segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Fuvest 2016

Confira as questões de História da FUVEST 2016



TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 48 A 50 


48
A ARMA DA PROPAGANDA 
O governo Médici não se limitou à repressão. Distinguiu claramente entre um setor significativo mas minoritário da sociedade, adversário do regime, e a massa da população que vivia um dia a dia de alguma esperança nesses anos de prosperidade econômica. A repressão 5 acabou com o primeiro setor, enquanto a propaganda encarregou-se de, pelo menos, neutralizar gradualmente o segundo. Para alcançar este último objetivo, o governo contou com o grande avanço das telecomunicações no país, após 1964. As facilidades de crédito pessoal permitiram a 10 expansão do número de residências que possuíam televisão: em 1960, apenas 9,5% das residências urbanas tinham televisão; em 1970, a porcentagem chegava a 40%. Por essa época, beneficiada pelo apoio do governo, de quem se transformou em porta-voz, a TV Globo expandiu-se até se 15 tornar rede nacional e alcançar praticamente o controle do setor. A propaganda governamental passou a ter um canal de expressão como nunca existira na história do país. A promoção do “Brasil grande potência” foi realizada a partir da Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP), criada 20 no governo Costa e Silva, mas que não chegou a ter importância nesse governo. Foi a época do “Ninguém segura este país”, da marchinha Prá Frente, Brasil, que embalou a grande vitória brasileira na Copa do Mundo de 1970. 25 

Boris Fausto, História do Brasil. Adaptado 

A frase que expressa uma ideia contida no texto é: 
a) A marchinha “Prá Frente, Brasil” também contribuiu para o processo de neutralização da grande massa da população. 
b) A repressão no Governo Médici foi dirigida a um setor que, além de minoritário, era também irrelevante no conjunto da sociedade brasileira. 
c) O tricampeonato de futebol conquistado pelo Brasil em 1970 ajudou a mascarar inúmeras dificuldades econômicas daquele período. 
d) Uma característica do governo Médici foi ter conseguido levar a televisão à maioria dos lares brasileiros. 
e) A TV Globo foi criada para ser um veículo de divulgação das realizações dos governos militares. 


resposta da questão 48:[A]
Comentário da questão: 

alternativa é corroborada literalmente pelo texto transcrito, no qual o autor afirma que “a propaganda encarregou-se de, pelo menos, neutralizar gradual - mente o segundo [a massa da população]”. No entanto, seria preferível que o texto tratasse de “manipulação” e não de “neutralização”, já que esse era o objetivo da intensa campanha ufanista realizada pelo governo Médici: granjear o apoio da população em geral, e não de impedi-la de atuar contra o governo. 

49
A ARMA DA PROPAGANDA 
O governo Médici não se limitou à repressão. Distinguiu claramente entre um setor significativo mas minoritário da sociedade, adversário do regime, e a massa da população que vivia um dia a dia de alguma esperança nesses anos de prosperidade econômica. A repressão acabou com o primeiro setor, enquanto a propaganda encarregou-se de, pelo menos, neutralizar gradualmente o segundo. Para alcançar este último objetivo, o governo contou com o grande avanço das telecomunicações no país, após 1964. As facilidades de crédito pessoal permitiram a expansão do número de residências que possuíam televisão: em 1960, apenas 9,5% das residências urbanas tinham televisão; em 1970, a porcentagem chegava a 40%. Por essa época, beneficiada pelo apoio do governo, de quem se transformou em porta-voz, a TV Globo expandiu-se até se tornar rede nacional e alcançar praticamente o controle do setor. A propaganda governamental passou a ter um canal de expressão como nunca existira na história do país. A promoção do “Brasil grande potência” foi realizada a partir da Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP), criada no governo Costa e Silva, mas que não chegou a ter importância nesse governo. Foi a época do “Ninguém segura este país”, da marchinha Prá Frente, Brasil, que embalou a grande vitória brasileira na Copa do Mundo de 1970. 


Boris Fausto, História do Brasil. Adaptado 

Nos trechos “acabou com o primeiro setor” (L. 6) e “alcançar praticamente o controle do setor” (L. 16-17), a palavra sublinhada refere-se, respectivamente, a 

a) aliados; população. 
b) adversários; telecomunicações. 
c) população; residências urbanas. 
d) maiorias; classe média. 
e) repressão; facilidades de crédito. 


resposta da questão 49:[B]
Comentário da questão


O primeiro setor referenciado faz a retomada do “grupo minoritário da sociedade, adversário do sistema”, pois o segundo eram as massas; e “o controle do setor” refere-se a telecomunicações, numa sequência de descrição do crescimento da comunicação em massa, liderada a essa época pela Rede Globo.


50

A ARMA DA PROPAGANDA 
O governo Médici não se limitou à repressão. Distinguiu claramente entre um setor significativo mas minoritário da sociedade, adversário do regime, e a massa da população que vivia um dia a dia de alguma esperança nesses anos de prosperidade econômica. A repressão acabou com o primeiro setor, enquanto a propaganda encarregou-se de, pelo menos, neutralizar gradualmente o segundo. Para alcançar este último objetivo, o governo contou com o grande avanço das telecomunicações no país, após 1964. As facilidades de crédito pessoal permitiram a expansão do número de residências que possuíam televisão: em 1960, apenas 9,5% das residências urbanas tinham televisão; em 1970, a porcentagem chegava a 40%. Por essa época, beneficiada pelo apoio do governo, de quem se transformou em porta-voz, a TV Globo expandiu-se até se tornar rede nacional e alcançar praticamente o controle do setor. A propaganda governamental passou a ter um canal de expressão como nunca existira na história do país. A promoção do “Brasil grande potência” foi realizada a partir da Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP), criada no governo Costa e Silva, mas que não chegou a ter importância nesse governo. Foi a época do “Ninguém segura este país”, da marchinha Prá Frente, Brasil, que embalou a grande vitória brasileira na Copa do Mundo de 1970. 

Boris Fausto, História do Brasil. Adaptado 

Nos trechos “acabou com o primeiro setor” (L. 6) e “alcançar praticamente o controle do setor” (L. 18), a palavra sublinhada refere-se, respectivamente, a 
a) aliados; população. 
b) adversários; telecomunicações. 
c) população; residências urbanas. 
d) maiorias; classe média. 
e) repressão; facilidades de critério. 


resposta da questão 50:[B]
Comentário da questão:
 A palavra setor, na linha 6, refere-se ao grupo de oposição radical à ditadura militar; na linha 18, diz respeito à área de telecomunicações: “Por essa época, ... a TV Globo expandiu-se até se tornar rede nacional e alcançar ... o controle do setor”. 

65 


Tendo em vista o que a charge pretende expressar e a data de sua publicação, dentre as legendas propostas abaixo, a mais adequada para essa charge é: 
a) Suspensão do embargo econômico a Cuba por parte dos EUA. 
b) Devolução aos cubanos da área ocupada pelos EUA em Guantánamo. 
c) Fim do embargo das exportações petrolíferas cubanas. 
d) Retomada das relações diplomáticas entre os EUA e Cuba. 
e) Transferência de todos os presos políticos de Guantánamo, para prisões norte-americanas. 



resposta da questão 50:[D]
Comentário da questão:
 EUA e Cuba romperam relações diplomáticas e comerciais no começo da década de 1960, quando o recém-instalado governo cubano, liderado por Fidel Castro, declarou-se socialista e começou a se aproximar da antiga URSS. Durante a Guerra Fria e mesmo por certo tempo após o fim desse evento histórico, a relação entre os dois países sempre foi difícil. Entretanto, no segundo governo de Barack Obama, uma série de circunstâncias permitiu a aproximação de EUA e Cuba, facilitando o reatamento de relações diplomáticas. Mas o embargo comercial permanece, pois sua eliminação depende do Congresso dos EUA. 

75 

O aparecimento da pólis constitui, na história do pensamento grego, um acontecimento decisivo. Certamente, no plano intelectual como no domínio das instituições, só no fim alcançará todas as suas consequências; a pólis conhecerá etapas múltiplas e formas variadas. Entretanto, desde seu advento, que se pode situar entre os séculos VIII e VII a.C., marca um começo, uma verdadeira invenção; por elo, a vida social e as relações entre os homens tomam uma forma nova, cuja originalidade será plenamente sentida pelos gregos. 
Jean-Pierre Vernant. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 1981. Adaptado. 

