1. (Unicamp) Godrici de Finchale foi um mercador que viveu no século XI, na Baixa Idade Média, no leste da atual Inglaterra.
“Quando o rapaz, depois de ter
passado os anos da infância sossegadamente em casa, chegou à idade varonil, principiou
a aprender com cuidado e persistência o que ensina a experiência do mundo. Para
isso decidiu não seguir a vida de lavrador, mas estudar, aprender e exercer os
rudimentos de concepções mais sutis. Por esta razão, aspirando à profissão de
mercador, começou a seguir o modo de vida do vendedor ambulante, aprendendo
primeiro como ganhar em pequenos negócios e coisas de preço insignificante; e, então,
sendo ainda um jovem, o seu espírito ousou pouco a pouco comprar, vender e
ganhar com coisas de maior preço.”
(Adaptado de Reginald of Durnham,
“Libellus de Vita et Miraculis S. Godrici”, em Fernando Espinosa, Antologia de
textos históricos medievais. 3ª ed., Lisboa: Sá da Costa Editora, 1981, p. 198.)
a) Segundo o texto, o ofício de
mercador exigia uma preparação diferente daquela do lavrador. Quais eram as
diferenças entre esses dois ofícios?
b) Cite duas características do
renascimento comercial e urbano ocorrido no final do período medieval.
Resolução
a) O lavrador seguia uma rotina
imutável, sendo a utilização de seu tempo determinada pela Natureza; além disso,
não se exigia dele nenhum esforço intelectual. Já o mercador seguia uma atividade
determinada por sua própria iniciativa, na qual o tempo possuía um valor
econômico próprio; além disso, era necessário que ele tivesse
um certo preparo intelectual, que
lhe permitisse lucrar nos negócios e acumular riquezas.
b) Características econômicas:
– Crise do sistema feudal, assinalando
o início da transição feudo-capitalista.
– Desenvolvimento das atividades
mercantis, com o estabelecimento das rotas de comércio, a organi zação de
feiras e a fundação de burgos.
– Expansão da circulação
monetária e advento de atividades bancárias incipientes.
Características sociais:
– Desenvolvimento da vida urbana,
com o crescimento das cidades já existentes e o surgimento de outras – muitas
delas emancipadas da tutela feudal.
– Surgimento e ascensão econômica
da burguesia.
– Expansão da atividade artesanal,
com a organização das corporações de ofício.
2. (Unicamp) Durante a conquista
espanhola no México, iniciada em 1519 por Cortés, a superioridade tecnológica
dos europeus era amplamente compensada pela superioridade numérica dos
indígenas e muitos truques foram inventados para atrapalhar o deslocamento dos
cavalos: os indígenas acostumaram-se a cavar fossas profundas nas quais
espetavam paus em que as montarias eram empaladas. Mais tarde, em 1521, canoas
“encouraçadas” resistiriam às armas de fogo. A tática indígena evoluiu e
adaptou-se às práticas do adversário: os mexicas, contraria mente ao costume, armaram
ataques noturnos ou em terreno coberto. Por outro lado, se as epidemias de varíola
já estavam dizimando as tropas de México-Tenochtitlan, também não poupavam os
índios de Tlaxcala ou de Texcoco, que apoiavam os espanhóis.
(Adaptado de Carmen Bernand e
Serge Gruzinski, História do Novo Mundo.
São Paulo: Edusp, 1997, p. 351.)
a) Identifique uma estratégia
utilizada por espanhóis e outra pelos indígenas durante as disputas pelo
domínio do México.
b) Explique por que houve
acentuada queda demográfica entre as populações indígenas nas primeiras décadas
após a conquista espanhola.
Resolução
a) Estratégias espanholas: alianças
com povos inimigos dos astecas e abandono de roupas pertencentes a europeus
mortos por moléstias infecto contagiosas, para que fossem utilizadas pelos
indígenas, contaminando-os.
Estratégias indígenas: prática de
combates noturnos e escavação de fossos para deter ataques de cavalaria.
b) Após a chegada dos espanhóis, as
populações indígenas sofreram uma drástica redução demográfica, por força da
mortandade provocada por diversos fatores: doenças trazidas pelos europeus, utilização
de seu trabalho até a exaustão absoluta e fome resultante da destruição de seus
meios de subsistência; deve-se ainda considerar o massacre sistemático dos
nativos praticado pelos conquistadores.
