terça-feira, 5 de outubro de 2010

Vinte Anos da Reunificação Alemã

Pio Penna Filho*.


Os alemães comemoraram no último domingo vinte anos da reunificação do seu país. Para eles, uma data memorável. Dividido no final da Segunda Guerra Mundial, o país voltou a ser um só em 1990, quando a ordem da Guerra Fria chegava ao fim e a União Soviética passava por um processo de desintegração.
A Alemanha já despertou muito medo e receio em outros Estados europeus. Não foi à toa que o seu processo de unificação foi tardio, se comparado à formação de boa parte dos outros Estados nacionais, ainda no século XIX.
Foi somente em 1871 que os Estados germânicos foram unificados, fato que deu lugar ao nascimento da Alemanha. Mas esse não foi um processo fácil. Os franceses, convictos de que o novo Estado seria um desafio sério no contexto europeu, de tudo fizeram para impedir o nascimento da Alemanha. Daí a guerra franco-prussiana de 1870/1871, na qual a Alemanha saiu vitoriosa e unificada.
A Primeira Guerra Mundial foi outro episódio importante na história alemã. Derrotada pela Entente cordiale, a Alemanha se viu no perigo de uma primeira divisão. Essa era a vontade dos franceses que, imbuídos do espírito revanchista que remontava à Guerra Franco-Prussiana, chegaram a propor, no âmbito de Versalhes, a divisão do país.
O impacto da Segunda Guerra Mundial foi decisivo para a divisão do país. Com uma nova ordem sendo construída pelos principais vencedores do conflito, Estados Unidos e União Soviética, ambos passaram a exercer influência sobre os territórios conquistados e tinham visões de mundo opostas, em certo sentido excludentes.
Decidiram, pois, dividir a Alemanha em zonas de influência. Surgiram, assim, a República Federativa da Alemanha (RFA) e a República Democrática Alemã (RDA), esta última sob influência soviética. Berlim, a antiga capital, também foi dividida em duas, separada pelo infame muro que levou o nome da cidade e foi um dos maiores símbolos da Guerra Fria.
Mas o povo alemão era um só. Com a Guerra Fria se aproximando do fim, os descontentes da Alemanha oriental aumentaram os protestos até o ponto em que as autoridades comunistas não conseguiram mais controlar a pressão para a abertura política e para a reunificação.
Durante o período em que permaneceu a divisão, duas mentalidades acabaram se formando. Na Alemanha ocidental, capitalista e democrática, a participação política e as noções de cidadania acabaram por se consagrar. Já o regime da Alemanha oriental era mais fechado e dirigido com mão de ferro pelas lideranças do Partido Comunista, com muito pouca liberdade de expressão.
Do ponto de vista econômico houve também grandes diferenças. A Alemanha ocidental apresentou resultados econômicos e progressos materiais muito superiores à Alemanha oriental. Aliás, esse foi um aspecto problemático no processo de reunificação. O problema principal era como diminuir as grandes desigualdades verificadas nas duas “Alemanhas”

Embora persistam alguns problemas pontuais, o quadro atual é bastante diferente. Pode-se dizer que a reunificação está em estágio bastante avançado e consolidado, o que resultou, no fundo, na criação de uma nova Alemanha.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com.

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