Confira a correção do vestibular da FGV Direito Artes e
Questões Contemporâneas
Questão 1
Leia o que segue:
Leia o que segue:
Fragmento I
(...) A partir daí os trabalhadores começam a formar uniões (sindicatos) contra os burgueses; atuam em conjunto na defesa dos salários; fundam associações permanentes que os preparam para esses choques eventuais. Aqui e ali a luta se transforma em motim.
MARX & ENGELS. O Manifesto do Partido Comunista. 2ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1978, p.101
(...) A partir daí os trabalhadores começam a formar uniões (sindicatos) contra os burgueses; atuam em conjunto na defesa dos salários; fundam associações permanentes que os preparam para esses choques eventuais. Aqui e ali a luta se transforma em motim.
MARX & ENGELS. O Manifesto do Partido Comunista. 2ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1978, p.101
Fragmento II
Tenha a coragem de te servir de teu próprio entendimento, tal é, portanto, a divisa do Iluminismo. (...)
Preceitos e fórmulas, instrumentos mecânicos do uso racional, ou antes, do mau uso dos seus dons naturais são os grilhões de uma menoridade perpétua.
KANT, I. Resposta à pergunta. O que é o Esclarecimento. In.http://www.ensnarfilosofia.com.br/_pdfs/e_livors/47,pdf.
Tenha a coragem de te servir de teu próprio entendimento, tal é, portanto, a divisa do Iluminismo. (...)
Preceitos e fórmulas, instrumentos mecânicos do uso racional, ou antes, do mau uso dos seus dons naturais são os grilhões de uma menoridade perpétua.
KANT, I. Resposta à pergunta. O que é o Esclarecimento. In.http://www.ensnarfilosofia.com.br/_pdfs/e_livors/47,pdf.
a) Relacione cinema e crítica social, tendo como referência o fragmento I e o documentário Cabra Marcado para morrer, contextualizando socialmente e historicamente.
b) Pensando Gregor Samsa – personagem de A Meta mor - fose de Kafka – como um homem comum do mundo moderno, indique pelo menos dois grilhões que o impedem de sair da menoridade, referindo-se ao fragmento II, de Kant.
Resolução
a) Na década de 1960, com grande influência das ideias socialistas e divulgação do pensamento político de Marx, ocorreu efervescência cultural no mundo e no Brasil. Jânio Quadros, em nosso país, estabelecera relações diplomáticas com a URSS. João Goulart, presidente após a renúncia daquele, lançara um plano de reformas sociais, incluindo a tributária e a agrária. Com o advento da Ditadura Militar, os estudantes se organizaram em movimentos de contestação de inspiração esquer dis ta. Assistiu-se também a uma organização polí tica dos trabalhadores e das Ligas Camponesas. Esse engajamento exemplifica o texto de Marx e Engels. O cinema brasileiro, seguindo uma ten dên cia mundial, refletiu esse momento histórico, adotando uma postura de arte politicamente engajada, propondo uma estética inovadora de crítica e contestação da ordem social em seus valores burgueses e capitalistas.
O filme Cabra Marcado para Morrer, dirigido por Eduardo Coutinho, de 1984, é um documentário brasileiro que retrata a vida de João Pedro Teixeira, um líder camponês da Paraíba que foi assassina do em 1962. As filmagens foram interrompidas com o advento da Ditadura Militar em 1964; a equipe de filmagem foi presa, sob a alegação de influência comunista, levando 17 anos para que as filmagens fossem retomadas. Tal filme tornou-se um exemplo de produção de sétima arte engajada, refletindo um momento histórico de tensão de reflexos da Guerra Fria no Brasil.
b) A obra A Metamorfose de Fanz Kafka, de 1912, retrata a vida de Gregor Samsa, um caixeiroviajante que perdera autonomia, anulando-se enquanto pessoa ao se tornar responsável pelas despesas de casa e de sua família. Numa manhã, Gregor se vê transformado, em sua cama, num grande inseto e inicia uma longa reflexão sobre sua condição de existência, na verdade, feita por Kafta para o leitor. Seu pai e sua irmã começam a trabalhar e sublocam cômodos da casa. Gregor é isolado e trancado em seu quarto, sendo visitado apenas pela irmã. Sua transformação é um alerta contra a condição alienante da vida humana, sobretudo nas relações sociais e de trabalho que estabelecemos. Trata-se de uma obra sob a influência de um período de crítica e de um autor que revelara um aguçado senso crítico, especialmente no que diz respeito à reflexão sobre o desespero humano diante do absurdo da existência.
O texto II de Immanuel Kant, do século XVIII, já advertia contra a condição de menoridade dos homens, sob o jugo da ignorância, e acreditava que pelo desenvolvimento e uso da razão seria possível chegar à maioridade. Sobre o homem moderno, pensando um pouco sobre a citação e a novela de Kafka, há vários grilhões que o conduzem a uma existência alienada não reflexiva, como as relações capitalistas de trabalho, em que o sujeito não se reconhece como produtor e não é senhor do fruto do seu trabalho; a cultura do consumismo, em que o sentido da vida parece se esgotar no prazer e necessidade de produzir, comprar e consumir; e nas relações humanas, como pode ocorrer em família, quando o indivíduo está sempre preocupado e absorvido pelas obrigações de rotina, de sustento e de cumprimento de papéis sociais, e perde autonomia, anulando-se enquanto sujeito destinado a conduzir autenticamente sua própria existência, como diria o filósofo alemão Martin Heidegger.