3. (Unicamp) Durante o século
XVIII, a capitania de São Paulo sofreu grandes transformações territoriais e
administrativas. Em 1709, nasceu a capitania de São Paulo e das Minas do ouro, abrangendo
imenso território correspondente à quase totalidade das atuais regiões Sul, Sudeste
e CentroOeste, à exceção da então capitania do Rio de Janeiro e do Espírito
Santo. Até 1748, sucessivos desmembramentos formaram as regiões de Minas, Santa
Catarina, Rio Grande de São Pedro, Goiás e Mato Grosso. O novo
capitão-general, mais conhecido
como Morgado de Mateus, foi diretamente instruído pelo futuro Marquês de Pombal
a ocupar-se da fronteira oeste ameaçada pelos espanhóis e a fomentar a produção
de gêneros de exportação.
(Adaptado de Ana Paula Medicci, "São
Paulo nos projetos de império", em Wilma Peres Costa e Cecília Helena de
Oliveira, De um império a outro: formação
do Brasil, séculos XVIII e XIX. São Paulo: Hucitec/Fapesp, 2007, p. 243.)
a) Cite duas atividades
econômicas que sustentavam a capitania de São Paulo no século XVIII.
b) Considerando a política
territorial na América Portuguesa nos séculos XVI e XVII, comente as mudanças
significativas do século XVIII nesse aspecto.
Resolução
a) – Mineração de ouro, praticada
por paulistas em Minas Gerais e, mais tarde, em Goiás e Mato Grosso.
– Relações comerciais com o
Centro-Oeste, realizadas por meio das “monções”.
– Intermediação no comércio de
gado muar e vacum entre o Sul e a região das Minas Gerais.
– No final do século XVIII, produção
açucareira no contexto do Renascimento Agrícola
b) A expansão territorial luso-brasileira,
realizada no século XVII por bandeirantes paulistas e missionários portugueses (estes
últimos na Amazônia), foi consolidada no século XVIII. Este processo foi implementado sob três
aspectos: primeiramente, ocupação por meio de atividades econômicas específicas
(pecuária no Sul, mineração no Centro-Oeste e “drogas do sertão” na Amazônia); em
seguida, montagem de um aparelho administrativo que incluía a defesa militar; finalmente,
ratificação dessa situação por
meio do Tratado de Madri (1750), que reconheceu a dominação portuguesa sobre
uma vastíssima área a oeste do Meridiano de Tordesilhas, dando ao Brasil uma
configuração muito próxima de suas fronteiras atuais.
4. (Unicamp)
Passar de Reino a Colônia
É desar [derrota]
É humilhação
que sofrer jamais podia
brasileiro de coração.
A quadrinha acima reflete o temor
vivido no Brasil depois do retorno de D. João VI a Portugal em 1821. Apesar de
seu filho Pedro ter ficado como regente, acirrou-se o antagonismo entre
“brasileiros” e “portugueses” até que, em dezembro de 1821, as Cortes de
Portugal determinaram o retorno do príncipe. Se ele acatasse, tudo poderia
acontecer. Inclusive, dizia d. Leopoldina, “uma Confederação de Povos no
sistema democrático como nos
Estados Livres da América do
Norte”.
(Adaptado de Eduardo Schnoor, “Senhores
do Brasil”, Revista de História da Biblioteca Nacional, nº 48. Rio de Janeiro, set.
2009, p. 36.)
a) Identifique os riscos temidos
pelas elites do centro-sul do Brasil com o retorno de D. João VI a Lisboa e a
pressão das Cortes para que D. Pedro I retornasse a Portugal.
b) Explique o que foi a
Confederação do Equador.
Resolução
a) As elites brasileiras temiam
que o Brasil fosse reduzido à condição de colônia, visto que, com o retorno de
D. João VI a Portugal, deixara de ser a sede do Reino Unido. Quanto às Cortes
de Lisboa, seu projeto recolonizador passava necessariamente pela volta de D. Pedro
(que ainda não se tornara o imperador D. Pedro I) para Portugal. Com efeito, a
condição do príncipe como regente do Brasil fazia deste último parte integrante
do Reino Unido, inviabilizando sua possível volta ao status de mera colônia.
b) Revolução irrompida em
Pernambuco em 1824, como reação ao autoritarismo de D. Pedro I, manifestado nos
episódios da dissolução da Constituinte e da outorga da Constituição do Império.
Foi um movimento de cunho liberal, separatista, republicano, federalista e
lusófobo, tendo Frei Caneca como líder mais destacado. Estendeu-se àsprovíncias
vizinhas de Pernambuco, mas foi duramente reprimido pelo governo imperial.
5. (Unicamp) A aventura à Amazônia liderada pelo naturalista Louis Agassiz estendeu-se de 1865 a 1866 e passou por várias regiões do Brasil: de Minas Gerais ao Nordeste e à Amazônia. Foi orientada pela teoria criacionista, que se opunha à teoria de Charles Darwin. Apesar de participar da expedição, o filósofo norte-americano Willian James questionou alguns estereótipos sobre os trópicos.
