eram utilizados de maneira coletiva foram divididos entre os membros do genos, e aqueles que eram mais próximos do pater acabaram sendo privilegiados com as melhores terras. Com a paulatina desintegração do sistema sociopolítico das comunidades gentílicas, por um lado uma parcela de privilegiados manteve o controle das melhores propriedades e armas; por outro lado, pequenos proprietários, artesãos e trabalhadores livres se subordinavam ao poder dos grupos sociais mais abastados. As sociedades gentílicas passaram a ser controladas por aqueles que controlavam os instrumentos de poder. Com o passar do tempo, as elites dos genos com afinidades culturais mais visíveis se uniram em grupos maiores que poderiam assegurar o controle de suas propriedades. Surgiam, com isso, as chamadas “fratrias”. A reunião destas fratrias eram, por sua vez, responsáveis pelo desenvolvimento das tribos que, quando se reuniam, davam origem ao demos. Por meio da ampliação dessas organizações, teremos o fim das comunidades gentílicas e a formação das primeiras cidades-Estado da Grécia antiga.
Período Arcaico
O que temos de significativo neste terceiro período é o declínio dos genos, que perderam espaço para uma pequena elite de proprietários de terra. Com o poder sobre os terrenos mais férteis, as elites de cada região se organizaram em conglomerados demográficos e políticos cada vez maiores e ais organizados. Nesse momento, temos o nascimento das primeiras cidades-Estado da Grécia antiga. É no período arcaico que teremos, também, um maior domínio linguístico e cultural, por parte dos gregos, de uma área maior do que o limite geográfico da Grécia. Predominava entre os gregos sempre a organização de comunidades independentes, e a cidade (cada uma desenvolveu seu próprio sistema de governo, leis, calendário e moeda) tornou-se a unidade básica do governo grego. A origem das cidades gregas remonta à própria organização dos invasores, especialmente dos aqueus. Com a recuperação econômica após invasões do povo dórico, a população grega cresceu além da capacidade de produção das terras cultiváveis e, por causa desse desequilíbrio, e procurando garantir melhores condições de vida, alguns grupos teriam se destacado, passando a manejar armas e a ter domínio sobre as melhores terras e rebanhos. Assim, foram diferenciando-se da maioria da população e dissolvendo a vida comunitária do genos. Essas transformações sociais estavam na origem da formação da polis, a cidade grega. Paralelamente, não podemos nos esquecer, os gregos excluídos nesse processo de apropriação das terras passaram a ocupar outras regiões do Mediterrâneo, havendo, pois, um processo migratório: para fugir da miséria, muitos gregos migravam em busca de terras para plantar e de melhores condições de vida, fundando novas cidades. A sociedade dessa época se dividia entre eupátridas (os “bem nascidos”), que dominavam as melhores terras; georgoi (camponeses), que cultivavam solos pobres cuja produção de alimentos era insuficiente para atender às necessidades de uma população em crescimento; e uma terceira classe, os thetas (marginais), que não possuía terras e que, mais tarde, dedicar-se-ia ao comécio. Assim, no primeiro momento, a principal atividade econômica das colônias gregas foi a agricultura. Posteriormente, muitas colônias transformaram-se em centros comerciais, dispondo de portos estratégicos para as rotas de navegação. A colonização do mar Mediterrâneo pelos gregos resultou no desenvolvimento de uma classe rica formada por mercadores (o comércio internacional desenvolvera-se a partir de então) e de uma grande classe média de trabalhadores assalariados e artesãos. Culturalmente, os gregos realizaram intercâmbios com outros povos.
Com tais acontecimentos, o padrão de vida na Grécia melhorou acentuadamente, havendo um aumento na expectativa de vida e, consequentemente, da população. Vale dizer que as ocorrências desse período fizeram com que, no século IV a.e.c., a Grécia já possuísse a economia mais avançada do mundo antigo, com um nível de desenvolvimento extremamente raro para uma economia pré-industrial. Apesar disso, houve concentração fundiária, em algumas cidades essa concentração levou a revoltas e a tiranias, em outras a aristocracia manteve o controle graças a legisladores inclementes.
