domingo, 4 de outubro de 2015

Unicamp 2014

Questão 1
Com relação ao ornamento, Roma não correspondia, absolutamente, à majestade do Império e, além disso, estava exposta às inundações, como também aos incêndios. Porém, Augusto fez dela uma cidade tão bela que pode se envaidecer, principalmente por ter deixado uma ci dade de mármore no lugar onde encontrara uma de tijolos. 
(Adaptado de Suetônio, A Vida dos Doze Césares. São Paulo: Martin Claret, 2006, p. 91.) 

Considerando o texto e o período de Otávio Augusto no governo de Roma, responda: 

a) Qual a relação da nova urbanização da capital do Império com o período de paz que Augusto pretendia simbolizar? 
b) Identifique uma medida social e uma medida política estabelecidas por Augusto para adaptar a tradição romana ao novo momento.

resposta da questão:
a) A política adotada por César Augusto denominada Pax Romana caracterizava-se socialmente pela ampliação ao direito de cidadania, politicamente pelo fim das guerras de conquistas e urbanisticamente pelas construções de estradas, pontes, templos, palácios, banhos públicos – medidas que levaram ao embelezamento e a maior organização das regiões conquistadas. A Pax Romana possui um sentido de segurança, ordem e progresso para todos os povos dominados por Roma. A Ara Pacis é um altar construído a pedido de Otávio Augusto que simbolizava o período de paz e prosperidade vivido durante a Pax Romana. A troca do material empregado nas edificações, substituição do tijolo pelo mármore, simboliza a superação das crises sociopolíticas no final da República e a consolidação de um poder centralizado perene. A reurbanização de Roma, transformando-a numa cidade bela e magnífica, re pre senta o valor das decisões do imperador como cabeça do Império.

b) Institucionalização da política do Pão e Circo e reorganização administrativa, com maior eficiência na arrecadação de impostos sobretudo nas regiões provinciais romanas.
Medida social: Otávio estabeleceu uma divisão censitária da sociedade – ordem senatorial, ordem equestre e ordem inferior –, na qual os direitos sociais e a participação política dependiam da renda anual do cidadão. Medida política: manutenção de instituições republicanas, com mero papel decorativo, quando na verdade o poder decisório dependia diretamente do imperador.

Questão 2
No Natal de 800, o papa Leão III coroou Carlos Magno como Imperador dos Romanos. O Imperador recebeu o antigo título de Augusto. 
a) Caracterize a autoridade de Carlos Magno como Imperador naquele momento. 
b) Apresente dois aspectos do renascimento carolíngio. 

resposta da questão:
a) O período citado corresponde a uma crescente centralização administrativa nas mãos de Carlos Magno e sua corte. A autoridade do imperador se relacionava também as suas reformas no ensino e incentivo à cultura, além da forte aliança com a Igreja. Ser associado a Imperador dos Romanos/ Católicos contribuiu para consolidar e legitimar o poder de Carlos Magno. 
b) Depois de dominar grande parte da Europa no final do século VIII, Carlos Magno promoveu uma reforma na educação que procurou preservar e difundir o saber clássico, principalmente das cópias e traduções das obras da antiguidade greco-romana. Antigas escolas foram restauradas e novas foram construídas, estas podiam ser monacais, sob a responsabilidade dos mosteiros; catedrais, junto à sede dos bispados; e palatinas, junto às cortes. A recuperação do método dialético-lógico de ensino fez revigorar a investigação especulativa que, por sua vez, pode ser considerada a raiz da escolástica e da fundação das primeiras universidades europeias. O imperador, além de incentivar o ensino das artes liberais na corte, foi um destacado incentivador cultural. A arte carolíngia inspirou uma associação entre a arte romana clássica com os elementos da Idade Média. Pode-se destacar, entre as artes decorativas e arquiteturais, os mosaicos e os afrescos das igrejas, a produção de peças em marfins, como herança do contado com o Oriente, a ourivesaria e as iluminuras.

Questão 3
Desde o início da colonização, os portugueses chamaram de tapuias os grupos indígenas que julgavam bárbaros, por seus hábitos culturais distintos dos que habitavam o litoral e por seu poder de resistência aos portugueses. 

a) Contextualize historicamente os significados de Guerra Justa para os portugueses a partir do fim da Idade Média. 
b) Indique duas práticas dos indígenas que os portugueses consideravam bárbaras. 

resposta da questão 3:

a) A Guerra Justa, caracterizada pelo extermínio, pela escravidão e pela catequização dos povos americanos, era justificada, dentro do contexto da Contrarreforma e da expansão marítima europeia, como uma tentativa de difusão da fé cristã e como uma iniciativa que levava a cultura ocidental para os povos considerados primitivos. Observa-se que desde a Reconquista havia o conceito da Guerra Justa, neste contexto em relação aos mouros. 

b) Das práticas indígenas consideradas bárbaras pelos portugueses, podemos citar o hábito da nudez, a crença em entidades religiosas associadas às forças da natureza, a poligamia e a antropofagia.

