sábado, 5 de maio de 2012

Confira a correção comentada do vestibular Unicamp 2012 (2ª fase)

 




1. (Unicamp) Godrici de Finchale foi um mercador que viveu no século XI, na Baixa Idade Média, no leste da atual Inglaterra.
“Quando o rapaz, depois de ter passado os anos da infância sossegadamente em casa, chegou à idade varonil, principiou a aprender com cuidado e persistência o que ensina a experiência do mundo. Para isso decidiu não seguir a vida de lavrador, mas estudar, aprender e exercer os rudimentos de concepções mais sutis. Por esta razão, aspirando à profissão de mercador, começou a seguir o modo de vida do vendedor ambulante, aprendendo primeiro como ganhar em pequenos negócios e coisas de preço insignificante; e, então, sendo ainda um jovem, o seu espírito ousou pouco a pouco comprar, vender e ganhar com coisas de maior preço.”
(Adaptado de Reginald of Durnham, “Libellus de Vita et Miraculis S. Godrici”, em Fernando Espinosa, Antologia de textos históricos medievais. 3ª ed., Lisboa: Sá da Costa Editora, 1981, p. 198.)


a) Segundo o texto, o ofício de mercador exigia uma preparação diferente daquela do lavrador. Quais eram as diferenças entre esses dois ofícios?


b) Cite duas características do renascimento comercial e urbano ocorrido no final do período medieval.


Resolução
a) O lavrador seguia uma rotina imutável, sendo a utilização de seu tempo determinada pela Natureza; além disso, não se exigia dele nenhum esforço intelectual. Já o mercador seguia uma atividade determinada por sua própria iniciativa, na qual o tempo possuía um valor econômico próprio; além disso, era necessário que ele tivesse
um certo preparo intelectual, que lhe permitisse lucrar nos negócios e acumular riquezas.
b) Características econômicas:
– Crise do sistema feudal, assinalando o início da transição feudo-capitalista.
– Desenvolvimento das atividades mercantis, com o estabelecimento das rotas de comércio, a organi zação de feiras e a fundação de burgos.
– Expansão da circulação monetária e advento de atividades bancárias incipientes.
Características sociais:
– Desenvolvimento da vida urbana, com o crescimento das cidades já existentes e o surgimento de outras – muitas delas emancipadas da tutela feudal.
– Surgimento e ascensão econômica da burguesia.
– Expansão da atividade artesanal, com a organização das corporações de ofício.

2. (Unicamp) Durante a conquista espanhola no México, iniciada em 1519 por Cortés, a superioridade tecnológica dos europeus era amplamente compensada pela superioridade numérica dos indígenas e muitos truques foram inventados para atrapalhar o deslocamento dos cavalos: os indígenas acostumaram-se a cavar fossas profundas nas quais espetavam paus em que as montarias eram empaladas. Mais tarde, em 1521, canoas “encouraçadas” resistiriam às armas de fogo. A tática indígena evoluiu e adaptou-se às práticas do adversário: os mexicas, contraria mente ao costume, armaram ataques noturnos ou em terreno coberto. Por outro lado, se as epidemias de varíola já estavam dizimando as tropas de México-Tenochtitlan, também não poupavam os índios de Tlaxcala ou de Texcoco, que apoiavam os espanhóis.
(Adaptado de Carmen Bernand e Serge Gruzinski,  História do Novo Mundo. São Paulo: Edusp, 1997, p. 351.)


a) Identifique uma estratégia utilizada por espanhóis e outra pelos indígenas durante as disputas pelo domínio do México.
b) Explique por que houve acentuada queda demográfica entre as populações indígenas nas primeiras décadas após a conquista espanhola.


Resolução
a) Estratégias espanholas: alianças com povos inimigos dos astecas e abandono de roupas pertencentes a europeus mortos por moléstias infecto contagiosas, para que fossem utilizadas pelos indígenas, contaminando-os.
Estratégias indígenas: prática de combates noturnos e escavação de fossos para deter ataques de cavalaria.
b) Após a chegada dos espanhóis, as populações indígenas sofreram uma drástica redução demográfica, por força da mortandade provocada por diversos fatores: doenças trazidas pelos europeus, utilização de seu trabalho até a exaustão absoluta e fome resultante da destruição de seus meios de subsistência; deve-se ainda considerar o massacre sistemático dos nativos praticado pelos conquistadores.