Período Clássico
No Período Clássico teremos a consolidação das cidades-Estado, sendo que duas das mais importantes foram Esparta e Atenas. São, pois, dois exemplos claros da autonomia que tinham as polis gregas: tanto Atenas quanto Esparta apresentavam configurações sociopolíticas distintas, ainda que fizessem parte de uma mesma civilização. Vejamos as características fundamentais de cada uma, para depois compreender o início dos conflitos entre essas (e outras) cidades-Estado, o que levou ao enfraquecimento do poder político grego e o declínio dessa civilização. Comecemos por Esparta, que formava, com as cidades-Estado vizinhas, a Liga do Peloponeso (importante na guerra do Peloponeso que veremos mais à frente). Esparta encontrava-se numa região de terras apropriadas para o cultivo da vinha e da oliveira. Era uma cidade de caráter militarista e oligárquico. O governo de Esparta tinha como um de seus principais objetivos fazer de seus cidadãos modelos de soldados, fisicamente bem treinados, corajosos e obedientes às leis e às autoridades. Em Esparta os homens eram na sua maioria soldados e foram responsáveis pelo avanço das técnicas militares, melhorando e desenvolvendo um treino, organização e disciplina intensivos e nunca vistos até então. A sociedade espartana era fortemente estratificada, sem qualquer possibilidade de mobilidade entre os três grupos existentes: os esparciatas (aqueles que eram filhos de pai e mãe espartanos, sendo os únicos que possuíam direitos políticos, constituindo o corpo dos cidadãos e permanecendo à disposição do exército ou dos negócios públicos), os periecos (descendiam dos povos conquistados pelos esparciatas, mas ainda assim integrados ao Estado espartano e ao qual pagavam impostos; apesar de serem livres, não tinham direitos políticos; ao contrário dos esparciatas, os periecos podiam dedicar-se ao comércio e à indústria artesanal) e os hilotas (isto é, os servos, que pertenciam ao Estado espartano e trabalhavam com a agricultura, não podendo ser expulsos das terras onde trabalhavam). Analisando a situação dos esparciatas, periecos e hilotas, alguns historiadores afirmam que os periecos, por dominar o comércio e o artesanato, podiam enriquecer, desfrutando de certo conforto material e liberdade. Os esparciatas, por sua vez, cumpriam obrigações tão pesadas em relação ao Estado que se tornaram vítimas de suas próprias instituições. Quanto aos hilotas, sua vida era marcada pela opressão e miséria. Por outro lado, Atenas, a principal cidade-Estado da Grécia Antiga durante o Período Clássico, transformou-se no principal centro cultural e intelectual do Ocidente — e certamente é nas ideias e práticas da antiga Atenas que o que nós chamamos de “civilização ocidental” tem sua origem. A esse respeito, vale dizer que, no estudo das sociedades clássicas costumamos destacar especialmente o incisivo papel a partir do qual as práticas e instituições nascidas no mundo grego influenciaram a formação do mundo contemporâneo. Entre as várias instituições consolidadas, a noção de democracia é uma das que mais despertam nosso interesse na busca por paralelos que aproximem o mundo antigo do contemporâneo. Nesse sentido, a história da democracia ateniense pode ser compreendida à luz de uma série de transformações sofridas pela sociedade e pela economia ateniense. Assim sendo, até os séculos VII e VI a.e.c., o poder político ateniense era controlado por uma elite aristocrática detentora das terras férteis de Atenas: os eupátridas. Nesse meio tempo, uma nascente e poderosa classe de comerciantes, os demiurgos, exigia participação nos processos decisórios da vida política ateniense. Além disso, pequenos comerciantes e proprietários acometidos pela escravidão por dívidas, exigiam a revisão do poder político ateniense. Com isso, os eupátridas viram-se obrigados a reformular as instituições políticas da cidade-Estado. Um grupo de legisladores foi responsável por um gradual processo de transformação política: Drácon resolveu estabelecer um conjunto de leis escritas que dariam lugar às leis orais anteriormente conhecidas pelos eupátridas, medida que possibilitou uma nova tradição jurídica que retirava o total controle das leis invocadas pelos eupátridas; Sólon, outro importante legislador, ampliou o leque de reformas políticas em Atenas, eliminando a escravidão por dívidas e resolveu dividir a população ateniense por meio do poderio econômico de cada indivíduo. Em