África: o Continente da Copa
Pio Penna Filho*
Pela primeira vez a Copa do Mundo de Futebol será realizada em solo africano. Notícia alvissareira para boa parte dos africanos que, assim como os brasileiros, adoram o futebol. Essa é uma rara oportunidade que coloca a África no centro das atenções dessa modalidade tão especial do esporte. Outro ponto importante, que vem como efeito colateral da realização da Copa na África, é colocar o continente no centro das atenções mundiais, o que será uma oportunidade e tanto para ajudar a desfazer uma série de visões equivocadas sobre a África como um todo.
Embora ainda persista uma visão pessimista sobre quase tudo o que diz respeito ao continente africano, felizmente essa perspectiva está começando a mudar. Ainda está muito forte no imaginário popular uma percepção negativa da África, geralmente associada ao fracasso dos seus Estados, às várias guerras civis que ocorreram simultaneamente durante a década de 1990, às epidemias, à fome, enfim, a um quadro essencialmente negativo que vigorou durante muitos anos e que comprometeu a imagem internacional de praticamente todo o continente.
Pio Penna Filho*
Pela primeira vez a Copa do Mundo de Futebol será realizada em solo africano. Notícia alvissareira para boa parte dos africanos que, assim como os brasileiros, adoram o futebol. Essa é uma rara oportunidade que coloca a África no centro das atenções dessa modalidade tão especial do esporte. Outro ponto importante, que vem como efeito colateral da realização da Copa na África, é colocar o continente no centro das atenções mundiais, o que será uma oportunidade e tanto para ajudar a desfazer uma série de visões equivocadas sobre a África como um todo.
Embora ainda persista uma visão pessimista sobre quase tudo o que diz respeito ao continente africano, felizmente essa perspectiva está começando a mudar. Ainda está muito forte no imaginário popular uma percepção negativa da África, geralmente associada ao fracasso dos seus Estados, às várias guerras civis que ocorreram simultaneamente durante a década de 1990, às epidemias, à fome, enfim, a um quadro essencialmente negativo que vigorou durante muitos anos e que comprometeu a imagem internacional de praticamente todo o continente.
Mas as coisas estão mudando rapidamente do outro lado do Atlântico. O quadro caótico dos anos 1990 já é coisa do passado. Vários conflitos foram superados e a paz voltou a reinar em muitos países que viveram num verdadeiro inferno até poucos anos atrás.
Num período relativamente curto de tempo, com o seu início verificado ainda no final da década de 1990, a maior parte dos países africanos conseguiu retomar o crescimento econômico e a estabilidade política, revertendo um período de profunda crise e exaustão. Hoje, a realidade africana é bem diferente, embora em algumas regiões e países a situação de crise persista, mas agora como exceção.
Um dado que mostra a retomada do crescimento na África é que nos últimos dez anos a média de crescimento do produto interno bruto dos países do continente se situou entre 5,5 e 6%. Acima, portanto, da média dos outros continentes. Assim como houve crescimento econômico e incremento do comércio internacional, vem ocorrendo um substancial aumento dos investimentos estrangeiros no continente, o que demonstra que os investidores estão retomando a confiança e, naturalmente, os lucros na África.
Outro dado importante é que os países mais desenvolvidos e os chamados emergentes, como a China, a Índia e o Brasil, estão, por assim dizer, redescobrindo a África. Isso é importante porque demonstra o renovado interesse pelo continente, o que acaba influenciando positivamente sua nova inserção internacional.
Todavia, mais importante do que tudo o que foi dito acima, é que os próprios africanos estão repensando sua trajetória política e econômica e agindo de forma mais positiva com relação ao presente e ao futuro. Há uma nova elite política mais preocupada com o desenvolvimento econômico, com a democracia, com os direitos humanos, com a questão social, enfim, preocupada com o que poderíamos chamar de um recomeço, ou de um verdadeiro renascimento, como preferem muitos intelectuais africanos.
O Brasil tem acompanhado essas transformações de perto. Aumentamos nossa rede de embaixadas na África e revigoramos nossa política africana, fato que já tem dado resultados concretos em termos de aumento do comércio e dos investimentos brasileiros na África.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da USP e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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