3. (Unicamp) Durante o século XVIII, a capitania de São Paulo sofreu grandes transformações territoriais e administrativas. Em 1709, nasceu a capitania de São Paulo e das Minas do ouro, abrangendo imenso território correspondente à quase totalidade das atuais regiões Sul, Sudeste e CentroOeste, à exceção da então capitania do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Até 1748, sucessivos desmembramentos formaram as regiões de Minas, Santa Catarina, Rio Grande de São Pedro, Goiás e Mato Grosso. O novo
capitão-general, mais conhecido como Morgado de Mateus, foi diretamente instruído pelo futuro Marquês de Pombal a ocupar-se da fronteira oeste ameaçada pelos espanhóis e a fomentar a produção de gêneros de exportação.
(Adaptado de Ana Paula Medicci, "São Paulo nos projetos de império", em Wilma Peres Costa e Cecília Helena de Oliveira,  De um império a outro: formação do Brasil, séculos XVIII e XIX. São Paulo: Hucitec/Fapesp, 2007, p. 243.)


a) Cite duas atividades econômicas que sustentavam a capitania de São Paulo no século XVIII.


b) Considerando a política territorial na América Portuguesa nos séculos XVI e XVII, comente as mudanças significativas do século XVIII nesse aspecto.


Resolução
a) – Mineração de ouro, praticada por paulistas em Minas Gerais e, mais tarde, em Goiás e Mato Grosso.
– Relações comerciais com o Centro-Oeste, realizadas por meio das “monções”.
– Intermediação no comércio de gado muar e vacum entre o Sul e a região das Minas Gerais.
– No final do século XVIII, produção açucareira no contexto do Renascimento Agrícola
b) A expansão territorial luso-brasileira, realizada no século XVII por bandeirantes paulistas e missionários portugueses (estes últimos na Amazônia), foi consolidada no século XVIII.  Este processo foi implementado sob três aspectos: primeiramente, ocupação por meio de atividades econômicas específicas (pecuária no Sul, mineração no Centro-Oeste e “drogas do sertão” na Amazônia); em seguida, montagem de um aparelho administrativo que incluía a defesa militar; finalmente,
ratificação dessa situação por meio do Tratado de Madri (1750), que reconheceu a dominação portuguesa sobre uma vastíssima área a oeste do Meridiano de Tordesilhas, dando ao Brasil uma configuração muito próxima de suas fronteiras atuais.

4. (Unicamp)

Passar de Reino a Colônia
É desar [derrota]
É humilhação
que sofrer jamais podia
brasileiro de coração.


A quadrinha acima reflete o temor vivido no Brasil depois do retorno de D. João VI a Portugal em 1821. Apesar de seu filho Pedro ter ficado como regente, acirrou-se o antagonismo entre “brasileiros” e “portugueses” até que, em dezembro de 1821, as Cortes de Portugal determinaram o retorno do príncipe. Se ele acatasse, tudo poderia acontecer. Inclusive, dizia d. Leopoldina, “uma Confederação de Povos no sistema democrático como nos
Estados Livres da América do Norte”.
(Adaptado de Eduardo Schnoor, “Senhores do Brasil”, Revista de História da Biblioteca Nacional, nº 48. Rio de Janeiro, set. 2009, p. 36.)


a) Identifique os riscos temidos pelas elites do centro-sul do Brasil com o retorno de D. João VI a Lisboa e a pressão das Cortes para que D. Pedro I retornasse a Portugal.


b) Explique o que foi a Confederação do Equador.


Resolução
a) As elites brasileiras temiam que o Brasil fosse reduzido à condição de colônia, visto que, com o retorno de D. João VI a Portugal, deixara de ser a sede do Reino Unido. Quanto às Cortes de Lisboa, seu projeto recolonizador passava necessariamente pela volta de D. Pedro (que ainda não se tornara o imperador D. Pedro I) para Portugal. Com efeito, a condição do príncipe como regente do Brasil fazia deste último parte integrante do Reino Unido, inviabilizando sua possível volta ao status de mera colônia.
b) Revolução irrompida em Pernambuco em 1824, como reação ao autoritarismo de D. Pedro I, manifestado nos episódios da dissolução da Constituinte e da outorga da Constituição do Império. Foi um movimento de cunho liberal, separatista, republicano, federalista e lusófobo, tendo Frei Caneca como líder mais destacado. Estendeu-se àsprovíncias vizinhas de Pernambuco, mas foi duramente reprimido pelo governo imperial.




