Confira a correção do vestibular da Unicamp 2013
Questão 1
A sabedoria de
Sócrates, filósofo ateniense que viveu no século V a.C., encontra o seu ponto
de partida na afirmação “sei que nada sei”, registrada na obra Apologia
de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que afirmavam que ele era o
mais sábio dos homens. Após interrogar artesãos, políticos e poetas,
Sócrates chegou à conclusão de que ele se diferenciava dos demais por
reconhecer a sua própria ignorância.
O “sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filosofia, pois
a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer adquirir conhecimentos.
b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do passado, uma vez que a função da Filosofia era reproduzir os ensinamentos dos filósofos gregos.
c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filosofia é o saber que estabelece verdades dogmáticas a partir de métodos rigorosos.
d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer distante dos problemas concretos, preocupandose apenas com causas abstratas.
O “sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filosofia, pois
a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer adquirir conhecimentos.
b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do passado, uma vez que a função da Filosofia era reproduzir os ensinamentos dos filósofos gregos.
c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filosofia é o saber que estabelece verdades dogmáticas a partir de métodos rigorosos.
d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer distante dos problemas concretos, preocupandose apenas com causas abstratas.
resposta:[A]
A questão pode assustar no primeiro contato ao questionar o aluno a respeito da
tradição filosófica socrática, porém uma leitura cuidadosa das alternativas disponíveis não deixa
dúvida que a única
alternativa correta é aquela que faz menção ao papel da Filosofia como a área do conhecimento que exige um constante aprendizado, a partir do reconhecimento da dúvida como ponto de partida para a aquisição do conhecimento.
alternativa correta é aquela que faz menção ao papel da Filosofia como a área do conhecimento que exige um constante aprendizado, a partir do reconhecimento da dúvida como ponto de partida para a aquisição do conhecimento.
Questão 2
Alexandre von Humboldt (1769-1859)
foi um cientista que analisou o processo das descobertas marítimas do século
XVI, classificando-o como um avanço científico ímpar. A descoberta do Novo Mundo
foi marcante porque os trabalhos realizados para conhecer sua geografia tiveram
incontestável influência no aperfeiçoamento dos mapas e nos métodos
astronômicos para determinar a posição dos lugares. Humboldt constatou a
importância das viagens imputando-lhes valor científico e histórico.
(Adaptado de H. B. Domingues, “Viagens
científicas: descobrimento e colonização no Brasil no século XIX”, em Alda
Heizer e
Antonio A. Passos Videira, Ciência,
Civilização e Império nos trópicos. Rio de Janeiro: Acess Editora, 2001, p. 59.)
Assinale a alternativa correta.
a) O tema dos descobrimentos
relaciona-se ao estudo da inferioridade da natureza americana, que justificava
a exploração colonial e o trabalho compulsório.
b) Humboldt retoma o marco
histórico dos descobrimentos e das viagens marítimas e reconhece suas contribuições
para a expansão do conhecimento científico.
c) Os conhecimentos anteriores às
proposições de Galileu foram preservados nos mapas, métodos astronômicos e
conhecimentos geográficos do mundo resultantes dos descobrimentos.
d) Os descobrimentos tiveram grande
repercussão no mundo contemporâneo por estabelecer os parâmetros religiosos e
sociais com os quais se explica o processo da independência nas Américas.
resposta:[B]
Ao analisar o papel exercido
pelo processo de Expansão Marítima, Humboldt
destaca a inegável contribuição deste evento histórico no aprimoramento da
cartografia e dos métodos astronômicos, deste modo reconhecendo-o como de
grande importância cientifica e histórica. Na alternativa "c" a UNICAMP
tentou levar o aluno a se confundir ao afirmar que os conhecimentos
cartográficos foram preservados, incorrendo em erro.
Questão 3
“Quando os portugueses começaram
a povoar a terra havia muitos destes índios pela costa junto das Capitanias. Porque
os índios se levantaram contra os portugueses, os governadores e capitães os destruíram
pouco a pouco, e mataram muitos deles. Outros fugiram para o sertão, e assim
ficou a costa despovoada de gentio ao longo das Capitanias. Junto delas ficaram
alguns índios em aldeias que são de paz e amigos dos portugueses.”