(Adaptado de Maria Helena P. T. Machado,
“Algo mais que o paraíso”, Revista de História da Biblioteca Nacional, nº 52. Rio
de Janeiro, jan. 2010, p.70.)
a) Qual a importância da teoria
de Charles Darwin para o debate científico do século XIX.
b) Identifique dois estereótipos
relativos às terras e às gentes do Brasil no século XIX.
Resolução
a) A teoria de Darwin, segundo a
qual as espécies vegetais e animais – incluindo o próprio homem – resultaram de uma longa evolução, veio
contrapor-se à tradicional concepção judaico-cristã
do criacionismo, defensora da
ideia de que todos os seres vivos foram criados diretamente por Deus. Nesse
contexto, as ideias de Darwin aguçaram a polêmica entre ciência e religião –
iniciada no século XVIII e que ainda é alimentada por alguns setores neste
início de século XXI.
b) Estereótipos relativos às
terras do Brasil: exuberância, grandiosidade e beleza da natureza e das
paisagens. Estereótipos relativos às gentes do Brasil: preguiça natural da
população, atribuída à influência do clima tropical, e miscigenação com raças
consideradas inferiores.
6. (Unicamp) A Primeira Guerra
Mundial abalou profundamente todos os povos envolvidos, e as revoluções de 1917-1918
foram, acima de tudo, revoltas contra aquele holocausto sem precedentes, principalmente
nos países do lado que estava perdendo. Mas em certas áreas da Europa, e em
nenhuma outra mais que na Rússia, foram mais que isso: foram revoluções sociais,
rejeições populares do Estado, das classes dominantes e do status quo.
(Adaptado de Eric Hobsbawm, Sobre
História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 262-263.)
a) Relacione a Primeira Guerra
Mundial e a situação da Rússia na época.
b) Cite e explique um princípio
da Revolução Russa de 1917.
Resolução
a) Em 1914, a Rússia – embora
potência europeia – era extremamente atrasada, fosse no plano econômico (predomínio
da agricultura, praticada de forma arcaica), fosse no social (existência de uma
massa de camponeses e operários miseráveis e forte influência da aristocracia
fundiária e da Igreja Ortodoxa) ou no político (existência de uma monarquia
autocrática). As derrotas sofridas pelo Império Russo no decorrer da guerra
agravaram as contradições do regime czarista, abrindo caminho para a Revolução
de 1917.
b) Em sua segunda fase (ascensão
dos bolcheviques ao poder), a Revolução Russa propunha que o país saísse da
guerra, para que nele fosse implantada a socialização de todos os meios de
produção, suprimindo-se a propriedade privada e o sistema capitalista. Tais
princípios estavam sintetizados no lema “Paz, Pão e Terra”.
7. (Unicamp) A população
brasileira, segundo o censo de 1920, era de 30.365.605 habitantes. O número de
votantes, entretanto, era restrito, conforme a tabela abaixo:
População apta a votar, 1920
População
|
Número
|
Total
|
30.635.605
|
Menos analfabetos, sobram
|
7.493.357
|
Menos as mulheres, sobram
|
4.470.068
|
Menos os
estrangeiros, sobram
|
3.891.640
|
Menos os menores de
21 anos, sobram
|
3.218.243
|
(Adaptado de http://www.usp.br/revistausp/59/09-josemurilo.pdf. Acesso em 18/10/2011.)
a) Indique duas práticas políticas existentes durante a Primeira República (1889-1930).
b) Cite duas mudanças que ampliaram o eleitorado brasileiro após a Primeira República.
Resolução
a) Fraude eleitoral (as apurações eram realizadas pelo grupo político dominante) e “voto de cabresto” (controle dos eleitores por meio de relações clientelistas ou coercitivas, decorrentes da existência do coronelismo).
b) Instituição do voto feminino e redução da idade eleitoral mínima para 18 anos, pela Constituição de 1934; concessão do direito de voto aos analfabetos e redução da idade eleitoral mínima para 16 anos, pela Constituição de 1988.
8. (Unicamp) No dia 14 de dezembro de 1968, os leitores mais atentos do Jornal do Brasil puderam perceber que o jornal apresentava mudanças. Apesar do sol de dezembro, por exemplo, a previsão meteorológica anunciava no alto da primeira página, à esquerda: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos”. Pela primeira vez, no lugar dos editoriais, eram publicadas fotos: na maior, um lutador de judô, gigante, dominando um garoto. O título da foto: “Força hercúlea”.