resposta a tais mudanças, as elites agrárias atenienses rivalizaram com esse primeiro conjunto de mudanças. A agitação política do período deu margem para que ações golpistas abrissem espaço para a ascensão dos governos tirânicos. Os principais tiranos foram Psístrato, Hiparco e Hípias. No fim do século VI a.e.c., a retração dos direitos políticos mais amplos incentivou uma mobilização popular que levou à ascensão política de Clístenes, em 510 a.e.c. Em seu governo, os atenienses passavam a ser divididos em dez tribos que escolhiam seus principais representantes políticos. Todo ateniense tinha por direito filiar-se a uma determinada tribo na qual ele participaria na escolha de seus representantes políticos no governo central — eis a criação da democracia. Dessa maneira, o grau de participação entre os menos e mais abastados sofreu um perceptível processo de equalização. Podemos dizer que Clístenes foi um reformador capaz de estabilizar o regime democrático ateniense; no entanto, não se pode esquecer que o conceito de cidadania dos atenienses não englobava, de fato, a maioria da população: somente os homens livres, de pai e mãe ateniense, maiores de 18 anos e nascidos na cidade eram considerados cidadãos; as mulheres, escravos e estrangeiros não desfrutavam de nenhum tipo de participação política. Dessa forma, a democracia ateniense era excludente na medida em que somente um décimo da população participava do mundo político ateniense. Havendo a hegemonia de Esparta e de Atenas, é no Período Clássico que cada um destas cidades-Estado desenvolverá seu modelo político (a oligarquia militarista em Esparta e a democracia aristocrata em Atenas). Isso é importante para que compreendamos os conflitos que surgiram no período. Ao nível externo, verifica-se a ascensão do Império Persa quando Ciro II conquista o reino dos medos. Esta sequência de conquistas militares atingiu o litoral da Ásia Menor, lugar onde existiam algumas colônias de origem grega. Inicialmente, a dominação dos persas sobre os povos daquela localidade aconteceu sem maiores rumores. Contudo, essa coexistência harmoniosa logo ruiu. Atenas apoia a revolta das cidades gregas contra a tentativa de domínio persa, mas tal apoio revela-se insuficiente já que algumas polis são derrotadas. O comportamento de Atenas iria, por conseguinte, gerar uma reação persa que desencadeou as Guerras Médicas.
Período Helenístico
O desgaste causado pelos conflitos entre cidades-Estado gregas fez com que a Grécia se colocasse como um alvo frágil, fácil para a invasão de qualquer civilização militarmente bem preparada. A partir do século IV a.e.c., foram os macedônios, vindos do norte, que empreenderam investidas militares que determinaram o fim da autonomia política dos gregos. Tais eventos marcam o último período da civilização grega, o Helenístico — que termina no século II a.e.c., data em que os romanos conquistam o território grego. Vejamos um pouco mais a fundo como isso se deu. O reino da Macedônia, situado a norte da Grécia, emergiu como potência em meados do século IV a.e.c. Os macedônios, que não falavam grego e não seguiam o modelo político dos gregos, eram vistos por estes como bárbaros. Apesar disso, muitos nobres macedônios aderiram à cultura grega, tendo sido a Macedônia, por esse motivo, responsável pela conservação e difusão da cultura grega. Durante o reinado de Filipe II, o exército macedônio adota técnicas militares superiores que, aliadas à diplomacia, permitirão a possibilidade de dominar as cidades da Grécia então fragilizadas por conflitos internos. Nas cidades-Estado dominadas, começam a se formar partidos de oposição a Filipe e partidos a ele favoráveis. Em 338 a.e.c., Filipe e seu filho (Alexandre, o Grande) derrotam uma coligação grega em Queroneia, colocando a Grécia continental sob domínio macedônio. Filipe, então, organiza a Grécia em uma confederação, procurando com isso unir os gregos com o objetivo de conquistar o império persa. Contudo, Filipe viria a ser assassinado por um nobre macedônio, tendo sido sucedido pelo seu filho Alexandre. Este concretizou o objetivo do pai, conquistando a Pérsia e marchando até a Índia. Depois disso, Alexandre, o Grande tornou-se senhor de um vasto império que abrangia o espaço da Ásia Menor ao Afeganistão, incluindo-se o Egito. Após a morte de Alexandre, seus generais lutaram entre si pela posse do império, que acabou por se fragmentar em territórios menores.
