sábado, 25 de junho de 2011

Os prenúncios de uma nova ordem: a década de 1920 e a Revolução de 1930

Segundo Ano - CNDL
Terceiro Bimestre - História do Brasil
Capítulo 2 - Os prenúncios de uma nova ordem: a década de 1920 e a Revolução de 1930

Problematização do tema

Foto antiga do Graf Zeppelin entrando na Baia de Guanabara em 25/05/30. Fonte: Wikipedia:

Zeppelin entrando na Baia de Guanabara, em 25/05/1930

"Um charuto gigante surgiu no céu do Rio de Janeiro em maio de 1930. Era o dirigível Graf Zeppelin - a quintessência da tecnologia alemã - em sua viagem inaugural à capital do país. Para os brasileiros, no entanto, que aplaudiram incrédulos as manobras desse monstro voador de mais de 200 metros e quase 60 toneladas, era bem mais do que o primeiro voo regular entre a América Latina e a Europa. Tratava-se, isso sim, do início de novos tempos. O futuro estava à vista.

Símbolo de tudo o que se considerava moderno, o Graf Zeppelin bem que poderia servir de marco para o fim de um ciclo no Brasil. Por uma dessas coincidências que, em retrospecto, acrescentam significados insuspeitos aos eventos, sua aparição antecipou o começo de um novo período histórico."

PILAGALLO, Oscar. A história do Brasil no século XX. (1920-1940). São Paulo: Publifolha, 2002. p.

A chegada do dirigível alemão ao Rio de Janeiro pode mesmo ser usada como uma simbologia para a emergência de uma nova ordem no Brasil a partir do movimento de 1930. Contudo, a implantação dessa nova ordem foi precedida por uma década - a de 1920 - que trazia em si os prenúncios dessas profundas mudanças.

Foi ao longo dessa década que se definiu claramente a reivindicação por uma legislação trabalhista pelas classes trabalhadoras brasileiras. A década de 1920 foi também a conjuntura da expressão da insatisfação da sociedade brasileira com as fraudes e corrupção vigentes no sistema político-eleitoral e com a exclusão do povo da participação política desde o início da República Velha. Essas insatisfações foram canalizadas pelo movimento tenentista, pela Semana de Arte Moderna, pelo Partido Comunista Brasileiro que, criado em 1922, conseguiu mobilizar as camadas operárias.

Enfim, se a chegada do dirigível em 1930 anunciava o início de novos tempos, a sua viagem entre a Alemanha e o Rio de Janeiro era a condição necessária para o término da jornada, como o foi a década de 1920 para se chegar ao movimento de 1930.

Neste capítulo, além da turbulenta década de 1920, vamos estudar o movimento de 1930 que colocou Getúlio Vargas no poder. Poucos movimentos foram tão estudados e apresentam interpretações tão diferentes, como poderemos constatar adiante em nossos estudos.

Pense sobre o que acabou de ler.

1. Por que a década de 1920 foi o prenúncio de uma nova ordem no Brasil?

Porque ao longo da década de 1920 se definiu claramente a reivindicação por uma ligeislação trabalhista pelas classes trabalhadoras brasileiras, além disso foi durante esse período que ocorreram diversos movimentos de insatisfação em relação à política vigente na República Velha, tais como o movimento Tenentista, a Semana de Arte Moderna, a Coluna Prestes, a fundação do Partido Comunista Brasileiro e a formação da Aliança Liberal.

1920: uma década movimentada

O tenentismo

O tenentismo foi um movimento de oficiais do Exército de baixa patente, apesar de ter contado também com a participação de oficiais mais graduados. Tal movimento protestava contra os desmandos políticos, a situação econômica e a exclusão social vigentes na República Velha. Especificamente, protestavam contra as fraudes eleitorais, o poder corrupto das oligarquias, a corrupção administrativa, a falta de liberdade de imprensa, o alto custo de vida e a pouca participação política da sociedade brasileira.

Os tenentes, contudo, não apresentavam um programa consolidado. Eram vagamente nacionalistas, defendiam o voto secreto e as reformas sociais. Entretanto, o seu movimento tinha um viés pouco democrático. Acreditavam firmemente que as mudanças necessárias para alterar a ordem vigente deveriam vir "de cima para baixo".