Questão 4 
Um motivo para a melhoria da dieta ao longo do século XIX era que chegavam cada vez mais alimentos do que chamamos de “periferia” da Europa, denominação vaga que engloba a Rússia e a Europa do Leste, como também das zonas de abastecimento do Novo e do Velho Mundo. Grande parte da Europa acabou por beneficiar-se dessas importações, mas os países mais necessitados desses produtos eram aqueles onde a industrialização e o desenvolvimento urbano ocorreram com maior ímpeto, ou seja, Grã-Bretanha, os Países Baixos e a Alemanha. Do Novo Mundo chegavam o açúcar, o café e o cacau, e da China, do Ceilão e da Índia chegavam o chá e o arroz. 
(Adaptado de Norman J. G. Pounds, La Vida Cotidiana: historia de la cultura material. Barcelona: Editorial Crítica, 1992, p. 507-509.) 

a) Explique a relação entre o processo de industrialização e importação de alimentos na Europa. 
b) Por que a dieta europeia melhorou ao longo do século XIX? 

resposta da questão 4
a) As regiões mais industrializadas da Europa acabaram por concentrar enormes núcleos urbanos para a época, onde viviam contingentes populacionais que trabalhavam nas indústrias e a burguesia empresária que lucrava com a produção. Os alimentos consumidos nessas cidades vinham desde a periferia europeia, nesse contexto, até as colônias americanas e asiáticas. Os países não industrializados viram nesse amplo mercado consumidor uma oportunidade de atender à demanda de alimentos e obter algum sucesso em um modelo primá- rio-exportador. Quanto às colônias, o papel de suprir as necessidades econômicas de suas metrópoles acabou por integrar sua produção de gêneros tropicais ao mercado europeu de gêneros alimentícios. 

b) Aliam-se à melhoria da dieta europeia a visão capitalista aplicada ao campo, e a inclusão, já consolidada, de novos alimentos advindos da América e da Ásia. Desde o século XVIII os fisiocratas defendiam que a terra deveria ser um componente econômico fundamental na constituição da economia nacional. Com o fim do Antigo Regime e o declínio das propriedades improdutivas da aristocracia, o campo passa a seguir as demandas capitalistas, gerando um aumento da produção e da disponibilidade de gêneros primários, incluindo alimentos. Os alimentos estrangeiros também foram importantes, pois, depois de aclimatados ao ambiente europeu, acabaram se mostrando produtivos e de baixo custo. Como exemplos pode-se notar a importância da batata para as populações europeias e o milho, mais produtivo que o trigo, o que colaborou para criar um substituto à farinha de trigo, mais cara. Pode-se dizer também que as condições de vida em algumas regiões, aquelas com maior concentração de indústrias, tiveram uma melhora, dada a disponibilidade de empregos e, consequentemente, do poder de compra de alimentos. Além das inovações técnicas, advindas da Revolução Industrial, que aplicadas à agricultura possibilitaram um incremento da produção e da oferta de alimentos.

Questão 5
(Disponível em http://www.jblog.com.br/ quadrinhos.php?itemid=20522. Acessado em 05/12/2013.)
Angelo Agostini (1833-1910) expressou sua crítica a D. Pedro II em uma caricatura publicada na Revista Ilustrada, em 1887. 
a) Conforme a imagem, qual é a crítica de Agostini ao Imperador? 
b) Indique e explique um processo que expresse a situação de crise vivida no final do Império. 

Resposta da questão 5: 
a) A caricatura de D. Pedro II, feita por Angelo Agostini, invoca a imagem de um imperador ausente. Adormecido, o monarca aparenta estar completamente alheio ao panorama da política nacional, sem perceber as transformações políticas, sociais e econômicas que estavam ocorrendo e culminariam na Proclamação da República. 

b) A crise do Segundo Reinado decorre, entre outras questões, do isolamento cada vez maior de D. Pedro II. A oposição entre abolicionistas e conservadores, defensores da manutenção da escravidão, faz com que D. Pedro perca, sucessivamente, o apoio das elites e do Exército que, no final do século XIX, ganhou força e prestígio social após a vitória da Guerra do Paraguai. Outro fator que poderia ser citado é a crise religiosa que opõe a Igreja à Monarquia, além do crescimento de ideias positivistas que reclamam pela proclamação da república. Pode-se destacar, também, os cafeicultores do Oeste Paulista, conhecidos como Republicanos Históricos, que lançam o Manifesto Republicano em 1870, rompendo com a monarquia e propondo um governo de caráter federalista.