(Pero de Magalhães Gandavo, Tratado
da Terra do Brasil, em http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/ganda1.html. Acessado
em 20/08/2012.)
Conforme o relato de Pero de
Gandavo, escrito por volta de 1570, naquela época,
a) as aldeias de paz eram aquelas
em que a catequese jesuítica permitia o sincretismo religioso como
forma de solucionar os conflitos
entre indígenas e portugueses.
b) a violência contra os
indígenas foi exercida com o intuito de desocupar o litoral e facilitar a circulação do ouro entre as minas
e os portos.
c) a fuga dos indígenas para o
interior era uma reação às perseguições feitas pelos portugueses e ocasionou o esvaziamento da costa.
d) houve resistência dos
indígenas à presença portuguesa de forma semelhante às descritas por Pero Vaz de Caminha, em 1500.
resposta:[C]
De acordo com o documento do
cronista Pero de Gandavo, os indígenas fugiam para o interior (sertão) como
forma de resistência à presença portuguesa. Desde o início do período colonial,
vários grupos se opuseram aos lusos, ocasionando diversos conflitos entre
nativos e europeus. Fugir e se “interiorizar” dificultava a ação dos
portugueses, na medida em que as matas eram locais desconhecidos e temidos, com
caminhos fechados, animais ferozes e de difícil sobrevivência, seja pelo calor
ou pela dificuldade de se encontrar alimentação. Interessante que o texto
citado também mostra que, em muitos casos,
algumas sociedades indígenas também estabeleciam sistemas de alianças
com os portugueses.
Questão 4
“Uma pobre mulher, enforcada em 1739
por ter roubado carvão, acreditava que não houvesse pecado nos pobres
roubarem os ricos e que, de qualquer forma,Cristo havia morrido para obter o perdão para
tais pecadores.”
(Christopher Hill, A Bíblia
Inglesa e as revoluções do século XVII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2003, p. 608.)
Considerando o trecho acima, podemos
afirmar, quanto à sociedade inglesa dos séculos XVII e XVIII, que:
a) A religião fornecia argumentos
para diversos grupos sociais agirem de acordo com seus interesses e
necessidades.
b) Ainda dominava na sociedade
inglesa a ideia da necessidade da confissão intermediada pela Igreja para
perdão dos pecados.
c) A reforma anglicana, ao atacar
a propriedade privada, distanciou-se das elites inglesas e tornou-se a religião
dos pobres.
d) As revoluções Puritana e
Gloriosa foram um obstáculo ao desenvolvimento burguês da Inglaterra e
contrapunham-se à relação entre religião e política.
resposta:[A]
A questão explora as
consequências da Reforma na Inglaterra, passados mais de 200 anos após o Ato de
Supremacia de Henrique VIII, de 1534, que fundou a Igreja Anglicana. No caso, demonstra-se
a interpretação de uma “uma pobre mulher” em relação ao que seria o pecado, recorrendo
à tradição reformista de livre interpretação da bíblia. Por este motivo, a
alternativa “A” está correta, pois cada grupo utilizava os argumentos
religiosos para justificar seus interesses na sociedade inglesa.
A alternativa “B” poderia
confundir o candidato, mas está incorreta devido à afirmação de que ainda era dominante na sociedade inglesa do século XVIII a ideia
de confissão intermediada pela igreja oficial. Além da ideia da livre interpretação da bíblia, central
na doutrina protestante, diversos grupos ingleses se opunham a supremacia da Igreja Anglicana, não
sendo esta, com isso, predominante na sociedade.
