quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Eleição presidencial brasileira de 1989

Em 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves vence as eleições para presidente da República do Brasil no Colégio Eleitoral, encerrando a ditadura militar no país. Entretanto, Neves morre e quem assume o cargo é José Sarney, seu vice. Sarney é visto com suspeita pela população, pois faz parte de uma dissidência da Aliança Renovadora Nacional (rebatizada de Partido Democrático Social em 1980), o partido dos militares, que mais tarde formaria o Partido da Frente Liberal (atual Democratas). Isso sem contar que havia dúvidas constitucionais sobre se era Sarney ou o então presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães, quem deveria assumir o cargo e que foi decisivo o apoio do general Leônidas Pires Gonçalves, indicado por Neves como Ministro do Exército, para que a posse de Sarney se concretizasse. Entretanto, conforme prometido, o governo Sarney redemocratizou o país e, em 1986, ocorreram eleições para formar a Assembléia Nacional Constituinte, que promulgou uma nova constituição em 5 de outubro de 1988. A Constituição determinava a realização de eleições diretas para presidente, governador, senadores e deputados no ano seguinte. Durante o governo Sarney, partidos até então clandestinos como o PSB e o PC do B foram legalizados.
Criou-se a partir de então uma grande expectativa por parte da sociedade brasileira pelas possíveis candidaturas que lançariam para a corrida presidencial de 1989 afinal há quase trinta anos o eleitor brasileiro não elegia seu presidente da República. Uma geração inteira de brasileiros, ainda não eleitora em 1960, quando Jânio Quadros vence as eleições, vota em 1989 pela primeira vez para presidente da República.

SANTIAGO. O interior, ano 16, nº 773, 16 a 21/11/1989.


O cantor paraense Alipio Martins foi bastante sagaz em fazer uma leitura bastante crítica daquele contexto histórico brasileiro ao lançar uma canção intitulada "Os presidenciáveis" em que conjecturava os potenciais candidatos ao cargo de principal mandatário da nação, entre esses digníssimos postulantes eram mencionados os nomes de Lula, Brizola, Jânio Quadros, Ulisses Guimarães, do presidente José Sarney em fim de mandato, e até os nomes do apresentador Silvio Santos (o que acabou por se concretizar por algum tempo) e de Pelé, nomes que desfrutavam de grande popularidade na época, foram citados na letra da música.







Assim sendo, as eleições de 1989 foram as primeiras desde 1960 em que os cidadãos brasileiros aptos a votar escolheram seu presidente da República. Por serem relativamente novos, os partidos políticos estavam pouco mobilizados e vinte e duas candidaturas à presidência foram lançadas. Essa quantidade expressiva de candidatos mantém o recorde de eleição presidencial com mais candidatos. Entre eles, os representantes da esquerda, Leonel Brizola (PDT), Roberto Freire (PCB) e Luís Inácio Lula da Silva (PT). Entre os moderados estavam Ulisses Guimarães, Mario Covas e Aureliano Chaves. Representando a direita concorriam Paulo Maluf (PDS) e Fernando Collor (PRN). Outros candidatos de menor expressão também se habilitaram ao cargo.
A campanha presidencial transcorreu numa conjuntura internacional específica: a do colapso do socialismo e da emergência do neoliberalismo e da globalização. Os dois candidatos mais fortes, Collor e Lula, tinham posições diametralmente opostas. Enquanto Collor defendia o receituário neoliberal, Lula voltava-se para a defesa da justiça social, da reforma agrária, da moratória da dívida externa e de uma política de combate à miséria e ao desemprego.

Lula votando no segundo turno das eleições de 1989.
Como nenhum candidato obteve a maioria absoluta dos votos válidos, isto é, excluídos os brancos e nulos, a eleição foi realizada em dois turnos, conforme a então nova lei previa. O primeiro foi realizado em 15 de novembro de 1989, data que marcava o centésimo aniversário da proclamação da República, e o segundo em 17 de dezembro do mesmo ano. Foram para o segundo turno os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva, da coligação encabeçada pelo Partido dos Trabalhadores, e Fernando Collor de Mello, da coligação encabeçada pelo hoje extinto Partido da Reconstrução Nacional.
O nível de entusiasmo era grande, com artistas participando ativamente da campanha de Lula, cantando o hoje célebre
jingle "Lula Lá" no horário reservado à propaganda eleitoral do candidato. Outros, como Marília Pêra, preferiram apoiar à candidatura de Fernando Collor de Mello e foram duramente criticados mais tarde, durante o processo de impeachment do mesmo.
Durante o segundo turno, um pool de emissoras (
Rede Bandeirantes, Rede Globo, Rede Manchete e SBT) realizou dois debates entre os candidatos.

Lula e Collor no debate televisivo, ao fundo a apresentadora Marília Gabriela.

Durante o Jornal Nacional do dia seguinte, um dos debates (o segundo) foi editado de uma forma em que o candidato do PRN parecia ter se saído melhor do que o do PT. Tal fato foi visto como uma ação de favoritismo político a Collor, que até então mantinha um relacionamento forte com Roberto Marinho, dono da Globo. Muitos atribuem a vitória de Collor na eleição devido a este fato em específico. Mas também há outros que influenciaram o voto do eleitor, como a revelação que a campanha de Collor fez sobre a existência de uma filha que Lula teve fora do casamento. A ex-namorada de Lula participou da campanha de Collor, denunciando aos eleitores que Lula mandou-lhe fazer um aborto e que lhe tinha confessado que odiava negros. Há, entretanto, quem defenda que a simples "inexperiência" de Lula em cargos executivos o fez perder a eleição.
Fernando Collor de Mello e sua ex-esposa, Rosane Collor, em campanha pela presidência.

Novamente para celebrar esse acontecimento histórico brasileiro, o cantor Alipio Martins apresentou mais um exemplo de sua genialidade política, com inteligência política similar a de Juca Chaves, apresenta desta feita as lamentações dos candidatos derrotados no pleito eleitoral daquele ano. Ao longo da letra da canção são ilustrados as falas de Lula que promete fazer um governo paralelo e comenta que só não ganhou por não ter os ternos de Collor e este não possuir a sua barba. Em seguida é a vez de Leonel Brizola que diz "Conseguiram te enganar! Conseguiram me enganar! Eu nadei e morri na lagoa e o que é pior com um sapo barbudo" numa clara referência à aliança entre PT e PDT no segundo turno. A seguir é a vez de Aureliano Chaves, candidato do PFL que se recusou a renunciar em favor do proprietário do Baú da Felicidade que tripudia dizendo que enquanto ele ficará fazendo seus programas de auditório, Chaves ficará em casa de pijamas. Até mesmo o candidato Afif Domingos, aquele que se popularizou pelo jingle "dois patinhos na lagou, vote Afif 22" e pelo slogan "juntos chegaremos lá", é mencionado como aquele que acreditou nas promessas da vidente que havia lhe garantido que este seria eleito e o mesmo acabou caindo como patinho.

Foi uma brilhante leitura do contexto histórico que encheu os brasileiros de esperança em um futuro melhor, com a consolidação da democracia, o controle inflacionário, a estabilidade econômica e principalmente a melhoria dos indicadores sociais no país.


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/eleição_presidencial_brasileira_de_1989

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