Questão 6
Na Lei Orgânica do Ensino Secundário de 9 de abril de 1942, podemos ler: 1. É recomendável que a educação secundária das mulheres se faça em estabelecimentos de ensino de exclusiva presença feminina. 2. Incluir-se-á nas terceira e quarta séries do curso ginasial e em todas as séries dos cursos clássico e científico a disciplina de economia doméstica. 3. A orientação metodológica dos programas terá em mira a natureza da Unicamp 5 ETAPA personalidade feminina, bem como a missão da mulher dentro do lar. 
(Adaptado de Carla Bassanezi Pinsky e Joana Maria Pedro (orgs.), Nova História das Mulheres. São Paulo: Contexto, 2012, p. 337.) 

a) Cite duas mudanças na legislação que afetaram a condição feminina no Brasil nas décadas de 1930 e 1940. 
b) Qual o papel desejado para a mulher durante o Estado Novo (1937-1945)? 

resposta da questão 6: 
a) Podemos citar, entre outras: 
• voto feminino; 
• proibição de diferença de salário para um mesmo cargo por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil; 
• proibição do trabalho feminino em indústrias insalubres; 
• assistência médica e sanitária à gestante, assegurando a esta descanso antes e depois do parto sem prejuízo no salário e no emprego. 

b) Pela Lei Orgânica de 09.04.1942, podemos perceber que as mulheres (que estudavam em instituições com exclusiva presença feminina) deveriam, para o Estado Novo, desempenhar, sobretudo, o papel de “dona de casa”, o que fica caracterizado pela “disciplina de economia doméstica”, programas que têm “em mira a natureza da personalidade feminina” e a “missão da mulher dentro do lar”. 

Questão 7
O cartaz a seguir foi usado pela propaganda soviética contra o capitalismo ocidental, durante o período da Guerra Fria. O texto diz: “Duas infâncias. Na URSS (parte superior) crianças são apoiadas pelo amor da nação! Nos países capitalistas (figura inferior), milhões de crianças vivem sem comida ou abrigo.” 

a) Como o cartaz descreve a sociedade capitalista ocidental? 
b) Cite dois conflitos bélicos do período da Guerra Fria. 

resposta da questão 7 
a) De acordo com a imagem e o texto da questão, o cartaz mostra que “milhões de crianças vivem sem comida ou abrigo” na sociedade capitalista ocidental. 

b) Entre os vários conflitos no período da Guerra Fria (1945-1990), podemos citar: 
• Guerra da Coreia (1950-1953); 
• Guerra do Vietnã (1965-1975); 
• descolonização da Ásia e da África; 
• Guerra Civil na China (1945-1949); 
• Revolução Grega (1945); 
• Guerra do Afeganistão (1979-1989); 
• Conflito Árabe-Israelense; 
• Invasão norte-americana em Granada (1983); 
• intervenção da OEA na República Dominicana (1965); 
• Guerra Civil na Nicarágua (1979); 
• Guerra Civil em El Salvador (1980-1992).

Questão 8
Na formação do pensamento nacionalista de países como Angola, Cabo Verde e Moçambique, a cultura brasileira desempenhou um forte papel no processo de conscientização de muitos setores da intelectualidade africana, fornecendo parâmetros, em imagens diferenciadas, que se contrapunham ao modelo lusitano. 
(Adaptado de Rita Chaves, em Victor Andrade de Mello, “O esporte e a construção da nação: apontamentos sobre Angola.”http://www.afroasia. ufba.br/pdf/AA_40_VAMelo.pdf. Acessado em 08/08/2013.) 

a) Explique como Angola, Moçambique e Cabo Verde assimilaram a cultura brasileira. 
b) Estabeleça conexões entre a Revolução dos Cravos e a África Portuguesa na década de 1970. 