O legado cultural da Grécia antiga
A cultura da Grécia antiga é considerada a base da cultura da civilização ocidental. Isso não ocorreu por acaso: a cultura grega exerceu poderosa influência sobre os romanos, que se encarregaram de repassá-la a diversas partes da Europa. A civilização grega antiga teve influência na Política, na linguagem, na Filosofia, no sistema educacional, na Arte, na Ciência, na tecnologia, na Arquitetura etc. Tem papel especial nesse fato o Renascimento europeu — a ser estudado mais adiante —, período durante o qual houve um esforço para reavivar, reafirmar o legado cultural grego. Conceitos como “democracia” e “cidadania”, tão caros à humanidade atual, são conceitos gregos — ou ao menos de pleno desenvolvimento pelos gregos —, importantes para a constituição do que hoje temos como civilização ocidental. É importante salientar, sobretudo, o papel dos gregos no que se refere ao estudo da História. Se hoje estudamos a História grega de modo mais objetivo e imparcial, isso se deve à consciência grega de se realizar um estudo melhor elaborado das fontes históricas, dando-lhes um tratamento mais científico e metódico, e menos “poético”. Qual seria, pois, a importância do passado para uma determinada cultura? Mesmo simples, essa é uma questão que atinge a compreensão dos interesses e hábitos que permeiam uma determinada sociedade. Atualmente, compreendida como uma ciência, a História se tornou um campo do saber que, por meio de questões oriundas do presente, busca uma resposta que seja perceptível nos depoimentos, fontes e demais signos que nos falam sobre “aquilo que aconteceu”. Sendo uma preocupação instigante, devemos saber que o interesse sobre o tempo incomodou as civilizações humanas desde as mais remotas épocas. Segundo muitos antropólogos, a necessidade de se falar sobre as nossas experiências já se via claramente manifestada nas pinturas rupestres que tomavam as paredes das cavernas. Com isso, podemos enxergar que o desenvolvimento da História se confunde com a própria existência do homem. Entre os gregos, a História foi desenvolvida por meio de relatos que diziam sobre eventos considerados importantes ou que explicariam a origem das coisas; não sendo prontamente sistematizada como um campo do conhecimento, vemos que esse interesse dos gregos sobre a recuperação do passado se confundia com a poesia e a mitologia — as obras Ilíada e Odisseia, por exemplo, reportam a episódios do passado grego, mas não trazem algum tipo de respaldo que lhe conceda a ideia de verdade. A primeira tentativa de promover essa separação da História das outras narrativas existentes na cultura grega aconteceu graças à ação de Heródoto de Halicarnasso. Popularmente conhecido como o “pai da História”, Heródoto buscou empreender um método de pesquisa bastante particular: acreditava que primeiramente teria de conhecer profundamente cada um dos povos e locais em que determinando evento a ser estudado aconteceu. Entretanto, ainda influenciado por sua cultura, a grega, esse estudioso interpretava os fatos ocorridos como uma manifestação da vontade dos deuses. Tucídides, por outro lado, foi o primeiro historiador grego a tentar promover essa dissociação entre a vontade dos deuses e o sentido daquilo que aconteceu no passado. Segundo ele, os eventos históricos seriam fruto dos interesses políticos dos homens, procurando, portanto, narrar objetivamente os acontecimentos ligados a determinado objeto de estudo, apesar de ter evidenciado traços de tendenciosidade em favor de sua cidade-Estado, Atenas. Por sua vez, e demonstrando o lugar que esse campo do saber ocupava na cultura grega, o filósofo Aristóteles teceu alguns comentários que tratavam sobre a diferença entre história e poesia. Para ele, a forma de escrita utilizada por um autor tinha pouca importância para compreender o que era a História. Na verdade, o que definiria a História seria o interesse em se falar sobre coisas de natureza particular. Em contrapartida, a poesia utilizaria de seus personagens para debater coisas que seriam comuns a todos os homens. Como se nota, os gregos legaram às civilizações posteriores uma noção melhor fundamentada sobre o estudo da História. Referências Graecia Antiqua Templo de Apolo Discovery Channel - Grécia antiga Ancient Greece The British Museum - Ancient Greece Wikipédia - Portal Grécia antiga fonte: http://www.cursinhometamorfose.com.br/portal/node/162
Que História fascinante é a dos gregos antigos!
ResponderExcluirNão é à toa que inspirou dezenas de filmes épicos. Realmente é maravilhoso aprender aspectos relevantes dessa maravilhosa civilização ocidental.
Aê fessor! Que belo blog, muito legal. Gostei! E adorei a metéria de agora!
ResponderExcluirTá de parabens!!!
(Larissa)
Obrigado pelos elogios, Larissa. E volte sempre ao blog para compartilhar conhecimentos históricos.
ResponderExcluirAbraços.
Edenilson
adorei!
ResponderExcluirObrigado, colega. Que bom que apreciou o conteúdo do blog.
ResponderExcluirainda esse ano, minha sala da etec de monte mor, apresentou uma peça de teatro sobre a Grécia antiga, o nome da peça foi ILÍADA: A guerra de Tróia...aprendemos contracenando...e realmente, a historia da Grécia é explêndida...
ResponderExcluirFeliz 2012!
ResponderExcluirSou aluno do quinto ano do ensino fundamental e estamos estudando a Grécia e eu gostei muito de aprender mais coisas lendo o seu blog. Parabéns.
ResponderExcluir