O texto II de Immanuel Kant, do século XVIII, já advertia contra a condição de menoridade dos homens, sob o jugo da ignorância, e acreditava que pelo desenvolvimento e uso da razão seria possível chegar à maioridade. Sobre o homem moderno, pensando um pouco sobre a citação e a novela de Kafka, há vários grilhões que o conduzem a uma existência alienada não reflexiva, como as relações capitalistas de trabalho, em que o sujeito não se reconhece como produtor e não é senhor do fruto do seu trabalho; a cultura do consumismo, em que o sentido da vida parece se esgotar no prazer e necessidade de produzir, comprar e consumir; e nas relações humanas, como pode ocorrer em família, quando o indivíduo está sempre preocupado e absorvido pelas obrigações de rotina, de sustento e de cumprimento de papéis sociais, e perde autonomia, anulando-se enquanto sujeito destinado a conduzir autenticamente sua própria existência, como diria o filósofo alemão Martin Heidegger.
Questão 2
Não deveríamos conceber a sociedade como dividida apenas em dois setores, o Estado e o mercado – ou o público e o privado. No meio há a área da sociedade civil, que inclui a família e outras instituições não econômicas.
A sociedade civil é a arena em que atitudes democráticas [baseadas na igualdade de direitos e deveres] têm de ser desenvolvidas.
GIDDENS, A. Mundo em descontrole. O que a globalização está
fazendo de nós. R de Janeiro: Record, 2011, p. 86-7 (modificado)
A proposição de Giddens confirma ou desmente os elementos centrais do texto visual? Explique.
A sociedade civil é a arena em que atitudes democráticas [baseadas na igualdade de direitos e deveres] têm de ser desenvolvidas.
GIDDENS, A. Mundo em descontrole. O que a globalização está
fazendo de nós. R de Janeiro: Record, 2011, p. 86-7 (modificado)
A proposição de Giddens confirma ou desmente os elementos centrais do texto visual? Explique.
Resolução
A charge revela o quanto a realidade está distante do que é proposto pelo sociólogo Giddens no texto. A sociedade moderna capitalista está de fato absorvida por interesses e valores contraditórios. A moral priva da sugerida na charge (“cotovelo na mesa não”) perde valor e importância ética e esvazia-se de significado quando comparada ao comportamento antiético na defesa dos interesses de mercado do mesmo sujeito. Giddens sabe disso e sua proposta torna-se, assim, muito oportuna ao indicar como solução dessas contradições que desenham a estrutura de nossa sociedade o desenvolvimento de atitudes democrá ticas, cuja arena é a sociedade civil.
Nesse sentido, pode-se dizer que o texto visual confirma e revela a neces sidade colocada no texto de Giddens.
A charge revela o quanto a realidade está distante do que é proposto pelo sociólogo Giddens no texto. A sociedade moderna capitalista está de fato absorvida por interesses e valores contraditórios. A moral priva da sugerida na charge (“cotovelo na mesa não”) perde valor e importância ética e esvazia-se de significado quando comparada ao comportamento antiético na defesa dos interesses de mercado do mesmo sujeito. Giddens sabe disso e sua proposta torna-se, assim, muito oportuna ao indicar como solução dessas contradições que desenham a estrutura de nossa sociedade o desenvolvimento de atitudes democrá ticas, cuja arena é a sociedade civil.
Nesse sentido, pode-se dizer que o texto visual confirma e revela a neces sidade colocada no texto de Giddens.
Questão 3
Em Domingo no Parque Gilberto Gil usa a capoeira – jogo, dança e luta –, e uma sequência de imagens como recursos para cantar uma história.
Leia alguns de seus versos:
Juliana girando/ Oi girando!/ Oi na roda gigante/ Oi girando/ (...)
Juliana girando/ Oi girando!/ Oi na roda gigante/ Oi girando/ (...)
O amigo João/ João! O sorvete é morango/
É vermelho!/ Oi girando e a rosa/ É vermelha!/
É vermelho!/ Oi girando e a rosa/ É vermelha!/
Oi girando, girando/ É vermelha!/ Oi girando, girando/
Olha a faca!/ Olha a faca!/ Olha o sangue na mão/
Olha a faca!/ Olha a faca!/ Olha o sangue na mão/
É, José!/ Juliana no chão/ É, José!/ Outro corpo caído/
É, José!/ Seu amigo João/ É, José!
a) Formule o enredo desta história.
b) Esta canção dialoga com que tipos de artes? Dê pelo menos dois exemplos e justifique-os.
b) Esta canção dialoga com que tipos de artes? Dê pelo menos dois exemplos e justifique-os.
Resolução
a) Uma tragédia de triângulo amoroso em espaço público (um parque) em que José, ciumento, em uma luta de capoeira e usando uma faca, mata sua namo rada Juliana e o amigo João.
a) Uma tragédia de triângulo amoroso em espaço público (um parque) em que José, ciumento, em uma luta de capoeira e usando uma faca, mata sua namo rada Juliana e o amigo João.
b) A canção dialoga com a capoeira, elemento que marca a miscigenação da cultura popular nacional e que guarda uma fusão de manifes tações artísticas, como a dança, a luta, o gingado. A canção apresenta riqueza literária ao usar de metonímia, pela repetição obsessiva sonora das palavras (“Juliana girando / Oi girando / Oi na roda gigante / Oi girando / Oi na roda gigante / Oi girando / O amigo João / João”), além do ritmo, sugerindo um embate crescente. O que é mais interessante na letra é que, ao invés de usar uma linguagem descritiva do fato, o autor usa uma sequência de imagens visuais – a rosa e o sorvete vermelho – como metáforas da violência. Os tropicalistas inovaram justamente ao introduzir imagens alegóricas e efeitos concretistas de literatura e musicalidade. Buscava-se sobretudo identificar, por meio de imagens populares e nacio nais, panoramas de um novo Brasil, marcado pela industrialização, pela concentração de renda e pela violenta e problemática urbanização.
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