resposta da questão 8: 
a) O processo de independência das antigas colônias portuguesas na África (ou Províncias do Ultramar) ocorreu no contexto da Guerra Fria na década de 1970. Os movimentos de independência tendiam, de maneira geral, a uma aproximação com o bloco socialista, por exemplo: Angola com o MPLA (Movimento Popular pela Libertação de Angola) e em Moçambique com o Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique). Apesar disso, o governo brasileiro de Ernesto Geisel (1974-1979), por intermédio de seu ministro das Relações Exteriores, Azeredo da Silveira, elaborou na política externa o denominado “Pragmatismo Responsável”, que, entre outros aspectos, reconhecia os governos de esquerda das nações africanas e suas independências. A aproximação do governo Geisel e dos presidentes posteriores com as novas nações estreitaram os laços realizando investimentos, acordos comerciais e culturais, financiamentos do governo brasileiro em projetos nesses países, entre outros. A aproximação, desde o governo Geisel, é reforçada pela história em comum em muitos aspectos: colonização portuguesa, idioma português, origem do povo brasileiro. Mais recentemente, nos governos Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (após 2010), a política externa brasileira tem se aproximado mais dos governos de Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau. Segundo alguns autores, essa política visa o apoio africano para os interesses brasileiros na ONU, como um assento permanente no Conselho de Segurança. Essa intensa ação brasileira nesses países e a presença de brasileiros na região, de certa forma, exercem uma influência da cultura brasileira nos países citados. 

b) Na década de 1960 iniciou-se a luta africana pela independência das colônias portuguesas, denominadas Províncias do Ultramar por Portugal, dessa forma, entendido como parte do território português, logo indivisível. Após dez anos de guerra colonial, consumindo recursos humanos e materiais de Portugal, criou-se o consenso, entre a maioria dos oficiais das Forças Armadas portuguesas, que essa guerra não podia ser vencida militarmente. Um exemplo disso era o controle de grande parte das colônias por forças de libertação africanas. Essa situação conduziu os oficiais portugueses a criarem o MFA – Movimento das Forças Armadas. Um dos obstáculos para a negociação de Portugal com os movimentos africanos de independência era o governo ditatorial salazarista de Marcelo Caetano, que considerava as colônias como “territórios portugueses” e dessa forma justificava a continuação da guerra. Diante disso, o MFA, com um movimento militar (a Revolução dos Cravos) em 25 de abril de 1974, depôs o governo de Marcelo Caetano, instalando um novo governo em Portugal e iniciando negociações com os movimentos de libertação africanos que culminaram na retirada de tropas portuguesas das regiões coloniais e na consequente independência de Angola, Moçambique e Cabo Verde. Unicamp 

Questão 9 
“(...) o desencanto com a Nova República era provocado principalmente pelo fracasso dos vários planos econômicos que não conseguiram domar o dragão da inflação. Depois do breve sucesso do Plano Cruzado, de 1986, a arrancada dos preços disparou, esmagando o poder de compra dos brasileiros, especialmente dos mais pobres.” 
(Marly Motta, “Rumo ao planalto”. Disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/ secao/artigos-revista/especial-nova-republica-rumoao-planalto. Acessado em 09/08/2013.) 

a) Explique o que é inflação. 
b) Quais os efeitos do congelamento de pre- ços, base do Plano Cruzado, para a economia brasileira do período? 

resposta da questão 9:
a) Inflação é um conjunto de desequilíbrios econômicos, caracterizados por uma alta substancial e continuada no nível geral dos preços, concomitante com a queda do poder aquisitivo do dinheiro e que, em geral, é causado pelo crescimento da circulação monetária em desproporção com o volume de bens disponíveis. 
b) O Plano Cruzado provocou impacto em todo o país. A ideia de congelamento de preços foi bem acolhida e houve uma mobilização popular em defesa do plano, com os “fiscais do Sarney”. Como a expectativa era extinguir a inflação, o governo acabou com a correção monetária para as cadernetas de poupança, medida mal compreendida por boa parte da população, que resgatou suas economias nos bancos por acreditar que o investimento “não rendia mais”. Seguiu-se uma onda de consumo. Os estoques de lojas e supermercados esgotavam-se rapidamente, certos produtos começaram a faltar no mercado e passa a se cobrar o “ágio”. Era necessária a adoção de medidas para reequilibrar a economia; no entanto, isso implicava na adoção de medidas impopulares para a restrição do consumo. O governo não agiu, segundo muitos autores, por questões eleitorais. Em 15.11.1986 são realizadas eleições gerais no país e o PMDB, partido do presidente Sarney, é o grande vitorioso. No dia 21.11.1986 o governo lançava o Plano Cruzado II, que, entre outras coisas, aumentou consideravelmente uma série de preços e desvalorizou o Cruzado em relação ao dólar. Era a volta da inflação, o que levou ao “desencanto com a Nova República”

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