A primeira revolta dos tenentes eclodiu no Rio de Janeiro, em 1922, e foi denominada "Os 18 do Forte de Copacabana". Iniciou-se como um protesto à candidatura de Arthur Bernardes à presidência da República. Bernardes teria publicado na imprensa cartas com críticas violentas aos militares. Com a vitória de Bernardes, foram planejadas rebeliões em várias unidades militares do Rio de Janeiro, com o intuito de impedir sua posse.

A articulação dos tenentes fracassou, resultando apenas 17 rebeldes do Forte de Copacabana que receberam o apoio de um civil. A repressão foi brutal e, dos revoltosos, apenas dois sobreviveram.

Novamente os tenentes se rebelaram em 1924, em São Paulo, contra o governo de Arthur Bernardes. Após ocuparem a cidade por 22 dias, foram duramente combatidos por forças federais e retiraram-se para o Paraná. Nesse estado, reuniram-se com os tenentes gaúchos, que também haviam se revoltado em 1924, dando origem à denominada Coluna Prestes.A partir de julho de 1925, durante dezoito meses, a coluna Prestes, expedição militar liderada por Luís Carlos Prestes e formada por oficiais e soldados que se opunham à ordem vigente no Brasil, em especial, ao governo Arthur Bernardes, percorreu cerca de 25 mil km, entrando em contato com as mais diversas populações, moradoras em pequenos vilarejos, fazendas e cidades de vários estados da Federação. Aos poucos, a Coluna foi se desfazendo e, em 1927, seus últimos componentes asilaram-se na Bolívia.

É interessante sublinhar o fato de que, até se asilar na Bolívia, Luís Carlos Prestes nunca tivera contato com o ideário comunista. Os primeiros contatos de Prestes com essa ideologia aconteceram na Bolívia, por intermédio do secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, Astrojildo Pereira. Astrojildo foi à Bolívia com o intuito de atrair pra seus quadros o carismático líder da Coluna. Prestes acabou se convertendo ao comunismo e foi o único tenente de projeção que não participou do movimento de 1930.

Análise e interpretação: versões, opiniões e fontes diversas

Leia o trecho do documento.

Manifesto da Coluna Prestes em Porto Nacional

Concidadãos:

Depois de 15 meses de luta encarniçada [...] temos hoje, ao chegar ao coração do Brasil, às margens do potentoso Tocatins, o feliz ensejo de, mais uma vez, reafirmar à nossa pátria que a cruzada patriótica, iniciada aos 5 de julho na capital gloriosa de São Paulo e engrossada, mais tarde, pelos gloriosos filhos da terra gaúcha, ainda não expirou e nem expiará, esmagada pelas baionetas da tirania.

Apesar dessa longa perigrinação de sacrifícios, anima-nos ainda a mesma fé inabalável dos dias de jornada, alicerçada na certeza de que a maioria do povo brasileiro, comungando conosco os ideais da revolução, anseia por que o Brasil se reintegre nos princípios liberais, consagrados pela nossa Constituição – hoje espezinhada por um sindicato de políticos sem escrúpulos, que se apoderaram dos destinos do país para malbaratar a sua fortuna, ensangüentar o seu território e vilipendiar o melhor das suas tradições.

E o povo pode ficar certo de que os soldados revolucionários não enrolarão a bandeira da liberdade enquanto não se modificar esse ambiente de despotismo e intolerância que asfixia, num delírio de opressão, os melhores anseios da consciência nacional!

LIMA, Lourenço Moreira. A coluna Prestes. p. 572. Apud BERTOLLI FILHO, Cláudio. A República velha e a revolução de 30. São Paulo: Àtica, 1999, p. 41.

1. Apresente os pontos levantados pelo Manifesto que explicam a motivação do movimento denominado Coluna Prestes.

No Manifesto, os membros da Coluna Prestes afirmam que mantêm acesa que os levou à cruzada patriótica iniciada em 5 de julho em São Paulo e que, apesar das dificuldades e sacrifícios, continua esperando que o Brasil se reintegre aos princípios liberais, consagrados pela Constituição de 1891, desrespeitada por políticos sem escrúpulos. Continuam reiterando que continuarão a cruzada até que o ambiente de despotismo e intolerância tenha sido ultrapassado.