De acordo com o texto, na Antiguidade, uma das transformações provocadas pelo surgimento da pólis foi 
a) o declínio da oralidade, pois, em seu território, toda estratégia de comunicação era baseada na escrita e no uso de imagens. 
b) o isolamento progressivo de seus membros, que preferiam o convívio familiar às relações travadas nos espaços públicos. 
c) a manutenção de instituições políticas arcaicas, que reproduziam, nela, o poder absoluto de origem divina do monarca. 
d) a diversidade linguística e religiosa, pois sua difusa organização social dificultava a construção de identidades culturais. 
e) a constituição de espaços de expressão e discussão, que ampliavam a divulgação das ações e ideias de seus membros. 


resposta da questão 75:[E]
Comentário da questão:
O surgimento da pólis implicou o conceito de participação de seus cidadãos na vida política, por meio de debates que, na maioria dos casos, levou à consolidação dos princípios democráticos. No plano urbanístico, a criação de espaços de participação da comunidade variou desde os projetos de anfiteatros para as representações dramáticas (uma oportunidade para a difusão de sentimentos cívicos e patrióticos) até a formação da ágora – área central destinada às assembleias de cidadãos. 

76 
Os impérios do mundo antigo tinham ampla abrangência territorial e estruturas politicamente complexas, o que implicava custos crescentes de administração. No caso do Império Romano da Antiguidade, são exemplos desses custos: 
a) as expropriações de terras dos patrícios e a geração de empregos para os plebeus. 
b) os investimentos na melhoria dos serviços de assistência e da previdência social. 
c) as reduções de impostos, que tinham a finalidade de evitar revoltas provinciais e rebeliões populares. 
d) os gastos cotidianos das famílias pobres com alimentação, moradia, educação e saúde. 
e) as despesas militares, a realização de obras públicas e a manutenção de estradas. 


resposta da questão 76:[E]
Comentário da questão:
Com relação às principais despesas que oneravam o Império Romano, é preciso lembrar que elas constituíam uma característica permanente de sua administração, antecedendo portanto a instituição da estrutura imperial propriamente dita, em 27 a.C. (criação do Principado, a ser exercido por Caio Otávio). Com efeito, desde o período da Realeza (753-509 a.C.), e principalmente durante a República (509-27 a.C.), as autoridades romanas sempre cuidaram da construção de obras públicas e da abertura de estradas, muitas delas pavimentadas. Quanto aos gastos militares, tratava-se de uma constante no orçamento de Roma, dada a relevância de sua política expansionista e imperialista. 

77 
Assim como o camponês, o mercador está a princípio submetido, na sua atividade profissional, ao tempo meteorológico, ao ciclo dos estações, à imprevisibilidade das intempéries e dos cataclismos naturais. Como, durante muito tempo, não houve nesse domínio senão necessidade de submissão à ordem da natureza e de Deus, o mercador só teve como meio de ação as preces e as práticas supersticiosas. Mas, quando se organiza uma rede comercial, o tempo se torna objeto de medida. A duração de uma viagem por mar ou por terra, ou de um lugar para outro, o problema dos preços que, no curso de uma mesma operação comercial, mais ainda quando o circuito se complica, sobem ou descem – tudo isso se impõe cada vez mais à sua atenção. Mudança também importante: o mercador descobre o preço do tempo no mesmo momento em que ele explora o espaço, pois para ele a duração essencial é aquela de um trajeto. 
Jacques le Goff. Para uma outra Idade Média. Petrópolis, Vozes, 2013. Adaptado. 

O texto associa a mudança da percepção do tempo pelos mercadores medievais ao 
a) respeito estrito aos princípios do livre-comércio, que determinavam a obediência às regras internacionais de circulação de mercadorias. 
b) crescimento das relações mercantis, que passaram a envolver territórios mais amplos e distâncias mais longas. 
c) aumento da navegação oceânica, que permitiu o estabelecimento de relações comerciais regulares com a América. 
d) avanço das superstições na Europa ocidental, que se difundiram a partir de contatos com povos do leste desse continente e da Ásia. 
e) aparecimento dos relógios, que foram inventados para calcular a duração das viagens ultramarinas.



resposta da questão 77:[B]
Comentário da questão:
Interpretação de texto. O autor refere-se ao Renascimento Comercial e Urbano da Baixa Idade Média, quando a ampliação das atividades mercantis que se seguiu às Cruzadas passou a exigir não só um planejamento mais acurado, mas também um cálculo adequado dos custos e lucros das operações – cálculo que naturalmente implicava a utilização de sistemas de contagem de tempo e de distâncias a serem percorridas.



78

A exploração da mão de obra escrava, o tráfico negreiro e o imperialismo criaram conflitivas e duradouras relações de aproximação entre os continentes africano e europeu. Muitos países da África, mesmo depois de terem se tornado independentes, continuaram usando a língua dos colonizadores. O português, por exemplo, é língua oficial de 
a) Camarões, Angola e África do Sul. 
b) Serra Leoa, Nigéria e África do Sul. 
c) Angola, Moçambique e Cabo Verde. 
d) Cabo Verde, Serra Leoa e Sudão. 
e) Camarões, Congo e Zimbábue


resposta da questão 78:[C]
Comentário da questão:
Os Estados africanos que resultaram da colonização portuguesa e que por isso permanecem lusófonos, apesar da ocorrência paralela de línguas nativas, são cinco: os três citados, mais Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. 


79

A imagem pode ser corretamente lida como uma 
a) defesa do mercantilismo e do protecionismo comercial ingleses, ameaçados pela cobiça de outros impérios, sobretudo o francês. 
b) crítica à monarquia inglesa, vista, no contexto da expansão revolucionária francesa, como opressora da própria sociedade inglesa. 
c) alegoria das pretensões francesas sobre a Inglaterra, já que Napoleão Bonaparte era frequentemente considerado, pela burguesia, um líder revolucionário ateu. 
d) apologia da monarquia e da igreja inglesas, contrárias à laicização da política e dos costumes típicos da Europa da época. 
e) propaganda de setores comerciais ingleses, defensores dos monopólios comerciais e contrários ao livre cambismo que, à época, ganhava força no país. 


resposta da questão 79:[B]
Comentário da questão:
 O pintor Jacques-Louis David foi um admirador da Revolução Francesa, principalmente na popular liderada por Robespierre, embora mais tarde se tenha dedicado a exaltar a figura de Napoleão. Considerando que a obra apresentada é de 1794, quando a França lutava contra uma coalizão europeia que incluía a Inglaterra, entende-se que o artista tenha criticado a monarquia inglesa (tida na época como liberal e representada na gravura por símbolos como a coroa e o cetro), apresentando-a como um monstro que oprime seus próprios cidadãos. 


80 
Somos produto de 500 anos de luta: primeiro, contra escravidão, na Guerra de Independência contra a Espanha, encabeçada pelos insurgentes; depois, para evitar sermos absorvidos pelo expansionismo norte-americano; em seguida, para promulgar nossa Constituição e expulsar o Império Francês de nosso solo; depois, a ditadura porfirista nos negou a aplicação justa das leis de Reforma e o povo se rebelou criando seus próprios líderes; assim surgiram Villa e Zapata, homens pobres como nós, a quem se negou a preparação mais elementar, para assim utilizar-nos como bucha de canhão e saquear as riquezas de nossa pátria, sem importar que estejamos morrendo de fome e enfermidades curáveis, sem importar que não tenhamos nada, absolutamente nada, nem um teto digno, nem terra, nem trabalho, nem saúde, nem alimentação, nem educação, sem ter direito a eleger livre e democrática mente nossas autoridades, sem independência dos estrangeiros, sem paz nem justiça para nós e nosso filhos. 

“Primeira declaração da Selva Lacandona” (janeiro de 1994), in Massimo di Felice e Cristoval Muñoz (orgs.). A revolução invencível. Subcomandante Marcos e Exército Zapatista de Libertação Nacional. Cartas e comunicados. São Paulo: Boitempo, 1998. Adaptado. 

O documento, divulgado no início de 1994 pelo Exército zapatista de Libertação Nacional, refere-se, entre outros processos históricos, à 
a) luta de independência contra a Espanha, no início do século XIX, que erradicou o trabalho livre indígena e fundou a primeira república na América. 
b) colonização francesa do território mexicano, entre os séculos XVI e XIX, que implantou o trabalho escravo indígena na mineração. 
c) reforma liberal, na metade do século XX, quando a Igreja Católica passou a controlar quase todo o território mexicano. 
d) guerra entre Estados Unidos e México, em meados do século XIX, em que o México perdeu quase metade de seu território. 
e) ditadura militar, no final do século XIX, que devolveu às comunidades indígenas do México as terras expropriadas e rompeu com o capitalismo internacional. 


resposta da questão 80:[D] 
Comentário da questão:
O texto menciona vários momentos da história mexicana, destacando a participação das camadas populares, expressiva mas quase sempre frustrada em seus objetivos. Entre os episódios mencionados, a questão situa corretamente a guerra entre Estados Unidos e México, travada em 1846-48, na qual a potência norte-americana apoderou-se de vastos territórios mexicanos, desde a fronteira com o Texas até o litoral do Pacífico. Obs.: o Exército Zapatista de Libertação Nacional evoca a figura de Emiliano Zapata (1879-1919) como símbolo da luta do campesinato mexicano pela terra.


