terça-feira, 22 de junho de 2010

Colômbia pós Uribe – o que muda?

Pio Penna Filho*

As eleições na Colômbia consagraram o candidato governamental como o próximo presidente do país. Juan Manuel Santos obteve cerca de 70% dos votos e em seu discurso de vitorioso tentou mostrar que fará um governo diferente do de Uribe. Considerando as condições políticas da Colômbia é difícil acreditar que haverá grandes mudanças, ainda mais com um candidato que foi ministro da Defesa e representa, de alguma forma, mais a continuidade do que a mudança.
A Colômbia ocupa um espaço peculiar entre os países sul-americanos. É o que tem mais aproximação com os Estados Unidos e o mais deslocado quando se considera a tendência política predominante na região, que pende mais para governos de centro-esquerda ou de centro no espectro político latino-americano. É também o único país que tem problemas específicos de segurança interna relacionados a atuação de uma guerrilha que, embora decadente, continua atuante. Associado a isso ainda existe a questão do narcotráfico, de difícil solução.
O governo Uribe pode ser considerado, em termos gerais, uma administração bem sucedida. Em termos de segurança, um aspecto extremamente relevante para o país, quando nada, conseguiu impor o ritmo do Estado, colocando a guerrilha na retaguarda ao lhe impor uma série de derrotas, tanto militares quanto políticas. Se, por um lado, o seu desempenho econômico não foi nada além do padrão da América Latina, por outro, também não ficou atrás, mantendo a média de crescimento da região.
Num balanço geral, o ponto mais fraco do período Uribe foi a sua política externa, especialmente em termos regionais. Nesse sentido, a Colômbia não conseguiu entrar em sintonia com a maior parte dos seus vizinhos. Em parte isso se deveu à aproximação com os Estados Unidos, vista a partir de Bogotá como essencial para o sucesso no combate às Farcs. Todavia, a ajuda dos Estados Unidos implicava também numa série de contrapartidas por parte da Colômbia, e esse elemento foi decisivo para comprometer as relações com os vizinhos, especialmente com a Venezuela e com o Equador, mas não somente.
Diante desse breve resumo, não se pode esperar por grandes mudanças na Colômbia sob o governo de Juan Manuel Santos. Embora o Estado tenha tomado a rédea da situação no que diz respeito a atuação da guerrilha, ela não foi de todo suprimida e isso implica na continuidade das ações repressivas por parte do governo e na continuidade das relações especiais com os Estados Unidos.
Para a administração de Juan Manuel Santos não se trata apenas de aceitar a herança do governo Uribe, mas sim, e de certa forma, de ser ele a continuidade daquele governo. O que se pode esperar, pelo menos no início de sua administração, é uma vontade política de distensão com os vizinhos que já não existia mais na Colômbia sob Uribe. A questão é saber até que ponto o relacionamento especial com os Estados Unidos não será um fator determinante para travar qualquer iniciativa mais séria nesse sentido.

* Professor do Instituto de Relações Internacionais da USP e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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