O tema em foco

2. Analise a marcha da Coluna Prestes de acordo com os dados contidos no mapa.

Pela análise do mapa, espera-se que o aluno perceba que a Coluna Prestes percorreu vários estados da Federação em uma longa jornada pela interior do Brasil, travando batalhas contra as forças legalistas e estabelecendo contato com as populações de vilarejos e cidades interioranas brasileiras.

Confira um resumo do tema estudado neste capítulo da Coleção Pitágoras

A década de 1920 e a Revolução de 1930

Veja também os resultados da vitória do ideário da Aliança Liberal pós-1930

Dica de estudos

neiro, com o intui








De olho no vestibular
1. (UFV 2007) A década de 1920 foi um período de crise da “república do café-com-leite”, uma vez que as transformações ocorridas nos anos anteriores contribuíram para a melhor organização dos grupos sociais existentes e o surgimento de outros. Alguns desses grupos se voltaram contra a política tradicional, baseada no poder das oligarquias, no autoritarismo e nas fraudes eleitorais, manifestando seu descontentamento através de movimentos civis e militares.
Sobre a década de 1920 no Brasil, é CORRETO afirmar que houve:

a) um levante conhecido como Intentona Comunista, logo após a fundação do Partido Comunista do Brasil, que congregou um grande número de operários e intelectuais.
b) duas das mais importantes revoltas do movimento denominado tenentista, que queria moralizar a vida política, pôr fim à corrupção eleitoral e promover reformas sociais.
c) a Revolta da Vacina, em que o Rio de Janeiro transformou-se num campo de batalha, com a formação de barricadas e violentos choques entre populares e tropas do governo.
d) duas greves gerais nos principais centros urbanos do país, sob a liderança de industriais e comerciantes insatisfeitos com a política governamental de valorização dos produtos agrícolas.
e) o movimento modernista, durante a realização da Semana de Arte Moderna, evento ocorrido em São Paulo em 1922, cujo manifesto defendeu o fim do voto de cabresto e da política dos governadores.

resposta: [B]

2. (Unifesp-2008) A política do Estado brasileiro, depois da Revolução de 1930, nas palavras do cientista político Décio Saes, “será combatida, pelo seu caráter ‘intervencionista’ e pelo ‘artificialismo’ dos seus efeitos; de outro lado, a política de reconhecimento das classes trabalhadoras urbanas será criticada pelo seu caráter ‘demagógico’, ‘massista’ e ‘antielitista’”. (in: História Geral da Civilização Brasileira, III, 3, 1981, p. 463.)
As críticas ao Estado brasileiro pós-1930 eram formuladas por setores que defendiam
A) os interesses dos usineiros e, no plano político, o coronelismo.
B) posições afinadas com o operariado e, no plano político, o populismo.
C) os interesses agro-exportadores e, no plano político, o liberalismo.
D) as burguesias comercial e financeira e, no plano político, o conservadorismo.
E) posições identificadas com as classes médias e, no plano político, o tenentismo.

resposta: [C]
O grupo agrário exportado foi o primeiro a combater a política econômica varguista, pois foi alijado do poder. Essa oposição, no entanto, não se deve a política intervencionista como propõe o enunciado, pois esse setor sempre foi beneficiado pela política governamental intervencionista
anterior. A política trabalhista foi combatida pelos grupos sociais mais conservadores, que defendiam o liberalismo político no sentido de se contraporem a “proteção aos trabalhadores”.

3. (UECE-2008) “A década de 1920 terminou presenciando uma das poucas campanhas eleitorais da Primeira República em que houve autêntica competição para o cargo da Presidência”.
FONTE: CARVALHO, José Murilo. Marco Divisório. In Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, pp.89-126.
Assinale a alternativa que contém os nomes dos dois candidatos que disputaram a Presidência da República, na ocasião.
A) Washington Luis e Getúlio Vargas.
B) Washington Luis e Júlio Prestes.
C) Hermes da Fonseca e Getulio Vargas.
D) Getúlio Vargas e Júlio Prestes.
resposta:[D]