81 
O processo de expansão das características multilaterais do sistema ocidental nas diversas áreas do mundo conheceu crescente impasse a partir do início do novo século. A sustentabilidade de um sistema substancialmente unipolar mostrou-se cada vez mais crítica, precisamente em face das transformações estruturais, ligadas, antes de mais nada, ao crescimento econômico da Ásia, que pareciam complementar e sustentar a ordem mundial do pós-Guerra Fria. A ameaça do fundamentalismo islâmico e do terrorismo internacional dividiu o Ocidente. O papel de pilar dos Estados Unidos oscilou entre um unilateralismo imperial, tendendo a renegar as próprias características da hegemonia, e um novo multilateralismo, ainda a ser pensado e definido. 

Silvio Pons. A revolução global: história do comunismo internacional (1917-1991). Rio de Janeiro’ Contraponto, 2014. 

O texto propõe uma interpretação do cenário internacional no princípio do século XXI e afirma a necessidade de se 
a) valorizar a liderança norte-americana sobre o Ocidente, pois apenas os Estados Unidos dispõem de recursos financeiros e militares para assegurar a nova ordem mundial. 
b) reconhecer a falência do modelo comunista, hegemônico durante a Guerra Fria, e aceitar a vitória do capitalismo e da lógica multilateral que se constituiu a partir do final do século XX. 
c) combater o terrorismo islâmico, pois ele representa a principal ameaça à estabilidade e à harmonia econômica e política entre os Estados nacionais. 
d) reavaliar o sentido da chamada globalização, pois a hegemonia política e financeira norte-americana tem enfrentado impasses e resistências. 
e) identificar o crescimento vertiginoso da China e reconhecer o atual predomínio econômico e financeiro dos países do Oriente na nova ordem mundial. 


resposta da questão 81:[D]
Comentário da questão:

Tendo em vista o fim do chamado “socialismo real” e a presumida implantação de uma hegemonia unilateral dos Estados Unidos sobre um mundo globalizado, o autor aponta para a necessidade de se reestudar essa avaliação. Com efeito, os Estados Unidos vêm enfrentando dificuldades na imposição de sua supremacia, seja no plano político-militar (problemas no Afeganis tão, no Iraque e na Síria), seja no econômico (crescimento da economia chinesa), seja ainda no plano mais difuso do combate ao terrorismo. 


82 
Eu por vezes tenho dito a V. A. aquilo que me parecia acerca dos negócios da França, e isto por ver por conjecturas e aparências grandes aquilo que podia suceder dos pontos mais aparentes, que consigo traziam muito prejuízo ao estado e aumento dos senhorios de V. A. E tudo se encerrava em vós, Senhor, trabalhardes com modos honestos de fazer que esta gente não houvesse de entrar nem possuir coisa de vossas navegações, pelo grandíssimo dano que daí se podia seguir. 

Serafim Leite. Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil, 1954. 

O trecho acima foi extraído de uma carta dirigida pelo padre jesuíta Diogo de Gouveia ao Rei de Portugal D. João III, escrita em Paris, em 17/02/1538. 
Seu conteúdo mostra 
a) a persistência dos ataques franceses contra a América, que Portugal vinha tentando colonizar de modo efetivo desde a adoção do sistema de capitanias hereditárias. 
b) os primórdios da aliança que logo se estabeleceria entre as Coroas de Portugal e da França e que visava a combater as pretensões expansionistas da Espanha na América. 
c) a preocupação dos jesuítas portugueses com a expansão de jesuítas franceses, que, no Brasil, vinham exercendo grande influência sobre as populações nativas. 
d) o projeto de expansão territorial português na Europa, o qual, na época da carta, visava à dominação de territórios franceses tanto na Europa quanto na América. 
e) a manifestação de um conflito entre a recém-criada ordem jesuíta e a Coroa portuguesa em torno do combate à pirataria francesa.

resposta da questão 82:[A]
Comentário da questão: 
Alternativa escolhida por eliminação, pois emprega dois termos inadequados para se referir ao contrabando de pau-brasil realizado pelos franceses no litoral brasileiro: “persistência”, que dá ideia de continuidade, quando na verdade se tratava de uma atividade intermitente; e “ataques”, que dá ideia de ação militar agressiva, o que também não ocorria, dado o bom relacionamento dos franceses com os indígenas. 



83
Examine o gráfico 

O gráfico fornece elementos para afirmar: 
a) A despeito de uma ligeira elevação, o tráfico negreiro em direção ao Brasil era pouco significativo nas primeiras décadas do século XIX, pois a mão de obra livre já estava em franca expansão no país. 
b) As grandes turbulências mundiais de finais do século XVIII e de começos do XIX prejudicaram a economia do Brasil, fortemente dependente do trabalho escravo, mas incapaz de obter fornecimento regular e estável dessa mão de obra. 
c) Não obstante pressões britânicas contra o tráfico negreiro em direção ao Brasil, ele se manteve alto, contribuindo para que a ordem nacional surgida com a Independência fosse escravista. 
d) Desde o final do século XVIII, criaram-se as condições para que a economia e a sociedade do Império do Brasil deixassem de ser escravistas, pois o tráfico negreiro estava estagnado. 
e) Rapidamente, o Brasil aderiu à agenda antiescravista britânica formulada no final do século XVIII, firmando tratados de diminuição e extinção do tráfico negreiro e acatando as imposições favoráveis ao trabalho livre. 

resposta da questão 83:[C]
Comentário da questão:
Analisando-se o gráfico é perceptível a crescente importância que a mão-de-obra escrava assumiu ao longo do século XIX no Brasil, tento o tráfico negreiro crescido quase de forma ininterrupta a partir da independência, com uma forte inflexão em 1829. Desde o reconhecimento britânico da independência brasileira em 1824, quando o governo imperial se comprometeu a encerrar o tráfico de escravos em 7 anos, a pressão britânica crescera, porém sem sucesso para impedir que a economia imperial se mantivesse atrelada aos trabalho escravo já determinante no período colonial.


84 
Na Belle Époque brasileira, que difusamente coincidiu com o transição para o regime republicano, surgiram aquelas perguntas cruciais, envoltas no oxigênio mental da época, muitas das quais, contudo, nos incomodam até hoje: como construir uma nação se não tínhamos uma população definida ou um tipo definido? Frente àquele amálgama de passado e futuro, alimentado e realimen - tado pela República, quem era o brasileiro? (...) Inúmeras tentativas de respostas a todas estas questões mobilizaram os intelectuais brasileiros durante várias décadas. 

Elias Thomé Saliba. Raízes do riso. São Paulo Companhia das Letras. 2002. 

Entre as tentativas de responder, durante a Belle Époque brasileira, às dúvidas mencionadas no texto, é correto incluir 
a) as explicações positivistas e evolucionistas sobre o impacto da mistura de raças na formação do caráter nacional brasileiro. 
b) os projetos de valorização dos vínculos entre o caráter nacional brasileiro e os produtos da indústria cultural norte-americana. 
c) o reconhecimento e a celebração da origem africana da maioria dos brasileiros e a rejeição das tradições europeias. 
d) a percepção de que o país estava plenamente inserido na modernidade e havia assumido a condição de potência mundial. 
e) o desejo de retornar ao período anterior à chegada dos europeus e de recuperar padrões culturais e cotidianos indígenas.



resposta da questão 84:[A] 
Comentário da questão:
Em fins do século XIX e início do século XX, a comunidade científica e a intelectualidade em geral foram fortemente influenciadas, no Ocidente, por teorias pseudocientíficas ou meramente cientificistas tais ideias defendiam conceitos elitistas e racistas acerca da espécie e das sociedades humanas. Entre as primeiras, destacou-se o “Darwinismo Social”, que advogava a pretensa superioridade da raça e das sociedades brancas; entre as segundas, vale destacar o Positivismo de Auguste Comte, que exerceu grande influência sobre a intelligentsia brasileira nos primeiros anos da República. 



85 
Paralelamente à abertura da Transamazônica processa-se o trabalho da colonização, realizado pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). As pequenas agrovilas se sucedem de vinte em vinte quilômetros à margem da estrada, e nos cem hectares que cada colono recebeu são plantados milho, feijão e arroz. Já no próximo mês começará a plantação de cana-deaçúcar, cujas primeiras mudas, vindas dos canaviais de Sertãozinho, em São Paulo, acabaram de ser distribuídas. Jovens agrônomos, recém-saídos do universidade, orientam os colonos... No meio da selva começam a surgir as agrovilas. Vindos de diferentes regiões do país, os colonos povoam as margens da Transamazônica e espalham pelo chão virgem o verde disciplinado das culturas pioneiras. Os pastos da região são excelentes. 

