terça-feira, 14 de setembro de 2010


O Crescimento da Intolerância

Pio Penna Filho


* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com







O 11 de Setembro paira como uma nuvem escura no horizonte norte-americano. Como data traumática na história recente dos Estados Unidos, as feridas provocadas pelos atentados terroristas de 2001 ainda não cicatrizaram. E, pelo visto, isso ainda irá demorar a acontecer.
O anúncio da queima de exemplares do Alcorão por parte de um religioso norte-americano, dentre outras para chamar a atenção para o 11 de Setembro, é sintomático e, ao mesmo tempo, revelador sobre a crescente onda de intolerância que vimos assistindo em diversas partes do mundo. E não se trata apenas de uma questão religiosa.
Na Europa, por exemplo, o governo da França foi duramente admoestado por autoridades da União Européia por sua política discriminatória contra os ciganos. Mesmo sendo cidadãos europeus, portanto com direito a livre circulação no espaço comunitário, esse grupo tem sido perseguido e expulso do país pelas autoridades francesas. Não há outro argumento que não o fato de serem ciganos, o que demonstra a velha característica europeia de discriminação contra as minorias.
Na Europa ocorre também um intenso debate em torno de certos costumes islâmicos que é visto por muitos como mais uma demonstração de intolerância. No caso, citamos a proibição do uso do véu integral em espaços públicos, medida que foi recentemente aprovada pelo Senado da República Francesa.
Voltando aos Estados Unidos, percebe-se que apesar do esforço governamental em tentar aliviar a tensão religiosa, principalmente frente ao islamismo, certos setores da sociedade norte-americana insistem em também radicalizar o discurso religioso. A discussão em torno de se queimar ou não exemplares do Alcorão é apenas uma manifestação desse tipo de fundamentalismo cristão.
Existe muita intolerância contra outros povos que não são derivadas apenas de questões religiosas. Nos Estados Unidos, mas também na Europa, o preconceito contra as pessoas oriundas de países menos desenvolvidos é algo patente. Quem não se lembra do tratamento dado aos brasileiros na Espanha, que costumam ser deportados apenas por serem provenientes de um país sul-americano?
Mas a intolerância não é apenas Ocidental. Em alguns países islâmicos assistimos a um fenômeno semelhante. O Islã, que historicamente foi muito mais tolerante para com outras religiões monoteístas (especialmente com o cristianismo e com o judaísmo) tem se mostrado cada vez mais agressivo, sobretudo na sua vertente fundamentalista.
Infelizmente vivemos num mundo em que, apesar dos exemplos catastróficos produzidos pela intolerância, ainda não conseguimos avançar muito nesse quesito. Há muito perdemos a noção de humanidade em nome de particularismos criados por religiões, por aspectos culturais, étnicos e nacionais. Muito da violência que vivenciamos vem justamente da perda de nossa humanidade. Resgatá-la deveria ser um objetivo permanente de todos os seres humanos.

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