Pio Penna Filho*
Ruanda é um pequeno país localizado próximo ao centro do continente africano que ficou mundialmente conhecido pelo genocídio ocorrido em 1994. De forma espantosa, aproximadamente um milhão de pessoas, em sua grande maioria expoentes da etnia Tutsi, foram assassinadas num período de 3 meses. Na época, a comunidade internacional pouco fez para evitar o que poderia ter sido evitado.
Agora o país volta a cena internacional com a reeleição do presidente Paul Kagame, no comando do governo desde a época do genocídio. Kagame era o líder da Frente Patriótica Ruandense, movimento predominantemente formado por Tutsis que conseguiu estancar o genocídio.
A grande crítica que se faz hoje a Kagame é o seu apego ao poder. Infelizmente, esse tipo de comportamento político ocorre com frequência no continente africano. É um indício de que a democracia ainda é muito incipiente na África. No caso de Ruanda, por conta do genocídio e da fratura étnica de sua sociedade, torna-se um fato ainda mais grave.
Matar todas as baratas. Esse era o lema das lideranças Hutus que decidiram, entre março e abril de 1994, promover um dos mais brutais conflitos em toda a África durante o século XX. “Baratas” era um dos termos mais usados em Ruanda para definir as pessoas de origem Tutsi, uma das três etnias que compõem a sociedade ruandense (as outras duas são os Hutus, maioria, e os Twas, minoria).
Um dos cálculos mais aceitos internacionalmente é que entre 800.000 e 1.000.000 de Tutsis tenham sido assassinados durante o genocídio. Tudo aconteceu num curto período de tempo. O massacre iniciou-se logo após o assassinato do presidente Juvénal Habyarimana, de origem Hutu, que teve o seu avião derrubado. Hutus e Tutsis já não se entendiam há um bom tempo no complicado quadro político de Ruanda.
As origens do genocídio são antigas. Nada aconteceu por acaso e nem tampouco de total improviso. Os Hutus chegaram ao poder em 1962, mesmo ano da independência desse antigo território colonial belga. Em 1959 explodiu uma violenta revolta contra a dominação européia e também contra a aristocracia Tutsi, que dominava o cenário político autóctone. Naquela ocasião, os camponeses de origem Hutu se revoltaram contra uma espécie de servidão a que eram submetidos e a situação de inferioridade sócio-econômica .
Com o passar do tempo algumas lideranças Hutus desencadearam uma escalada nos processos violentos contra os Tutsis. Mas havia também um projeto de poder por parte de alguns setores da sociedade Hutu. Foi assim que em 1973 ocorreu um golpe de estado liderado por Habyarinama, então major do Exército, que isolou ainda mais os Tutsis na sociedade ruandense.
Dentre as políticas de perseguição adotadas pelo novo governo houve confisco de bens, deslocamento de populações, cotas escolares e proibição de casamentos mistos. Muitos Tutsis, por uma questão de segurança, retiraram-se do país como refugiados e foram parar, principalmente, nos vizinhos Uganda e Burundi. Enfim, o desenrolar da história recente do país, com políticas de classificação e separação étnica foram sinais perturbadores do que veio a ocorrer na década de 1990.
Pio Penna Filho
Uma boa interpretação do panorama africano atual. O prof. Pio analisou com grande propriedade o contexto eleitoral em Ruanda.
ResponderExcluirRealmente uma bela análise do cenário político em Ruanda.
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