Revista Manchete. 15 de abril de 1972. 


Segundo o texto, é correto afirmar que a Transamazônica, cuja construção se iniciou no regime militar (1964-1985), representou, inclusive, 
a) um projeto para eliminar o controle nacional e estatal dos recursos naturais da Amazônia, facilitando o avanço de interesses britânicos na região. 
b) um esforço de ampliar as áreas de ocupação na Amazônia e de construir a ideia de que se vivia um período de avanço, integração e crescimento nacional. 
c) uma superação das dificuldades de comunicação e deslocamento entre o Sul e o Norte do país, facilitando a migração e permitindo plena integração entre os oceanos Atlântico e Pacífico. 
d) uma tentativa de reaquecer a economia da borracha, com a criação de rotas de escoamento rápido da produção em direção aos portos do Sudeste. 
e) um projeto de utilização dessa estrada para delimitar as fronteiras entre os estados da região. 



resposta da questão 85:[B]
Comentário da questão: 
O texto se reporta à década de 1970, durante o regime militar, quando foi enfatizada a política de incentivo ao povoamento por meio das agrovilas às margens da rodovia Transamazônica. Tratava-se de um esforço para ampliar as áreas de ocupação na Amazônia, contribuindo para a integração e o crescimento nacional. 







domingo, 22 de novembro de 2015

Vestibular Unicamp 2016

Confira a correção das questões de História do vestibular da Unicamp 2016


Questão 55
A teoria da perspectiva, iniciada com o arquiteto Filippo Bruneleschi (1377-1446), utilizou conhecimentos geométricos e matemáticos na representação artística produzida na época. A figura a seguir ilustra o estudo da perspectiva em uma obra desse arquiteto. 

É correto afirmar que, a partir do Renascimento, a teoria da perspectiva 
a) foi aplicada nas artes e na arquitetura, com o uso de proporções harmônicas, o que privilegiou o domínio técnico e restringiu a capacidade criativa dos artistas. 
b) evidencia, em sua aplicação nas artes e na arquitetura, que as regras geométricas e de proporcionalidade auxiliam a percepção tridimensional e podem ser ensinadas, aprendidas e difundidas. 
c) fez com que a matemática fosse considerada uma arte em que apenas pessoas excepcionais poderiam usar geometria e proporções em seus ofícios. 
d) separou arte e ciência, tornando a matemática uma ferramenta apenas instrumental, porque essa teoria não reconhece as proporções humanas como base de medida universal. 

resposta da questão 55:[B]
Comentário da questão:
A arte renascentista deve ser considerada a partir da perspectiva da valorização da racionalidade humana, sua capacidade em interpretar a natureza, moldar as criações humanas a partir de inovações técnicas, como a utilização da perspectiva e das proporcionalidades geométricas para atingirem os objetivos esperados por artistas e arquitetos. Desse tipo de preocupação saem projetos arquitetônicos como de Filippo Bruneleschi.




Questão 56 
Quanto seja louvável a um príncipe manter a fé, aparentar virtudes e viver com integridade, não com astúcia, todos o compreendem; contudo, observa-se, pela experiência, em nossos tempos, que houve príncipes que fizeram grandes coisas, mas em pouca conta tiveram a palavra dada, e souberam, pela astúcia, transtornar a cabeça dos homens, superando, enfim, os que foram leais (...). Um príncipe prudente não pode nem deve guardar a palavra dada quando isso se lhe torne prejudicial e quando as causas que o determinaram cessem de existir. 
(Nicolau Maquiavel, O Príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1997, p. 73-85.) 

A partir desse excerto da obra, publicada em 1513, é correto afirmar que: 
a) O jogo das aparências e a lógica da força são algumas das principais artimanhas da política moderna explicitadas por Maquiavel. 
b) A prudência, para ser vista como uma virtude, não depende dos resultados, mas de estar de acordo com os princípios da fé. 
c) Os princípios e não os resultados é que definem o julgamento que as pessoas fazem do governante, por isso é louvável a integridade do príncipe. 
d) A questão da manutenção do poder é o principal desafio ao príncipe e, por isso, ele não precisa cumprir a palavra dada, desde que autorizado pela Igreja. 

resposta da questão 56:[A]
Comentário da questão:
O pensamento político de Maquiavel é uma aposta na astúcia, na aparência e na força. Os princípios não podem ser inflexíveis, mas submetidos às circunstâncias.




Questão 57 
Por que a ética voltou a ser um dos temas mais trabalhados do pensamento filosófico contemporâneo? Nos anos 1960 a política ocupava esse lugar e muitos cometeram o exagero de afirmar que tudo era político. 
(José Arthur Gianotti, “Moralidade Pública e Moralidade Privada”, em Adauto Novaes, Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 239.) 

A partir desse fragmento sobre a ética e o pensamento filosófico, é correto afirmar que: 
a) O tema foi relevante na obra de Aristóteles e apenas recentemente voltou a ocupar um espaço central na produção filosófica. 
b) Os impasses morais e éticos das sociedades contemporâneas reposicionaram o tema da ética como um dos campos mais relevantes para a Filosofia. 
c) O pensamento filosófico abandonou sua postura política após o desencanto com os sistemas ideológicos que eram vigentes nos anos 1960. 
d) Na atualidade, a ética é uma pauta conservadora, pois nas sociedades atuais, não há demandas éticas rígidas.


resposta da questão 57:[B]
Comentário da questão:
 A ética pode ser considerada como uma das grandes preocupações dos sistemas filosóficos, independentemente do momento considerado. Atualmente, a grande importância dada para este tema deve ser relacionada com novas questões suscitadas pelo desenvolvimento da ciência (como as pesquisas com células-tronco), levando ao surgimento, por exemplo, de um novo campo de estudos denominado bioética.

Questão 58
Reproduz-se, abaixo, trecho de um sermão do bispo Cesário de Arles (470-542), dirigido a uma paróquia rural. “Vede, irmãos, como quem recorre à Igreja em sua doença obtém a saúde do corpo e a remissão dos pecados. Se é possível, pois, encontrar este duplo benefício na Igreja, por que há infelizes que se empenham em causar mal a si mesmos, procurando os mais variados sortilégios: recorrendo a encantadores, a feitiçarias em fontes e árvores, amuletos, charlatães, videntes e adivinhos?” 
(Fonte: http://www.institutosapientia.com.br/site/index.php?option=co_content&view=article&id=1397:sao-cesario-de-arles-sermao-13-paraumaparoquia-rural&catid=28:outros-artigos&Itemid=285.) 

A partir desse sermão, escrito no sul da atual França, é correto afirmar que: 
a) A Igreja Católica assumia funções espirituais e deixava à nobreza o cuidado da saúde dos camponeses, através de ordens religiosas e militares. 
b) O cristianismo tinha penetrado em todas as categorias sociais e era interpretado da mesma forma através da autoridade dos bispos. 
c) Práticas consideradas menos ortodoxas por Cesário de Arles ainda encontravam espaço em setores da sociedade e a elite da Igreja tentava se afirmar como o único acesso ao sagrado. 
d) O avanço do materialismo estava afastando da Igreja os camponeses, que, com isto, deixavam de pagar os dízimos eclesiásticos. 

resposta da questão 58:[C]
Comentário da questão:
 O sermão do bispo Cesário se inscreve no período em que a Igreja Cristã, então recém-fundada no Concílio de Niceia (324) buscava se afirmar como única instituição legítima na difusão dos ensinamentos de Cristo. Dentro deste processo era essencial demonizar as práticas populares de origem pagã ou mesmo outras correntes cristãs independentes que ainda sobrevivam em meio à nova sociedade feudal que lentamente ia tomando forma. Posto isso, a alternativa "C" é a que de forma mais clara descreve o contexto no qual o sermão se insere.


Questão 59 
“Uma categoria inferior de servidores que coexiste nas grandes casas com os domésticos livres são os escravos. Um recenseamento enumera em Gênova, em 1458, mais de 2 mil. As mulheres estão em uma proporção esmagadora (97,5%) e 40% não têm ainda 23 anos. São totalmente desamparadas; todos na casa a repreendem, todos batem nela (patrão, mãe, filhos crescidos) e os testemunhos de processos em que elas comparecem mostram-nas vivendo, frequentemente no temor de pancadas. Em Gênova e Veneza, a escrava-criada é essencial no prestígio das nobres e ricas matronas. 
(Adaptado de Charles De la Roncière, “A vida privada dos notáveis toscanos no limiar da Renascença”, em Georges Duby (org.), História da vida privada - da Europa feudal à Renascença, vol 2. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 235-236.) 

