Pio Penna Filho*
O anúncio da construção de 1.600 casas em Jerusalém oriental para servirem de moradas para judeus é uma provocação inaceitável do estado judaico. Trata-se de um despropósito para a causa da paz no Oriente Médio e a comunidade internacional não deveria perder a ocasião para denunciar os abusos que as autoridades israelenses vem cometendo contra o povo palestino.As críticas contra Israel vem até mesmo dos Estados Unidos, tradicionais aliados e um dos pilares que dão sustentação a toda a arquitetura de dominação erigida em torno dos territórios conquistados, anexados ou sob ocupação israelense. De toda forma, é difícil saber se são críticas sinceras ou se apenas revelam o descontentamento pelo anúncio do projeto de construção das moradas em plena visita do vice presidente norte-americano ao país.Israel é um dos Estados que mais sofreram pressões internacionais ao longo dos últimos 50 anos, sendo votadas e aprovadas uma quantidade razoável de resoluções na Assembléia Geral das Nações Unidas contra sua política externa, principalmente com relação ao trato com os palestinos e a sua intransigência em aceitar uma divisão realista do território. Enfim, não fosse a sustentação norte-americana, as pressões internacionais teriam consequências mais graves para o país.Não é possível que a comunidade internacional continue aceitando a intransigência e as provocações de Israel. A sensação que se tem é de que os israelenses tudo podem quando se trata da palestina. Uma coisa é o direito à existência do Estado de Israel, fato aceito há muito tempo pela maioria da comunidade internacional, inclusive pela maioria do povo palestino. Ou seja, se houve um momento em que Israel lutava pela sua sobrevivência enquanto Estado, isso já é coisa do passado. Não há mais, portanto, motivo para que se continue uma política agressiva e intransigente, que não leva em consideração nada além do egoísmo dos interesses de certos setores mais nacionalistas e ortodoxos judaicos. Agora as autoridades israelenses estão centrando fogo no Irã, visto como um inimigo em potencial. Nesse caso, alegam que os iranianos são belicosos e amantes da violência. Uma crítica dessa natureza jamais poderia vir das autoridades de um Estado que prima pela violência desmedida contra um povo inteiro. Israel já é um Estado consolidado, em muitos sentidos desenvolvido e com plena capacidade de se defender em caso de ameaça, venha de onde vier. Causa estranheza, portanto, que suas autoridades não consigam avançar no processo de paz.Em meio à polêmica em torno da nova iniciativa israelense, o presidente Lula está visitando a região. Historicamente, a posição do Brasil foi pela condenação do sionismo como uma política de cunho racista e o país deu velado apoio à causa dos palestinos, reconhecendo o seu direito a um Estado soberano, aliás tal qual reconheceu e reconhece o direito dos judeus a um Estado próprio. A situação na palestina é complexa e é muito difícil acreditar que o Brasil possa colaborar efetivamente para o encaminhamento da paz na região.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da USP e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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