terça-feira, 30 de novembro de 2010


O Império Desnudado

Pio Penna Filho*

Novas e indiscretas revelações do site Wikileaks (www.wikileaks.org) recolocaram o governo norte-americano numa situação extremamente desconfortável perante a comunidade internacional. As informações divulgadas pelo site são sensíveis e perturbadoras para as autoridades dos Estados Unidos.
Muitas das informações divulgadas não são necessariamente novidades. A novidade em si é que elas confirmam o que muitos pensavam e/ou suspeitavam sobre a atuação dos Estados Unidos pelo mundo afora.
Revelam também as indiscrições cometidas por agentes públicos de diversos países em conversas com diplomatas norte-americanos, como o caso do Ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, que teria dito que o presidente boliviano, Evo Morales, teria um tumor no nariz. Ora, o que tem a ver Nelson Jobim e o governo brasileiro com uma questão tão íntima do presidente Evo Morales?
Aliás, a documentação, nesse caso, revela também a percepção que os Estados Unidos tem do Brasil. Para eles, somos, em vários aspectos, competidores e não aliados automáticos e confiáveis. Confiável é o ministro Jobim, que faz as vezes do agente pró-americano no governo brasileiro, em contraponto ao ministro Celso Amorim, visto com grande desconfiança.
Com relação ao Brasil nota-se ainda a obsessão norte-americana em encontrar na tríplice fronteira (Argentina-Brasil-Paraguai) a atuação de grupos terroristas islâmicos. Mesmo que não existam evidências concretas sobre isso, o assunto foi motivo de vários encontros de diplomatas norte-americanos com autoridades brasileiras. O mesmo deve ter ocorrido nos países vizinhos. A lição é clara: na ausência do inimigo, nós os criamos!
Dentre outras revelações, a da existência de armas nucleares táticas norte-americanas em vários países europeus é reveladora da persistência de dinâmicas relacionadas à finada Guerra Fria. Por que os Estados Unidos ainda mantém armas nucleares táticas (de curto e médio alcance) em países como a Holanda e a Bélgica? Por que os governos desses países permitem que esse tipo de armamento continue estocado em seus territórios? Chega a ser até uma contradição com todo o discurso norte-americano relacionado à proliferação nuclear.
Outra revelação: parece não existir uma claraseparação entre a pura espionagem e a diplomacia dos Estados Unidos. Monitoramento de autoridades, conversas indiscretas que são retransmitidas a agências de segurança, preocupação excessiva focada no chamado “terrorismo” internacional e outras matérias acabam desqualificando os diplomatas dos Estados Unidos espalhados pelos quatro cantos do mundo, inclusive no Brasil.
Agora o governo norte-americano tenta pressionar o fundador e os administradores do site, buscando encontrar brechas legais para incriminá-los. Se o estrago para a imagem dos Estados Unidos foi grande, essas revelações são alvissareiras para o resto do mundo, uma vez que desnudam a forma de atuação e a falta de escrúpulos dos norte-americanos em termos de diplomacia e espionagem.

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