Sobre o trabalho nas cidades italianas do período em questão, podemos afirmar corretamente que: 
a) O declínio da escravidão está ligado ao novo conceito antropocêntrico do ser humano e a uma nova dignidade da condição feminina no final da Idade Média. 
b) O trabalho servil era predominantemente feminino e concorria com o trabalho escravo. A escravidão diminuiu com essa concorrência, desdobrando-se no trabalho livre. 
c) Conviviam inúmeras formas de trabalho livre, semilivre e escravo no universo europeu e a sobreposição não era, em si, contraditória. 
d) O uso do castigo corporal igualava as escravas a outros trabalhadores e foi o motivo das rebeliões camponesas do período (jacqueries) e agitações urbanas.

resposta da questão 59:[C] 
Comentário da questão:
A questão aborda a dinâmica do trabalho nas cidades europeias na transição da Idade Média para a Moderna. O texto é fundamental para a resolução, pois demonstra a variedade de relações de trabalho presente na sociedade da época. Como a alternativa D evidencia, coexistiam inúmeras formas de trabalho nas cidades mercantis europeias, tais como o trabalho livre assalariado, o semilivre (uma herança das tradições feudais) e o trabalho escravo, inserido na nascente lógica mercantilista.

Questão 60 
Os estudos históricos por muito tempo explicaram as relações entre Portugal e Brasil por meio da noção de pacto colonial ou exclusivo comercial. Sobre esse conceito, é correto afirmar que: 
a) Trata-se de uma característica central do sistema colonial moderno e um elemento constitutivo das práticas mercantilistas do Antigo Regime, que considera fundamental a dinâmica interna da economia colonial. 
b) Definia-se por um sistema baseado em dois polos: um centro de decisão, a metrópole, e outro subordinado, a colônia. Esta submetia-se à primeira através de uma série de mecanismos político-institucionais. 
c) Em mais de uma ocasião, os colonos reclamaram e foram insubordinados diante do pacto colonial, ao exigirem sua presença e atuação nas Cortes dos reis ou ao pedirem a presença do Marquês de Pombal na colônia. 
d) A noção de pacto colonial é um projeto embrionário de Estado que acomodava as tensões surgidas entre os interesses metropolitanos e coloniais, ao privilegiar as experiências do “viver em colônia”. 


resposta da questão 60:[B]
Comentário da questão:
A questão exigia do vestibulando o conhecimento sobre as estruturas do Antigo Sistema Colonial, sobretudo em relação ao exclusivismo metropolitano, chamado popularmente de pacto-colonial. Dentro da lógica mercantilista, típica do estado moderno europeu, a metrópole era o centro de decisão, impondo medidas às áreas coloniais, que, no aspecto político-institucional, ficavam subordinadas. O vestibulando poderia se confundir com a alternativa A. Contudo, deve-se atentar com a parte que a afirma a importância da “dinâmica interna da economia colonial.” Essa afirmação inviabiliza a alternativa, já que na lógica mercantilista, a economia era focalizada muito mais para a dinâmica externa do que interna. 



Questão 61
As revoluções de independência na América hispânica foram, ao mesmo tempo, um conflito militar, um processo de mudança política e uma rebelião popular. 
(Rafael Rojas, Las repúblicas de aire. Buenos Aires: Taurus, 2010, p. 11.) 

São características dos processos de independência nas ex-colônias espanholas na América: 

a) o descontentamento com o domínio colonial e a agregação de grupos que expressavam a heterogeneidade étnica, regional, econômica e cultural do continente. 
b) o caudilhismo, sob a liderança política criolla, e o discurso revolucionário de uma nova ordem política, que assegurou profundas transformações econômicas na América. 
c) o uso dos princípios liberais de organização política republicana e a criação imediata de exércitos nacionais que lutaram contra as forças espanholas. 
d) a participação de indígenas e camponeses, determinante para a consolidação do processo de independência em regiões como o México, e sua ausência nas ações comandadas por Bolívar.

resposta da questão 61:[A]
Comentário da questão: 
O processo de independência da América Hispânica esteve diretamente relacionado com a prisão do Rei D. Fernando IV em 1808 e a reação dos colonos ao não reconhecer a legitimidade do novo governante José Bonaparte. O descontentamento dos colonos já vinha se apresentando anteriormente, observa-se a falta de representatividade dos criollos nos cargos administrativos, a expulsão dos jesuítas da América Hispânica e a política comercial adotada pela Metrópole precipitaram os movimentos de independência. A heterogeneidade dos movimentos de independência pode ser exemplificada com o processo peculiar ocorrido no México em que o padre Miguel Hidalgo se uniu à indígenas e mestiços contra o domínio dos fazendeiros abastados espanhóis.

Questão 62

“O Rio civiliza-se!” eis a exclamação que irrompe de todos os peitos cariocas. Temos a Avenida Central, a Avenida Beira Mar (os nossos Campos Elíseos), estátuas em toda a parte, cafés e confeitarias (…), um assassinato por dia, um escândalo por semana, cartomantes, médiuns, automóveis, autobus, autores dramáticos, grandmonde, demi-monde, enfim todos os apetrechos das grandes capitais. 
(“O Chat Noir”, em Fon-Fon! Nº 41, 1907. Extraído de www.objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/fonfon/fonfon1907.) 

A partir do excerto, que se refere ao período da Belle Époque no Brasil, no início do século XX, é correto afirmar que: 
a) O Rio de Janeiro procurava apagar aspectos da época do Império e impulsionar a cultura francesa, renegada por D. Pedro II. 
b) A cidade expressava as contradições de um processo de transformações urbanas, sociais e políticas nas primeiras décadas da República. 
c) Os costumes franceses eram elementos incorporados pela sociedade carioca como sinônimo da modernização republicana obtida pelo tenentismo. 
d) A modernização representou um processo de exclusão social e cultural, patrocinado pelo governo francês, que financiava obras públicas e impunha os produtos franceses à população brasileira. 

resposta da questão 62:[B]
Comentário da questão:
A proclamação da República trouxe a construção de um novo imaginário social, dentro do qual a capital do país, a cidade do Rio de Janeiro, devia se afastar de seu passado imperial para se revestir de um ar mais moderno e contemporâneo. Empossado como prefeito do Rio de Janeiro, o arquiteto Pereira Passos inicia um profundo processo de reforma urbana entre 1902 e 1906, responsável por acentuar as contradições internas daquela sociedade. Se por um lado a elite carioca mantinha sua preferência pelos costumes e hábitos importados da França, como os cafés e os estilos arquitetônicos, os bairros periféricos ainda conviviam com a violência e a precariedade impostas pela desigualdade social gritante.

Questão 63

Muitos intelectuais, boa parte da imprensa e dos meios de comunicação, e a sociedade em geral usam o termo populismo para caracterizar uma prática política contemporânea que relaciona as massas e o governante. Sobre o populismo, é correto afirmar que: 

a) A figura do líder é fundamental no populismo, a exemplo de Getúlio Vargas e Jânio Quadros, sendo muito forte no Brasil entre 1930 e 1964. Tal prática requer carisma do líder, a fim de diminuir
a participação da massas e impedir o nacional-desenvolvimentismo.
b) As massas, em suas expectativas, alinham-se às camadas médias, que são ressentidas por não se tornarem classes dominantes. Surgem, nesse processo, líderes vindos das camadas médias que manipulam as massas, destituídas de vontade política. 
c) Ocorre uma associação entre as massas urbanas e o dirigente político carismático que exerce o papel de liderança. É um fenômeno de participação política das classes populares urbanas pouco atingidas pelo desenvolvimento industrial e pelas migrações. 
d) O termo é muito usado para nomear um fenômeno político comum na América Latina entre as décadas de 1930 e 1960, sendo associado aos processos de industrialização, urbanização e à emergência de líderes carismáticos. 

resposta da questão 63:[D]
Comentário da questão:
O termo populismo vem sendo amplamente usado para descrever relações entre governantes e seus governados. Temos que pensar o populismo como um fenômeno característico dos governos modernizadores da América Latina dos anos 1930 até 1960, aproximadamente. Estes governos usavam sua liderança carismática para modernizar de forma conservadora seus países, ou seja, trazer industrialização sem alterar significativamente as estruturas sociais da sociedade. São líderes com estas características Getúlio Vargas, Juan Domingo Perón e Lázaro Cárdenas.


Questão 64

Desde a queda do império comunista na Europa, nos anos 1989-1991, assiste-se a uma nova forma de messianismo político que consiste em impor o regime democrático e os direitos humanos pela força. 
(Adaptado de Tzvetan Todorov, Os inimigos íntimos da democracia. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 55.) 