(Adaptado de Zuenir Ventura,1968: o ano que não terminou. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 288-289.)
a) Por que o Jornal do Brasil
apresentava alterações no dia seguinte à edição do Ato Institucional 5 (AI-5), de
13/12/1968?
b) Que relação o jornal quis
estabelecer entre o contexto político e a foto do lutador e o garoto?
Resolução
a) Porque o AI-5 significou um
endurecimento do regime militar brasileiro, aumentando o poder repressivo do
governo e cerceando drasticamente as liberdades políticas e civis.
b) O lutador simboliza a ditadura
militar, enquanto o garoto representa a sociedade civil, impotente diante do
poder discricionário imposto pelo AI-5.
9. (Unicamp) Faz cerca de vinte
anos que “globalização” se tornou uma palavra-chave para a organização de
nossos pensamentos no que respeita ao funcionamento do mundo. A palavra
“globalização” entrou recentemente em nossos discursos e, mesmo entre muitos
“progressistas” e “esquerdistas” do mundo capitalista avançado, palavras mais
carregadas politicamente passaram a ter um papel secundário diante de
“globalização”. A globalização pode ser vista como um processo, uma condição ou
um tipo específico de projeto político.
(Adaptado de David Harvey, Espaços
de Esperança. São Paulo: Edições Loyola, 2006, p. 79.)
a) Identifique uma característica
política e uma cultural do processo de globalização.
b) Quais as principais críticas
econômicas dos movimentos antiglobalização?
Resolução
a) Entre as características
políticas da globalização está o fato de que os países passaram, quase todos, a
compartilhar o sistema econômico capitalista, pois a globalização coincidiu com
o quase fim do sistema socialista, a partir de fins da década de 1980, o que
permitiu a livre circulação do capital por países que antes apenas utilizavam o
sistema socialista de produção. Entre as características culturais, observam-se
situações contraditórias, pois, ao mesmo tempo em que a globalização propõe a
dominância de conjuntos culturais hegemônicos (como a popularização de
comportamentos ocidentais), por outro lado, permite a difusão de culturas
locais que procuram se afirmar frente à imposição dos sistemas culturais
hegemônicos (como é o caso da divulgação da cultura de povos minoritários), bem
como as disputas entre diferentes comportamentos religiosos.
b) Entre as diversas críticas
propostas pelos movimentos antiglobalização, está aquela feita à predominância
do sistema capitalista monopolista e financeiro, cuja tendência especulativa
leva a uma enorme concentração de rendas. Essa concentração de rendas exacerba
os núcleos de pobreza que se espalham pelo mundo e adquirem as mais diversas
formas como, por exemplo, a atuação do grande capital na concentração de terras
em áreas subdesenvolvidas, eliminando as áreas das culturas de subsistência, ou,
a atuação de poucas empresas que controlam setores estratégicos, como a
indústria farmacêutica, ou automobilística. Outra crítica recai sobre o
processo de desregulamentação que permitiu o livre trânsito do capital e a especulação
financeira capaz de impor sua forma de funcionamento aos enfraquecidos corpos
estatais.
10. (Unicamp) A noção de
cidadania gerada pela visão liberal a partir do século XVIII foi uma resposta
do Estado às reivindicações da sociedade, e levou à institucionalização dos
direitos civis, direitos políticos e direitos sociais. Mais contemporaneamente,
a noção de cidadania redefine a ideia de direitos. O ponto de partida é a
concepção de um direito a ter direitos e inclui a criação de novos direitos que
emergem de lutas específicas.
a) O que são direitos civis e
direitos sociais?
b) Dentre as “novas” gerações de
direitos no contexto da cidadania, pode-se falar nos direitos difusos e
coletivos e até em direitos bioéticos. Dê dois exemplos desses direitos da nova
geração.
Resolução
a) Diferem conceitualmente os
direitos civis dos direitos sociais. Os direitos civis se constituem garantias
de cunho pessoal extensivas, por lei, a todos os cidadãos, enquanto que os
direitos sociais têm por objetivo as garantias materiais essenciais ao pleno
exercício de seus direitos civis. São eles: o direito à vida, direito a
igualdades de gêneros etc.
No caso brasileiro, os direitos
sociais – a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados – são garantidos pela Constituição Federal de 1988
– a Constituição Cidadã.
b) Os direitos difusos resultam
de conquistas sociais e permitem de forma mais eficiente a solução de conflitos
coletivos de ordem socioeconômica. Ultrapassam a esfera individual, pois são
indivisíveis e podem ser reclamados pela coletividade. São exemplos: o Direito
Ambiental e o Direito do Consumidor.
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