Pio Penna Filho*
A realização da Copa do Mundo de Futebol na África foi um bom momento para que os africanos mostrassem ao mundo que também são capazes de organizar um evento dessa magnitude. Um pouco antes do início do campeonato, muitas pessoas ao redor do mundo duvidavam de que isso fosse possível. Analistas de primeira hora, que nada conhecem sobre a África, foram os que mais levantaram essa lebre.
Esse pensamento seguiu um roteiro mais ou menos previsto, ou seja, prevaleceu inicialmente o que chamamos de “afropessimismo”, uma ideia preconceituosa de que quase tudo que tenha relação com o continente africano é abordado previamente de maneira negativa. Esse tipo de pensamento tem origens históricas e está estreitamente relacionado com o racismo contra as populações negras, predominantes no continente africano.
Num balanço geral, a realização da Copa na África foi positiva em muitos sentidos. Em primeiro lugar, foi uma oportunidade para mostrar ao mundo um pouco da beleza natural da África do Sul e da hospitalidade e alegria dos sul-africanos. Esse contato cultural, por si só, já serviu como um ótimo momento que certamente desfez vários dos preconceitos relativos à África e aos africanos. Muitas pessoas que nunca tinham visitado a África voltaram para os seus países com uma outra visão sobre a realidade de parte do continente e de sua população.
Em segundo lugar, o sucesso da Copa propiciou um elemento geralmente pouco considerado nas análises mais tradicionais mas que tem uma relevância inconteste. Refiro-me ao fato de que os sul-africanos em especial, e os africanos, no geral, puderam elevar a sua auto-estima ao se verem no centro de um grande evento internacional. Isso não tem preço.
Gostaria de chamar a atenção para mais um aspecto: é um equívoco tentar analisar a realização de uma Copa do Mundo seguindo apenas a lógica da economia. Muitas pessoas tentam identificar as vantagens meramente em termos econômicos, chegando a questionar se países como a África do Sul e o Brasil podem se dar ao luxo de um investimento tão elevado em infra-estrutura, sobretudo quando se considera o grande déficit social que possuímos. No caso da África, como tento argumentar, os ganhos não foram tanto em termos econômicos, mas sim em termos políticos e sociais.
Mas é preciso lembrar que a África do Sul é apenas uma parte da África, e não deve ser tomada pelo todo. Se existe um elemento que sintetize o continente africano, esse é o da diversidade. Na verdade, existem várias “Áfricas”, com povos, costumes, culturas, línguas, religiões, regimes políticos e características econômicas próprias.
No caso específico da África do Sul, a sua escolha como país sede esteve, naturalmente, relacionada ao seu desenvolvimento econômico e à existência prévia de uma boa infra-estrutura (em termos de transporte, telecomunicações, hotelaria e serviços em geral). Isso, somado à decisão das lideranças políticas de assumirem a realização da competição e ao envolvimento da população sul-africana com o evento, foram os pré-requisitos para o sucesso da Copa na África.
Pio Penna Filho
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da USP e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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