5. (Unicamp) A aventura à Amazônia liderada pelo naturalista Louis Agassiz estendeu-se de 1865 a 1866 e passou por várias regiões do Brasil: de Minas Gerais ao Nordeste e à Amazônia. Foi orientada pela teoria criacionista, que se opunha à teoria de Charles Darwin. Apesar de participar da expedição, o filósofo norte-americano Willian James questionou alguns estereótipos sobre os trópicos.
(Adaptado de Maria Helena P. T. Machado, “Algo mais que o paraíso”, Revista de História da Biblioteca Nacional, nº 52. Rio de Janeiro, jan. 2010, p.70.)


a) Qual a importância da teoria de Charles Darwin para o debate científico do século XIX.
b) Identifique dois estereótipos relativos às terras e às gentes do Brasil no século XIX.


Resolução
a) A teoria de Darwin, segundo a qual as espécies vegetais e animais – incluindo o próprio homem  – resultaram de uma longa evolução, veio contrapor-se à tradicional concepção judaico-cristã
do criacionismo, defensora da ideia de que todos os seres vivos foram criados diretamente por Deus. Nesse contexto, as ideias de Darwin aguçaram a polêmica entre ciência e religião – iniciada no século XVIII e que ainda é alimentada por alguns setores neste início de século XXI.
b) Estereótipos relativos às terras do Brasil: exuberância, grandiosidade e beleza da natureza e das paisagens. Estereótipos relativos às gentes do Brasil: preguiça natural da população, atribuída à influência do clima tropical, e miscigenação com raças consideradas inferiores.

6. (Unicamp) A Primeira Guerra Mundial abalou profundamente todos os povos envolvidos, e as revoluções de 1917-1918 foram, acima de tudo, revoltas contra aquele holocausto sem precedentes, principalmente nos países do lado que estava perdendo. Mas em certas áreas da Europa, e em nenhuma outra mais que na Rússia, foram mais que isso: foram revoluções sociais, rejeições populares do Estado, das classes dominantes e do status quo.
(Adaptado de Eric Hobsbawm, Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 262-263.)


a) Relacione a Primeira Guerra Mundial e a situação da Rússia na época.
b) Cite e explique um princípio da Revolução Russa de 1917.


Resolução
a) Em 1914, a Rússia – embora potência europeia – era extremamente atrasada, fosse no plano econômico (predomínio da agricultura, praticada de forma arcaica), fosse no social (existência de uma massa de camponeses e operários miseráveis e forte influência da aristocracia fundiária e da Igreja Ortodoxa) ou no político (existência de uma monarquia autocrática). As derrotas sofridas pelo Império Russo no decorrer da guerra agravaram as contradições do regime czarista, abrindo caminho para a Revolução de 1917.
b) Em sua segunda fase (ascensão dos bolcheviques ao poder), a Revolução Russa propunha que o país saísse da guerra, para que nele fosse implantada a socialização de todos os meios de produção, suprimindo-se a propriedade privada e o sistema capitalista. Tais princípios estavam sintetizados no lema “Paz, Pão e Terra”.

7. (Unicamp) A população brasileira, segundo o censo de 1920, era de 30.365.605 habitantes. O número de votantes, entretanto, era restrito, conforme a tabela abaixo:
 
                                                  População apta a votar, 1920
População
Número
Total
30.635.605
Menos analfabetos, sobram
7.493.357
Menos as mulheres, sobram
4.470.068
Menos os estrangeiros, sobram
3.891.640
Menos os menores de 21 anos, sobram
3.218.243

(Adaptado de http://www.usp.br/revistausp/59/09-josemurilo.pdf. Acesso em 18/10/2011.) 

a) Indique duas práticas políticas existentes durante a Primeira República (1889-1930). 
b) Cite duas mudanças que ampliaram o eleitorado brasileiro após a Primeira República. 

Resolução 
a) Fraude eleitoral (as apurações eram realizadas pelo grupo político dominante) e “voto de cabresto” (controle dos eleitores por meio de relações clientelistas ou coercitivas, decorrentes da existência do coronelismo). 
b) Instituição do voto feminino e redução da idade eleitoral mínima para 18 anos, pela Constituição de 1934; concessão do direito de voto aos analfabetos e redução da idade eleitoral mínima para 16 anos, pela Constituição de 1988. 

8. (Unicamp) No dia 14 de dezembro de 1968, os leitores mais atentos do Jornal do Brasil puderam perceber que o jornal apresentava mudanças. Apesar do sol de dezembro, por exemplo, a previsão meteorológica anunciava no alto da primeira página, à esquerda: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos”. Pela primeira vez, no lugar dos editoriais, eram publicadas fotos: na maior, um lutador de judô, gigante, dominando um garoto. O título da foto: “Força hercúlea”. 
(Adaptado de Zuenir Ventura,1968: o ano que não terminou. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 288-289.) 
 
a) Por que o Jornal do Brasil apresentava alterações no dia seguinte à edição do Ato Institucional 5 (AI-5), de 13/12/1968?
b) Que relação o jornal quis estabelecer entre o contexto político e a foto do lutador e o garoto?


