terça-feira, 3 de agosto de 2010

Perspectivas da América do Sul

Pio Penna Filho
Professor do Instituto de Relações Internacionais da USP e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com









A América do Sul, quando comparada a outras regiões do mundo, é uma área relativamente tranquila em várias matérias de política internacional. Pelo menos em termos de segurança, de polarizações ideológicas e de radicalismos religiosos, não há por aqui nada comparável com zonas como o Oriente Médio, a África, partes substanciais da Ásia e até mesmo a insegurança vivida nos Estados Unidos e na Europa por conta da ameaça do terrorismo. Mas isso não quer dizer que não tenhamos problemas.
Longe de ser uma área homogênea e com uma identidade claramente definida, a América do Sul apresenta variações regionais importantes. Além disso, não é adequado igualar países tão díspares quanto Brasil e Equador, por exemplo. Outro aspecto importante, e que mostra a diversidade da região, é o fato de que há governos com tendências políticas muito distintas, como no caso da Venezuela e do Chile, por exemplo.


Mas existem elementos em comum entre os países sul-americanos, principalmente relacionados às suas sociedades. Em maior ou menor grau, todos se defrontam com o desafio da inclusão social e com a necessidade de melhorar a distribuição da renda. Somos um subcontinente marcado pela desigualdade social e pela exclusão de vastas camadas sociais. Em síntese: uma zona de profundos contrastes sociais.
Em matéria de segurança regional, o maior problema da América do Sul continua sendo a existência das FARC na Colômbia, que promove uma grande instabilidade interna e acaba refletindo tensamente nas relações com os vizinhos, como ocorreu recentemente com o Equador e, agora, com a Venezuela.
A existência de um grupo guerrilheiro na Colômbia traz implicações também para o campo da política interna e externa daquele país. Assim, alguns políticos colombianos usam como plataforma de campanha o endurecimento no combate à guerrilha e uma quase natural aproximação com os Estados Unidos da América, trazendo-o para a região. Esse fato causa certo desconforto para boa parte dos Estados sul-americanos, que não gostariam de ver os norte-americanos e sua máquina de guerra presente no subcontintente.
À parte essa questão específica da guerrilha na Colômbia, não há, efetivamente, nenhuma matéria relacionada às tradicionais ameaças que possam levar os Estados a uma situação de guerra. Embora persistam certas disputas fronteiriças, elas não chegam a ameaçar o ordenamento sul-americano. E também não existem polarizações ideológicas importantes, embora se verifiquem projetos políticos distintos, como a proposta bolivariana comungada entre a Venezuela, o Equador e a Bolívia, e o modelo mais liberal praticado pelo Chile, por exemplo.
Enfim, o grande desafio da América do Sul continua o mesmo há décadas, qual seja: desenvolver suas economias nacionais e, ao mesmo tempo, promover distribuição de renda e inclusão social. São desafios importantes e nada fáceis de realizar, mas pelo menos os países da região gozam de certa estabilidade política e relativa harmonia entre os Estados, o que pode ser visto como um grande facilitador para melhorar as condições de vida de suas populações.

Um comentário:

  1. Bem legal a análise do panorama contemporâneo da América do Sul feita pelo brilhante professor Pio Pennna Filho.

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