O quadro descrito pelo texto pode ser analisado 

a) como herança das lutas anticoloniais exemplificada na organização em torno do Estado multiétnico, como ocorreu na África do Sul. 
b) como parte da nova ordem mundial sob a liderança dos EUA e seu poder bélico em regiões como a Síria e o Afeganistão. 
c) como o estabelecimento de um princípio que desestabiliza as lógicas internas de organização, como ocorreu no Iraque e na ex-Iugoslávia. 
d) como herança da Guerra Fria e como utilização da lógica militar que inviabiliza a adoção da democracia em regiões como a Ucrânia.


resposta da questão 64:[B]
Comentário da questão:
A questão apresenta uma resolução mais complicada e permite mais de uma interpretação levando-se em conta as múltiplas facetas da nova ordem mundial que se impôs ao fim da Guerra Fria. Com a ruptura do bloco soviético, os Estados Unidos emergiram como a nova liderança mundial, exercendo um poder de natureza hegemônica no campo militar mesclado a uma ordem econômica multipolar. Com o discurso de defesa dos ideais democráticos e dos direitos humanos, os Estados Unidos buscam impor seu modelo político-econômico em ações militares em regiões como a Síria e o Afeganistão, muitas vezes através de coalizão com outras potências europeias, como a França e a Inglaterra. É importante ressaltar, no entanto, que a alternativa "C" possui certa lógica, quando faz referência à desestabilização das lógicas internas que levam à ruptura institucional, ainda que tal processo não tenha sido uma estratégia deliberada dos Estados Unidos nos casos do Iraque e da ex-Iugoslávia. Nestes dois últimos casos, a ação americana se deu na forma de uma invasão direta e a intervenção ocidental nas ex-repúblicas iugoslavas ocorre tão somente após a intensificação do processo de limpeza étnica impetrada pelas tropas sérvias. 

Questão 65
A aquarela do artista João Teófilo, aqui reproduzida, dialoga com a pintura de Pedro Américo, “Tiradentes esquartejado” (1893). Sobre a obra de João Teófilo, publicada na capa de uma revista em 2015, é possível afirmar que: 

(revistadehistoria.com.br edição nº 118)

a) Trata-se de uma obra baseada em um quadro do gênero da pintura histórica, sendo que no trabalho de Pedro Américo o corpo de Tiradentes no patíbulo afasta-se da figura do Cristo, exemplo maior de mártir. 
b) Utilizando-se das mesmas formas do corpo esquartejado de Tiradentes pintado por Pedro Américo, o autor limita o número de sujeitos esquartejados e acentua o tom conservador da aquarela. 
c) A imagem fala sobre seu contexto de produção na atualidade, utilizando-se do simbolismo de Tiradentes, e procura ampliar a presença de negros como sujeitos sociais nas lutas coloniais e antiescravistas. 
d) Tiradentes consolidou-se como um mártir nacional no quadro de Pedro Américo, daí a necessidade do pintor de retratar seu corpo esquartejado. A obra de João Teófilo mostra que os mártires, embora negros, são um tema do passado. 


resposta da questão 65:[C]
Comentário da questão:

A obra de João Teófilo é uma releitura da imagem de Pedro Américo e de uma fotografia dos cangaceiros derrotados pelas tropas republicanas. Na obra de Pedro Américo o que se procura é justamente aproximar a figura de Tiradentes da imagem de Jesus Cristo, com o crucifixo, as barbas e cabelos longos, esta interpretação da Inconfidência Mineira (ou Conjuração Mineira) é característica dos primeiros anos da República, que está construindo seu imaginário e seus heróis. Na fotografia temos as cabeças dos cangaceiros cortadas, depositadas sobre os degraus de uma escada de forma a demonstrar a força republicana em combater aquela população nordestina que reagia com violência às péssimas condições de vida a que eram submetidos. João Teófilo, ao produzir essa obra, nos convida a pensar o papel dos heróis nacionais e os mártires negros e pobres anônimos da história do Brasil.



Questão 65
Indique a afirmação correta a respeito dos grandes fluxos migratórios atuais no contexto da globalização. 

a) Envolvem imigrantes da América Latina, do norte da África e do Oriente Médio, atraídos pela industrialização fordista da Europa e dos Estados Unidos, que gera trabalho nas fábricas e na construção civil. 
b) Direcionam-se para os países ricos ou em crescimento econômico e envolvem aquelas áreas de expulsão, cujas populações de origem sempre tiveram culturalmente vocação para a realização de grandes deslocamentos. 
c) Resultam das diferenças entre a situação econômica dos países pobres e ricos e se direcionam para os lugares em que as populações falam a mesma língua ou possuem proximidades culturais. 
d) Assumem distintas direções, sendo que uma das rotas dos imigrantes para a Europa inicia-se em países do Oriente Médio e da costa oriental do norte da África, indo até a Grécia, com travessia pelo mar Mediterrâneo. 

resposta da questão 65:[D] 
Comentário da questão:
 Macedônia e outros países do sul e leste europeus tornaram-se a principal porta de entrada de imigrantes dos países da África e Oriente Médio, assolados pela guerra e por problemas sócio-econômicos.



Questão 67
País da África Austral que se tornou independente em 1975 após séculos de colonialismo europeu. No período posterior à independência, a terra passou a ser propriedade do Estado, com predomínio de uso pela população camponesa e com forte participação das mulheres na produção agrícola familiar. De 1976-1992 vivenciou intensos conflitos produzidos pela guerra civil envolvendo dois dos principais grupos armados do país. 

O texto acima faz referência ao seguinte país: 
a) Congo. 
b) África do Sul. 
c) Moçambique. 
d) Nigéria



resposta da questão 67:[C]
Comentário da questão:
O texto trata da descolonização de Moçambique em relação à Portugal em 1975. Segue-se ao fato um grande conflito interno em que se opuseram as guerrilhas FRELIMO (socialista) e RENAMO (anti-socialista).




Fonte: Oficina do Estudante


domingo, 15 de novembro de 2015

Vestibular UNESP 2016

Confira a resolução comentada das questões de História do vestibular UNESP 2016

31. A cidade tira de seu império uma parte da honra, da qual todos vós vos gloriais, e que deveis legitimamente apoiar; não vos esquiveis às provas, se não renunciais também a buscar as honras; e não penseis que se trata apenas, nesta questão, de ser escravos em vez de livres: trata-se da perda de um império, e do risco ligado ao ódio que aí contraístes.
(Péricles apud Pierre Cabanes. Introdução à história da Antiguidade, 2009.)

O discurso de Péricles, no século V a.C., convoca os atenienses para lutar na Guerra do Peloponeso e enfatiza

(A)a rejeição à escravidão em Atenas e a defesa do trabalho livre como base de toda sociedade democrática.
(B)a defesa da democracia, por Atenas, diante das ameaças aristocráticas de Roma.
(C) a rejeição à tirania como forma de governo e a celebração da república ateniense.
(D) a defesa do território ateniense, frente à investida militar das tropas cartaginesas.
(E) a defesa do poder de Atenas e a sua disposição de manter-se à frente de uma confederação de cidades.




resposta da questão 31:[E]
Comentário da questão:
Péricles marca o auge da democracia ateniense, cujo modelo escravista sempre se baseou na exploração do trabalho escravo em benefício dos cidadãos livres, garantindo-lhes o chamado ócio indispensável para a pratica de suas virtudes políticas e culturais. Diante da ameaça de ruptura da hegemonia ateniense, construída a partir da formação da Confederação de Delos, Péricles convoca os atenienses para defender a liderança exercida pela cidade. Perceba, que como as palavras de Péricles permitem asseverar, seu foco concentra-se mais na "perda de um império" que na perda de sua liberdade.




32. Eis dois homens a frente: um, que quer servir; o outro, que aceita, ou deseja, ser chefe. O primeiro une as mãos e, assim juntas, coloca-as nas mãos do segundo: claro símbolo de submissão, cujo sentido, por vezes, era ainda acentuado pela genuflexão. Ao mesmo tempo, a personagem que oferece as mãos pronuncia algumas palavras, muito breves, pelas quais se reconhece “o homem” de quem está na sua frente. Depois, chefe e subordinado beijam-se na boca: símbolo de acordo e de amizade. Eram estes – muito simples e, por isso mesmo, eminentemente adequados para impressionar espíritos tão sensíveis às coisas – os gestos que serviam para estabelecer um dos vínculos mais fortes que a época feudal conheceu.
(Marc Bloch. A sociedade feudal, 1987.)