Questão 5
As exposições universais do
século XIX, sobretudo as de Londres e Paris, se caracterizavam
a) pelo louvor à superioridade
europeia e pela apresentação otimista da técnica e da ciência.
b) pela crítica à expansão sobre
a África, movimento considerado um freio ao progresso europeu.
c) pela crítica marxista aos
princípios burgueses dominantes nos centros urbanos europeus.
d) pelo elogio das sociedades burguesas associadas às vanguardas
da época, como oCubismo, o Dadaísmo e o
Surrealismo.
resposta:[A]
A questão aborda as
transformações culturais em voga na Europa do século XIX, momento em que a "superioridade" europeia e a "infalibilidade"
da ciência eram celebradas como bases do modelo civilizatório imposto sobre a África e a
Ásia. Desta forma, as exposições atraiam milhares de visitantes,
ávidos por consumir as inovações e, ao mesmo tempo, partilhar de forma
coletiva do otimismo diante de um mundo
que se iluminava pela luz elétrica, ao mesmo tempo em que as distâncias eram
encurtadas pela difusão do motor à combustão, entre outras inovações da época.
Questão 6
Assinale a afirmação correta sobre a política no Segundo
Reinado no Brasil.
a) Tratava-se de um Estado centralizado, política e
administrativamente, sem condições de promover a expansão das forças produtivas
no país.
b) O imperador se opunha ao sistema eleitoral e exercia os
poderes Moderador e Executivo, monopolizando os elementos centrais do sistema
político e jurídico.
c) O surgimento do Partido Republicano, em 1870, institucionalizou
uma proposta federalista que já existia em momentos anteriores.
d) A política imigratória, o abolicionismo e a separação
entre a Igreja e o Estado
fortaleceram a monarquia e suas bases sociais, na década de 1870.
resposta:[C]
A política imperial durante o Segundo Reinado permitiu o
desenvolvimento do café e o investimento nos anos da chamada “Era Mauá”. Do
mesmo modo, o imperador permitia a eleição para a Câmara dos Deputados e para o
Senado, sendo que o Executivo era exercido pelo Chefe do Gabinete Ministerial. A
separação entre a Igreja e o Estado somente ocorreu durante o Governo
Provisório da República. Dessa maneira, a alternativa C aparece como a única
possível, pois os partidos republicanos resgatam as propostas federalistas
anteriormente presentes durante o Período Regencial. Contudo, a alternativa C
pode ser discutível pelo termo “institucionalizou”, pois durante as regências
setores do Partido Liberal já propunham medidas federalistas.
Questão 7
Em discurso proferido no dia 12/03/1947,
o presidente dos EUA, Harry Truman, afirmou:
“O governo grego tem operado numa
atmosfera de caos e extremismo. A extensão da ajuda a esse país não quer dizer
que os Estados Unidos estão de acordo com tudo o que o seu governo tem feito ou
fará. No momento atual da história do mundo quase todas as nações se veem na
contingência de escolher entre modos alternativos de vida. E a escolha, frequentes
vezes, não é livre.”
(Harold C. Syrett (org.), Documentos Históricos dos Estados Unidos. São
Paulo: Cultrix, 1980, p. 316-317.)
Considerando o discurso do
presidente Truman, bem como os processos históricos do pós Segunda Guerra
Mundial, é correto afirmar que:
a) A “contingência de escolher
entre modos alternativos de vida” se referia à escolha entre o fascismo alemão
e a democracia liberal.
b) O caos do governo grego era
uma referência aos problemas da Grécia com o Mercado
Comum Europeu e a necessidade de
ajuda ao governo de Atenas.
c) O discurso nasceu do declínio
do auxílio britânico na região da Grécia e da ascensão norte-americana no
contexto da Guerra Fria.
d) O discurso é uma resposta ao
Plano Marshall, que o governo de Londres tentava impor à Grécia, por meio do
Banco Central Europeu.
resposta:[C]
Logo de imediato, o aluno eliminaria nesta
questão as alternativas "b" e "d" por apresentarem informações anacrônicas, uma vez
que o BCE foi fundado apenas em 1998 e o
Mercado Comum Europeu nasceria apenas em 1957, com a entrada da Grécia ainda
após este momento. Por fim, a questão "a" se anula ao tratar da
continuidade do fascismo alemão após 1945. Com o fim da guerra estabeleceu-se a
Guerra Fria em que as nações deveriam se posicionar dentro de um mundo bipolar liderado
pelos Estados Unidos e pela União Soviética, com a inquestionável superação do
modelo fascista. Com a guerra as antigas potências europeias entraram em
declínio, permitindo a ascensão norte-americana como a nova força política e
econômica do Ocidente.