Resolução
a) Porque o AI-5 significou um endurecimento do regime militar brasileiro, aumentando o poder repressivo do governo e cerceando drasticamente as liberdades políticas e civis.
b) O lutador simboliza a ditadura militar, enquanto o garoto representa a sociedade civil, impotente diante do poder discricionário imposto pelo AI-5.

9. (Unicamp) Faz cerca de vinte anos que “globalização” se tornou uma palavra-chave para a organização de nossos pensamentos no que respeita ao funcionamento do mundo. A palavra “globalização” entrou recentemente em nossos discursos e, mesmo entre muitos “progressistas” e “esquerdistas” do mundo capitalista avançado, palavras mais carregadas politicamente passaram a ter um papel secundário diante de “globalização”. A globalização pode ser vista como um processo, uma condição ou um tipo específico de projeto político.
(Adaptado de David Harvey, Espaços de Esperança. São Paulo: Edições Loyola, 2006, p. 79.)


a) Identifique uma característica política e uma cultural do processo de globalização.
b) Quais as principais críticas econômicas dos movimentos antiglobalização?


Resolução
a) Entre as características políticas da globalização está o fato de que os países passaram, quase todos, a compartilhar o sistema econômico capitalista, pois a globalização coincidiu com o quase fim do sistema socialista, a partir de fins da década de 1980, o que permitiu a livre circulação do capital por países que antes apenas utilizavam o sistema socialista de produção. Entre as características culturais, observam-se situações contraditórias, pois, ao mesmo tempo em que a globalização propõe a dominância de conjuntos culturais hegemônicos (como a popularização de comportamentos ocidentais), por outro lado, permite a difusão de culturas locais que procuram se afirmar frente à imposição dos sistemas culturais hegemônicos (como é o caso da divulgação da cultura de povos minoritários), bem como as disputas entre diferentes comportamentos religiosos.
b) Entre as diversas críticas propostas pelos movimentos antiglobalização, está aquela feita à predominância do sistema capitalista monopolista e financeiro, cuja tendência especulativa leva a uma enorme concentração de rendas. Essa concentração de rendas exacerba os núcleos de pobreza que se espalham pelo mundo e adquirem as mais diversas formas como, por exemplo, a atuação do grande capital na concentração de terras em áreas subdesenvolvidas, eliminando as áreas das culturas de subsistência, ou, a atuação de poucas empresas que controlam setores estratégicos, como a indústria farmacêutica, ou automobilística. Outra crítica recai sobre o processo de desregulamentação que permitiu o livre trânsito do capital e a especulação financeira capaz de impor sua forma de funcionamento aos enfraquecidos corpos estatais.

10. (Unicamp) A noção de cidadania gerada pela visão liberal a partir do século XVIII foi uma resposta do Estado às reivindicações da sociedade, e levou à institucionalização dos direitos civis, direitos políticos e direitos sociais. Mais contemporaneamente, a noção de cidadania redefine a ideia de direitos. O ponto de partida é a concepção de um direito a ter direitos e inclui a criação de novos direitos que emergem de lutas específicas.
a) O que são direitos civis e direitos sociais?
b) Dentre as “novas” gerações de direitos no contexto da cidadania, pode-se falar nos direitos difusos e coletivos e até em direitos bioéticos. Dê dois exemplos desses direitos da nova geração.


Resolução
a) Diferem conceitualmente os direitos civis dos direitos sociais. Os direitos civis se constituem garantias de cunho pessoal extensivas, por lei, a todos os cidadãos, enquanto que os direitos sociais têm por objetivo as garantias materiais essenciais ao pleno exercício de seus direitos civis. São eles: o direito à vida, direito a igualdades de gêneros etc.
No caso brasileiro, os direitos sociais – a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados – são garantidos pela Constituição Federal de 1988 – a Constituição Cidadã.
b) Os direitos difusos resultam de conquistas sociais e permitem de forma mais eficiente a solução de conflitos coletivos de ordem socioeconômica. Ultrapassam a esfera individual, pois são indivisíveis e podem ser reclamados pela coletividade. São exemplos: o Direito Ambiental e o  Direito do Consumidor.

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