Miniatura do Liber feudorum Ceritaniae, século XIII

O texto e a imagem referem-se à cerimônia que
(A) consagra bispos e cardeais.
(B) estabelece as relações de vassalagem.
(C) estabelece as relações de servidão.
(D) consagra o poder municipal.
(E) estabelece as relações de realeza.




resposta da questão 32:[B]
Comentário da questão:
Trata-se de uma questão clássica de vestibulares a respeito de um dos tópicos fundamentais das relações de poder dentro do sistema feudal: a suserania e vassalagem. A referência ao beijo na boca feita no texto não deixa nenhuma dúvida de que se trata de uma cerimônia entre senhor e cavaleiro, ambos pertencentes à mesma ordem social, por isso assim se consumava a relação de vassalagem entre ambos, na qual o vassalo jura fidelidade ao seu suserano, que o recompensa com um feudo.


33. As reformas protestantes do princípio do século XVI, entre outros fatores, reagiam contra
(A) a venda de indulgências e a autoridade do Papa, líder supremo da Igreja Católica.
(B) a valorização, pela Igreja Católica, das atividades mercantis, do lucro e da ascensão da burguesia.
(C) o pensamento humanista e permitiram uma ampla re-visão administrativa e doutrinária da Igreja Católica.
(D) as missões evangelizadoras, desenvolvidas pela Igreja Católica na América e na Ásia.
(E) o princípio do livre-arbítrio, defendido pelo Santo Ofício, órgão diretor da Igreja Católica.




resposta da questão 33:[A]
Comentário da questão:
 A questão aborda um tema tradicional dos vestibulares: a Reforma Protestante. Nesse caso, o vestibulando deveria saber os motivos causadores do processo reformista, iniciado por Martinho Lutero, tais como a oposição aos abusos do alto clero católico (venda das indulgências) e a questão teológica (contra a autoridade papal e os dogmas católicos).

34. Os diários, as memórias e as crônicas de viagens escritas por marinheiros, comerciantes, militares, missionários e exploradores, ao lado das cartas náuticas, seriam as principais fontes de conhecimento e representação da África dos séculos XV ao XVIII. A barbárie dos costumes, o paganismo e a violência cotidiana foram atribuídos aos africanos ao mesmo tempo em que se justificava a sua escravização no Novo Mundo. A desumanização de suas práticas serviria como justificativa compensatória para a coisificação dos negros e para o uso de sua força de trabalho nas plantations da América. 
(Regina Claro. Olhar a África, 2012. Adaptado.) 

A partir do texto, é correto afirmar que a dominação europeia da África, entre os séculos XV e XVIII,

(A) derivou prioritariamente dos valores do islamismo, aprisionando os corpos dos africanos para, com o sacrifício, salvar suas almas.
(B) foi um esforço humanitário, que visava libertar povos oprimidos por práticas culturais e hábitos pré-históricos e selvagens.
(C) baseou-se em avanços científicos e em pressupostos liberais, voltados à eliminação de preconceitos raciais e sociais.
(D) sustentou-se no comércio e na construção de um imaginário acerca do continente africano, que legitimava a ideia de superioridade europeia.
(E) fundamentou-se nas orientações dos relatos de via-jantes, que mostravam fascínio e respeito pelas culturas nativas africanas.




resposta da questão 34:[D]
Comentário da questão:
A questão aborda a colonização da África pelos europeus, processo inserido na lógica do colonialismo, típico dos séculos XV ao XVIII. Esse colonialismo era uma consequência da lógica mercantilista, que pregava o acúmulo de metais precisos (metalismo) e a busca por uma balança comercial favorável. Desse modo, a dominação europeia da África pretendia desenvolver o comércio, sobretudo de especiarias e escravos, produtos lucrativos dentro da lógica mercantilista. Além da questão econômica, o domínio europeu da África e de outras regiões (como América e partes da Ásia) se pautou na ideia de superioridade dos europeus que se achavam civilizados perante os povos africanos. Os europeus não valorizavam e não respeitavam as culturas africanas, o que contribuiu para legitimar a conquista e a exploração dessas áreas coloniais. 



35. Os diários, as memórias e as crônicas de viagens escritas por marinheiros, comerciantes, militares, missionários e exploradores, ao lado das cartas náuticas, seriam as principais fontes de conhecimento e representação da África dos séculos XV ao XVIII. A barbárie dos costumes, o paganismo e a violência cotidiana foram atribuídos aos africanos ao mesmo tempo em que se justificava a sua escravização no Novo Mundo. A desumanização de suas práticas serviria como justificativa compensatória para a coisificação dos negros e para o uso de sua força de trabalho nas plantations da América. 
(Regina Claro. Olhar a África, 2012. Adaptado.) 

As “plantations da América”, citadas no texto, correspondem a 

(A) um esforço de coordenação da colonização ao redor do Atlântico, com a aplicação de modelos econômicos idênticos nas colônias ibéricas da América e da costa africana. 
(B) uma estratégia de valorização, na colonização da América e na África, das atividades agrícolas baseadas em mão de obra escrava, com a consequente eliminação de toda forma de artesanato e de comércio local. 
(C) um modelo de organização da produção agrícola caracterizado pelo predomínio de grandes propriedades monocultoras, que utilizavam trabalho escravo e destinavam a maior parte de sua produção ao mercado externo. 
(D) uma forma de organização da produção agrícola, implantada nas colônias africanas a partir do sucesso da experiência de povoamento das colônias inglesas na América do Norte.
(E) uma política de utilização sistemática de mão de obra de origem africana na pecuária, substituindo o trabalho dos indígenas, que não se adaptavam ao sedentarismo e à escravidão.




resposta da questão 35:[C]
Comentário da questão:
A questão aborda um tema clássico no processo de colonização europeia da América: o sistema de plantation. Adotado como modelo de organização de produção nas colônias. O sistema de plantation foi utilizado nos processos de colonização do Brasil, América Espanhola (sobretudo na América Central) e no sul das Treze Colônias inglesas. Trata-se da implantação da grande propriedade agrícola (latifúndio), monocultura (geralmente com a produção de cana ou algodão), com a produção voltada para abastecer o mercado externo (no caso o europeu) e a utilização de trabalho compulsório (sobretudo o escravo africano). O sistema de plantation foi utilizado dentro da lógica mercantilista e tinha, como grande objetivo, fazer com que a colônia complementasse a economia metropolitana. 


36. A divisão capitalista do trabalho – caracterizada pelo célebre exemplo da manufatura de alfinetes, analisada por Adam Smith – foi adotada não pela sua superioridade tecnológica, mas porque garantia ao empresário um papel essencial no processo de produção: o de coordenador que, combinando os esforços separados dos seus operários, obtém um produto mercante. 

(Stephen Marglin. In: André Gorz (org.). Crítica da divisão do trabalho, 1980.) 

Ao analisar o surgimento do sistema de fábrica, o texto destaca 
(A) o maior equilíbrio social provocado pelas melhorias nos salários e nas condições de trabalho. 
(B) o melhor aproveitamento do tempo de trabalho e a autogestão da empresa pelos trabalhadores. 
(C) o desenvolvimento tecnológico como fator determinante para o aumento da capacidade produtiva. 
(D) a ampliação da capacidade produtiva como justificativa para a supressão de cargos diretivos na organização do trabalho. 
(E) a importância do parcelamento de tarefas e o estabelecimento de uma hierarquia no processo produtivo. 



resposta da questão 36:[E]
Comentário da questão:
Ótima questão a respeito da Revolução Industrial e da divisão capitalista do trabalho enunciada por Adam Smith. Lendo o texto com bastante atenção, o vestibulando perceberia que duas palavras são escritas em itálico: (...) "combinando os esforços separados de seus operários, obtém um produto mercante". Tal jogo de palavras reforça a máxima de Adam Smith de que a divisão de tarefas do sistema fabril aumenta a produtividade, que combinada à hierarquia representada pelo empresário como coordenador do processo, converge para o sucesso inconteste da atividade industrial.


37. O fato de ser a única monarquia na América levou os governantes do Império a apontarem o Brasil como um solitário no continente, cercado de potenciais inimigos. Temia-se o surgimento de uma grande república liderada por Buenos Aires, que poderia vir a ser um centro de atração sobre o problemático Rio Grande do Sul e o isolado Mato Grosso. Para o Império, a melhor garantia de que a Argentina não se tornaria uma ameaça concreta estava no fato de Paraguai e Uruguai serem países independentes, com governos livres da influência argentina. 
(Francisco Doratioto. A Guerra do Paraguai, 1991.) 