4. (UEMG) Leia atentamente o texto e, a seguir, responda:
“Mas o número de gripados aumentou rapidamente nas semanas seguintes e outras medidas médico-governamentais foram tomadas na tentativa de minimizar a propagação epidêmica. Escolas, internatos, cinemas, teatros, e vários outros lugares e de reunião pública cerraram suas portas. As igrejas diminuíram drasticamente suas atividades. Práticas cotidianas, como beijos e abraços ou as compras nos mercados por mais de uma pessoa de uma mesma família, foram desaconselhadas (era necessário diminuir a quantidade de indivíduos circulando e assim o contato/contágio). A vida da cidade foi parando.”
Liane Maria Bertucci-Martins. Fragmentos do discurso científico na gripe espanhola. Texto integrante dos Anais do XVII Encontro Regional de História – O lugar da História. ANPUH/SPUNICAMP. Campinas, 6 a 10 de setembro de 2004. Cd-rom.
A gripe de 1918, também conhecida como gripe espanhola, tornou-se uma pandemia no segundo semestre daquele ano. No Brasil, foram registradas cerca de 300 mil mortes. Dentre as vítimas ilustres da doença, o presidente Rodrigues Alves e a educadora Anália Franco. Na década de 1910, algumas transformações sociais possibilitaram a formação de condições ideais para a propagação da doença.
Assinale, a seguir, o processo histórico que NÃO está relacionado com a propagação da gripe espanhola, no Brasil:
A) As cidades brasileiras do Sudeste no início da década de 10 tiveram um forte período de crescimento, sem, no entanto, implementar reformas urbanas estruturais, dificultando a prevenção da doença entre os mais pobres.
B) Com o incremento da produção de café, vários grupos financeiros expandiram suas atividades econômicas nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, provocando um forte empobrecimento, expandindo o número de contaminados no meio rural.
C) O processo de urbanização acelerado pela implantação das primeiras fábricas de produtos têxteis e alimentícios no Brasil concentrou várias famílias de trabalhadores em cortiços e moradias insalubres.
D) Os trabalhadores das fábricas eram contratados num regime assalariado de baixa renda, incompatível com as nascentes necessidades da vida urbana.
resposta:[B]

5. (Unesp-2007) A Semana de Arte Moderna de 1922, que reuniu em São Paulo escritores e artistas, foi um movimento:

a) influenciado pelo cinema internacional e pelas idéias propagadas nas Universidades de São Paulo e do Rio de Janeiro
b) de renovação das formas de expressão com a introdução de modelos norte-americanos;
c) de contestação aos velhos padrões estéticos, as estruturas mentais tradicionais e um esforço de repensar a realidade brasileira;
d) desencadeado pelos regionalismos nordestinos e gaúcho, que defendiam os valores tradicionais;
e) de defesa do realismo e do naturalismo contra as velhas tendências românticas.
resposta: [C]

6. (Fuvest - 2008)A revolução de 1924, movimento tenentista, relacionou-se:
a) aos desejos de reformas econômicas e sociais de caráter socialista que acarretassem a superação da República oligárquica e elitista.
b) à violência praticada pelos governos republicanos controlados pelas oligarquias paulista e mineira contra lideranças operárias e camponesas.
c) aos anseios por reformas políticas moralizadoras de cunho liberal que não se chocavam com os princípios de ordenação constitucionais da República.
d) ao caráter conservador do governo Epitácio Pessoa, cuja política repressiva desencadeou o movimento de intervenção federal nos estados oposicionistas.
e) à luta pela superação de caráter espoliativo e dependente da economia brasileira, visando obter maior prestígio no concerto internacional.
resposta:[C]

7. (Fuvest-2009) No Brasil, a década de 20 foi um período em que:
a) velhos políticos da República, como Rui Barbosa, Pinheiro Machado e Hermes da Fonseca, alcançaram grande projeção nacional.
b) as forças de oposição às chamadas "oligarquias carcomidas" se organizaram, sem contudo apresentar alternativas de mudança.
c) as propostas de reforma permanecendo letra morta, não se configurou nenhuma polarização político-ideológica.
d) a aliança entre os partidos populares e as dissidências oligárquicas culminou com a derrubada da República Velha nas eleições de 1.o de março de 1930.
e) ocorreram agitações sociais e políticas, movimentos armados, entre eles a Coluna Prestes, e várias propostas de reforma foram debatidas.

resposta : [E]

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