Questão 8
O estudo da Ilustração nunca mais
foi o mesmo após o holocausto, durante a Segunda
Guerra Mundial. A crença ingênua
no poder regenerador da razão
inviabilizou-se.
Estilhaçou-se a cômoda certeza de
que as Luzes foram a filosofia da burguesia triunfante, e dos quatro pontos da
Europa surgiram evidências acerca da amplitude e variação do fenômeno, que não
caberia mais considerar nem apenas burguês, nem eminentemente francês, nem
restrito ao século XVIII.
(Adaptado de Laura de Mello e
Souza, em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigo /aspaixoesintelectuais.
Acessado em 20/08/2012.)
A partir do texto, é correto
afirmar que:
a) A experiência do holocausto, no
século XX, pode ser interpretada como a negação do projeto das Luzes, porque
rejeita a eficácia do poder do Estado.
b) A compreensão das Luzes não se
prende à explicação do triunfo da burguesia, exigindo um estudo mais amplo
sobre seus impactos na Europa.
c) O projeto das Luzes difundia o
ideário do progresso e, contraditoriamente, ensejava o conhecimento científico.
d) O ideário das Luzes ajuda a
compreender as revoluções liberais dos séculos XVIII e XIX, que defendiam a
intolerância religiosa.
resposta:[B]
A partir do texto citado na
questão, é possível perceber a crítica que se faz ao chamado pensamento das
“Luzes”. O Iluminismo do século XVIII foi um movimento de questionamento de
antigas verdades e baseava-se na ideia de “ousar saber”, de inquietude, de
incertezas e, portanto, de manter um ininterrupto questionamento racional sobre
as mais variadas questões sociais e políticas. O século das luzes, nesse
sentido, pressupunha a racionalização do Estado, na prática da eficiência
estatal, como movimento reformador de práticas governamentais. No entanto, a
questão propõe uma crítica a essa racionalização, que foi utilizada de modo violento pela máquina burocrática do
Partido Nazista, na eliminação racional e
sistemática de grupos considerados inferiores e passíveis de extermínio.
Questão 9
O Na América Latina, África, Ásia
e Europa, a violência deixou uma marca de sofrimento e luto no contexto de
regimes ditatoriais, guerras civis ou invasões ao longo do século XX.
Passados os conflitos, as
próprias sociedades têm buscado estabelecer a verdade sobre os crimes ocorridos.
Neste contexto, mais de 30 países do mundo criaram Comissões da
Verdade, que são organismos de
investigação não judiciais.
(Adaptado de Museo de la Memória
y los Derechos Humanos, em http://www.museodelamemoria.cl/elmuseo/sobre-elmuseo/comisiones-deverdad/.Acessado
em 20/08/2012.)
As Comissões da Verdade
a) surgiram em países que tiveram
experiências traumáticas, como as ditaduras no Chile e Brasil, e foram
organizadas durante as lutas de resistência aos regimes ditatoriais.
b) sustentam que o conhecimento
do passado interessa às vítimas e seus familiares, devendo ficar restrito a
esse universo privado.
c) constituem instrumento
político que tem como objetivo o estabelecimento de sentenças judiciais aos
culpados e o pagamento de indenizações às vítimas.
d) existem em vários países, o
que indica que as práticas autoritárias não foram umfenômeno de uma só nação, nem
se restringiram a uma única forma de conflito.
resposta:[D]
O fragmento de texto mencionado
destaca as mais diversas ditaduras ocorridas em diferentes locais do mundo, caracterizadas
como “regimes ditatoriais”, “guerras civis” ou “invasões”, ou seja, são fenômenos
com características próprias e de acordo com os contextos específicos de cada
região. Além disso, o documento afirma
que as Comissões da Verdade não se tratam de investigações judiciais.
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