terça-feira, 31 de agosto de 2010

A Violência no México

Pio Penna Filho*

O assassinato de 72 pessoas no norte do México recolocou o país no centro das atenções internacionais. Não se trata de uma nova onda de violência, mas da violência continuada. O próprio governo mexicano estima em mais de vinte e três mil o número de pessoas mortas desde 2006 como conseqüência da violência promovida pelo crime organizado. Não é, definitivamente, pouco. E há estimativas ainda piores, talvez mais realistas.
O crime organizado atua em praticamente todo o território nacional. Algumas organizações possuem ramificações internacionais e estão presentes em outros países da América Central, como Guatemala e El Salvador, isso sem contar as evidentes conexões na Colômbia, no Peru e nos Estados Unidos, este último o objetivo principal dessas organizações.


Los Zetas, Cartel do Golfo, Cartel de Sinaloa, Cartel de Juárez, Cartel de Tijuana e La Família estão entre as mais conhecidas organizações criminosas que atuam no México. As atividades do crime organizado são antigas no país e há registros que remontam à época da Segunda Guerra Mundial, período de formação do que ficou mais tarde conhecido como Cartel de Sinaloa, o mais antigo grupo em atividade. Desde essa época, portanto, já ocorria a venda de drogas para os Estados Unidos, principalmente maconha e heroína.
O crime organizado no México cresceu dessa forma justamente pela proximidade do país com o rico mercado norte-americano. É claro que essa característica por si só não explica a dimensão das atividades criminosas no México.
Além de uma estrutura social precária, marcada pela desigualdade e pela falta de oportunidades e pela falta de inclusão social, a responsabilidade maior deve ser atribuída ao Estado mexicano que falhou, e continua falhando, tanto em matérias sociais quanto na prevenção e na repressão ao crime organizado.


O resultado é esse clima de insegurança generalizada e ameaça frontal ao Estado e à sociedade, que vive o drama de ter que conviver com organizações criminosas extremamente violentas. A pressão sobre o Estado é enorme, tendo a corrupção atingido níveis alarmantes. Estima-se, por exemplo, que cerca de 10% da força policial já foi corrompida. E mais: está cada vez mais evidente a associação entre o crime organizado e importantes setores políticos, o que torna o problema substancialmente mais grave.


O México já é visto por especialistas como um dos cinco países no ranking internacional de Estados mais assolados pelo crime organizado. Perde apenas dos seguintes países: Afeganistão, Guiné Equatorial, Nigéria e Paquistão. Todos são mundialmente conhecidos pela incapacidade de lidar com as organizações criminosas que atuam em seus territórios.
Enfim, o problema do México é grave e afeta todo o seu entorno. A insegurança se dissemina em todas as direções, tanto é que se fala até no nascimento de uma “narcorregião”, envolvendo a América Central e o Caribe. Diante desse quadro, o crime organizado no Brasil parece estar no jardim da infância.

* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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