Segundo o texto, uma das preocupações da política externa brasileira para a região do Rio da Prata, durante o Segundo Reinado, era 
(A) estimular a participação militar da Argentina na Tríplice Aliança. 
(B) limitar a influência argentina e preservar a divisão política na área. 
(C) facilitar a penetração e a influência política britânicas na área. 
(D) impedir a autonomia política e o desenvolvimento econômico do Paraguai. 
(E) integrar a economia brasileira às economias paraguaia e uruguaia. 



resposta da questão 37:[B] 
Comentário da questão:
 A questão exigia do aluno interpretação atenta do texto. O texto de Francisco Doratioto demonstra a luta por poder na região platina, envolvendo o Império Brasileiro e a república argentina, uruguaia e paraguaia. Com base exclusivamente na interpretação do texto, fica evidente que o Brasil pretendia limitar a influência argentina na região e, para isso, deveria garantir a independência de Paraguai e Uruguai. A livre navegação no Rio da Prata, visto então como a porta de saída das exportações destes países, precisava ser garantida como instrumento fundamental dentro da política imperialista do Segundo Reinado Brasileiro.

38. Entre os mecanismos que sustentavam o regime político da Primeira República brasileira, pode-se citar 
(A) a Constituição, que restringia aos chamados homens bons o acesso aos principais postos dos poderes executivo e legislativo. 
(B) a política de compromissos, que vinculava os sindicatos de trabalhadores urbanos ao Ministério do Trabalho. 
(C) a política do café com leite, que proibia as candidaturas eleitorais de representantes dos estados do Sul e Nordeste. 
(D) a política dos governadores, que articulava a ação do governo federal aos interesses das oligarquias locais. 
(E) a reforma política, que eliminou o voto censitário e instituiu o sufrágio universal nas eleições parlamentares.



resposta da questão 38:[D]
Comentário da questão:
A questão aborda os mecanismos de poder que sustentara as oligarquias na Primeira República Brasileira (1889-1930). No caso, a única alternativa correta é a D, que se refere à Política dos Governadores. Criada por Campos Sales (1898-1902), ocorria uma troca de favores entre o presidente (governo federal) e os governadores de estado (oligarquias locais), em que o presidente entregava cargos e verbas públicas em troca de apoio político por parte dos governadores. Trata-se de um pacto federativo, que manteve as oligarquias no poder.



39. Enquanto os franceses e os britânicos tinham emergido da Primeira Guerra Mundial com um profundo trauma dos horrores da guerra e a convicção de que um novo conflito deveria, se possível, ser evitado, na Alemanha só ocorreria algo parecido depois da Segunda Guerra Mundial. Os acontecimentos de 1945 levaram a uma profunda mudança na cultura popular e política da parte ocidental da Alemanha. Aos olhos desses alemães, a extrema violência de 1945 fez da Segunda Guerra Mundial “a guerra para acabar com todas as guerras”. 
(Richard Bessel. Alemanha, 1945, 2010. Adaptado.) 

Entre os fatos que poderiam confirmar a interpretação, oferecida pelo texto, sobre a atitude de franceses e britânicos depois da Primeira Guerra Mundial, pode-se incluir 
(A) a participação em um organismo internacional para a mediação de conflitos e o pacifismo que marcou a reação da França e da Grã-Bretanha à ascensão do nazismo. 
(B) o fim da corrida armamentista entre as potências do Ocidente e do Leste europeu e a eliminação dos arsenais alojados na Europa, na Ásia e no Norte da África. 
(C) a repressão imediata e violenta, por França e Grã-Bretanha, a todos os projetos belicosos e autoritários que surgiram a Europa ao longo dos anos 1920 e 1930. 
(D) o acordo para a constituição de uma polícia internacional, que vigiasse as movimentações militares das grandes potências e fosse coordenada por um país não europeu, os Estados Unidos. 
(E) a liberação, pela França e pela Grã-Bretanha, no decorrer das décadas de 1920 e 1930, de todas as suas colônias, para evitar o surgimento de guerras de emancipação nacional.


resposta da questão 39:[A]
Comentário da questão:
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) teve consequências dramáticas para a França e a Inglaterra, não apenas devido ao grande número de baixas provocadas pelo conflito, mas também pelo perda da hegemonia econômica europeia em âmbito mundial. Com o fim do conflito, as duas nações patrocinaram a proposta do presidente americano Woodrow Wilson de criação de uma entidade supranacional com vistas a mediar futuros conflitos e encerrar disputas entre as nações. Desse modo, nascia a Liga das Nações, com o objetivo de garantir uma paz duradoura e a segurança coletiva. O fracasso em contar com a presença dos Estados Unidos e de outras potências importantes, bem como as dificuldades em administrar crises como na Manchuria e na Abissínia, levaram a Liga à irrelevância. A adoção da política do apaziguamento, aplicada tanto pela França quanto pela Inglaterra no âmbito da Liga, acabou por permitir a ascensão nazista e a construção do contexto para a eclosão da Segunda Guerra.


40. Enquanto os franceses e os britânicos tinham emergido da Primeira Guerra Mundial com um profundo trauma dos horrores da guerra e a convicção de que um novo conflito deveria, se possível, ser evitado, na Alemanha só ocorreria algo parecido depois da Segunda Guerra Mundial. Os acontecimentos de 1945 levaram a uma profunda mudança na cultura popular e política da parte ocidental da Alemanha. Aos olhos desses alemães, a extrema violência de 1945 fez da Segunda Guerra Mundial “a guerra para acabar com todas as guerras”. 
(Richard Bessel. Alemanha, 1945, 2010. Adaptado.) 

A mudança de mentalidade na Alemanha ocidental, ocorrida, segundo o texto, ao final da Segunda Guerra Mundial, envolveu, entre outros fatores, 
(A) a decisão alemã de não voltar a se envolver em conflitos internacionais políticos ou diplomáticos. 
(B) a neutralidade do país diante da Guerra Fria, que caracterizou a segunda metade do século XX. 
(C) a desmobilização de todos os contingentes militares dentro e fora do país. 
(D) a celebração das conquistas territoriais ocorridas no século XIX e princípio do XX. 
(E) a rejeição do militarismo, que marcara o país desde a segunda metade do século XIX. 



resposta da questão 40:[E]
Comentário da questão:
 Desde a unificação do país com a proclamação do Segundo Reich, em 1871, a Alemanha herdara e mantivera a tradição militarista prussiana. Ao longo do processo imperialista e das duas guerras mundiais, os governantes alemães mantiveram o militarismo como um importante instrumento de mobilização de massas, amalgamando-o à própria identidade nacional. Entretanto, a revelação de todos os crimes cometidos pelos nazistas (entre eles o Holocausto) conduziu os alemães a uma reflexão sobre seu passado e identidade. O voluntarismo, indiferença e a ignorância de parte dos alemães diante do que ocorreu jogou o país em uma onda de negação de sua tradição belicista e mesmo de rejeição de seu passado, como se a vergonha pelo que ocorrera superasse qualquer resquício de orgulho coletivo. Contudo, a centralidade do território alemão no palco europeu da Guerra Fria e a relevância de sua economia para o sistema capitalista, mantiveram a Alemanha Ocidental como uma importante potência política. A renúncia ao militarismo foi acompanhada de uma nova postura tanto no campo político, como militar, de fiadora da democracia e fiel aliada do bloco capitalista, estreitando as relações da Alemanha Ocidental com os Estados Unidos.


41. Em março de 1988, o modelo sindical levado por Lindolfo Collor para o Ministério do Trabalho completou 57 anos de idade. Em todos estes anos foi olhado com suspeita pelos empresários e com bastante desconfiança pelos grupos socialistas, comunistas e pela esquerda em geral. Atribuía-se sua criação, na década de 30, à influência das doutrinas autoritárias e fascistas então na moda. 
(Letícia Bicalho Canêdo. A classe operária vai ao sindicato, 1988.) 

Entre as características do modelo citado no texto, sobressaíam 
(A) o direito de greve e a valorização da luta de classes. 
(B) a unicidade sindical por categoria e o corporativismo. 
(C) a liberdade de organização sindical e a conscientização política dos trabalhadores. 
(D) o predomínio de lideranças de esquerda e a autonomia de atuação dos sindicatos. 
(E) o controle governamental e a sindicalização obrigatória dos trabalhadores. 



resposta da questão 41:[B] 
Comentário da questão:
 O texto aborda a política trabalhista de Getúlio Vargas, sobretudo relacionada à organização sindical. Essa organização assemelhava-se em vários aspectos àquela imposta por Mussolini a partir da Carta del Lavoro, no Estado Italiano Fascista. O princípio corporativista se manifesta na construção do Estado como mediador nas relações entre patrões e trabalhadores, evitando a luta de classes (o que, como o texto afirma, causou desconfiança em grupos de esquerda). Desse modo, foi implantada a unidade sindical sob forte inspiração autoritária, então em voga com o regime fascista na Itália.